segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

ENTREVISTA com o cantor Adriano Uchôa: Alfazemas e o sucesso no Carnaval do Ceará

A Banda Alfazemas é composta por Adriano Uchôa, Carolina Maia, Aldenor Paiva, Thiago Oliveira, Alexandre Lima, Rossano Cavalcante 
Quem nunca cantou e dançou ao som de "Nunca mais", "Cabaré da Saudade" ou "Balada do Amor"? Essas são algumas das músicas que fizeram parte da trilha sonora de muitos foliões que curtiram o Carnaval de Fortaleza nos últimos anos. E elas têm algo em comum: são releituras da banda Alfazemas do Ceará, que se consagrou como uma das mais queridas e divertidas do Estado. A banda, que começou em 2012 com um repertório de brega, foi ampliando seu estilo musical ao longo dos anos, incorporando hits de diversos gêneros, como pop, rock, sertanejo, forró e axé. Com uma pegada irreverente e bem-humorada, os Alfazemas conquistaram o público com suas performances cheias de energia e carisma. O sucesso foi tanto que a banda não se limitou ao Ceará e levou sua alegria para outros Estados do Nordeste, como Paraíba, Piauí e Maranhão. 
Além disso, os Alfazemas também marcaram presença no cinema, com uma participação na trilha sonora do filme "O Shaolin do Sertão" (2016), do diretor Halder Gomes, e no DVD "Cabaré da Saudade" (2015), que registrou um show ao vivo no Theatro José de Alencar. Agora se preparam para maratona de shows no Carnaval. A Agenda está ainda aberta para contestações, e o cantor Adriano Uchôa, o vocalista da banda, conversou com o Jornal O Estado sobre a carreira, influências, e experiências pessoais do artista em sua trajetória com a banda, que é considerada a cara do carnaval cearense, lotando shows por onde passa. Leia a entrevista. 

DIVIRTA-CE - Como surgiu a ideia de formar a Banda Alfazemas, que se tornou um dos principais nomes da música pop, brega e rock em Fortaleza? Quais são as principais influências musicais da banda, tanto nacionais quanto internacionais?
ADRIANO UCHÔA - A banda surgiu como uma brincadeira em setembro de 2010, quando a maioria dos integrantes ainda era composta por estudantes universitários. A proposta era debochar da narrativa romântica e idealista dos modelos de relacionamentos mais conservadores, utilizando o repertório e o universo da música brega como licença poética para o escracho e a teatralidade da proposta. É difícil mencionar quais artistas influenciam a banda, pois cada músico contribui com suas características para o show, mas certamente todos compartilham do gosto pelo bom e velho rock n roll.
DIVIRTA-CE - Fale sobre a experiência de participar da trilha sonora do filme “O Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes, com uma releitura da canção “Nunca mais”, de Odair José.
ADRIANO UCHÔA - Foi uma experiência simplesmente mágica! Halder é uma pessoa iluminada, e me sinto grato por ter a oportunidade de trabalhar com ele. Cresci como um aficionado por locadoras, guardando a grana que minha mãe me dava para comprar merenda na escola e alugar filmes quase todos os dias. Tínhamos um videocassete velho que ganhamos já quebrado de uma tia que havia comprado um novo, mas o bicho era invocado! Passava horas vendo filmes, sempre amei cinema. Quando Halder dirigiu nosso DVD Cabaré da Saudade em 2014, comentei com ele o quanto sonhava em conhecer um set de filmagem. Tempos depois, ele me ligou e convidou a banda Alfazemas para a trilha, além de me chamar para uma ponta de figuração no filme. “Deixa a barba e o cabelo crescer. Ah! Tapa os buracos da zureia que o filme é de época”. Quando Halder me falou isso, me senti uma estrela de cinema que faz aquelas preparações altamente cheias de onda. Tirei meus alargadores e fiz o que ele me pediu. Tudo que envolve esse trabalho é especial para mim. Conheci muitas pessoas maravilhosas, fiz bons amigos com quem mantenho contato até hoje, como o querido Claudio Jaborandy com quem contracenei, além de conhecer outros artistas incríveis. Um belo dia estava tomando café da manhã com Dedé Santana e conversando com um cara que alegrava a infância de milhões de brasileiros, assim como a minha. Participei da première no Rio de Janeiro com todo o elenco, pude conhecer um set de filmagem e ainda atuei. Mas talvez um dos fatos mais legais tenha sido conversar com Odair José sobre a música. Essa canção faz parte de um dos maiores álbuns do rock nacional, apesar de ser pouco falado atualmente, “O Filho de José e Maria” foi um trabalho conceitual de Odair que gerou muita controvérsia na década de 70 ao discutir alguns dogmas da Igreja Católica em suas músicas, apresentando uma narrativa sobre Jesus mais humana. A canção “Nunca Mais” é minha preferida do disco e quando Halder me convidou para gravar uma versão para ela, foi como a realização de um sonho.

DIVIRTA-CE Qual foi o maior desafio que a banda enfrentou ao longo de quase 14 anos de carreira?
ADRIANO UCHÔA - Conciliar datas comemorativas é sempre um desafio. Neste ano pude passar o réveillon com meu filho e foi muito especial pra mim. Fazia anos que cantava na hora da virada. A partir de agora para abrir mão desses momentos precisa realmente ser algo especial.
DIVIRTA-CE - Como a banda se adaptou às mudanças provocadas pela pandemia de Covid-19, que interrompeu os shows presenciais?
ADRIANO UCHÔA - Fizemos o que todos fizeram: paramos. Chegamos a promover algumas lives, mas desde a pandemia até o momento atual, a banda passou por muitas pausas. Pensamos em parar o trabalho de vez algumas vezes. Foi um período confuso, doloroso e muito complexo para nós, mas no final das contas, estamos aqui e temos a chance de recomeçar. Vamos viver!

DIVIRTA-CE - Quais as maiores dificuldades em ser um artista do Ceará e quem são os grandes parceiros da Alfazemas no estado?
ADRIANO UCHÔA - Antigamente, quando alguém falava sobre o quão difícil era ser artista, as pessoas não levavam isso muito a sério, imagine hoje com a precarização das condições de trabalho para muitas outras categorias. Durante a pandemia, precisei trabalhar vendendo bolinhos de rapadura que eu mesmo fazia. Pedalei pela cidade inteira trabalhando como entregador dos meus produtos, e te falo que é muito mais difícil enfrentar os percalços dessa profissão do que lidar com um contratante mais teimoso. Eu me sinto privilegiado por ser cantor e pelo meu trabalho levar alegria para o coração das pessoas. Não há nenhuma dificuldade nisso, e as que aparecerem, a gente lida com elas. A correria é bruta para os brasileiros, então a gente decidiu levantar a cabeça, lutar e conquistar o que é nosso.
DIVIRTA-CE - Como foi a recepção do público aos dois DVDs ao vivo da banda, “Cabaré da Saudade” (2015) e “Tu!” (2018)?
ADRIANO UCHÔA - Nosso público é muito massa! A galera que segue a banda costuma comprar nossas ideias e são parceiros em tudo que fazemos. "Cabaré da Saudade" até hoje é tocado nos botecos do Brasil todo. Vez ou outra, eu recebo um vídeo disso. O “Tu!” acabou se tornando um trabalho perdido. Não sabemos onde estão os originais do áudio e nem temos as imagens. Quem sabe um dia alguém encontre isso e faça algum tipo de lançamento, seria legal.

DIVIRTA-CE - Quais são os sonhos e projetos de Adriano Uchôa para 2024?
ADRIANO UCHÔA - Quero profissionalizar ao máximo nosso trabalho em 2024. Retornar ao Ciclo Carnavalesco no Benfica, gravar um álbum com a banda e viajar para a Amazônia nas minhas férias.

SERVIÇO
BANDA ALFAZEMAS
Adriano Uchôa - voz
Carolina Maia - Bateria 
Aldenor Paiva - teclado e voz
Thiago Oliveira - guitarra e voz 
Alexandre Lima - Baixo
Rossano Cavalcante - Percussão


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