sábado, 23 de abril de 2022

ENTREVISTA

A irreverente Nany People lota show em Fortaleza
Ela está no "Caldeirão" da Globo todos os sábados e apresentou o espetáculo "TsuNany", no Teatro Rio Mar

Um talento que usa a improvisação e a sinceridade com armas de irreverência e bom humor. Essa é a chave do sucesso de Nany People, que esteve em Fortaleza sexta, dia 22 de abril, no Teatro RioMar, em única apresentação com "TsuNany – O Retorno #NovasHistórias". O espetáculo faz parte do projeto Ciro Santos Convida.
Nesse novo solo, a atriz faz uma "relatora social", que expõe assuntos sobre os diversos temas e permite o espectador se tornar um observador de si mesmo. Nany tem uma vasta carreira no teatro, atualmente faz parte do elenco da novela das 19h da Globo, ‘Quanto Mais Vida Melhor’, e participa como jurada do "Caldeirão", com Marcos Mion, aos sábados. Na entrevista para Felipe Muniz Palhano, ela fala sobre o trabalho na noite, o início da carreira no teatro, preconceito, movimento LGBTQIA+, projetos futuros na TV e no cinema, entre outros assuntos.

DIVIRTA-CE - "Tsunany" é um stand-up sobre os hábitos da vida atual, como as cirurgias plásticas, exercícios excessivos, o lado ruim da tecnologia, e as consequências dessas modernidades nos relacionamentos interpessoais. O que mudou nesses anos que o espetáculo está em cartaz? Como é sua relação com os cearenses, na terra do humor? Existe muita interação com o público durante o show?
NANY PEOPLE - Nesses quase doze anos de espetáculo o que mudou foi a certeza que as pessoas estão mais pela forma, que pelo conteúdo. Você não fazer botox, procedimento, lifting, nenhum peeling, você está fora do contexto. Eu me sinto fora do contexto, porque eu não aderi a essa moda. A minha relação com os cearenses é a melhor possível, tenho grandes amigos no Ceará. Tem o Luís Antônio, o próprio Ciro Santos, Tom Cavalcante, Falcão, Rossicléa, são muito queridos! O Luís Antônio que faz a Aurineide Camurupim, é meu irmão de fé. Eu tenho o Ceará como Porto Seguro. É a capital do Nordeste que eu mais frequento, me sinto em casa. Existe uma interação muito grande com o público, que acaba sendo interlocutor comigo. Antes da pandemia eu até descia na plateia. As pessoas se identificam demais, porque eu faço uma analogia de como esses arsenais tecnológicos estão afetando a nossa vida social, pessoal, amorosa e sexual, então é muito divertido.

DIVIRTA-CE - Você é mineira, nascida em Machado, criada em Poços de Caldas, de onde mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar em boates, como drag queen, hostess. Sua história ajudou muitas pessoas a se assumirem e viverem em paz com sua identidade sexual. Fale um pouco como foi essa passagem em sua vida, e o que você acha do movimento LGBTQIA+ atualmente? É mais tranquilo ser trans ou gay hoje em dia? Já sofreu muito preconceito?  
NANY PEOPLE - Na verdade minha vida se fez pelo teatro. Eu cheguei em São Paulo com 20 anos, mas fazia teatro em Poços de Caldas (MG) desde os 10 anos de idade. Eu vim para São Paulo estudar no Teatro Escola Macunaíma e fiz interpretação na UNICAMP. Tive a sorte de trabalhar dez anos no Teatro Paiol, que era do Paulo Goulart e da Nicette Bruno. Entrei na noite acidentalmente. Fui chamada para fazer uma esquete numa boate de grande evidência em São Paulo. Agora, o que eu acho do movimento LGBTQIA+? A resposta é muito ampla. O que posso dizer é que houve uma democratização, mas houve também uma banalização do movimento. Não sei se é mais tranquilo ser gay hoje em dia, porque infelizmente a gente vive no país que mais mata por homofobia, transfobia, preconceito. A gente tem que lutar muito. Você vê gays na TV, rádio e tal, mas é muito pouco. Temos que equiparar o crime de homofobia e transfobia ao de preconceito racial. Tem que ser assim. Hoje as pessoas tem mais liberdade mas o preconceito ainda mata muito. Eu sofri preconceitos veladamente, não de frente, que é pior ainda. Tem vezes que é alguém do seu lado.

DIVIRTA-CE - Ainda curte muito a noite em boates de São Paulo ou do Brasil, faz muita presença VIP? Do que mais sente falta na vida noturna, de ontem, o que mais gosta hoje e o que costuma fazer nos seus momentos de lazer?
NANY PEOPLE - Eu trabalhei na noite por 22 anos. Quando eu saí da noite, em 2008, já não era a mesma coisa. A história da noite virou Dj. Hoje nem presença VIP eu faço mais. O meu modus operandi mudou bastante, até porque eu não frequentava boate GLS para me divertir, era pra trabalhar. Hoje em dia não frequento mesmo, até porque não tem mais tanta boate. Estava passando um dia em Copacabana com um amigo meu e perguntei, "cadê as boates de Copa?". Ele respondeu "não tem mais". Pra me divertir sempre foi teatro, cinema, papo entre amigos. Eu sempre fui mais comportada. 

DIVIRTA-CE - Como artista da TV você foi pioneira sendo uma drag repórter, integrando o elenco de diversos programas com lendas da televisão como Goulart de Andrade, Hebe, Xuxa, Amaury Jr, Ratinho. Agora você participa do Caldeirão com o Marcos Mion na Rede Globo. Dos programas que você trabalhou, qual você mais se orgulha? Qual artista foi um sonho realizado ter trabalhado, e qual você ainda gostaria de trabalhar? Conte uma matéria, entrevista, situação inusitada que você tenha feito ou passado na TV e nunca se esqueceu.
NANY PEOPLE - Fiz o Ratinho até agosto do ano passado, depois fui contratada pela Globo, fiz "Vai que Cola" e novela, e agora estou no Caldeirão. Eu sempre gosto dos programas que faço no momento, tanto que em janeiro fui chamada pra ser jurada de quatro programas, dispensei, mas depois aceitei o convite, com uma ligação do Mion. Eu vou no que acredito, no que eu gosto. Eu tenho cinco grandes mulheres da minha vida: minha mãe, Rogéria, Hebe, Lilia Cabral e Fafá de Belém. As cinco eu convivi, minha mãe, claro, e as quatro que eu idealizava, o teatro me uniu a elas. Um grande sonho realizado foi trabalhar com Lilia Cabral que eu vi no teatro com 15 anos, e fui para São Paulo estudar teatro por causa dela. Uma matéria inusitada foi em Portugal, onde fui fazer matéria três vezes para a Hebe, quando ganhei até uma medalha, uma comenda da Casa de Portugal, porque eu fiz uma matéria sobre vinho do porto. Eu contei a história desde o nascimento das uvas na serra, depois o vinho fabricado na cidade do Porto. Foi lindo, a matéria foi exibida em três semanas, três capítulos, foi muito legal.

DIVIRTA-CE - Você participou de diversos reality shows como Cante se Puder e Popstar na TV aberta, Lol na Amazon Prime Video, e também ficou confinada em A Fazenda, na Record. Entraria no Big Brother do ano que vem? O que achou da experiência de confinamento em A Fazenda? Qual a dica que você daria para o participante de um reality desse?
NANY PEOPLE - Meu bem, eu nunca digo nunca. O nunca de hoje pode ser a única alternativa de amanhã. Eu fiz A Fazenda em 2010, fiz o Popstar em 2018 e o Lol, ano passado. Eu sempre vou no programa que eu acredito e que me convence pela paixão de fazer. Eu nunca digo nunca. A Fazenda me humanizou muito com o público, foi muito bom. Eu era muito personagem e virei persona com A Fazenda. E a dica que eu daria para os participantes é apesar de você ser você, tem esse serviço de mídia, do online, que o pessoal contrata. É complicado. Mas acho que você deve sair de cabeça erguida e não deixar dúvidas da sua personalidade, enquanto ética de vida. Isso que procurei fazer na Fazenda. Saí com fama de brigona, barraqueira, porque eu sempre falei na cara. Nunca fiz linha, nunca bati palma pra maluco. Se eu fosse de novo em reality, eu iria chocar muita gente com o que eu digo. Você não precisa fazer a louca o tempo todo. Maturidade, né?

DIVIRTA-CE - Interpretando um químico trans na novela "O Sétimo Guardião" da Globo, você foi indicada a atriz revelação nos Melhores do Ano, e já participou de alguns filmes no cinema. Tem projetos futuros para atuar, fazer algum filme ou série? Na dramaturgia, no audiovisual, você é fiel ao texto, luta sempre pelo improviso ou depende da situação, do diretor?
NANY PEOPLE - O improviso sempre fez parte da minha vida, sempre faz. Tenho oportunidade de trabalhar com autores e diretores que permitem isso. A própria novela das sete que eu fiz agora cresceu devido essa minha habilidade de fazer o texto ter mais cor. Eu adorei fazer O Sétimo Guardião por isso, o contrato inicial era três meses, fiquei oito. Tenho projetos sim, uma série para a Globoplay, tem mais dez episódios do Vai que Cola, e tem um filme em Fortaleza, em junho. Tem muita coisa vindo por aí.

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