"Você pode ser a transformação que quer no mundo"
Monja Coen faz palestra online do Festival Cultura Zen e responde às perguntas do DIVIRTA-CE sobre sua visão do mundo atual
Cláudia Dias Baptista de Souza, mais conhecida como Monja Coen, é uma monja zen budista brasileira, missionária oficial da tradição Soto Shu com sede no Japão. Ela também é a fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001 com sede no bairro paulistano do Pacaembu. Ela é prima de Sérgio Baptista, Arnaldo Dias e Cláudio César Dias Baptista, mais conhecidos por seus trabalhos com a banda Mutantes. Criada no Cristianismo, Cláudia dedicou-se a estudar o Budismo no Zen Center of Los Angeles, em 1983, logo depois partindo para o Japão e convertendo-se à tradição budista zen no Convento Zen Budista de Nagoia, tendo também estudado nos templos de Aichi Senmon Nisodo e Tokubetsu Nisodo. Antes de dedicar sua vida a religiosidade, atuava como jornalista em diversos veículos de comunicação de São Paulo.
Monja Coen é mais conhecida por seus livros, palestras, programas de TV, além de promover a Caminhada Zen, em parques públicos, projeto com objetivos ambientais e pela cultura da paz. Ela será uma das atrações da primeira edição do Festival Cultura Zen, dias 24 e 25 de setembro, sexta e sábado. O Festival aborda temáticas sobre cultura antirracista, desigualdade de gênero, viver zen, yoga, meditação e culturas que buscam na natureza uma vida mais harmoniosa, equilibrada, buscando assim trazer à tona a promoção de paz, saúde e bem-estar.
A Monja Coen respondeu as perguntas da entrevista com Felipe Palhano para o Jornal O ESTADO e o blog DIVIRTA-CE e falou sobre o Festival, sua visão do mundo atual, o Setembro Amarelo, mudança de estilo de vida, e muito mais. A palestra “O Zen na Construção de uma Cultura de Paz”, no dia 25 de setembro, às 19h, via Zoom. As inscrições e a participação são gratuitas. Inscrições no Sympla https://www.sympla.com.br/encontro-com-monja-coen-no-festival-cultura-zen__1347156
DIVIRTA-CE - Você participa de forma online do Festival Cultura Zen apresentando a palestra “O Zen na Construção de uma Cultura de Paz”, no dia 25 de setembro, às 19h, via Zoom. Como será essa palestra?
MONJA COEN - Podemos transformar uma cultura de violência em uma cultura de paz, justiça e cura da Terra. Para isso é importante que cada pessoa conheça a si. Nossos olhos estão sempre voltados para os outros. Voltar esse olhar de autoconhecimento e nos tornarmos átomos de paz, respeito, acolhida. Inclusão é o portal principal para transformações sociais, políticas e econômicas. Precisamos despertar.
DIVIRTA-CE - A senhora é missionária oficial da tradição Soto Shu do Zen Budismo e foi a primeira mulher e a primeira pessoa de origem não japonesa a ocupar a Presidência da Federação. Como funciona a Comunidade Zen Budista Zendo Brasil, da qual você é fundadora? Como você analisa o Budismo no Brasil? Ainda existe muito preconceito ou ignorância em relação a essa religião oriental?
MONJA COEN - Budismo é pouco conhecido e praticado no Brasil. Chegou através da imigração japonesa no século XX. Mais tarde chegaram grupos tibetanos e alguns do Sul da Ásia, chamados de Theravada. Praticantes budistas não são muitos e grande parte não se considera budista. Minha Comunidade foi fundada em 2001, oficialmente aberta em 2007 e reconhecida internacionalmente como um templo oficial da tradição Soto Shu em 2019. Somos um grupo novo. Presencialmente temos cerca de cem pessoas comprometidas com as práticas e associadas. Virtualmente muitos seguidores - chegam a quase três milhões. Estes são simpatizantes dos ensinamentos de Buda. Não tenho a intenção de fazer com que todos se tornem budistas, mas sim que se tornem pessoas verdadeiras. Conhecendo a si e se libertando de apegos e aversões, encontrando a sabedoria e a compaixão ilimitadas.
DIVIRTA-CE - Você tem jornalismo na formação e afirmou em algumas entrevistas que a profissão ajudou a abrir sua mente e mudar sua vida completamente. Como se deu esse "chamado"? Quais as maiores dúvidas e dificuldades você passou nesse período?
MONJA COEN - Como repórter da geral do Jornal da Tarde, vespertino de O Estado de S.Paulo S.A. entrevistei inúmeras pessoas, de classes sociais diferentes e percebi que somos todos seres humanos. Semelhantes, porém não iguais. Foi um período intenso, de trabalhar muito, dormir pouco, questionar e investigar a verdade. Foi uma grande abertura de consciência.
DIVIRTA-CE - Como a senhora analisa o mundo atual diante dessa crescente intolerância e aumento do extremismo em diversos países? A humanidade está retrocedendo em seus comportamentos mínimos de reflexão e discernimento? Estamos regredindo?
MONJA COEN - No Japão, quando queremos fazer uma linha reta, horizontal ou vertical, primeiro o pincel retrocede para depois avançar. Acredito que estamos numa era axial, de grandes mudanças para toda a humanidade. Talvez os movimentos extremistas sejam os estertores agonizantes de modelos civilizatórios (ou incivilizados) que estão fadados à transformação. O aparente retrocesso, como o pincel na folha branca de papel, pode ser apenas uma tomada de fôlego para avançarmos definitivamente a uma sociedade mais justa, equitativa, inclusiva e respeitosa à vida em sua pluralidade.
DIVIRTA-CE - Você fala muito em suas apresentações e palestras sobre o poder do autoconhecimento e da força da meditação. Para você, houve um aumento dessa procura pela paz interior após o surgimento do Covid 19? Segundo seu conhecimento, quais foram as dificuldades que as pessoas mais enfrentaram durante esse período de pandemia? Pela sua percepção, a depressão será mesmo o mal do século?
MONJA COEN - Houve maior procura pela introspecção, autoconhecimento, meditação, Yoga, atividades físicas. Maior concernimento pela saúde física e mental, definitivamente foram resultados da pandemia. A depressão sempre existiu com outros nomes. Somos seres sensíveis e podemos nos entristecer com faltas de perspectiva de afeto, sucesso, inclusão. Devemos educar seres humanos mais resistentes e capazes de transformar a si e ao mundo. Isso é possível. Nunca desistir. Fortalecer o corpo e o espírito. Pode demorar, mas acontecerá se muitos de nós mantivermos unidos em um propósito comum: construir uma cultura de paz.
DIVIRTA-CE - Autora de dezenas de livros, a senhora propõe em suas obras alguns caminhos para o que chama de “cultivo da cultura de paz”. Qual o livro mais difícil de escrever, o mais desafiador? E qual você acha que teve o melhor resultado, o que você mais gosta ou admira?
MONJA COEN - Aprendi a ler e a escrever com seis, Sete anos de idade. Continuo aprendendo a ler e a escrever. É fascinante esse processo. Cada livro é único e ao mesmo tempo todos são desafiadores até que estejam prontos, impressos e lançados.
DIVIRTA-CE - Qual o seu maior prazer na vida? E qual sua maior angústia? Você sente alguma ansiedade em relação a algum assunto? Como lida com essas sensações, emoções e sentimentos?
MONJA COEN - Amor, carinho, afeto, respeito são prazerosos. Discriminações, preconceitos, abusos são angustiantes. Destruição das matas, incêndios, avalanches, enchentes, pandemias, desgovernos, tráfico de pessoas, violências de qualquer forma são prejudiciais e me transtornam. Reconheço minhas sensações, emoções, sentimentos e respiro conscientemente para encontrar um estado de equilíbrio a fim de transformar a mim e a realidade de todos nós. Sem esse conhecimento de si, apenas repetimos padrões prejudiciais.
DIVIRTA-CE - O que falta para a humanidade encontrar a paz nesse planeta repleto de guerras? O amor ainda existe? Estamos no mês do "Setembro Amarelo", uma grande campanha anual pela prevenção do suicídio. Para terminar a entrevista esperando uma mensagem de otimismo, qual conselho você daria para pessoas que estão cansadas da vida ou querem desistir de tudo?
MONJA COEN - Não desista. Insista. Tudo está mudando o tempo todo. Não há nada pelo qual matar e ou morrer. Viva. Viva pela própria vida. Você pode ser a transformação que quer no mundo. Quando parece que não há luz no fim do túnel é apenas que pode haver uma curva no túnel e você ainda não chegou na curva. Aprecie cada momento da vida. Até mesmo a sensação de querer morrer. Faz parte. Apenas não aja, não fira seu corpo nem o de ninguém. É certa a morte, para todos nós. Nossos corpos estão a mercê da impermanência. Viva com plenitude. Fale com alguém de confiança, quando quiser morrer. Procure ajuda. Todos passamos por momentos assim. Os momentos passam e a vida continua cheia de surpresas misteriosas e intrigantes. Cuidem-se bem. Mãos em prece.
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