quarta-feira, 6 de abril de 2022

ENTREVISTA

Caio Nunes participa do Festival Internacional de Dança do CBDD Fortaleza e fala sobre a carreira em entrevista para o DIVIRTA-CE
Jurado do quadro Dança dos Famosos, o consagrado coreógrafo é um dos mestres convidados do Festival do CBDD 2022 que acontecerá mês que vem na capital cearense

O consagrado coreógrafo Caio Nunes é um dos mestres convidados do Festival do Conselho Brasileiro Da Dança, que acontece em Fortaleza no Cineteatro São Luiz e Teatro Rio Mar, de 4 a 8 de maio. Caio Começou seus estudos de Ballet na Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (antiga Escola do Teatro Municipal do RJ). Participou de algumas CIAS. de Dança na função de Bailarino tais como:
Vacilou Dançou, CIA de Dança Entre os Dentes, Dzi Croquets. Coreografou grandes Comissões de Frente do Carnaval, como Unidos de Vila Isabel, Grande Rio, Salgueiro, Vila Isabel, São Clemente, Império Serrano. Atualmente é diretor da Companhia que possui o seu nome e coreógrafo de Modern Jazz e Teatro Musical. Ministra cursos por todo o Brasil, América e Europa, presidiu o Sindicato dos Profissionais de Dança do Estado do Rio de Janeiro, foi coreógrafo da TV Globo, participou de diversas edições do quadro Dança dos Famosos e coreografou vários filmes do Cinema Nacional. Em Fortaleza, ele estará no Festival Internacional de Dança do CBDD julgando as mostras competitivas. Confira entrevista de Caio Nunes para o DIVIRTA-CE.

DIVIRTA-CE - Você está vindo a Fortaleza participar do Festival Internacional de Dança do CBDD 2022. O que espera do evento?
CAIO NUNES - Para mim é um prazer voltar a essa cidade que eu amo. Eu já morei em Fortaleza, já trabalhei com um monte de profissionais da cidade, muitos anos atrás. É importante esse retorno. Estar no Festival CBDD 2022 para mim é um grande prestígio, porque sei que é um projeto que fomenta a dança, a nossa arte em lugar especial. Me sinto honrado de estar somando, trocando, compartilhando com grupos e bailarinos de grande representatividade em nosso país.

DIVIRTA-CE - Como você analisa a dança brasileira em relação ao mundo, do início da sua carreira até hoje? Quais as peculiaridades da nossa dança em relação a outros países? 
CAIO NUNES - Eu acho que durante esses 40 anos de carreira a dança brasileira evoluiu muito. Os olhares, tendências, caminhos e transições evoluíram não só na parte técnica, como também na gestão, ao contratar e ser contratado. Para se fazer um trabalho, o perfil do profissional mudou muito. Hoje em dia acho que essa pluralidade é incrível, de poder ter todos os tipos trabalhando. Antigamente era um pouco mais engessado. Vou dar um exemplo: a bailarina só podia ser muito magra, se a bailarina fosse baixa ficava muito restrita a determinados trabalhos. Hoje em dia isso mudou. E fico muito feliz de estar num evento e ver essa transformação, essas peculiaridades, não só no Brasil como em outros países. Já fiz trabalhos fora onde exigiam perfis específicos. Hoje conseguimos alcançar dentro dessa globalização, esse novo olhar, esse novo mundo e isso é maravilhoso.

DIVIRTA-CE - Qual a importância do Conselho Brasileiro da Dança e do retorno dos festivais presenciais de dança depois desse período de pandemia? Como você enfrentou o confinamento? 
CAIO NUNES - É de suma importância, porque o Conselho Brasileiro produzindo eventos nos remete à volta dos bailarinos aos palcos. É o que mais o bailarino precisa, do treino. É claro que o processo dentro da sala de aula é muito importante, porque é lá que ele aprende, erra, troca, ali que as dores chegam e tudo é vivenciado. Mas o palco é o objetivo final. É preciso esse treino no palco. Estar atuando, dançando em cena, com uma plateia, com ponto de vista crítico ou não, mas que possa nos aplaudir, muda muito. É o produto final de tudo que passamos em ensaio. Acho que o Conselho Brasileiro da Dança, como todos os festivais do mundo precisam cada vez realizar mais eventos como esse que irá acontecer em Fortaleza. É desses festivais que saem os grandes bailarinos. Eles nascem numa escola de dança, depois que eles são vistos no palco podem alcançar outros voos, carreiras internacionais. Nessa pandemia eu fiquei muito atento sobre o mercado, os novos profissionais. E refletindo que muitos abriram portas para mim, e hoje eu posso abrir essas portas para muitas pessoas.Temos que dar atenção a essa ética profissional, esse estudo. Temos que entender e valorizar o antigo, quem está se atualizando, o presente e o futuro. A história é muito importante, saber da onde viemos. 

DIVIRTA-CE - Você já foi jurado de diversas edições do quadro Dança dos Famosos, e no mês passado estreou no "Faustão na Band". Também estará julgando os participantes das mostras competitivas do Festival do CBDD. O que é mais difícil, julgar artistas famosos ou bailarinos em início de carreira?
CAIO NUNES - Todos tem uma importância muito forte. Julgar famosos, claro que na parte técnica falta registro corporal, falta desenho de musculatura. É claro que eles tem uma atuação, interpretação, uma disponibilidade que também tem um valor muito grande. Tem vezes que um coisa pode ou não compensar a outra. O movimento é importante, mas não é só o movimento. Bailarinos iniciantes às vezes também trazem informações que não são de vícios, e é bacana também. Eu acho que tudo nos ensina muito, olhar para esses momentos, perceber que a dança nos traz um leque de informações, me permite julgar famosos, bailarinos profissionais e iniciantes, tentando ao máximo enxergar com a verdade daquilo que está sendo apresentado para aquele momento. Sempre respeitando o que cada um tem para nos trazer e nos entregar.

DIVIRTA-CE - Bailarino com passagens por algumas companhias internacionais famosas e pioneiras, como Vacilou Dançou, CIA de Dança Entre os Dentes e Dzi Croquets, já participou de mostras competitivas como a do CBDD no início de sua carreira? Passou por alguma situação inusitada? O que sente mais falta nessa época?
CAIO NUNES - Passei. A gente sempre passa, né? Quando a gente se expõe, corre o risco de estar vivenciando situações inusitadas. Eu já tive momentos de fazer audição, e no meio do processo pedirem coisas que você não se enquadra, como quererem que você coloque a roupa de um boneco para fazer figuração. Aquilo não faz parte do seu ofício, mas como você precisa trabalhar e por você querer estar naquela cena, você se submete. Ou como coreógrafo, você estar ministrando uma audição fora do país, dois dias seguidos, para 200 bailarinos. E no segundo dia um bailarino que havia sido eliminado, retorna e começa a gritar algo no idioma dele sobre uma situação que você não tem conhecimento. Talvez ele não tenha entendido que tinha sido eliminado no dia anterior. O mercado nos traz situações que você não espera! Ver que tem uma outra coreógrafa nova no seu local de trabalho, aí você pergunta, "teve alguma mudança, não me comunicaram nada?". E o empresário responde para você: "Não, você é o coreógrafo, mas a partir de agora você também vai ter uma coreógrafa". Então são situações que a vida vai nos mostrando que não temos segurança de nada. Mas se a gente consegue trabalhar com dignidade, certeza, o nosso olhar, com ética, está tudo certo!

DIVIRTA-CE - Você já foi coreógrafo de carnaval, dirige montagens coreográficas em peças de teatro, shows, desfiles e convenções, além de ser responsável há mais de 25 anos pela preparação corporal de diversos atores, atrizes e cantores de televisão, cinema. De todos os trabalhos, qual mais se arrepende e mais se orgulha? Qual é o mais prazeroso?
CAIO NUNES - Cada trabalho me ensina um pouco. Tem trabalhos onde a prioridade é a performance do artista. Outras vezes você tem que narrar uma dramaturgia dentro da performance do artista. Tem vezes que você faz só um fundo para o que está acontecendo. Tem trabalho, como carnaval, onde você tem que apresentar uma escola de samba inteira, reverenciar o público, contar uma história e também reverenciar o júri. Às vezes a história é uma banda, que precisa animar aquelas pessoas que estão naquele lugar tomando sua bebida. Tem vezes que você faz concurso de miss, você tem que valorizar a beleza daquela modelo. Ou um teatro musical que você tem que ter uma apresentação que não derrube a parte vocal. Companhias de dança onde, também dentro da dramaturgia, você tem que mostrar a possibilidade do virtuosismo de uma forma mais orgânica, onde a dança possa entrar no lugar bonito, belo. Cada projeto, cada evento, me encanta. Fico muito honrado por transitar por várias vertentes, dentro da minha história, do meu corpo e da minha vida.

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