A AVENTURA CULTURAL DA MESTIÇAGEM
O Centro de Convenções de Fortaleza (Ceará) receberá, de 12 a 21 de novembro de 2008, intensa e múltipla programação da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, que contará ainda com destacado espaço físico da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), ampliando, assim, de forma substanciosa, a agenda desse já tradicional evento cearense que se realiza há 16 anos.
O tema da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará é “A aventura cultural da mestiçagem”, o qual abrange duas comunidades lingüísticas: a portuguesa e a espanhola e, ainda, suas manifestações artísticas e culturais, totalizando 30 países situados em quatro continentes: África, América, Ásia e Europa. A ousadia de tal abrangência desloca o foco habitual das programações literárias de outros eventos similares, concentrando-se aqui em evocar a multiplicidade de culturas e a condição mestiça de suas raízes.
Motivada pelo tema central, a programação da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará estará comprometida com a integração das diversas culturas envolvidas, reconhecendo seus hábitos, costumes e literatura, e com a democratização e a mobilização do acesso universal ao livro, à leitura e à produção literária. Portanto, serão realizadas atividades baseadas na promoção e geração de conhecimentos, sem fronteiras culturais e sociais, reunindo um público diversificado e evitando isolamentos de quaisquer naturezas.
As sessões literárias incluem palestras, debates, leituras de poemas, encontros especiais, lançamentos de livros. Esta agenda foi configurada, por sua vez, a partir do tema central. Os debates contemplarão assuntos como produção e circulação de revistas e suplementos literários, casas de cultura, política cultural dos centros de estudos brasileiros na América Hispânica, movimentos contraculturais, circuito editorial universitário, encontros internacionais de escritores, dentre outros. Já as palestras tratarão de aspectos ligados aos fundamentos da mestiçagem, jornalismo cultural e obras literárias, considerando particularidades regionais e continentais dos países envolvidos.
Haverá ainda uma integração entre inúmeros segmentos da criação artística, produção cultural e mídia, envolvendo uma série de salas permanentes que, no decorrer dos 10 dias de realização da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, por meio das quais será permitido um convívio valioso entre público, escritores, artistas e produtores culturais. Ao todo haverá um conjunto de 9 salas, assim distribuídas: Arena Jovem, Arte Postal & Poesia Visual, Artes e Ofícios, Cordel, Gravuras, Música, Rádio, Revistas e Vídeos. Cada uma das salas terá uma curadoria própria, orientada pela curadoria geral no sentido de implantar um sistema de interação entre salas.
O conjunto de Salas Permanentes, por sua vez, terá curadorias próprias, atendendo a convite do curador geral. São os seguintes nomes: Claudio Willer/SP (Revistas), Eduardo Eloy e Juliana Marinho/CE (Artes e Ofícios), Heriberto Porto e Lu Basile/CE (Música), José Geraldo Neres/SP (Vídeos), Klévisson Viana/CE (Cordel), Maria Luisa Passarge/México (Gravuras), Maurício Aragão/CE (Arena Jovem), Nonato Lima/CE (Rádio) e Paulo Bruscky/PE (Arte Postal & Poesia Visual).
A programação das Salas Permanentes, bem como de todas as sessões literárias será posteriormente disponibilizada em página web da RPS Eventos e da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará. A área de expositores da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, considerando a abrangência de seu tema central, contará com um expressivo número de expositores também dos países envolvidos, influenciando assim em uma maior integração entre as literaturas de línguas portuguesa e espanhola.
Um diferencial expressivo nesse caso é a criação de um espaço intitulado “Ilha dos Continentes”, cuja área de 234 m² destina-se a receber editoras estrangeiras que, em geral, não dispõem de condições de participar de eventos internacionais. Em âmbito nacional, haverá, ainda, a presença de instituições como o Museu da Língua Portuguesa, o Instituto Moreira Sales e a Biblioteca Nacional.
Embora a 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará não recorra à figura tradicional do país convidado, haverá um Pavilhão Especial dedicado à Cuba e à Venezuela, em reconhecimento à criação, respectivamente, da Fundación Casa de las Américas e da Fundación Editorial El Perro y La Rana, projetos editoriais de importância fundamental para a produção, reflexão e difusão da cultura na América Latina. Cumpre também destacar a criação, há 40 anos, da Monte Ávila Editores, e, há 35 anos, da Fundación Biblioteca Ayacucho. Como homenageado especial será recebido o notável criador de tipos, o humorista e narrador Chico Anysio.
Chico Anysio (Ceará, 1931) é humorista, compositor, dramaturgo, artista plástico, ator, radialista, dentre outras atividades artísticas que sempre desempenhou com inconfundível talento. Criador de uma extensa galeria de tipos (Professor Raimundo, Coalhada, Azambuja, Bento Carneiro, Gastão, Quem-Quem, Meinha, Zé Tamborim, Justo Veríssimo, Tavares, Pantaleão, Painho etc.), Chico Anysio atua há quatro décadas em teatro e televisão, representando hoje o que há de mais consistente e renovador em nossa tradição humorística. Por ser considerado, também, um notável escritor, a 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará será palco de lançamento de um novo título seu: Três casos de polícia.
A 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará terá como curador geral o escritor, editor e produtor cultural Floriano Martins, que atende a convite expresso da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará para a tarefa de concepção e regência da múltipla configuração que durante este ano assume esse importante evento. Floriano Martins é um estudioso de literaturas de línguas portuguesa e espanhola. Diretor da Agulha – Revista de Cultura (publicação de circulação virtual que este ano recebeu o Prêmio Antônio Bento da ABCA – Associação Brasileira de Críticos de Arte), tem estado à frente na organização de livros de autores portugueses para a Coleção Ponte Velha, da Escrituras Editora.
O curador geral trabalhará em afinação completa com a Coordenação de Políticas do Livro e de Acervos (COPLA) da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará e, também, com a Assessoria do gabinete do secretário da Cultura, contando, ainda, com a cooperação substancial de entidades como Câmara Brasileira do Livro, Associação Nacional de Livrarias, Academia Cearense de Letras, Câmara Cearense do Livro, Escola de Música da Universidade do Estado do Ceará, SENAC/CE, SESC/CE, Universidade de Fortaleza (UNIFOR), dentre outras.
A 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma iniciativa do SINDILIVROS em parceria com a RPS Eventos.
OMISTÉRIOOTEMPOEMPOESIAS, de Cacau Brasil, estará na Bienal do Livro de SP
O livro de arte-poesia OMISTÉRIOOTEMPOEMPOESIAS do músico, poeta e artista plástico Cacau Brasil estará na 20ª edição da Bienal do Livro de São Paulo, que acontece de 14 a 24 de agosto no Parque de Exposições Anhembi e é considerada um dos maiores eventos mundiais do setor editorial. O livro, que foi lançado pela Fundação Demócrito Rocha e está à venda em diversas livrarias da cidade e de outros estados, estará no stand da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU). A edição possui 80 páginas e é composta por dois dos quatro momentos da exposição multimídia OMISTÉRIOOTEMPOEMPOESIAS: 15 imagens dos óleos sobre tela com técnica mista e as poesias interpretadas durante a performance cênico-musical.
Assim como a exposição, o livro permite ao leitor apreciá-lo livremente, sem uma ordem pré-estabelecida. Os poemas, mesmo interligados, são reflexões independentes sobre a vida e a poesia contida no cotidiano. As telas complementam a obra do artista, mantendo uma linguagem individual que levam o leitor-apreciador a perceber a beleza existente nos fatos do dia-a-dia, através de palavras e símbolos universais pintados em cores metálicas como ouro, cobre e prata.
O livro foi construído aos poucos, mas sempre respeitando o processo de amadurecimento do artista. “A poesia despertou na minha vida na infância e eu sonhava em ser poeta. Comecei a escrever o livro e nem pensava em montar uma exposição. Mas a mostra OMISTERIOOTEMPOEMPOESIAS aconteceu primeiro e agora concretizo o sonho do livro, que é baseado na exposição, mas tem vida própria, existe por si só”, avalia o autor.
OMISTÉRIOOTEMPOEMPOESIAS tem projeto e coordenação gráfica de Deglaucy Teixeira, que optou por inserir as imagens dos quadros e páginas coloridas entre as poesias, reforçando a individualidade de cada obra e a harmonia do todo. No prefácio, o escritor Jorge Pieiro ressalta a forma como os símbolos, signos e grafismos percorrem e se entrelaçam entre as palavras e as cores.
OMISTÉRIOOTEMPOEMPOESIAS, Cacau Brasil:
20ª Bienal do Livro de São Paulo:
Onde: Parque de Exposições Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1209 Santana/São Paulo SP)
Quando: 14 a 24 de agosto
Pontos de Venda:
Fortaleza: Livrarias Ao Livro Técnico, Lua Nova, FACED (UFC), Arte & Ciência, Editora Vozes, Café & Letras e Rustic.
Natal: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Belém: Livraria Humanitas
Brasília: Disbra
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Sangue no tapete vermelho
Paulo Coelho fala sobre glamour e crime em Cannes em ‘O vencedor está só’, nas livrarias hoje
Luz, câmera e crime. O glamour que envolve o Festival de Cinema de Cannes, que leva anualmente estrelas das telonas e da moda para o tapete vermelho da Côte d’Azur francesa, é o ambiente do novo livro do aclamado Paulo Coelho, 60. O vencedor está só traz a história de um serial killer que instaura o pânico entre as celebridades, obcecado pela mulher que o abandonou. O romance, 12º da carreira do autor carioca e que sucede As bruxas de Portobello (2007), chega hoje às livrarias de todo o país. É a primeira obra do Mago pela editora Agir.
As 400 páginas da publicação se passam em apenas 24 horas. Os capítulos não têm nome, são apenas registros do horário em que a ação acontece. Coelho procurou mostrar um retrato das elites que, para ele, definem tendências e caminhos da indústria do entretenimento. O foco maior nem são as estrelas do cinema, e sim as da moda.
Para desenvolver O vencedor está só, o escritor – membro da Academia Brasileira de Letras desde 2002 – resgatou memórias do mais importante festival de cinema do mundo, freqüentou eventos de moda e contou com depoimentos de pessoas do meio, que, na verdade, nem tinham a noção de que seus testemunhos estavam contribuindo para o livro.
O escritor considera que existe uma chamada superclasse, a elite das elites, que tem grande poder, mas nem sempre possui felicidade proporcional. Nesse ambiente, o empresário russo Igor Dalev, o protagonista, não se conforma com o fato da mulher Ewa tê-lo trocado pelo estilista árabe Hamid Hussein, um dos mais badalados do momento. O enredo ficcional tem ligações fortes com o real, apesar dos personagens criados.
No prefácio, o autor faz um panorama da situação política mundial, até como forma de sustentar sociologicamente sua história. A interessante capa, como se o leitor fosse a celebridade que, solitária, adentra o tapete vermelho sob flashes, parece querer nos transportar para dentro desse universo de dinheiro, status e intriga. Confira entrevista com Paulo Coelho, cedida pela editora Agir.
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Livro: O vencedor está só
Autor: Paulo Coelho
Editora: Agir
Preço: R$39,90 (400 páginas)
Novo livro de Paulo Coelho espreita mundo dos famosos
ENTREVISTA
Na introdução, você escreve que, com esse livro, fotografou sua época. Você acreditou, então, que, para retratar o momento atual, o caminho seria um romance policial?
Não, seria retratar o luxo e o glamour. Veja um exemplo: quem pesquisa sites de notícia, como o da CNN, entre os fatos realmente relevantes, encontra algo como "Amy Winehouse deixa clínica". Mesmo que o interesse da pessoa seja outro, certamente ela vai acessar nessa notícia, mesmo que dure pouco. Ou seja, o primeiro clique será em um fato que não mudaria os rumos do mundo, como é o caso, por exemplo, da crise hipotecária dos Estados Unidos. A cultura das celebridades é muito forte e espelha nosso tempo. Tive a certeza disso a partir de uma pesquisa.
Como assim?
Consultaram adolescentes americanos sobre três possibilidades: ser senador dos Estados Unidos, um grande desportista ou assistente pessoal de uma celebridade. O resultado apontou 58 % preferindo ser assessor de alguém famoso. Ou seja, a celebridade preenche uma série de valores que não encontram eco no sistema, que sempre muito conservador. A fama normalmente é rebelde. Eu não me interessava pelos valores dos meus pais, mas sim no que preencheria meu universo, que foram os Beatles. A celebridade preenche esse vazio. Assim, para retratar o meu tempo, acreditei que o melhor seria tratar do mundo das celebridades, que também sempre me intrigou muito.
A idéia surgiu durante o Festival de Cinema de Cannes deste ano, do qual você participou?
Não, isso já me intrigava porque sempre trafeguei nesse universo da Superclasse, termo criado pelo ex-assessor do David Rothkopf sobre as pessoas que hoje controlam o pensamento e têm muita influência na agenda global - entre os brasileiros, além de mim, ele citou o presidente Lula e o ministro Celso Amorim. Ou seja, o culto das celebridades está cada vez mais difundido. Basta ver a diminuição de interesse, por exemplo, por revistas de turismo ou de carros. Por outro lado, crescem as tiragens de publicações luxuosíssimas e também das revistas mais baratas com tiragens gigantescas que tratam do mesmo assunto: celebridades.
E o que uma celebridade como você pensa do assunto?
Sempre me questiono sobre o que estou fazendo de errado por não entender como as coisas funcionam. Por isso, resolvi escrever o livro, que é absolutamente factual. Entre os personagens, 80% deles são inspirados em pessoas reais. Até mesmo o ritual do assassino em série foi construído a partir do relato de detetives e psicólogos. Construí um retrato do meu tempo.
Você temia não estar sendo fiel?
Sim. Quando cheguei a Cannes, para o festival deste ano, eu já tinha terminado o romance. E meu medo era não ter contado bem a história. Mas, lá eu me encontrei com minha agente, Mônica, que tinha lido o livro e que garantiu ser um retrato fiel. Isso me deixou mais aliviado.
Há um bom retrato de bastidores?
Sim, mas, para isso, precisei omitir minhas fontes. Porque as relações não funcionam como se acredita, ou seja, você chega com um projeto inovador, empolga um produtor que decide investir. Na realidade, ninguém te dá atenção. Para minha surpresa, quem define o que pode ser sucesso são agências de tendências, que já sabem o que vai acontecer. Pessoas muito bem treinadas que, andando na rua, freqüentando festas, percebem qual vai ser a próxima roupa da moda. Eu senti isso na pele quando era hippie - de repente, nossa forma de se vestir estava em butiques caríssimas. Isso empobreceu o movimento. A diferença é que hoje as tendências mudam com muito mais velocidade. Daí a total inutilidade da crítica nos dias atuais.
Como assim?
A crítica está profundamente arraigada a modelos que aconteceram a há 30, 40 anos. Hoje, ela interessa apenas a uma minoria. A crítica cultural hoje é jurássica. Seria fácil, no meu romance, julgar o culto da celebridade, mas meus personagens são pessoas com sonhos sinceros e que precisam lidar com uma realidade longe da esperada.
O caminho, então, é preocupante?
Sim, mas há saídas. O espírito da rebelião está presente, favorável a mudanças profundas. O mundo tem uma grande capacidade de renovação.
Por que você escolheu o gênero policial para contar a história e não, por exemplo, o de costumes?
Acho que fiz um romance de costumes, embora a violência, que normalmente domina a literatura policial, esteja presente. Na verdade, pretendi mostrar a forma absurda com que o uso da violência é justificado por "causas nobres". Isso é uma barbaridade, mas acontece. A tortura voltou a ser empregada hoje como uma forma de se conseguir uma confissão. Ora, eu fui torturado e me lembro que, em determinado momento, eu disse que assinaria qualquer documento só para acabar com o sofrimento. Confissão arrancada sob tortura não vale nada. Assim, a violência, ao lado do culto ao glamour, é um fio condutor.
E os bastidores do cinema? Você tem se aproximado desse meio, não?
É exatamente aquilo que está no livro. As situações são manipuladas por aqueles escritórios de tendência. Daí a quantidade de filmes sobre o mesmo tema que chegam ao mercado, que só são trocados quando se descobre uma nova tendência. Sobre minha aproximação, é verdade - algumas de minhas obras estão sendo adaptadas. Veronika Decide Morrer já foi filmado e está em fase de edição agora. Quem viu, garante que ficou muito bonito. O Alquimista começa a ser rodado em outubro e Onze Minutos também será filmado neste ano.
E a experiência de convocar as pessoas a apresentar propostas, via YouTube, para a filmagem de A Bruxa de Portobello?
Foi fantástica, uma surpresa maravilhosa porque as pessoas deixaram para o último dia (25 de julho) para se inscrever. Assim, até 20 de julho, só 30 propostas foram apresentadas. Mas, de repente, o número cresceu assustadoramente. E fiquei impressionado com a qualidade dos trabalhos: tem desde desenho animado, passando por apenas filmes narrativos, até aquelas produções que visivelmente custaram muito. Mas cometi um erro de não limitar o tempo de duração. Assim, acredito que a edição final vai resultar em um filme de, pelo menos, três horas, o que vai exigir um bom trabalho de veiculação.
E o que achou da sua biografia escrita pelo Fernando Morais?
Extremamente correta. Continuo arrependido de ter aberto meus diários, mas tudo bem. A única falha do livro está no pouco espaço dedicado à busca espiritual, mas o Fernando não acredita em nada disso. E meus leitores adoraram, o que me confortou, pois eu esperava que perderia muitos fãs.
Editoras investem R$ 15 milhões em marketing de livros no Brasil
Com verba pequena diante das cifras de propaganda no País, aumento da concorrência faz setor começar a utilizar a internet como ferramenta de divulgação de baixo custo e alta eficácia
As editoras devem investir R$ 15 milhões na divulgação de livros no Brasil este ano. A estimativa é da Retoque Comunicação, agência que promove o site LivroClip (www.livroclip.com.br), uma iniciativa que transforma obras literárias em ferramentas educativas. Com uma verba de R$ 300 milhões para o lançamento de novos títulos este ano, pelo menos 5% desses recursos devem se destinar ao marketing, perfazendo R$ 15 milhões, um orçamento ainda irrisório de propaganda para as aproximadamente 500 editoras ativas no País. “A internet é uma das alternativas de baixo custo e alta eficácia nesse mercado”, explica Luiz Chinan, diretor da Retoque.
A timidez das estratégias de marketing das editoras locais já está diminuindo frente ao crescimento do mercado, já que a venda de livros no Brasil cresceu 15% em 2007. O acirramento da concorrência estimula as editoras a encontrar novas (e baratas) formas de divulgação de obras literárias e a internet se revela como uma das plataformas ideais para inovadoras técnicas de marketing, como o trailer de livros, no qual se enquadra o LivroClip. Já é possível encontrar no exterior essa modalidade, patrocinada por editoras do porte da HarperCollins e da Farrar, Straus and Giroux.
No Brasil, o site LivroClip, por exemplo, já colocou no ar cinco trailers de livros para a Ateliê Editorial e 11 para a Aberje Editorial. Além da internet, as animações podem ser usadas até em lançamentos de obras. Paulo Nassar, professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo, usou o trailer na noite de autógrafos de seu mais recente livro Relações Públicas.
Ao contrário do que se verifica nas indústrias cinematográfica e fonográfica, a internet se revela uma excelente aliada das editoras. O que comprova isso é a recente pesquisa do instituto Nielsen/NetRatings com dados recolhidos em 48 países. Eles revelam que 41% dos 875 milhões de e-consumidores compram mais livros do que qualquer outro objeto de consumo. Ou seja, oito em cada dez internautas encomendam pelo menos um livro a cada três meses. Daí a oportunidade de um instrumento multimídia como o trailer de livros.
Oportunidade de ampliar índice nacional de leitura
Antoninho Marmo Trevisan*
As estatísticas nacionais relativas aos livros são historicamente negativas. Ano a ano, as pesquisas indicam que o brasileiro lê pouco, comprando menos de dois exemplares por habitante/ano. Porém, antes de condenar sumariamente nossa população por seu índice de leitura, é preciso considerar que, nos mais de cinco séculos desde o descobrimento, ela foi paulatinamente afastada das letras por razões de ordem política e econômica.
É preciso lembrar, por exemplo, que a imprensa e as tipografias brasileiras surgiram somente em 1808, três séculos e meio depois que o alemão Gutenberg inventou o tipo móvel. O Brasil foi um dos últimos países do mundo a implantar tipografias. O atraso não se deu apenas devido à localização remota e precariedade da então Colônia em relação à Europa, mas, sobretudo, em decorrência do espírito inicial de nosso colonialismo. “Mais importante do que alfabetizar as crianças indígenas era destruir nelas a cultura de seus pais”, observa Nélson Werneck Sodré.
Em 2008, transcorrem 200 anos desde a instalação da primeira tipografia, a Imprensa Régia, e do primeiro jornal oficial, A Gazeta do Rio de Janeiro. É um expressivo aniversário da imprensa e da indústria gráfica em nosso país. Feliz coincidência desse bicentenário com um momento bastante favorável da economia, em que temos boas oportunidades de reverter a perversa distribuição de renda e o crescimento baixo do PIB nas últimas décadas, dois fatores realmente inimigos do mercado livreiro.
Temos todas as condições de pôr fim a um cenário no qual milhões de brasileiros não criaram o saudável hábito de ler jornais, revistas e livros. O crescimento da economia e a recente inclusão de expressivo número de famílias no mercado de consumo abrem novas perspectivas para que mais pessoas se interessem por ler. Não basta, contudo, poder aquisitivo. É preciso estimular o hábito, criando uma nova cultura nacional.
Nesse aspecto, a 20ª Bienal do Livro de São Paulo, neste mês de agosto, cumpre missão exponencial, atraindo milhares de pessoas ao imprescindível universo do livro. Evento de tal magnitude, no presente cenário da economia, poderá significar um estímulo importante. Esse movimento, entretanto, não pode ficar restrito à escala do atacado de um evento como a Bienal, um dos maiores do calendário brasileiro de feiras. É necessário, também, que empresas e organizações de todos os setores dediquem-se à difusão do livro. Afinal, ler é fator condicionante para o desenvolvimento e para que o país possa manter sua economia em permanente expansão.
Singelo exemplo desse empenho foi a I Ciranda Literária, exposição de livros e quatro palestras, que a Trevisan ousou realizar em São Paulo, simultaneamente à primeira semana da Bienal. Entendemos o esforço nesse sentido como obrigação de organizações cujo principal produto é a informação, seja diretamente aplicada ao universo corporativo ou ministrada a alunos no ambiente escolar e acadêmico.
A leitura — consentânea com a educação e a disseminação da cultura — tem o poder de transformar radicalmente um país, como é claro no exemplo mais recente da Coréia do Sul, cujo fluxo de prosperidade começou nos livros. Portanto, podemos e devemos, sim, contribuir para que os brasileiros leiam cada vez mais, criando um círculo virtuoso e uma permanente relação de causa e efeito entre a democratização do conhecimento e a expansão do PIB.
*Antoninho Marmo Trevisan é presidente do Conselho da BDO Trevisan, da Trevisan Consultoria e Outsourcing, fundador da Trevisan Escola de Negócios e Membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).
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