I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem acontece no Teatro José de Alencar
O QUE É
O I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem, promovido pelo Laboratório de Antropologia e Imagem (LAI) da Universidade Federal do Ceará (UFC), acontece de 26 a 29 de agosto de 2008, em Fortaleza (CE). O Theatro José de Alencar (TJA), equipamento mantido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), é o espaço de realização do evento, que objetiva congregar pesquisadores de várias regiões do Brasil para discutir a importância da narrativa visual e suas potencialidades. O intuito é provocar o encontro de diferentes linhas de pensamento em torno de um tema comum: a Imagem, proporcionando uma reflexão na contemporaneidade das diversas formas com que se comunica, diariamente, na arte, publicidade ou na antropologia.
Do ponto de vista da cultura e averiguações acerca das expressões visuais, o evento é uma oportunidade rara ao congregar, num só lugar, diferentes saberes em torno de tema especifico. Durante quatro dias de encontros com pesquisadores, que versarão sobre suas pesquisas e reflexões em torno da imagem, também acontecem, paralelamente, experimentações de imagens e sons; exposições de fotografias, filmes, clipes, instalações, entre outras performances e congregações.
PORQUÊ
O ano de 2008 brinda os 100 anos do início da construção do Theatro José de Alencar e os 40 anos de existência do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Partindo da importância desses marcos históricos, o LAI do Ceará em parceria com o Núcleo de Produções Culturais, propõe o I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem (CIDAI) como convite à discussividade sobre Imagem, onde palestrantes e produtores de imagem do Ceará e do Brasil exporão e discutirão suas produções na fotografia, no vídeo ou em experimentos imagéticos, ante prévias inscrições.
Durante o evento realizaremos ainda uma homenagem aos grandes nomes da fotografia cearense, através de mostra coletânea da narrativa fotográfica desses artistas sobre Fortaleza. Será exibida também uma mostra de 80 slides com imagens etnográficas de Jericoacoara e no município de Almofala (CE), na década de 60, pelo antropólogo Luis de Gonzaga Chaves, um dos fundadores do Departamento de Ciências Sociais da UFC.
O I Ciclo de Diálogos em Antropologia e Imagem é uma iniciativa importante para a reflexão em torno da imagem proporcionando um intenso fluxo de informações e fortalecendo o capital cultural dos interessados no campo da imagem. Fortaleza apresenta uma produção relevante no âmbito da fotografia com nomes consagrados de projeção internacional. Apesar da relevância imagética, na carência de encontros para debater e refletir em torno do que é produzido, este projeto vem unir diferentes falas sobre um tema comum e uma produção teórica comprometida com a polissemia da arte.
I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem
Theatro José de Alencar, de 26 a 29 de agosto de 2008
PÚBLICO ALVO: Produtores, cineastas, videomakers, fotógrafos, estudantes, pesquisadores e interessados no campo das ciências humanas / antropologia / arte e imagem.
INSCRIÇÕES e INFORMAÇÕES: Universidade Federal do Ceará, Sala do Laboratório de Antropologia e Imagem (LAI) - Av. da Universidade, 2995 - 1° andar – BENFICA – Fortaleza/CE
Fone: 85 33667422 - www.lai.ufc.br / lai.antropologiaeimagem@gmail.com
PROGRAMAÇÃO NO THEATRO JOSÉ DE ALENCAR
Conferências, Exposições, Projeções de Vídeos, Experimentações de 26 a 29 de agosto de 2008
26 de agosto
14 horas - Abertura da exposição coletiva de fotografia que homenageia os consagrados nomes da fotografia cearense: Celso Oliveira, Chico Albuquerque ( in memoriam), Delfina Rocha, Gentil Barreira, Tibico Brasil, Jacques Antunes, Jarbas Oliveira, Mauricio Albano, Silas de Paula, Thiago Santana, Zé Albano.
14h30 - Abertura do I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem
* Recital ao piano com Imelda Ferreira
* Palestra da Curadora Peregrina F. Capelo Cavalcante (UFC)
15 horas - Etienne Samain (Professor Titular na área de Multimeios e Ciência, RDIDP, do Departamento de Cinema (Instituto de Artes) da Universidade Estadual de Campinas / Unicamp)
Imagem e Pensamento em Antropologia - retrospectivas e novas considerações - O que representa a imagem na “espiral” dos meios de comunicação que chegamos a conhecer? Trata-se, nesta proposta, de apontar, primeiro, para alguns questionamentos substantivos em torno dos usos da(s) visualidade(s) moderna (s) como meios e modos científicos de investigação - e não apenas meros suportes ilustrativos, no campo das Ciências Humanas. Em seguida, a proposta pretende promover uma reflexão em torno das imagens, no campo da Antropologia , enquanto « figuras » e « formas » do pensamento humano, que somente existem para revelar e fazer viver o tempo das culturas e dos homens-recolher, transportar e também nutrir suas inegostáveis memórias.
17 horas - Apresentação do Maracatu Vozes d’ África
17h30 - Roberto Machado (Pós-doutor pela Universidade de Paris VIII, professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ):
Deleuze e as imagens cinematográficas - A filosofia de Deleuze cria seus conceitos não só a partir de outras filosofias, mas também de pensamentos não-filosóficos ou não-conceituais: científicos, literários, artísticos. Ao pensar o cinema, ele o define pela criação de imagens, estabelecendo seus dois grandes tipos: a imagem-movimento e a imagem-tempo, a primeira caracterizando o cinema clássico, a segunda, o cinema moderno. O objetivo da palestra é mostrar a passagem do cinema clássico ao cinema moderno, no pós-guerra, como sendo a substituição de um cinema de ação, constituído por situações sensório-motoras, a um cinema de visão, constituído por situações óticas e sonoras puras que libertam a percepção da ação, tornando possível pensar o tempo e a diferença.
19 horas – Lançamento do livro Culturas Extremas: Mutações Juvenis nos Corpos das Metrópoles com Massimo Canevacci.
20 horas - Homenagem a Luis Gonzaga, fundador do Curso de Ciências Sociais da UFC:
Apresentação de imagens – “Almofala – década de 60”.
Confraternização
27 de agosto
14 horas - Marco Antonio Gonçalves (Pós-Doutor pela Universidade de St Andrews, na Katholieke Universiteit Leuven, e na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ e do Departamento de Antropologia Cultural do IFCS-UFRJ):
O real imaginado: etnografia, cinema e surrealismo em Jean Rouch - O cinema de Rouch se inspira nos conceitos da Antropologia e sua Antropologia está inspirada na sua percepção das imagens e do cinema. Portanto, a ética e a estética de seus filmes se ancoram nesta relação incessante entre Antropologia e cinema o que faz de sua obra uma discussão permanente sobre as questões centrais das duas disciplinas. Aderido a uma estética surrealista, da qual Rouch admitia forte influência, pôde promover uma experimentação não apenas no campo da linguagem cinematográfica mas sobretudo na própria percepção do que significava etnografia.
Procuro justamente estabelecer um diálogo entre sua conceituação etnográfica e fílmica com as discussões em voga na Antropologia. Trato, assim, de aspectos que me parecem relevantes para se pensar a antropologia fílmica de Jean Rouch e de sua potencialidade para pôr em operação o conceitual da Antropologia.
As questões epistemológicas propostas por Rouch a partir de sua produção fílmica da década de 50 implicam, necessariamente, uma conceituação sobre o que significa o fazer etnográfico e o fazer filmico o que, por sua vez, ajuda a apreender o significado de ‘etnografia fílmica’ e tudo o que deste conceito deriva para a Antropologia quando se procura realizar uma ‘transposição do real’ para imagens. Deste modo, procuro estabelecer um diálogo entre sua conceituação etnográfica e fílmica com as discussões em voga na Antropologia contemporânea.
15h30 - Patrícia Monte-Mór (Mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional/PPGAS/UFRJ, produtora cultural e professora do Dep. de Ciências Sociais da UERJ onde coordena o Núcleo de Antropologia e Imagem /NAI):
A Construção do olhar na Antropologia Visual: duas experiências - A partir da experiência com duas frentes de trabalho na área da Antropologia Visual no Brasil: uma mais específica no âmbito da formação universitária, o Atelier Livre de Cinema e Antropologia e outra na área de produção cultural: a realização anual de um festival de cinema - Mostra Internacional do Filme Etnográfico - pretendo apresentar um panorama de experiências recentes de ensino, formação, divulgação em direção a ‘construção de um olhar’.
17 horas- Apresentação da Caravana Cultural
17h30- Elsje Lagrou (Doutora em Antropologia Social pela University of St. Andrews e pela Universidade de São Paulo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), IFCS/UFRJ):
A fluidez da forma: uma reflexão sobre o poder das imagens em uma sociedade indígena.
A partir de uma reflexão sobre o poder das imagens entre os Kaxinawa do Acre, proponho um modo diferente de pensar a relação entre antropologia e arte, entre antropologia e imagem. O conceito de iconoclash de Latour tematiza ao desencontro e a tensão entre imagens, assim como a indefinição sobre o que exatamente acontece quando a imagem do outro é destruída. O fenômeno do iconoclash mostra como iconofilia e iconoclasmo podem ocultar atitudes não sempre opostas, mas muitas vezes complementares: a vontade de destruir as imagens do outro vai acompanhada de um desejo de impor sua própria imagem.
O mundo das relações aponta para um mundo de imagens em movimento. Esta idéia da fluidez da forma e sua relação com a fabricação dos corpos entre os Kaxinawa é associada à ênfase de Taussig e Gell no poder agentivo da imagem, onde a cópia sempre afeta o original e onde imagens mais do que representar o mundo ajudam a criá-lo.
19 horas - Massimo Canevacci (professor de Antropologia Cultural na Facoltà di Scienze della Comunicazione - Università di Roma, “La Sapienza”. Ensina e faz pesquisa no Brasil. É diretor de Avatar, revista de antropologia, comunicação e artes) e Sheila Ribeiro (artista na área de dança contemporânea e dirige a companhia dona orpheline)
SANDMANN - seminário-performativo - etnografia e coreografia - Uma etnografia textual compondo um tecido performativo múltiplo que, através da audácia coreográfica que penetra tais fluxos, faz dançar o fetiche, ultrapassando a antropologia tradicional. Em cena, Massimo Canevacci propõe uma etnografia que parte de Hoffmann, passa por Freud, Rilke e Hans Bellmer chegando aos fetichismos visuais contemporâneos da arte e da publicidade, transfigurados em palavras, imagens e músicas.
Neste mesmo espaço, Sheila Ribeiro propõe uma instalação coreográfica servindo-se de tecnologias multimídia, além de sua abordagem que assimila Butoh, dança do ventre e outros códigos de visões de corpo/mundo. Esta arquitetura de seminário-performance mergulha nas questões do duplo e do corpo-cadáver evocando uma sensorialidade multi-comunicacional e multi-sequencial favorecendo olhares descentralizados da parte de cada espectador.
28 de agosto
14 horas- Sérgio Baptista (Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, professor no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com ênfase em Etinologia Indígena e Populações Afro-brasileiras):
Imagens do cosmo guarani - A análise da iconografia mbyá- e ñandeva-guarani presente na pintura corporal, na cestaria e outros objetos possibilita-nos uma aproximação das lógicas anímicas de sua cosmologia e ontologia. A partir de uma perspectiva etnográfica, pretende-se discutir os sentidos da arte e da cultura material guarani e sua relação central com a produção de corpos e de pessoas, no âmbito da circulação de alteridades e agências através dos diversos domínios cosmológicos.
15h30 - Clarice Peixoto (Doutora em Antropologia Social e Visual pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do comitê editorial das revistas: Cadernos de Antropologia e Imagem /UERJ ,Sexta-Feira /USP e Interseções /UERJ):
Antropologia audiovisual: sobre o fabricante de imagens - Uma das questões fundamentais da reflexão sobre a inserção do audiovisual nas pesquisas sociais diz respeito à produção das imagens - de quem as fabrica : o pesquisador ou o seu cameraman?
As possibilidades são inúmeras e dependem, sobretudo, da relação que o antropólogo-cineasta estabelece com as pessoas filmadas, do tempo dedicado ao processo de elaboração da pesquisa e do financiamento disponível; tendo bem claro para quê e para quem produzimos essas imagens. Uma das premissas do documentário é que ele deve convencer pela autenticidade das suas filmagens, pela “veracidade”das realidades sociais que fixa em imagens. Para isso, é fundamental um conhecimento acuidado do contexto social filmado, pois uma preparação zelosa abre espaço, nas filmagens, à espontaneidade dos personagens e reduz as incertezas e ansiedades daquele que filma. Isto permite um vai e vem contínuo entre a concepção teórica do projeto e o seu desenvolvimento por meio de uma narrativa audiovisual.
É neste confronto entre o conhecimento da pesquisa, a especificidade do campo e os embaraços da escritura cinematográfica que reside o aspecto criativo do filme na pesquisa antropológica. Discutirei algumas destas questões, tendo como base minhas experiências com o vídeo, pois acredito ser fundamental integrar etnografia e imagens no fazer antropológico para desenvolver abordagens menos dicotômicas, onde a articulação pesquisa-imagem possa ser pensada de forma integrada.
17 horas - Apresentação dos Brincantes do Cordão do Caruá
17h30 - Silas de Paula(Doutor pela Universidade de Loughborough, Inglaterra.Professor do Curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará. É fotógrafo e faz parte do programa de pós-graduação em Comunicação atuando na linha de pesquisa em Fotografia e Audiovisual. Coordena o grupo de pesquisa em Cultura Visual) e Kadma Marques(Doutora pela Universidade Federal do Ceará, com estágio em Lyon/França. Professora da Universidade Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Sociologia da Educação, com ênfase em Pesquisa Educacional)
Retratos que trocam olhares - permutas entre a fotografia e artes plásticas na conformação do corpo contemporâneo
Na Idade Média, momento em que a personalização dos traços fisionômicos ainda não era um recurso corrente na produção de retratos, esta se ligava, sobretudo, ao enaltecimento das figuras do Papa, do Príncipe e de mecenas que se faziam cercar por cenários celestiais ou como forma de demonstração de poder. No século XV, o retrato individual, distanciado de toda referência religiosa conhece sua ascensão no domínio da pintura. Por sua vez, a invenção da fotografia no século XIX coincide com uma revolução industrial que modifica profundamente os pertencimentos locais, provocando o êxodo rural, acentuando a urbanização e fomentando entre numerosos atores o sentimento de sua própria individualidade. Esta última é elaborada por um “olhar” que, lançado sobre o corpo, concebe-o então como símbolo fundamental de individuação graças à explosão social do retrato fotográfico. Ocorre que a simplificação gradativa da técnica e o acesso de uma população crescente à consciência de sua singularidade possibilitaram a popularização do portrait fotográfico, democratizando e diversificando a função originariamente honorífica do retrato burguês.
Nesse sentido, os emblemáticos anos 80 e noventa do século XX agregaram mudanças significativas nas maneiras de olhar e registrar o mundo pelos fotógrafos. Este texto pretende então discutir os desdobramentos de tais mudanças, problematizando a forma como as trocas permanentes entre fotografia e artes plásticas provocaram a emergência de imagens fotográficas que, a um só tempo, influenciam e são influenciadas pelo conceito que temos de corpo na contemporaneidade.
19 horas - Cornelia Eckert (Pós-doutora em Antropologia Sonora e Visual, Paris VIII. Professora Associada do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenadora do BIEV, portal www.biev.ufrgs.br, e do Núcleo de Antropologia Visual ) e Ana Luiza Rocha(Doutora em Antropologia - Université de Paris V /René Descartes. Antropóloga da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora participante da Universidade Federal de Santa Catarina com experiência na área de Antropologia visual e sonora. Coordenadora de Pesquisa do Banco de Imagens e Efeitos Visuais do Laboratório de Antropologia Social/PPGAS/UFRGS)
Memória e imagem: a cidade como objeto temporal - Apresentamos nossa pesquisa antropológica sobre e na cidade que segue a tendência da análise compreensiva dos fenômenos da memória e do patrimônio no mundo contemporâneo para quem o tempo torna-se humano na medida em que está articulado de forma narrativa (Ricoeur) e em que as ações, situações, acontecimentos vividos desvelam no “trajeto antropológico” (Durand) as descontinuidades e continuidades da experiência temporal humana. Inspiradas nas inquietações bachelardianas e piagetianas, e adotando-as para revisitar os estudos sobre memória nos termos empregados pela “matriz antropológica” (Cardoso de Oliveira), no BIEV temos por centro de preocupações a realização de “etnografias da duração” (Eckert e Rocha) e seus “cronotropismos” (Rocha), ou seja, a etnografia dos diversos ritmos que configuram uma comunidade urbana como tal e a descrição dos arranjos da vida coletiva que se propaga no interior de seus territórios.
Trazemos como notícia nosso projeto de um museu virtual pelo tratamento digital da memória etnografada em Porto Alegre disponível em www.biev.ufrgs.br: uso de formas mais integrativas e interativas de resgate, recuperação, criação e produção de coleções etnográficas sobre as transformações da paisagem urbana através dos “jogos da memória de seus habitantes”(Eckert e Rocha). Para tanto apresentamos nossa produção de “etnografia hipertextual” (Rocha), um conjunto não estruturado a priori de informações e dados colhidos pelo antropólogo em seu trabalho de campo, em suportes diversos (textos, fotos, filmes, som) e que, digitalizados e disponibilizados em seus cortes e rupturas (e ligados entre si por “nós” ou laços) são colocados num mesmo ambiente de consulta para os usuários, conformando um processo de “interpretação de culturas” (Geertz), segundo um sistema aberto, onde a leitura de um dado imediatamente re-configura a totalidade do universo etnográfico do qual faz parte, situando o antropólogo, em sua “ipseidade”(Ricoeur), como “narrador das cidades”(Benjamin).
20h - Projeções no JARDIM com Solon Ribeiro
29 de agosto
14 horas - Alexandre Câmara Vale (Doutor e professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós – Graduação da UFC)
Etnografia, imagem e recepção - A comunicação “Etnografia, imagem e recepção” tem como proposta discutir alguns aspectos teóricos e metodológicos ligados às pesquisas antropológicas que supõem, de forma direta, a recepção/apropriação de produtos audiovisuais. Parte-se aqui da idéia de que as tematizações em torno do estatuto das imagens no mundo contemporâneo relegaram a um segundo plano o lugar daquele que recebe e se apropria dessas imagens.
Hoje, analisar a arte ou qualquer outro produto cultural já não é analisar apenas obras e produtos, mas as condições imagéticas, textuais, extra-textuais, estéticas e sociais em que a interação entre os membros de um campo gera e renova o sentido. Assim, refletindo sobre esse “giro paradigmático” proposto pelo programa de “estética da recepção”(Jauss, 1978), busca-se refletir sobre o trabalho de campo em antropologia como ferramenta privilegiada na “captura” dos significados culturais engendrados pelas imagens.
15h30 - Beatriz Furtado (Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará com estágio doutoral no Depto. de Filosofia, da Universidade de Lisboa. Professora do Mestrado em Comunicação e da Graduação, do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal do Ceará, da área do Audiovisual)
Intervenções urbanas e a experiência das metrópoles - A metrópole é a mais complexa referência da experiência humana contemporânea. Seja pela constituição de poder econômico, político, religiosos – lugar de conflito, tensões e convívios – seja pela mais extrema experiência do trágica beligerante. – como vimos no bestial ataque e destruição de Bagdá ou no desabamento das torres símbolo do poder americano. Não sem propósito a Bienal de São Paulo tomou para si o olhar sobre 11 grandes metrópoles e teve como tema Iconografias Metropolitanas. Já no início do século XIX, o alemão Georges Simmel tomava a metrópole em sua complexidade expressa na racionalidade moderna – lugar de calculabilidades, pontualidades – medidas, mensuralibildades – quer dizer, a exatidão calculista da vida prática, que corresponde ao ideal da ciência natural – moderna – de transformar o mundo por meio de fórmulas matemáticas. Por exemplo, com as práticas cotidianas de pesar, calcular, com determinações numéricas, com reduções de valores qualitativos e quantitativos. Ou seja, através da natureza calculativa do dinheiro se criava uma nova precisão, uma certeza na definição de identidades e de diferenças, uma ausência de ambigüidades nos acordos e combinações que surgiam nas relações de elementos vitais – tal como externamente esta precisão foi efetuada pela difusão universal dos relógios de bolso ( e depois de pulso).
A metrópole moderna, diz Simmel, se tornaria desastrosa em seus afazeres sem a mais estrita pontualidade de seus compromissos. A metrópole que se informa destas calculabilidades é a mesma que gera a idéia dos impulsos como da ordem das irracionalidades humanas. Neste termos é possível compreender, diz Simmel, o ódio de Nietzsche pela metrópole, uma vez que a sua natureza – a de Nietzsche- descobriu o valor da vida a sós na existência fora de esquemas, que não pode ser definida com precisão para todos igualmente. É assim que passo a dizer sobre as experiências das metrópoles modernas para inserir a discussão das intervençoes urbanas como parte de processos desestabilizadores e de experiências sensíveis, nas escalas das metrópoles.
17 horas - Apresentação do Afoxé Acabaca Ora Saba Omi
17h30 - Lisabete Coradini (Doutora em Antropologia pela Universidad Nacional Autônoma de México . Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana e Visual)
Memórias do futuro - Memórias do futuro apresenta uma reflexão sobre as cidades do futuro, ou seja, como as cidades do fim do século XX foram imaginadas pelo cinema, pela literatura, pelas séries de televisão e pela arquitetura. Ao analisar os textos visuais (literatura, periódicos, revistas) e textos audiovisuais (filmes e vídeos) com o objetivo de descrever as imagens que os mesmos textos construíram sobre o futuro, percebi que se tratava de diferentes imagens que refletem as facetas distintas do imaginário. O trabalho apresenta ainda os projetos utópicos e urbanísticos elaborados nos anos 50 e 60 sob a influência do movimento moderno, principalmente com a construção de Brasília e Ciudad Satélite, no México.
19 horas - Pensamentos do Laboratório de Antropologia e Imagem – LAI
* Juliano Gadelha (Mestrando em sociologia pela UFC e bacharel em Ciências Sociais pela mesma universidade):
Imagem transgender, liminaridade e devir- artista - Transexuais,transformistas,travestis e drag-queens denominam conjuntamente as transformações de suas personalidades e o processo de intervenções corporais por eles sofridos de montagem.Assim,montar para esses agentes é um ato de modificar tanto a pessoa como o corpo.O presente trabalho tem por objetivo a análise da apropriação da montagem por parte de meios mediáticos,cinematográficos e outros da cultura do espetáculo,demonstrando a relação entre liminaridade e devir -artista existe nessa captura.
* Kaciano Gadelha (Mestre em Sociologia pela UFC, professor colaborador da Universidade Estadual do Vale do Acaraú – UVA):
Female Troubles: sexualidades periféricas e políticas de subjetivação em um filme de John Waters - John Waters, um dos eminentes cineastas do cinema underground americano, introduziu a subversão dos gêneros em uma série de filmes protagonizados pela drag queen Divine, a qual encarnava papéis femininos, parodiando (no sentido definido por Judith Butler) o lugar compulsório do feminino em nossa sociedade: o lugar da mulher de classe média, desde sua formação como moça bem comportada até esposa dedicada. Neste filme de 1974, Divine encarna Dawn Daveport, e a narrativa fílmica é uma espécie de Bildungsroman (romance de formação) às avessas, uma biografia transfigurada do desenvolvimento normal da personalidade feminina dentro da sociedade heteronormativa.
O problema feminino irrompe na paradoxal inadequação de Dawn, reeditando os lugares da mulher, evidenciando suas tensões: o incapturável do desejo, a relação entre sexo e poder e o fetiche pelo crime e pelo grotesco. Neste trabalho me deterei não somente na centralidade da figura de Divine, mas a todo o campo periférico, do qual sua subjetividade emerge como efeito. Esse campo definirei como o campo das sexualidades periféricas que não encontram seu lugar no sistema identitário dos gêneros hegemônicos e apontam para políticas de subjetivação minoritárias.
* Ruy Vasconcelos (Roteirista e documentarista, foi professor da UECE e da Unifor. É doutorando em Ciências Sociais pela UFC):
História e Cidade: para o caso de uma representação de Fortaleza em documentário - Há uma defasagem entre a dimensão arquitetônica extremamente rarefeita e a profusa, matizada representação de Fortaleza na literatura que precisa ser tomada como mote para se discutir a representabilidade da cidade nas imagens. Ao nos voltarmos para a questão, entre outras, percebemos que a vocação dos autores cearenses para micro-história foi de fundamental importância no sentido de dimensionar a memória de uma cidade que, por seu turno, foi bastante espoliada no plano arquitetônico.
20h - Confraternização final - DJ Renatinha
IDEALIZAÇÃO - Peregrina F. Capelo Cavalcante
ORGANIZAÇÃO
Curadora: Peregrina F. Capelo Cavalcante
Coordenadora Geral: Danielle Araújo
CURSO DE APRECIAÇÃO DE ARTE
História da Indumentária e da Moda na Sétima Arte
Professor: Ricardo André Santana Bessa
Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108)
Dias 26, ter, 27, qua, 28, qui e 29, sex, 14h30 às 17h30
Inscrições gratuitas: a partir de 12 de agosto, na recepção do CCBNB
O Cinema, ou a Sétima Arte é um dos melhores meios de apreciação e compreensão da história da moda. Desta forma, o curso tem como objetivos conhecer a história da indumentária e da moda através dos principais períodos históricos, utilizando filmes; identificar as diversas formas da indumentária e da moda e sua relação com o cinema nas culturas ocidentais; compreender e interpretar a moda como um fenômeno social e econômico; e interpretar fundamentos das bases antropológicas e sócio-culturais que influenciam a moda e sua relação com a evolução das artes. Carga horária: 12 horas-aula.
ENTREVISTAS E INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
· Ricardo André Santana Bessa – (11) 9303.0745 / 3637.8000 – ricardoandrebessa@yahoo.com.br
· Carolina Teixeira (coordenadora de Cinema do Centro Cultural Banco do Nordeste) – (85) 3464.3178 / 9629.1777 – carolinatr@bnb.gov.br
O QUE É
O I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem, promovido pelo Laboratório de Antropologia e Imagem (LAI) da Universidade Federal do Ceará (UFC), acontece de 26 a 29 de agosto de 2008, em Fortaleza (CE). O Theatro José de Alencar (TJA), equipamento mantido pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), é o espaço de realização do evento, que objetiva congregar pesquisadores de várias regiões do Brasil para discutir a importância da narrativa visual e suas potencialidades. O intuito é provocar o encontro de diferentes linhas de pensamento em torno de um tema comum: a Imagem, proporcionando uma reflexão na contemporaneidade das diversas formas com que se comunica, diariamente, na arte, publicidade ou na antropologia.
Do ponto de vista da cultura e averiguações acerca das expressões visuais, o evento é uma oportunidade rara ao congregar, num só lugar, diferentes saberes em torno de tema especifico. Durante quatro dias de encontros com pesquisadores, que versarão sobre suas pesquisas e reflexões em torno da imagem, também acontecem, paralelamente, experimentações de imagens e sons; exposições de fotografias, filmes, clipes, instalações, entre outras performances e congregações.
PORQUÊ
O ano de 2008 brinda os 100 anos do início da construção do Theatro José de Alencar e os 40 anos de existência do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Partindo da importância desses marcos históricos, o LAI do Ceará em parceria com o Núcleo de Produções Culturais, propõe o I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem (CIDAI) como convite à discussividade sobre Imagem, onde palestrantes e produtores de imagem do Ceará e do Brasil exporão e discutirão suas produções na fotografia, no vídeo ou em experimentos imagéticos, ante prévias inscrições.
Durante o evento realizaremos ainda uma homenagem aos grandes nomes da fotografia cearense, através de mostra coletânea da narrativa fotográfica desses artistas sobre Fortaleza. Será exibida também uma mostra de 80 slides com imagens etnográficas de Jericoacoara e no município de Almofala (CE), na década de 60, pelo antropólogo Luis de Gonzaga Chaves, um dos fundadores do Departamento de Ciências Sociais da UFC.
O I Ciclo de Diálogos em Antropologia e Imagem é uma iniciativa importante para a reflexão em torno da imagem proporcionando um intenso fluxo de informações e fortalecendo o capital cultural dos interessados no campo da imagem. Fortaleza apresenta uma produção relevante no âmbito da fotografia com nomes consagrados de projeção internacional. Apesar da relevância imagética, na carência de encontros para debater e refletir em torno do que é produzido, este projeto vem unir diferentes falas sobre um tema comum e uma produção teórica comprometida com a polissemia da arte.
I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem
Theatro José de Alencar, de 26 a 29 de agosto de 2008
PÚBLICO ALVO: Produtores, cineastas, videomakers, fotógrafos, estudantes, pesquisadores e interessados no campo das ciências humanas / antropologia / arte e imagem.
INSCRIÇÕES e INFORMAÇÕES: Universidade Federal do Ceará, Sala do Laboratório de Antropologia e Imagem (LAI) - Av. da Universidade, 2995 - 1° andar – BENFICA – Fortaleza/CE
Fone: 85 33667422 - www.lai.ufc.br / lai.antropologiaeimagem@gmail.com
PROGRAMAÇÃO NO THEATRO JOSÉ DE ALENCAR
Conferências, Exposições, Projeções de Vídeos, Experimentações de 26 a 29 de agosto de 2008
26 de agosto
14 horas - Abertura da exposição coletiva de fotografia que homenageia os consagrados nomes da fotografia cearense: Celso Oliveira, Chico Albuquerque ( in memoriam), Delfina Rocha, Gentil Barreira, Tibico Brasil, Jacques Antunes, Jarbas Oliveira, Mauricio Albano, Silas de Paula, Thiago Santana, Zé Albano.
14h30 - Abertura do I Ciclo Internacional de Diálogos em Antropologia e Imagem
* Recital ao piano com Imelda Ferreira
* Palestra da Curadora Peregrina F. Capelo Cavalcante (UFC)
15 horas - Etienne Samain (Professor Titular na área de Multimeios e Ciência, RDIDP, do Departamento de Cinema (Instituto de Artes) da Universidade Estadual de Campinas / Unicamp)
Imagem e Pensamento em Antropologia - retrospectivas e novas considerações - O que representa a imagem na “espiral” dos meios de comunicação que chegamos a conhecer? Trata-se, nesta proposta, de apontar, primeiro, para alguns questionamentos substantivos em torno dos usos da(s) visualidade(s) moderna (s) como meios e modos científicos de investigação - e não apenas meros suportes ilustrativos, no campo das Ciências Humanas. Em seguida, a proposta pretende promover uma reflexão em torno das imagens, no campo da Antropologia , enquanto « figuras » e « formas » do pensamento humano, que somente existem para revelar e fazer viver o tempo das culturas e dos homens-recolher, transportar e também nutrir suas inegostáveis memórias.
17 horas - Apresentação do Maracatu Vozes d’ África
17h30 - Roberto Machado (Pós-doutor pela Universidade de Paris VIII, professor titular do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ):
Deleuze e as imagens cinematográficas - A filosofia de Deleuze cria seus conceitos não só a partir de outras filosofias, mas também de pensamentos não-filosóficos ou não-conceituais: científicos, literários, artísticos. Ao pensar o cinema, ele o define pela criação de imagens, estabelecendo seus dois grandes tipos: a imagem-movimento e a imagem-tempo, a primeira caracterizando o cinema clássico, a segunda, o cinema moderno. O objetivo da palestra é mostrar a passagem do cinema clássico ao cinema moderno, no pós-guerra, como sendo a substituição de um cinema de ação, constituído por situações sensório-motoras, a um cinema de visão, constituído por situações óticas e sonoras puras que libertam a percepção da ação, tornando possível pensar o tempo e a diferença.
19 horas – Lançamento do livro Culturas Extremas: Mutações Juvenis nos Corpos das Metrópoles com Massimo Canevacci.
20 horas - Homenagem a Luis Gonzaga, fundador do Curso de Ciências Sociais da UFC:
Apresentação de imagens – “Almofala – década de 60”.
Confraternização
27 de agosto
14 horas - Marco Antonio Gonçalves (Pós-Doutor pela Universidade de St Andrews, na Katholieke Universiteit Leuven, e na Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Professor do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ e do Departamento de Antropologia Cultural do IFCS-UFRJ):
O real imaginado: etnografia, cinema e surrealismo em Jean Rouch - O cinema de Rouch se inspira nos conceitos da Antropologia e sua Antropologia está inspirada na sua percepção das imagens e do cinema. Portanto, a ética e a estética de seus filmes se ancoram nesta relação incessante entre Antropologia e cinema o que faz de sua obra uma discussão permanente sobre as questões centrais das duas disciplinas. Aderido a uma estética surrealista, da qual Rouch admitia forte influência, pôde promover uma experimentação não apenas no campo da linguagem cinematográfica mas sobretudo na própria percepção do que significava etnografia.
Procuro justamente estabelecer um diálogo entre sua conceituação etnográfica e fílmica com as discussões em voga na Antropologia. Trato, assim, de aspectos que me parecem relevantes para se pensar a antropologia fílmica de Jean Rouch e de sua potencialidade para pôr em operação o conceitual da Antropologia.
As questões epistemológicas propostas por Rouch a partir de sua produção fílmica da década de 50 implicam, necessariamente, uma conceituação sobre o que significa o fazer etnográfico e o fazer filmico o que, por sua vez, ajuda a apreender o significado de ‘etnografia fílmica’ e tudo o que deste conceito deriva para a Antropologia quando se procura realizar uma ‘transposição do real’ para imagens. Deste modo, procuro estabelecer um diálogo entre sua conceituação etnográfica e fílmica com as discussões em voga na Antropologia contemporânea.
15h30 - Patrícia Monte-Mór (Mestre em Antropologia Social pelo Museu Nacional/PPGAS/UFRJ, produtora cultural e professora do Dep. de Ciências Sociais da UERJ onde coordena o Núcleo de Antropologia e Imagem /NAI):
A Construção do olhar na Antropologia Visual: duas experiências - A partir da experiência com duas frentes de trabalho na área da Antropologia Visual no Brasil: uma mais específica no âmbito da formação universitária, o Atelier Livre de Cinema e Antropologia e outra na área de produção cultural: a realização anual de um festival de cinema - Mostra Internacional do Filme Etnográfico - pretendo apresentar um panorama de experiências recentes de ensino, formação, divulgação em direção a ‘construção de um olhar’.
17 horas- Apresentação da Caravana Cultural
17h30- Elsje Lagrou (Doutora em Antropologia Social pela University of St. Andrews e pela Universidade de São Paulo. Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA), IFCS/UFRJ):
A fluidez da forma: uma reflexão sobre o poder das imagens em uma sociedade indígena.
A partir de uma reflexão sobre o poder das imagens entre os Kaxinawa do Acre, proponho um modo diferente de pensar a relação entre antropologia e arte, entre antropologia e imagem. O conceito de iconoclash de Latour tematiza ao desencontro e a tensão entre imagens, assim como a indefinição sobre o que exatamente acontece quando a imagem do outro é destruída. O fenômeno do iconoclash mostra como iconofilia e iconoclasmo podem ocultar atitudes não sempre opostas, mas muitas vezes complementares: a vontade de destruir as imagens do outro vai acompanhada de um desejo de impor sua própria imagem.
O mundo das relações aponta para um mundo de imagens em movimento. Esta idéia da fluidez da forma e sua relação com a fabricação dos corpos entre os Kaxinawa é associada à ênfase de Taussig e Gell no poder agentivo da imagem, onde a cópia sempre afeta o original e onde imagens mais do que representar o mundo ajudam a criá-lo.
19 horas - Massimo Canevacci (professor de Antropologia Cultural na Facoltà di Scienze della Comunicazione - Università di Roma, “La Sapienza”. Ensina e faz pesquisa no Brasil. É diretor de Avatar, revista de antropologia, comunicação e artes) e Sheila Ribeiro (artista na área de dança contemporânea e dirige a companhia dona orpheline)
SANDMANN - seminário-performativo - etnografia e coreografia - Uma etnografia textual compondo um tecido performativo múltiplo que, através da audácia coreográfica que penetra tais fluxos, faz dançar o fetiche, ultrapassando a antropologia tradicional. Em cena, Massimo Canevacci propõe uma etnografia que parte de Hoffmann, passa por Freud, Rilke e Hans Bellmer chegando aos fetichismos visuais contemporâneos da arte e da publicidade, transfigurados em palavras, imagens e músicas.
Neste mesmo espaço, Sheila Ribeiro propõe uma instalação coreográfica servindo-se de tecnologias multimídia, além de sua abordagem que assimila Butoh, dança do ventre e outros códigos de visões de corpo/mundo. Esta arquitetura de seminário-performance mergulha nas questões do duplo e do corpo-cadáver evocando uma sensorialidade multi-comunicacional e multi-sequencial favorecendo olhares descentralizados da parte de cada espectador.
28 de agosto
14 horas- Sérgio Baptista (Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo, professor no Departamento de Antropologia e no Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul com ênfase em Etinologia Indígena e Populações Afro-brasileiras):
Imagens do cosmo guarani - A análise da iconografia mbyá- e ñandeva-guarani presente na pintura corporal, na cestaria e outros objetos possibilita-nos uma aproximação das lógicas anímicas de sua cosmologia e ontologia. A partir de uma perspectiva etnográfica, pretende-se discutir os sentidos da arte e da cultura material guarani e sua relação central com a produção de corpos e de pessoas, no âmbito da circulação de alteridades e agências através dos diversos domínios cosmológicos.
15h30 - Clarice Peixoto (Doutora em Antropologia Social e Visual pela Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales. Professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, membro do comitê editorial das revistas: Cadernos de Antropologia e Imagem /UERJ ,Sexta-Feira /USP e Interseções /UERJ):
Antropologia audiovisual: sobre o fabricante de imagens - Uma das questões fundamentais da reflexão sobre a inserção do audiovisual nas pesquisas sociais diz respeito à produção das imagens - de quem as fabrica : o pesquisador ou o seu cameraman?
As possibilidades são inúmeras e dependem, sobretudo, da relação que o antropólogo-cineasta estabelece com as pessoas filmadas, do tempo dedicado ao processo de elaboração da pesquisa e do financiamento disponível; tendo bem claro para quê e para quem produzimos essas imagens. Uma das premissas do documentário é que ele deve convencer pela autenticidade das suas filmagens, pela “veracidade”das realidades sociais que fixa em imagens. Para isso, é fundamental um conhecimento acuidado do contexto social filmado, pois uma preparação zelosa abre espaço, nas filmagens, à espontaneidade dos personagens e reduz as incertezas e ansiedades daquele que filma. Isto permite um vai e vem contínuo entre a concepção teórica do projeto e o seu desenvolvimento por meio de uma narrativa audiovisual.
É neste confronto entre o conhecimento da pesquisa, a especificidade do campo e os embaraços da escritura cinematográfica que reside o aspecto criativo do filme na pesquisa antropológica. Discutirei algumas destas questões, tendo como base minhas experiências com o vídeo, pois acredito ser fundamental integrar etnografia e imagens no fazer antropológico para desenvolver abordagens menos dicotômicas, onde a articulação pesquisa-imagem possa ser pensada de forma integrada.
17 horas - Apresentação dos Brincantes do Cordão do Caruá
17h30 - Silas de Paula(Doutor pela Universidade de Loughborough, Inglaterra.Professor do Curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará. É fotógrafo e faz parte do programa de pós-graduação em Comunicação atuando na linha de pesquisa em Fotografia e Audiovisual. Coordena o grupo de pesquisa em Cultura Visual) e Kadma Marques(Doutora pela Universidade Federal do Ceará, com estágio em Lyon/França. Professora da Universidade Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Sociologia da Educação, com ênfase em Pesquisa Educacional)
Retratos que trocam olhares - permutas entre a fotografia e artes plásticas na conformação do corpo contemporâneo
Na Idade Média, momento em que a personalização dos traços fisionômicos ainda não era um recurso corrente na produção de retratos, esta se ligava, sobretudo, ao enaltecimento das figuras do Papa, do Príncipe e de mecenas que se faziam cercar por cenários celestiais ou como forma de demonstração de poder. No século XV, o retrato individual, distanciado de toda referência religiosa conhece sua ascensão no domínio da pintura. Por sua vez, a invenção da fotografia no século XIX coincide com uma revolução industrial que modifica profundamente os pertencimentos locais, provocando o êxodo rural, acentuando a urbanização e fomentando entre numerosos atores o sentimento de sua própria individualidade. Esta última é elaborada por um “olhar” que, lançado sobre o corpo, concebe-o então como símbolo fundamental de individuação graças à explosão social do retrato fotográfico. Ocorre que a simplificação gradativa da técnica e o acesso de uma população crescente à consciência de sua singularidade possibilitaram a popularização do portrait fotográfico, democratizando e diversificando a função originariamente honorífica do retrato burguês.
Nesse sentido, os emblemáticos anos 80 e noventa do século XX agregaram mudanças significativas nas maneiras de olhar e registrar o mundo pelos fotógrafos. Este texto pretende então discutir os desdobramentos de tais mudanças, problematizando a forma como as trocas permanentes entre fotografia e artes plásticas provocaram a emergência de imagens fotográficas que, a um só tempo, influenciam e são influenciadas pelo conceito que temos de corpo na contemporaneidade.
19 horas - Cornelia Eckert (Pós-doutora em Antropologia Sonora e Visual, Paris VIII. Professora Associada do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenadora do BIEV, portal www.biev.ufrgs.br, e do Núcleo de Antropologia Visual ) e Ana Luiza Rocha(Doutora em Antropologia - Université de Paris V /René Descartes. Antropóloga da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora participante da Universidade Federal de Santa Catarina com experiência na área de Antropologia visual e sonora. Coordenadora de Pesquisa do Banco de Imagens e Efeitos Visuais do Laboratório de Antropologia Social/PPGAS/UFRGS)
Memória e imagem: a cidade como objeto temporal - Apresentamos nossa pesquisa antropológica sobre e na cidade que segue a tendência da análise compreensiva dos fenômenos da memória e do patrimônio no mundo contemporâneo para quem o tempo torna-se humano na medida em que está articulado de forma narrativa (Ricoeur) e em que as ações, situações, acontecimentos vividos desvelam no “trajeto antropológico” (Durand) as descontinuidades e continuidades da experiência temporal humana. Inspiradas nas inquietações bachelardianas e piagetianas, e adotando-as para revisitar os estudos sobre memória nos termos empregados pela “matriz antropológica” (Cardoso de Oliveira), no BIEV temos por centro de preocupações a realização de “etnografias da duração” (Eckert e Rocha) e seus “cronotropismos” (Rocha), ou seja, a etnografia dos diversos ritmos que configuram uma comunidade urbana como tal e a descrição dos arranjos da vida coletiva que se propaga no interior de seus territórios.
Trazemos como notícia nosso projeto de um museu virtual pelo tratamento digital da memória etnografada em Porto Alegre disponível em www.biev.ufrgs.br: uso de formas mais integrativas e interativas de resgate, recuperação, criação e produção de coleções etnográficas sobre as transformações da paisagem urbana através dos “jogos da memória de seus habitantes”(Eckert e Rocha). Para tanto apresentamos nossa produção de “etnografia hipertextual” (Rocha), um conjunto não estruturado a priori de informações e dados colhidos pelo antropólogo em seu trabalho de campo, em suportes diversos (textos, fotos, filmes, som) e que, digitalizados e disponibilizados em seus cortes e rupturas (e ligados entre si por “nós” ou laços) são colocados num mesmo ambiente de consulta para os usuários, conformando um processo de “interpretação de culturas” (Geertz), segundo um sistema aberto, onde a leitura de um dado imediatamente re-configura a totalidade do universo etnográfico do qual faz parte, situando o antropólogo, em sua “ipseidade”(Ricoeur), como “narrador das cidades”(Benjamin).
20h - Projeções no JARDIM com Solon Ribeiro
29 de agosto
14 horas - Alexandre Câmara Vale (Doutor e professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós – Graduação da UFC)
Etnografia, imagem e recepção - A comunicação “Etnografia, imagem e recepção” tem como proposta discutir alguns aspectos teóricos e metodológicos ligados às pesquisas antropológicas que supõem, de forma direta, a recepção/apropriação de produtos audiovisuais. Parte-se aqui da idéia de que as tematizações em torno do estatuto das imagens no mundo contemporâneo relegaram a um segundo plano o lugar daquele que recebe e se apropria dessas imagens.
Hoje, analisar a arte ou qualquer outro produto cultural já não é analisar apenas obras e produtos, mas as condições imagéticas, textuais, extra-textuais, estéticas e sociais em que a interação entre os membros de um campo gera e renova o sentido. Assim, refletindo sobre esse “giro paradigmático” proposto pelo programa de “estética da recepção”(Jauss, 1978), busca-se refletir sobre o trabalho de campo em antropologia como ferramenta privilegiada na “captura” dos significados culturais engendrados pelas imagens.
15h30 - Beatriz Furtado (Doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará com estágio doutoral no Depto. de Filosofia, da Universidade de Lisboa. Professora do Mestrado em Comunicação e da Graduação, do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal do Ceará, da área do Audiovisual)
Intervenções urbanas e a experiência das metrópoles - A metrópole é a mais complexa referência da experiência humana contemporânea. Seja pela constituição de poder econômico, político, religiosos – lugar de conflito, tensões e convívios – seja pela mais extrema experiência do trágica beligerante. – como vimos no bestial ataque e destruição de Bagdá ou no desabamento das torres símbolo do poder americano. Não sem propósito a Bienal de São Paulo tomou para si o olhar sobre 11 grandes metrópoles e teve como tema Iconografias Metropolitanas. Já no início do século XIX, o alemão Georges Simmel tomava a metrópole em sua complexidade expressa na racionalidade moderna – lugar de calculabilidades, pontualidades – medidas, mensuralibildades – quer dizer, a exatidão calculista da vida prática, que corresponde ao ideal da ciência natural – moderna – de transformar o mundo por meio de fórmulas matemáticas. Por exemplo, com as práticas cotidianas de pesar, calcular, com determinações numéricas, com reduções de valores qualitativos e quantitativos. Ou seja, através da natureza calculativa do dinheiro se criava uma nova precisão, uma certeza na definição de identidades e de diferenças, uma ausência de ambigüidades nos acordos e combinações que surgiam nas relações de elementos vitais – tal como externamente esta precisão foi efetuada pela difusão universal dos relógios de bolso ( e depois de pulso).
A metrópole moderna, diz Simmel, se tornaria desastrosa em seus afazeres sem a mais estrita pontualidade de seus compromissos. A metrópole que se informa destas calculabilidades é a mesma que gera a idéia dos impulsos como da ordem das irracionalidades humanas. Neste termos é possível compreender, diz Simmel, o ódio de Nietzsche pela metrópole, uma vez que a sua natureza – a de Nietzsche- descobriu o valor da vida a sós na existência fora de esquemas, que não pode ser definida com precisão para todos igualmente. É assim que passo a dizer sobre as experiências das metrópoles modernas para inserir a discussão das intervençoes urbanas como parte de processos desestabilizadores e de experiências sensíveis, nas escalas das metrópoles.
17 horas - Apresentação do Afoxé Acabaca Ora Saba Omi
17h30 - Lisabete Coradini (Doutora em Antropologia pela Universidad Nacional Autônoma de México . Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana e Visual)
Memórias do futuro - Memórias do futuro apresenta uma reflexão sobre as cidades do futuro, ou seja, como as cidades do fim do século XX foram imaginadas pelo cinema, pela literatura, pelas séries de televisão e pela arquitetura. Ao analisar os textos visuais (literatura, periódicos, revistas) e textos audiovisuais (filmes e vídeos) com o objetivo de descrever as imagens que os mesmos textos construíram sobre o futuro, percebi que se tratava de diferentes imagens que refletem as facetas distintas do imaginário. O trabalho apresenta ainda os projetos utópicos e urbanísticos elaborados nos anos 50 e 60 sob a influência do movimento moderno, principalmente com a construção de Brasília e Ciudad Satélite, no México.
19 horas - Pensamentos do Laboratório de Antropologia e Imagem – LAI
* Juliano Gadelha (Mestrando em sociologia pela UFC e bacharel em Ciências Sociais pela mesma universidade):
Imagem transgender, liminaridade e devir- artista - Transexuais,transformistas,travestis e drag-queens denominam conjuntamente as transformações de suas personalidades e o processo de intervenções corporais por eles sofridos de montagem.Assim,montar para esses agentes é um ato de modificar tanto a pessoa como o corpo.O presente trabalho tem por objetivo a análise da apropriação da montagem por parte de meios mediáticos,cinematográficos e outros da cultura do espetáculo,demonstrando a relação entre liminaridade e devir -artista existe nessa captura.
* Kaciano Gadelha (Mestre em Sociologia pela UFC, professor colaborador da Universidade Estadual do Vale do Acaraú – UVA):
Female Troubles: sexualidades periféricas e políticas de subjetivação em um filme de John Waters - John Waters, um dos eminentes cineastas do cinema underground americano, introduziu a subversão dos gêneros em uma série de filmes protagonizados pela drag queen Divine, a qual encarnava papéis femininos, parodiando (no sentido definido por Judith Butler) o lugar compulsório do feminino em nossa sociedade: o lugar da mulher de classe média, desde sua formação como moça bem comportada até esposa dedicada. Neste filme de 1974, Divine encarna Dawn Daveport, e a narrativa fílmica é uma espécie de Bildungsroman (romance de formação) às avessas, uma biografia transfigurada do desenvolvimento normal da personalidade feminina dentro da sociedade heteronormativa.
O problema feminino irrompe na paradoxal inadequação de Dawn, reeditando os lugares da mulher, evidenciando suas tensões: o incapturável do desejo, a relação entre sexo e poder e o fetiche pelo crime e pelo grotesco. Neste trabalho me deterei não somente na centralidade da figura de Divine, mas a todo o campo periférico, do qual sua subjetividade emerge como efeito. Esse campo definirei como o campo das sexualidades periféricas que não encontram seu lugar no sistema identitário dos gêneros hegemônicos e apontam para políticas de subjetivação minoritárias.
* Ruy Vasconcelos (Roteirista e documentarista, foi professor da UECE e da Unifor. É doutorando em Ciências Sociais pela UFC):
História e Cidade: para o caso de uma representação de Fortaleza em documentário - Há uma defasagem entre a dimensão arquitetônica extremamente rarefeita e a profusa, matizada representação de Fortaleza na literatura que precisa ser tomada como mote para se discutir a representabilidade da cidade nas imagens. Ao nos voltarmos para a questão, entre outras, percebemos que a vocação dos autores cearenses para micro-história foi de fundamental importância no sentido de dimensionar a memória de uma cidade que, por seu turno, foi bastante espoliada no plano arquitetônico.
20h - Confraternização final - DJ Renatinha
IDEALIZAÇÃO - Peregrina F. Capelo Cavalcante
ORGANIZAÇÃO
Curadora: Peregrina F. Capelo Cavalcante
Coordenadora Geral: Danielle Araújo
CURSO DE APRECIAÇÃO DE ARTE
História da Indumentária e da Moda na Sétima Arte
Professor: Ricardo André Santana Bessa
Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108)
Dias 26, ter, 27, qua, 28, qui e 29, sex, 14h30 às 17h30
Inscrições gratuitas: a partir de 12 de agosto, na recepção do CCBNB
O Cinema, ou a Sétima Arte é um dos melhores meios de apreciação e compreensão da história da moda. Desta forma, o curso tem como objetivos conhecer a história da indumentária e da moda através dos principais períodos históricos, utilizando filmes; identificar as diversas formas da indumentária e da moda e sua relação com o cinema nas culturas ocidentais; compreender e interpretar a moda como um fenômeno social e econômico; e interpretar fundamentos das bases antropológicas e sócio-culturais que influenciam a moda e sua relação com a evolução das artes. Carga horária: 12 horas-aula.
ENTREVISTAS E INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
· Ricardo André Santana Bessa – (11) 9303.0745 / 3637.8000 – ricardoandrebessa@yahoo.com.br
· Carolina Teixeira (coordenadora de Cinema do Centro Cultural Banco do Nordeste) – (85) 3464.3178 / 9629.1777 – carolinatr@bnb.gov.br
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