domingo, 10 de agosto de 2008

POESIA

Página em branco

Onde perdi minha face?
Na cadência sutil do tempo que passa?
Nas palavras que me escapam feito memória fraca?
No silêncio que corrompe a agonia que se esconde?
No passado que me serve de sepultura?
Nos rostos antes conhecidos que hoje são fantasmas?

Onde perdi minha face?
Na fé mutilada pela descrença alheia?
Na hipocrisia adorada como deus do altar?
Na loucura sacrificada pela discrição dissimulada?
No copo de vinho derramado ao chão?
Na mente insana que recorda o que fui e não sou mais?

Onde perdi minha face?
Nas cenas encenadas que podaram a ação?
Nos desejos massacrados pelo culto à convenção?
No chocolate degustado sem sabor nem cor?
Nos velcros que dilaceram pouco a pouco a carne?
Na ponte que distancia a emoção da razão?
Na magnitude do corpo em decomposição?
Onde perdi minha face?
No calendário que não marca mais datas?
No espelho que não mais reflete?
No olhar que não mais brilha?
Nos lábios que não mais sorriem?
Na fala que silenciou?
No avesso da?

Nenhum comentário: