Em entrevista para o DIVIRTA-CE, cantora e atriz conta como conheceu o compositor e foi musa inspiradora da música "Medo de Avião" e fala sobre sua irmã, a atriz Marília Pêra
Sandra Pêra fez apresentação quarta no Theatro José de Alencar, e se apresenta besta sexta em Sobral
O Ceará recebe nesta semana a atriz, diretora, compositora e cantora Sandra Pêra, que pisou no palco do Theatro José de Alencar pela primeira vez com o grupo As Frenéticas. Acompanhada dos músicos Mimi Lessa, Lourival Franco, Pedro Peres e Flavio Santos, a cantora carioca traz a turnê “Sandra Pêra em Belchior” para o Ceará neste mês de abril, dando sequência às viagens pelo país divulgando o segundo álbum de sua carreira.
Lançado pela Biscoito Fino, o disco foi um presente da amiga Kati Almeida Braga, sócia da gravadora, durante um jantar entre amigos. “Estávamos todos ouvindo um disco do Fagner, produzido pelo José Milton, e entre as músicas tocou Mucuripe. Então, a Kati perguntou se eu não gostaria de cantar Belchior. Cheguei em casa, comecei a selecionar algumas músicas, liguei para a minha filha e também produtora musical, Amora, e para o José Milton. Assim nasceu a ideia de homenagear este grande compositor cearense”, conta Sandra Pêra.
Segundo a cantora, só depois de muito tempo ela veio descobrir que era realmente a musa de Belchior, quando ele escreveu a letra “Medo de Avião”. No show marcado para os dias 12 e 14 de abril, em Fortaleza e Sobral, respectivamente, o público vai ouvir na sua interpretação clássicos como “Paralelas”, “Medo de avião”, “Todo sujo de Batom”, “A palo seco”, “Velha roupa colorida”, “Mucuripe”, “Galos, noites e quintais”, “Sujeito de sorte”, e “Ano passado eu morri, mas esse ano eu morro” – esta última, de autoria do repentista paraibano Zé Limeira, absorvido na canção do compositor cearense -, num total de 17 músicas. A direção deste projeto é de Amora Pêra, filha de Sandra e Gonzaguinha. Irmã da atriz Marília Pêra, Sandra também comentou sobre essa influência e falou sobre sua família de artistas e a relação atual com as Frenéticas.
DIVIRTA-CE - Você é atriz, cantora, compositora, diretora. O que veio primeiro, o teatro ou a música? Quando você percebeu que iria viver de arte no Brasil? Como era seu pensamento na época em relação a isso e hoje em dia? Se não fosse artista, teria qual profissão?
SANDRA PÊRA - O início da minha vida nas artes aconteceu quando eu nasci. Sou filha, neta, sobrinha e irmã de atores, de gente que sempre gostou de palco. Minha família sempre esteve ligada às artes de uma maneira geral, em especial ao teatro. Talvez o teatro tenha vindo primeiro e a música foi consequência, não sei. O teatro veio com a minha família, a música sempre esteve comigo, a gente nasce com isso. Pequena, eu brincava de cantar, de compor, a brincadeira era essa. Se eu não fosse artista? Não sei. Já tive muita vontade de fazer psicologia, gosto muito do ramo, adoro. Já fiquei de olho também em arqueologia, mas tudo querendo buscar coisas dos subterfúgios. Mas não tem como você nascer de uma família como a minha e virar médico. É muito difícil.
DIVIRTA-CE - Você está com apresentações marcadas em Fortaleza e Sobral, terra de Belchior, tema de seu novo show. Como foi a concepção desse novo espetáculo? Quais músicas não faltarão no repertório?
SANDRA PÊRA - Na hora que eu e minha equipe decidimos gravar Belchior fui imediatamente para casa e comecei a ouvir. E as que eu gravei são exatamente aquelas que ouvi primeiro. Eu sabia o que eu não queria. Não porque eu não goste, acho todas as músicas lindas, mas não queria cantar "Como Nossos Pais" porque é muito Elis, né? Escolhi outro repertório, e fui me apaixonando pelos textos das músicas. São músicas que já estão no nosso sangue, nosso DNA, você começa a ouvir e canta.
DIVIRTA-CE - Belchior é uma grande influência para você, na sua música? Você chegou a conhecê -lo?
SABDRA PÊRA - Conheci o Belchior dentro de um avião, indo para Fortaleza, no primeiro show das Frenéticas em Fortaleza. Ele me disse que fez "Medo de avião" para mim, e eu não acreditei quando ele contou. E eu tenho medo mesmo! Eu não acreditei mesmo que ele tivesse feito uma música para mim, mas tempos depois pessoas vinham me dizer: "o Belchior fez essa música para você". Eu respondia, "tá doido", não tinha nem sentido, nunca tive nada com o Belchior. Achava ele um gênio. Nós Frenéticas gravamos com ele a música "Corpos Terrestres", toda falada em latim, uma loucura, uma beleza de trabalho. Quando lancei esse disco agora, que falei essa história a vários jornalistas, o Acervo Belchior me mandou um vídeo com uma entrevista que ele conta que fez a música pra mim. Disse na entrevista que eu havia contado a ele que todas as vezes que eu sentava na cadeira do avião, eu dizia a pessoa ao meu lado que eu precisava pegar na mão. E é isso mesmo, com certeza eu faço isso até hoje. Não conheci o Belchior profundamente, mas o suficiente para admirá-lo.
DIVIRTA-CE - Além de Belchior, quais outras referências você tem na música? O que você está escutando atualmente?
SANDRA PÊRA - Eu ouço muito rádio. Adoro ouvir rádio e meus CDs antigos. Eu não me desfaço deles. Eu tenho até uns LPs também. Como eu ouço bastante rádio, escuto tudo que executam. E gosto imensamente dos nossos amores, como Gal Costa, Bethânia, Chico, Gil, Milton, Lenine, Paulinho Moska, Cassia Eller. Continuo ouvindo e vou morrer ouvindo essas pessoas que fizeram a minha cabeça. Continuo ouvindo eles e tudo que toca na rádio, então ouço muita música americana, rap, tudo.
DIVIRTA-CE - Você mantém contato com as ex companheiras de As Frenéticas? Após o fim do grupo, vocês fizeram turnês e um documentário. Tem vontade de revisitar mais uma vez o repertório do grupo?
SANDRA PÊRA - Você sabe que fiz um show com a Du. Tenho contato com a Regina Chaves e com a Du Moraes. A Lidoca e a Edir infelizmente faleceram. A Leila eu vejo menos. Eu fiz um show há uns sete anos atrás com a Du, e fizemos por vários anos. Era um show que falávamos sobre nossa amizade musical, desde quando nos conhecemos, passando pelas Frenéticas, também com músicas que gostamos de cantar. Era um show bem engraçado, contávamos histórias. Com a Leila tenho menos contato, mas fiz com ela há 4 anos atrás um espetáculo chamado 70 Doc Musical, no Teatro Claro NET, eu, Du, Leiloca e Baby Consuelo.
DIVIRTA-CE -Você tem um vasto e incrível trabalho no teatro e no audiovisual, com diversas novelas e filmes em sua trajetória. Tem algum projeto para voltar a atuar?
SANDRA PÊRA - Sempre tenho, como te falei, teatro também está no meu DNA. Tenho uma peça de uma dramaturga maravilhosa carioca. Vou fazer uma leitura com o Marcus Caruso, que é meu amigo, meu amor, ele que irá dirigir. É um ciclo de leituras. Agora estou muito voltada para o Belchior. O projeto desse show demorou para sair por causa da pandemia. A Lei Rouanet saiu e já fiz Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e estou agora em Fortaleza. Vamos abrir uma nova etapa da turnê. Quero mostrar o Belchior em Recife e outros estados.
DIVIRTA-CE - Sua irmã, a grande Marília Pêra, uma das maiores atrizes da história da cultura brasileira, influenciou você em seus trabalhos de atriz e diretora? Como era sua relação com ela? O que sente mais falta?
SANDRA PÊRA - Minha irmã era meu amor. Tínhamos uma diferença de idade mas depois nos aproximamos. Nós tínhamos uma relação muito cuidadosa uma com a outra. Cuidei dela até o fim e ela cuidou de mim a vida inteira. Quando ela morreu, virei herdeira dela junto com os filhos. Para você ver como era uma relação muito maternal, muito fraternal. Uma pessoa que amei muito e vou amar para sempre. Sim, ela tem uma influência enorme na minha vida, assim como a família. Ela aprendeu muito com a família. Quando ela era pequena, a vida profissional dos meus pais estava muito agitada, ela acompanhou muito eles. Quando eu nasci, peguei um período digamos não muito lucrativo. Então ela aprendeu muito com a Dulcina de Moraes e outros. Marília era uma pessoa muito séria no trabalho, amava a profissão de atriz. Então quando ela era diretora você aprendia muito com ela. Você aprendia só olhando ela fazer, era uma aula. Quando ela vinha te dirigir era mágica! Era uma loucura. Então ela me faz uma falta enorme como minha irmã. Eu digo que ela é minha irmãe. Ela faz falta também na vida da família, pois ela era uma mulher muito forte. É um matriarcado que começou com minha mãe, ela, e neste momento eu sou a matriarca da família. Ela faz muita falta, me influenciou muito, assim como influenciou muitas atrizes e atores. Você olha e vê que tem uma escola dela, é muito lindo. A minha irmã, que Deus me deu, é um espetáculo.
DIVIRTA-CE - Como é sua relação com o público cearense? Já fez muitos shows no Ceará na época das Frenéticas? O que podemos esperar do show "Sandra Pêra canta Belchior"?
SANDRA PÊRA - Eu já estive várias vezes em Fortaleza. Várias vezes de formas diferentes. O primeiro show foi esse que eu fui com o Belchior no avião. Olha que sorte, que lindo. Nesse show também estava a cantora Simone, e até hoje somos grandes amigas. Ela está estreando agora um show novo de 50 anos de carreira e foi em Fortaleza que conheci a cantora Simone. Eu vim com As Frenéticas e vim com minha irmã fazendo o espetáculo Elas Por Ela. Tenho muitas histórias nessa cidade maravilhosa, nessa terra linda de Belchior.
Serviço:
SANDRA PÊRA CANTA BELCHIOR
- Sobral
Show Sandra Pêra em Belchior – Parceria com o Sesc de Sobral (Projeto Mesa Brasil)
Local: Theatro São João
Endereço: Praça São João, 156, Centro, Sobral/CE
Data: 14/04 (sexta-feira)
Horário: 20 horas
Ingressos: 2kg de alimento por pessoa. Os ingressos já estão liberados para retirada na sede do SESC. No dia, os ingressos podem ser retirados no teatro, a partir de duas horas antes do show.
Informações: (88) 3611-2712
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