domingo, 11 de setembro de 2016

GURAMIRANGA

"Interior", do Grupo Bagaceira, é eleito Melhor Espetáculo do 23° Festival Nordestino de Teatro

Cerca de 10 mil pessoas participaram da programação que ocupou vários espaços da cidade durante oito dias. Patrocinado pela CAIXA e realizado pela Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga, o festival é apoiado pela Coelce e Secult

"Interior", do grupo Bagaceira de Teatro, do Ceará, foi eleito pelo Júri Popular o Melhor Espetáculo do 23° FNT - Festival Nordestino de Teatro, que terminou na noite deste sábado, 10 de setembro, em Guaramiranga, Ceará. Concorreram ao Troféu Beija-Flor e o prêmio de R$ 5 mil, nove peças participantes da Mostra Nordeste, carro-chefe do Festival.

Ao longo dos oito dias de programação, o FNT contou com 37 sessões de espetáculos teatrais, divididas na Mostra Nordeste, Mostra Ceará Convida, Nordeste Universitária, Mostra Palco Ceará, FNT Para Crianças/SESC, Mostra em homenagem aos 25 anos do Curso Princípios Básicos de Teatro, do Theatro José de Alencar (CPBT/TJA), além de dramas, debates, oficinas, shows, cortejo e terreirada, alcançando um público de cerca de 10 mil pessoas.

Para Nilde Ferreira, presidente da Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga - AGUA, os resultados desta edição foram alcançados plenamente. "O FNT ganhou como diferencial a ampliação do diálogo com o campo da formação e também reafirmou Guaramiranga como um lugar desse encontro do teatro cearense, nordestino, brasileiro", disse. Para Nilde, houve um fortalecimento da ação formativa do festival, com atividades que não são rotineiras dentro do itinerário formativo das escolas de teatro.

O professor Arão Paranaguá, um dos três debatedores desta edição do FNT, revela que sai com uma excelente impressão do festival, destacando a participação bastante expressiva de pessoas nos debates. "Algumas inclusive participaram todos os dias, assiduamente, e isso permitiu um olhar mais reflexivo sobre a edição e obviamente sobre o teatro no Nordeste", comenta. "É um saldo muito positivo, tanto na dimensão estética dos espetáculos, com as questões de natureza artística, de produção e criação, quanto em relação à questão da formação", diz. Para o debatedor - mestre em educação na UnB (1983) e doutor em artes cênicas na USP - a formação é uma questão que toca muito mais gente do que as pessoas do teatro. "É muito mais  vasto, é uma pedagogia mesmo. Esta edição favoreceu a esse conceito de festival. Ao dimensionar o teatro e  escola - tema desta edição do FNT - o festival provoca uma discussão que perpassa a estética dos espetáculos", avalia.

Arão destaca questão da mediação nos espetáculos. "Esse vínculo entre a obra e o espectador, na arte contemporânea, é uma relação intrínseca, é um processo que está dentro da criação. O espetáculo 'Interior', do Bagaceira, que foi o primeiro apresentado nesta edição, traz isso de uma forma muito evidente, denunciando essas questões contemporâneas da arte e da educação. Nos outros dias a gente viu processos semelhantes, espetáculos que se prestam a algo para além do público convencional de teatro", explica.

Também debatedor do 23° FNT, o doutor em artes cênicas Héctor Briones, professor adjunto do Curso de Teatro-Licenciatura, do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, destaca do FNT a instância ímpar e muito rica de trocas e compartilhamento de saberes para pensar todos os alcances políticos, éticos e sociais da arte hoje em dia. "A gente viu diversos Nordestes, tanto reprocessamento do imaginário nordestino de cultura popular, de imaginários urbanos, reprocessamentos globalizados em outras tendências, ligados à performance, à artes visuais, outros que misturavam tudo, performance, artes visuais e regional, ou seja, a gente viu uma riqueza de práticas, cada uma apontando no seu lugar e aqui acontece uma troca".

O debatedor Marcelo Bones, que é programador, consultor e assessor de importantes festivais teatrais brasileiros, e que atuou nesta edição como um dos curadores e debatedores da Mostra Nordeste, considera o FNT um festival especial, que vai muito além de mostra de espetáculos. "Conheço muitos festivais e o de Guaramiranga é muito mais do que isso", comenta. Na opinião de Bones, além de dar um recorte conceitual, enquanto pensamento e produção artística, o festival dá também um recorte humano. "Vivemos um momento em que as questões das políticas públicas para as artes estão sendo colocadas em cheque e o festival é o momento para pensar no que estamos fazendo e para que serve".

Com toda a programação gratuita, o 23° FNT teve o patrocínio da CAIXA, apoio da Coelce e da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará/Secult, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, e o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Guaramiranga, via Secretaria da Cultura e Turismo. Realização: Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga - AGUA.

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