domingo, 6 de outubro de 2024

ENTREVISTA: Vera Holtz e o sentido da palavra cooperação

Em entrevista ao DIVIRTA-CE atriz fala sobre o espetáculo "Ficções" e dá um recado aos brasileiros que irão votar neste domingo de Eleições 

O Cineteatro São Luiz, em Fortaleza, recebeu de 3 a 5 de outubro a aclamada atriz Vera Holtz com o espetáculo "Ficções". Inspirada no best-seller "Sapiens: Uma Breve História da Humanidade", de Yuval Noah Harari, a peça, dirigida por Rodrigo Portella, já percorreu 23 cidades e encantou cerca de 100 mil espectadores. Com uma proposta que transcende a mera adaptação do livro, "Ficções" convida o público a refletir sobre como as ficções humanas, como nações e religiões, moldam a nossa realidade e influenciam nossas vidas.
A interpretação de Vera Holtz se destaca por sua versatilidade, enquanto a interação com o público promete uma experiência dinâmica e envolvente. Com uma trilha sonora original composta por Federico Puppi, o espetáculo se apresenta como uma obra viva, sempre em transformação. Nesta entrevista para o Jornal O ESTADO e blog DIVIRTA-CE, Vera Holtz compartilha suas expectativas e desafios ao trazer "Ficções" ao palco cearense, além de comentar sobre o impacto do trabalho de Harari na dramaturgia contemporânea.

DIVIRTA-CE - Como sua experiência em diversas linguagens artísticas, como teatro, TV e cinema, influencia sua interpretação dos múltiplos personagens em "Ficções"? Como foi a construção desse espetáculo? O que espera dessa temporada de apresentações em Fortaleza?
VERA HOLTZ - Estamos muito felizes de trazer o espetáculo para Fortaleza, nesse teatro magnífico, que é o Cineteatro São Luís. Nós teremos a oportunidade de fazer três sessões, e já percebi no público o interesse grande de ver a peça, cheguei um pouco antes aqui, e espero que o público reflita sobre essas questões da humanidade. Fizemos um recorte do livro do Yuval Harari. O nosso diretor escolheu falar dessa nossa incrível capacidade que temos de criar histórias, narrativas, ficções. A gente passa a acreditar nelas coletivamente. E essa fé coletiva consegue uma coisa chamada cooperação, essa capacidade de cooperar através de uma história inventada. É uma peça que você vai rir e pode vir a chorar. A peça é divertida, dinâmica. Tem o Federico Puppi, que me acompanha, o nosso diretor musical, um músico italiano. Quem não leu o livro não tem o menor problema. Você vai ver uma peça de teatro divertida, dramática, tem musical e a participação do público, mas não é nada invasivo. O espetáculo é para compreender o sentido da palavra cooperação.
DIVIRTA-CE - De que maneira o trabalho de Rodrigo Portella na dramaturgia e na direção da peça reflete a ideia de ficção coletiva proposta por Yuval Noah Harari em "Sapiens"? Quais elementos do espetáculo "Ficções" podem ser vistos como uma crítica às narrativas que moldam a sociedade contemporânea?
VERA HOLTZ - Rodrigo não tinha lido o livro quando ele aceitou o convite. Ele ficou seis meses trabalhando. Ele mora em Barcelona com colaboradoras que são atrizes amigas, que estimularam ele, uma vez que a escolha da narrativa foi para um sapiens fêmea. A escolha da narradora ser uma mulher também foi pensado. Porque a nossa produtora, Alessandra Reis, achava que não tinha sentido falar sobre a humanidade sem ser uma narradora feminina. Não é um espetáculo que levanta críticas de forma alguma. Nós induzimos as pessoas a refletirem sobre essas narrativas da humanidade. Não é uma obra de julgamento.

DIVIRTA-CE - Após suas experiências em novelas de grande sucesso, como "Avenida Brasil", o público sente sua falta. Tem alguma previsão de retorno? Algum novo projeto em streaming ou na TV?
VERA HOLTZ - Depois de tanto tempo fazendo televisão, eu tenho todo esse universo do audiovisual dentro de mim e o maior respeito pelos meus colegas, pelos colaboradores. Quem faz televisão é uma turma de craques, são pessoas envolvidos no processo, apaixonadas pela novela. Um prazer imenso sempre estar ao lado deles! Eu estou me dedicando nos últimos nos últimos dois anos só ao teatro, a esse projeto "Ficções". Eu não consigo mais fazer cinema, televisão e teatro ao mesmo tempo. E não tenho nenhum projeto, realmente...  Você citou "Avenida Brasil", um grande momento da dramaturgia brasileira. Eu viajei para o lançamento da novela na Argentina, lançamos no México e quanto mais eu viajo mais me surpreende ao alcance da novela brasileira, em especial da Mãe Lucinda. Recentemente nós estivemos no Benin (África), as meninas falam francês, mesmo assim sabiam o nome de todas as personagens de "Avenida Brasil". A gente estava numa  palafita, no meio de um lago, e quando eles me reconheceram nesse lugar... entendi o que é a dimensão da novela brasileira.
DIVIRTA-CE - Você fez um relançamento de As Quatro Irmãs em sessões especiais, um filme documental que revisita memórias de dia infância e família. Os 70 anos e a pandemia te fizeram rever esse passado? Como está vendo a fase atual da classe artística e do mundo pós COVID 19?
VERA HOLTZ - O filme é anterior a pandemia. Foi uma reflexão e também eu queria falar sobre essa questão da família. Nós, as quatro irmãs, sempre fomos muito amigas. Falamos de fraternidade, do feminino de ter uma família só de mulheres. Eu acho que teve essa mudança de comportamento, que a gente sentiu durante a pandemia. Acompanhei várias companhias de teatro escolas de teatro, iniciativas individuais, todo mundo tentou fazer uma produção online durante aquele período. O que nós sentimos hoje com retorno do público é que as pessoas estão buscando mais o teatro, que as pessoas necessitam estar juntas e o teatro está proporcionando isso elas o momento de unidade. O teatro é uma coisa de verdade, então nesse mundo com tanta fake news, nós estamos lá ao vivo, presenciais. Todos fazem parte dessa verdade. 
DIVIRTA-CE - Teremos neste domingo novas eleições. Qual recado você daria como cidadã ao povo brasileiro?
VERA HOLTZ - Desejo vivas ao povo brasileiro! O Darcy Ribeiro dizia que "esta mescla fantástica que nos forma, precisa florescer",  e eu acho que a eleição é sempre um grande momento de você regar, pra tornar possível esse florescimento.

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