quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

"O Auto da Compadecida 2" estreia hoje nos cinemas e Matheus Nachtergaele deu entrevista para o DIVIRTA-CE

O ator celebra os 20 anos do icônico personagem João Grilo 
Matheus Nachtergaele revela os desafios e transformações do filme que estreia neste dia 25 de dezembro nos cinemas: “Ser o João Grilo é uma honra e uma grande oportunidade para eu definir o palhaço que sou neste país"

Em uma entrevista ao DIVIRTA-CE, Matheus Nachtergaele compartilhou reflexões sobre sua carreira e o impacto que o personagem João Grilo, de O Auto da Compadecida, teve em sua trajetória. “Ser o João Grilo é uma honra e uma grande oportunidade para eu definir o palhaço que sou neste país”, declarou o ator, que vê seu papel como um marco em sua carreira e no imaginário popular brasileiro.

O ator explicou ainda que, mais de duas décadas após a estreia do primeiro filme, a continuação de O Auto da Compadecida 2 trará uma versão mais madura de João Grilo, com mais sofrimento e camadas de complexidade. “Ele continua sapeca e inteligente, mas agora está mais sofrido”, comentou, revelando que o novo filme resgata a essência de uma obra profundamente teatral, alinhada com a literatura de Ariano Suassuna.

Sobre o desafio de equilibrar a humanidade e a irreverência de João Grilo, Matheus destacou o caráter arquetípico do personagem. “Ele é o arlequim brasileiro, que engana os poderosos pela sobrevivência. Isso traz uma conexão profunda com o público”, explicou.

A relação com o diretor Guel Arraes e o elenco, incluindo Selton Mello, também foi um ponto alto da entrevista. “Me entreguei nas mãos de Guel e Flávia Lacerda, e, ao lado de Selton, me joguei de volta para o meu melhor personagem”, revelou.

Com uma carreira que abrange mais de 40 filmes, além de teatro e televisão, Matheus Nachtergaele destacou a importância de cada formato em sua formação como artista, e falou sobre os desafios que ainda o motivam: “Cada personagem me deixa uma cicatriz de alma, e tudo isso se reflete no Auto 2”, afirmou, dando um gostinho do que o público pode esperar dessa nova produção, que estreia hoje nos cinemas.
DIVIRTA-CE - Seu papel como João Grilo em "O Auto da Compadecida" é um marco do cinema brasileiro. Como você enxerga o impacto desse personagem na sua carreira e no imaginário popular? Quais foram os maiores desafios em dar vida a um personagem tão carismático e multifacetado como João Grilo?
MATHEUS NACHTERGAELE - Ser o João Grilo é uma honra e uma grande oportunidade para eu definir o palhaço que sou neste país. O João Grilo é provavelmente o meu melhor trabalho e aquele que me trouxe mais alegrias. De todos os meus personagens, ele é o mais alegre e brincalhão. O João Grilo me transformou de vez naquilo que todo ator sonha em ser: um palhaço. O Grilo é um arquétipo que tem como função sobreviver com alegria e enganar os poderosos e suas más intenções. Acho que é por isso que ele se conecta com os brasileiros, e também emociona e diverte o público. Agora, mais de 20 anos depois, João Grilo continua sapeca, inteligente e esperto, mas está mais sofrido. 

DIVIRTA-CE - O que você pode nos adiantar sobre a continuação? Como está sendo revisitar esse universo depois de tantos anos? O que mudou em você como ator desde a primeira adaptação até agora? Há algo novo que pretende trazer ao João Grilo nesta sequência?
MATHEUS NACHTERGAELE - O Auto da Compadecida 2" é muito mais teatral do que o primeiro. Do ponto de vista artístico, foi um procedimento bastante teatral que acho que é bastante fiel à obra de Ariano Suassuna. O Auto 2 é igualmente brincalhão, mas muito mais fiel ao procedimento teatral. Queríamos devolver ao Brasil o carinho que o país deu ao filme durante todos esses anos. Nosso desejo foi dar uma injeção de alegria e lembrar de quem éramos quando amávamos profundamente o Brasil. É uma oportunidade incrível, inclusive, para eu exercitar novamente meu instrumental de palhaço. O que mudou, obviamente, além do meu corpo de ator, foi o fato de que, no primeiro filme, eu era muito mais jovem, 25 anos mais jovem do que sou agora, com muita esperança e energia.

DIVIRTA-CE - João Grilo é um personagem que desafia a moralidade convencional, mas conquista pela sua humanidade. Como você trabalhou para equilibrar essas nuances?
MATHEUS NACHTERGAELE - João Grilo é o arlequim brasileiro. Ele reúne tradições do arquétipo picaresco universal que são adaptados ao imaginário do Brasil. Então, como disse, ele é um arquétipo: engana os poderosos, mas faz isso pela sua sobrevivência. Ele continua a passar a perna nas pessoas, mas retorna à Taperoá com uma carga de sofrimento após passar tantos anos fora. 

DIVIRTA-CE - O texto de Ariano Suassuna é cheio de riquezas culturais do Nordeste. Qual a importância de preservar essas raízes em uma produção nacional?
MATHEUS NACHTERGAELE - Como todo artista de teatro e brasileiro que ama a literatura e a dramaturgia nacional, sou um grande fã de Ariano Suassuna e sua obra. Estive com ele muitas vezes após "O Auto da Compadecida" e nos tornamos amigos. Acredito que nossos destinos se ligaram para sempre, já que é no cinema que as obras se eternizam. 

DIVIRTA-CE - Como foi trabalhar novamente com o diretor Guel Arraes e seus colegas de elenco? O que você espera que o público sinta ao assistir O Auto da Compadecida 2?
MATHEUS NACHTERGAELE - Me entreguei nas mãos do Guel Arraes e Flávia Lacerda e fui de coração aberto, sendo guiado por esse roteiro genial. Olhei nos olhos do Selton e me joguei de volta para o meu melhor personagem. Selton e eu nos amamos e nos respeitamos muito como artistas. Não convivemos muito fora do Auto, mas sempre nos encontramos em eventos e trabalhos. Nós dois somos bem diferentes e, dessa forma, nos complementamos no set. Acho que todos vão se emocionar com “O Auto da Compadecida 2”.

DIVIRTA-CE - Você transita entre teatro, cinema e televisão com maestria. Como cada um desses formatos contribui para o seu desenvolvimento como artista? Com tantas décadas de carreira, há algum papel que você ainda sonha interpretar? Quais os próximos projetos?
MATHEUS NACHTERGAELE - Depois do primeiro “O Auto da Compadecida”, acho que fiz mais de 40 filmes, não tenho a conta exata. Meu trabalho no cinema, na televisão e no teatro é volumoso. No audiovisual, sempre me deparo com personagens que representam, de alguma forma, brasileiros sob pressão, os que não são "bem-sucedidos”. Os personagens formam camadas em um ator e estes personagens formaram em mim não só uma camada de experiência, mas também cicatrizes de alma, porque a encenação também é uma vivência. Acredito que todas as experiências que vivi, dentro e fora dos sets e palcos, se acumularam em mim e devam aparecer no Auto 2.

Nenhum comentário: