sexta-feira, 24 de maio de 2024

Gorete Milagres comemora 30 anos da personagem Filomena e recebe proposta da RecordTV

A atriz respondeu a entrevista de Felipe Muniz Palhano durante temporada de seu espetáculo em Fortaleza

Com o seu bordão “ó, coitado”, a empregada Filó segue divertindo gerações. Filomena comemorou em Fortaleza os seus 30 anos de personagem, com apresentações no Theatro Via Sul Fortaleza. A atriz respondeu a entrevista de Felipe Muniz Palhano e falou sobre vida, carreira e os planos para o futuro.

Sobre a sua expectativa para o espetáculo em Fortaleza, a atriz comentou: “É a primeira vez que apresento no Nordeste, é o meu sexto solo com a personagem e já viajei com a Filó por todo o Brasil e até para os Estados Unidos, menos Norte e Nordeste. Amo o Ceará, sobretudo os cearenses!” Leia a Entrevista:


DIVIRTA-CE– Como sua formação no Teatro Universitário da UFMG e em Roteiro pela Universidade Anhembi Morumbi influenciou sua abordagem à comédia e ao teatro?

GORETE MILAGRES –  Preparado para uma história? Aqui vai: em 1991, durante o primeiro semestre do curso no TU/UFMG, a Universidade produziu a opereta “Il Festino”, envolvendo os alunos do TU, o coral Ars Nova e a Escola de Música da UFMG. Sob a direção de Ivan Feijó, vindo de São Paulo, o roteiro teatral da ópera incorporou os principais personagens da Commedia Dell’arte Italiana. Fomos solicitados a apresentar uma cena cômica como teste. Eu trouxe minha personagem Filomena, já existente desde minha pré-adolescência, inspirada nas empregadas da fazenda de meu avô. Costumava interpretá-la para minhas amigas em casa. Para o teste, escrevi um texto um dia antes, definindo o nome e o perfil da personagem. Passei no teste entre 60 estudantes concorrendo a 30 vagas para a parte teatral da opereta. Durante dois meses, estudamos o corpo, os perfis dos personagens e o improviso nos moldes da Commedia Dell’arte, com um professor do TU especializado nas máscaras da comédia italiana. Após dois meses de trabalho intenso, fui selecionada para protagonizar a opereta como Arlecchino, o personagem principal e cômico que costurava o roteiro da peça. No teatro Piccolo di Milano, um ator representa Arlecchino por 50 anos ou mais. Foi meu primeiro espetáculo profissional, estreando no Grande Teatro do Palácio das Artes em Belo Horizonte, com 1.500 pessoas rindo do meu Arlecchino. Nesse momento, pensei: vou fazer da Filomena meu Arlecchino! Guardei o texto do teste, formei-me em 1993 com outro personagem masculino e cômico, Trinculo, da peça “Tempestade” de Aimé Césaire, uma obra paródica de Shakespeare.

Logo após a formatura, fui contratada pela Cia de Teatro de Rua, Grupo Atrás do Pano, e participamos em 1994 de um espetáculo no FIT/BH, Festival Internacional de Teatro, baseado em um livro construído através do improviso. Durante o festival, fui convidada para apresentar uma esquete solo na Mostra Paralela em um bar, estreando como Filomena, utilizando o roteiro do teste e todos os ensinamentos do TU, com improviso e total interação com o público.
Após a estreia em 30 de maio de 1994, fui contratada por um grande restaurante em BH e improvisei de mesa em mesa. Utilizando esses textos de improviso e o texto engavetado, escrevi o roteiro para teatro com minha personagem. Deu certo, o teatro lotava e o público participava. Em 1997, cheguei à TV com uma personagem testada, bem construída e humanizada, viajando por 12 anos com esse primeiro solo da personagem.
O curso de Teatro teve uma importância relevante para minha formação como comediante, e a Commedia Dell’arte foi o fio condutor para a construção da personagem, humanizada, e me inspirou a interpretá-la para sempre. Sempre fui observadora e tive uma mente inquisitiva e curiosa. Muitas histórias que ouvia me faziam pensar “isto dá um filme”. Sempre gostei de escrever e tinha uma criatividade inquieta. Em 1997, escrevi com Arnaud

Rodrigues meu teste para “A Praça é Nossa”, e depois escrevi alguns roteiros do meu programa no SBT com o genial Moacyr Franco. Em 2000, criei o formato da 3a temporada do “Ô Coitado” e coordenei uma equipe de roteiristas para a terceira temporada do meu programa. Aprendi muito com minha equipe, composta por Eliana Fonseca, o escritor Reinaldo Moraes, Ronaldo Ciambroni, Arnaud Rodrigues e Tony Goes, ex-colunista da Folha de São Paulo. Em 2004, logo após sair do SBT, estudei cinema para me profissionalizar como roteirista. O curso foi importante para escrever os outros solos da personagem e alguns roteiros de cinema que tenho engavetados.
Um deles é um drama, outro uma comédia romântica e dramática que se passa em Cuba. Em 2012, escrevi um livro infantojuvenil sobre a vida da Filomena, adotado por escolas públicas e particulares. Atualmente, estou escrevendo o roteiro do longa-metragem baseado no livro, em parceria com o roteirista Rubens Rewald e o escritor Ubiratan Muarrek, com contrato assinado pela Miração Filmes. Participei de alguns filmes, séries e novelas.
Em 2022, apresentei um programa na Band. Essa formação me ensinou bastante, tornou-me mais exigente e preparada para interpretar um roteiro com suas qualidades e falhas. Acredito que isso é importante no processo seletivo para condução da minha carreira.


DIVIRTA-CE– Pode compartilhar como a personagem Filomena evoluiu desde suas primeiras apresentações até se tornar um ícone da televisão brasileira? Como você vê o impacto cultural e social da sua personagem Filó, especialmente em relação às questões de classe e gênero?

GORETE MILAGRES – No primeiro solo em cartaz de 1994 até 2003, “FILOMENA”, assumi a atuação, criação, roteiro e direção. Estreia em BH, turnê pelo Brasil, exceto norte e nordeste, infelizmente. No espetáculo, a personagem confundia o Teatro com uma agência de empregadas e narrava suas preferências para conseguir emprego. Foi babá desde os 12 anos, depois cresceu analfabeta, dentes podres, roupas de tecidos simples, usava chinelas de borracha. Saiu da roça, do interior de MG, com o sonho de prosperar na cidade grande. Virou doméstica em BH, depois diarista para ganhar mais, para realizar o grande sonho: São Paulo. Dividia um barraco com sua prima Custódia (outra personagem minha). Por anos, foi diarista, empregada doméstica sem carteira assinada, sonho da aposentadoria bem longe da sua realidade tragicômica. Virgem por opção, não teve nenhum exemplo de um casamento bom, além do casamento dos seus pais. Simples, ingênua, mas perspicaz! Pobre, mas de espírito rico em felicidade, simplesmente pela existência. Lutadora, vivia com pouco, dividia barraco com as primas que saíram da roça no êxodo Rural de 1970. Por onde passava, encantava patrões e crianças! Muito comunicativa, simpática, com ganas de aprender e com o lema: “Fazer Amizade é o que vale”.  Trabalhei em 1995 em grande restaurante em BH que recebia mais de mil pessoas em um fim de semana. Todo mundo achava que a Filomena era cozinheira do restaurante. Ela passava de mesa em mesa puxando papo. Famílias inteiras iam todos finais de semana no restaurante encontrar com a Filomena, que puxava papo de mesa em mesa, e as pessoas se divertiam com a intervenção daquela mulher. Ai tudo que era engraçado eu escrevia quando eu chegava em casa. Filó era diarista em Belo Horizonte e nos dias de folga, ao contrário das amigas que iam pro Parque Municipal, ela ia visitar asilos e hospitais, visitando desconhecidos e abandonados pela família nos Hospitais de BH. Na verdade, isso fez parte de um projeto vendido para um plano de saúde onde eu visitei mais de 100 hospitais em BH.

Fui selecionada em 1996 por uma banca examinadora e passei a participar com Filó e mais duas personagens (Custódia e Zilurdes, a radialista) no FIT/BH – Festival Internacional de Teatro de Rua de BH. Circulei com Filomena e as outras duas personagens pelos ônibus, metrôs, Foyer de Teatros e praças de BH. Ganhei um prêmio de Melhor Comediante por este trabalho.
Em 1997, chegou A Praça é Nossa! Filó hegou na TV – com o mesmo padrão e histórias da estreia em BH. Em 1999 foi o prrograma Ô Coitado: a doméstica trabalha sem carteira assinada para um músico decadente Steve Formoso (Moacyr Franco). Não tinha salário, faltava comida em casa, o que me dava muito humor e audiência. Ingênua e subserviente como sempre. Tinha o galo de estimação, que ela apelidou de Marco do Gerson, pois ele cantava feito o Michael Jackson. Continuou analfabeta e com os dentes podres. Nessa época, virou boneca da Estrela!  Em 2000, Ô coitado solo, Filó trabalhou para uma família, com carteira assinada, morava na casa da família, assistia televisão junto com os patrões, tinha uma televisão no quartinho, com fotos dos seus ídolos: o Papa, Roberto Carlos e Silvio Santos. Na televisão do quarto ela assistia novelas (A Escrava Maura, programa do Gatinho, Programa do Bubu, Chicletitas – todas paródias dos programas existentes na época). Era uma metalinguagem dentro do programa. Eu interpretei vários personagens! Eu e mais três artistas mineiros escrevíamos o texto, depois de muita improvisação na minha casa, e era gravado. Uma das artistas da novela era Marlette Villares, uma atriz famosa, interpretada por mim, e a Filomena era muito fã dela. Ela era vizinha do prédio onde a Filó trabalhava. Mas Filó só a via pelas revistas de Fofocas e pela área de serviço. Ficou amiga da empregada da atriz, e elas se comunicavam pela área de serviço, ou ela ia assistir a novela junto com Filó. Ela foi feliz! A patroa a levou ao dentista e tratou os dentes dela. Realizou um sonho. O elenco era formado por 11 atores. Em 2005 teve o segundo espetáculo da personagem. Vida de Empregada! Era um espetáculo de esquetes que criei e escrevi junto com o comediante Wilson de Santos, ex da Cia Baiana de Patifaria. Viajamos muito por todo o estado de São Paulo. No mesmo ano, voltei pro SBT com a personagem chamada Silvio para alavancar o Ibope do Ratinho e da Adriane Galisteu. Entre 2006 a 2012 fiquei contratada pela TV Record e fiz Novelas – entre uma novela e outra, fazia espetáculos corporativos, vendidos para empresas. Em 2006, fiz outro solo: Filomena Desemprega Ô coitada! e viajei por 10 cidades nos EUA. Entre elas Atlanta, Nova York e Miami. Entre 2004 Filomena e outros personagens no Show do Tom na Record. Em 2012 comemorei os 18 anos da personagem com espetáculo – Filódáemprego.com – Turnê de 2012 a 2014. Estreia em BH. Temporada em São Paulo e turnê por Minas e outros estados. Neste espetáculo eu dei uma reviravolta na vida do personagem. Ela, depois de ter sido faxineira, empregada, se alfabetizou, também com a ajuda de um patrão. Fez cursos de copeira, governança. Foi governanta, governanta mensalista nas mansões

Filomena, antes da PEC das domésticas, quando faltava domésticas no mercado, ela se arriscou como empreendedora e abriu a própria agência. Me inspirei em várias famílias da fazenda do meu avô que foram para SP, trabalharam no serviço doméstico e depois viraram empreendedores. Muitos se arriscaram e poucos se deram bem. A maioria que se arriscou no empreendedorismo não teve incentivo à escolaridade. A maioria dos patrões não incentivava as trabalhadoras domésticas a estudar, pois preferiam elas dormindo no emprego com jornadas exaustivas de trabalho, sem horas extras e folgas devidas. Esta é a realidade de milhões de empregadas domésticas no Brasil. Depois da PEC das domésticas, elas conquistaram os seus direitos, mas muitos patrões não quiseram pagar os direitos das trabalhadoras e preferiram demitir as domésticas e contratá-las como diaristas duas vezes por semana. Filomena faliu. As domésticas migram para emprego informal e tiveram que correr atrás de novas diárias. Ganhavam mais e não recolhiam o ISS. Na pandemia, o impacto social nesta classe trabalhadora brasileira foi gigante. Muitos patrões demitem as suas diaristas, e elas foram viver do auxílio emergencial. E até hoje estão lutando para sobreviver. A empregada que trabalha para milionário se aposentou ou vai se aposentar.

Mas esta fatia é muito pequena. A desigualdade social é uma triste realidade brasileira. Mas o pobre, luta, segue e muitos não perdem a esperança e alegria de viver. No espetáculo, Filomena narra todos estes altos e baixos, adentrando em questões sociais, raciais e de gênero. Filomena é católica, tem fé, reza, mas não é extremista, respeita todas as religiões. É feminista, nunca precisou de homem para sobreviver, tem autoestima, depois que aprendeu a ler, dá um Google e se inteira de qualquer assunto, respeita a sexualidade e as escolhas do outro e a identidade de gênero. Diz: “Cada um é um” nas suas pseudoparadigmas, se identifica como cis e ao mesmo tempo assexuada, mas ela nunca viveu um romance e nem pretende. Mas nunca falou sobre isto. Ela diz: “Filhos para que?” Se ela faz mal, dá conta da própria existência?


DIVIRTA-CE– De que maneira você integra as técnicas de improvisação da Commedia Dell’Arte em seus espetáculos atuais? Pode falar sobre a experiência de interpretar personagens masculinos, como Arlequim e Trinculo, e como isso influenciou seu trabalho posterior? Pode descrever um momento particularmente memorável ou significativo de sua carreira no teatro de rua com o grupo Atrás do Pano?

GORETE MILAGRES – Nos primeiros espetáculos, eram totalmente interativos. A técnica é basicamente ter um personagem bem construído, definido desde o perfil psicológico, social, com identidade e abrir conversa com o público. A cada pergunta, uma resposta e a piada acontecia inevitavelmente! O meu espetáculo atual, como ele é comemorativo e de 100 minutos, a conversa com o público eu deixei para o momento das fotos depois do espetáculo no foyer do teatro. Quando o teatro autoriza que as fotos aconteçam no palco, o espetáculo continua e o improviso corre solto. Interpretar o Arlequim foi um grande desafio, pois foi a primeira vez que subi no palco. Deu um frio na barriga jamais sentido posteriormente na mesma intensidade. Eu fui muito bem preparada para o trabalho e construir um personagem masculino daquela grandeza foi um grande desafio. Este personagem de estreia abriu portas e fez o meu nome virar um acontecimento. Modéstia parte, acho que ali, abri as portas da carreira com chave de ouro.
O Trinculo foi o menor papel dentro do espetáculo de formatura do TU/UFMG e eu lidei muito bem com isso. Eu intuí que precisava fazer aquele papel pequeno, um grande personagem. Aconteceu!! Antes de falar uma palavra, ganhei o público e quando isso acontece a alma do ator não é mais dele, é do público. Era bêbado e atrapalhado, usava bigode e foi muito bom interpretar este personagem para mim.
O primeiro trabalho com o Grupo Atrás do Pano foi uma adaptação de um livro infanto-juvenil do escritor e artista plástico mineiro Marcelo Xavier: “O Tem de Tudo Nesta Rua”. O diretor Rodrigo Campos, que mais tarde dirigiu meu programa no SBT, era diretor, coreógrafo e cenógrafo e conduziu a direção aos moldes da Commedia dell’arte. A adaptação do livro foi feita por nós, os atores e o diretor da Companhia. Através da improvisação, criamos as cenas e o texto. O resultado foi incrível, eu fiz três personagens: uma catadora de lixo que puxava uma carroça cenograficamente incrível. Fiz uma mulher caricata que ia tirar uma foto com um lambe-lambe de rolinhos e lenço na cabeça, e fiz uma criança que estava perdida da mãe chorando na rua. O Teatro de Rua me ensinou que conquistar um público transeunte e de todas as classes sociais, inclusive pessoas em situação de rua, era um sentimento transformador. Foi uma experiência de importância muito significativa. Depois foi a grande inspiração para minha carreira solo com a Filomena.


DIVIRTA-CE–  Como você equilibra a humanização de suas criações cômicas com a necessidade de fazer humor que ressoe com um público amplo? Quais foram os maiores desafios e aprendizados ao longo de sua carreira solo após o sucesso inicial com a personagem Filomena?

GORETE MILAGRES – O trabalho do ator cômico com uma personagem humanizada e com um público amplo deve ser um ato social e político!
Os maiores desafios foram sobreviver, sendo uma mulher de 1,50, mineira, fora do eixo Rio/SP/Ceará – berço esplêndido dos maiores humoristas do Brasil – numa TV que já tinha um “monopólio do humor”. Eu conquistei com o meu trabalho e talento, fui campeã de audiência da TV Brasileira, deixei de ir para a Globo para estar ali e fui no auge descartada feito um papel de bala. A bala da guerra do Ibope. O maior aprendizado é que há de se manter forte, resistente e resiliente, pois ser mulher no humor na TV ainda envolve questões machistas, preconceituosas e abusivas, infelizmente!
Sou uma sobrevivente! E ainda sim, me orgulho por isso. Podia ter morrido deprimida, mas preferi seguir, fazendo algumas novelas, séries, cinema e mesmo que sem patrocínio fazendo TEATRO, que é a minha essência intocável.


DIVIRTA-CE– Como você percebe a evolução do humor e da comédia no Brasil desde o início de sua carreira até hoje? De que forma suas raízes mineiras e a cultura popular brasileira se refletem em suas performances?

GORETE MILAGRES – O humor, com a construção dos grandes personagens criados por humoristas e comediantes, é eternizado, sem sombra de dúvida! Depois, com o advento do stand-up, tardiamente surgido no Brasil, muitos talentos surgiram e desapareceram, e com a facilidade das redes sociais, a todo momento pipoca um novo(a) humorista. Às vezes, tenho a impressão de que saem do humor familiar, aquela pessoa engraçada que resolve fazer um stand-up e super rola ou não. Esta é a facilidade que as redes sociais proporcionam a pessoas que nunca teriam uma formação ou condições de chegar à TV. Vivemos uma alta democratização do humor brasileiro. Eu não tenho preconceito! Admiro esta nova onda e estimo! Até a Filó resolveu fazer o “stand-up” dela, “afinal, tá todo mundo virando artista”. Humor é cura! Rir é o melhor remédio!
Eu sou tataraneta, bisneta, neta e filha de fazendeiro. As minhas raízes mineiras e a cultura popular mineira tiveram um papel fundamental na minha carreira. Foi no interior de Minas, observando mulheres simples na sua razão de existir, as empregadas domésticas de corações imensos e de uma simplicidade estonteante e tragicômica, que cuidavam de mim na infância e que seguimos na convivência até os dias de hoje, foram a minha grande fonte de inspiração para a construção da minha personagem Filomena, Custódia, Zulurdes e o Zé Broinha!


DIVIRTA-CE– Pode discutir o papel da comédia na sua vida pessoal e como ela pode ser uma- – ferramenta para enfrentar adversidades? Você é bem humorada no seu dia a dia? Como você vê o futuro da comédia no Brasil, considerando as mudanças tecnológicas e culturais recentes?

GORETE MILAGRES – Todo comediante é muito dramático. O humor na minha vida teve um papel de cura. Na infância e na adolescência, eu sofri muitos dramas pessoais. Eu fui salva por uma casa que vivia cheia de familiares (meus pais tiveram 14 filhos) e muitas crianças! Eu aprendi com o meu instinto de sobrevivência a transformar meus dramas em comédias! Eu fui salva pelo humor, sorte minha! A trama me acompanha. Ser mulher não é fácil, mas às vezes, no pior momento, eu saio para dançar um forró e na dança eu entro num estado de meditação e quando eu saio dançando, sem perceber, eu faço todos à minha volta rir. Volto para casa leve, feliz e durmo profundamente. No outro dia, o drama não existe mais!
Sim, sou bem humorada no meu dia a dia! O que mais ouço dos amigos, principalmente, é que preciso fazer o meu stand-up urgentemente! A comédia no Brasil atual viralizou na internet. Pode ser um nada com nada, lota teatros imensos. Apesar de existirem bons humoristas surgindo nessa leva, existem previsões catastróficas para o ser humano nas próximas décadas. Ele está cada dia mais viciado no celular, muitos nem saem de casa, alguns já acreditam e seguem personagens construídos pela Inteligência Artificial. Esta é uma grande preocupação dos produtores e artistas de teatro para levar o público ao teatro. A IA vai tirar o homem do trabalho homem. Mas nada pode tirar o trabalho do artista do Teatro. Eu espero que o futuro da comédia no Brasil seja tomado pelo saudosismo dos grandes e antigos comediantes e que os novos possam, além de entreter, falar de questões importantes e relevantes. Eu teimo que aconteça com o teatro o que aconteceu com as salas de cinema no Brasil. Muitas viraram igrejas que visam ao dízimo e não pagam impostos!


DIVIRTA-CE- Quais são seus planos futuros para novos personagens ou projetos no teatro, cinema ou televisão?

GORETE MILAGRES - Meu foco daqui pra frente, além da turnê com o espetáculo "Filomena 30 anos de Peleja", é escrever o meu stand-up. Pretendo chamar minha filha, Alice, que é atriz e pós-graduada em atuação e direção, para me dirigir!

Sobre o meu stand-up, ainda estou indecisa com o nome: "O INVERSO DA FILÓ" ou "Esperando O MUNDO ACABAR EM JERICOACOARA"! Rs. Eu tenho no meu Instagram um quadro que fiz na pandemia: "Eu & Eles" - sobre a vida sexual dos meus pais. Este quadro diz muito sobre o ambiente cômico que vivencio, principalmente no momento da velhice dos meus pais. Quero levá-los para o meu stand-up e costurar com histórias da mulher que me tornei a partir da vida deles. Depois de quatro casamentos, me tornei uma mulher livre que resolveu se mudar para Jeri para se aventurar no negócio e na vida... Descobri que lá é um parque de diversão e aprendi que a solitude pode ser excitante! Quero encorajar, com humor, as mulheres, principalmente aquelas que vivem casamentos abusivos, a saírem da instituição mais falida do século: o casamento! Com curso de paquera e dicas certeiras para viver amores apenas líquidos! Jeri foi inspirador nos três anos que vivi lá. E claro, não vou falar só de mim, mas também de experiências de outras mulheres livres que me inspiraram.

Cinema - "FILOMENA" - Longa-metragem. Entramos na Lei Paulo Gustavo para desenvolvimento de roteiro, com argumento, sinopse e perfis dos personagens e estamos aguardando a resposta. Mas decidimos ontem que mesmo sem a resposta da lei, vamos escrever o roteiro a partir de abril.
TV - Fui sondada para fazer um quadro com a Filomena em um programa na Record. Meu agente está conversando, nada acertado ainda!

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