Mudança climática: Acidez oceânica ameaça corais
Por Stephen Leahy, da IPS
Os arrecifes de coral têm de ser ajudados se quisermos que sobrevivam à mudança climática, mas sua sobrevivência depende de importantes reduções nas emissões de dióxido de carbono, alertaram especialistas. “Ouviremos muitas notícias ruins sobre os corais nas próximas décadas”, alertou esta semana Rich Aronson, presidente da Sociedade Internacional para os Estudos de Arrecifes, a três mil cientistas, conservacionistas e políticos reunidos no 11º Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Coral, que começou segunda-feira e vai até o dia 11 em Fort Lauderdale, no Estado da Flórida (EUA).
A mudança climática deixa o oceano muito quente e ácido para que a maior parte das espécies coralinas sobrevivam além de 2050, afirmam agora muitos cientistas marinhos. “A situação é seria ao ponto do desespero”, disse Aronson à IPS em uma entrevista. As emissões pesadas e presentes de dióxido de carbono a partir da queima de combustíveis fósseis já alteraram os oceanos, causando reduções dos corais em muitas áreas. Esta tendência continuará durante décadas, mesmo quando for possível eliminar todas as emissões que temos hoje, dizem os cientistas.
“Este é um momento decisivo. Devemos agir forte e imediatamente se quisermos ter arrecifes de coral tal como os conhecemos”, disse Aronson. Como ele, outros pedem urgência na concretização de importantes reduções nas emissões de carbono, proteção dos arrecifes da pesca excessiva, da contaminação e de outras ameaças e ajudar os corais a serem mais resistentes para suportarem melhor as condições mutantes. Este último agirá como uma espécie de sistema de apoio vital até que a comunidade mundial em ter em acordo para reduzir fortemente as emissões de carbono.
Isso pode dar aos corais o tempo que precisam para se adaptarem a um oceano que mudou. Atualmente, as modificações ocorrem muito rapidamente para que as espécies se adaptem, afirmaram os especialistas reunidos em Fort Lauderdale. Os arrecifes de coram mantêm entre 25% e 33% das criaturas viventes dos oceanos. Cerca de um bilhão de pessoas dependem direta e indiretamente dos arrecifes para sobreviver. Os pássaros marinhos e muitas espécies de peixes serão afetadas pela perda de arrecifes.
De modo surpreendente, a maioria dos cientistas apontou a pesca em excesso como a maior ameaça para os corais faz apenas quatro anos, no último Simpósio Internacional sobre Arrecifes de Coral, disse Joan Kleypas, do Centro Nacional para as Pesquisas Atmosféricas em Boulder, no Colorado, durante o simpósio. Nos quatro anos transcorridos aconteceram muitas pesquisas sobre impactos da mudança climática sobre os oceanos, e agora isso convenceu quase todos os especialistas de que é, de longe, a maior ameaça para os oceanos.
A maioria dos corais começa a morrer quando a temperatura dos oceanos aumenta mais de dois graus, e é provável que isso ocorra em quase todos os cenários futguros de emissões de carbono ates de 2100. Detalhados modelos informatizados mostram que todos os corais sofrerão uma severa descoloração entre um e cinco anos. Se as emissões diminuírem rapidamente na próxima década e se os corais forem mais resistentes ao aquecimento dos oceanos, então haverá esperança, segundo uma pesquisa recente.
Há algumas evidências de que alguns corais podem sobreviver a certo aumento das temperaturas oceânicas, mas não existe nenhuma solução para a acidez, disse Kleypas. Os oceanos absorvem naturalmente o carbono da atmosfera, mas devido às emissões humanas absorvem cada vez mais. Este carbono adicional alterou a composição química dos oceanos, deixando-os de 25% a 30% mais ácidos. A cada dia os oceanos absorvem 30 milhões de toneladas de dióxido de carbono, aumentando gradual e inevitavelmente sua acidez, e deixando menos carbonato de cálcio na água para que os corais e espécies como o fitoiplâncton cresçam ou mantenham seus esqueletos.
“A acidez afeta todas as espécies marinhas, não apenas os corais”, disse Kleypoas. Mas, se investigou pouco para compreender especificamente quais podem ser esses efeitos. Klaypoas admitiu que parece impossível salvar os corais, mas não perde as esperanças. “Precisamos manter estáveis os níveis de dióxido de carbono e os corais poderão ficar bem”, afirmou. Há informação suficiente sobre como reduzir as emissões de carbono e inclusive uma consciência cada vez maior sobre o fato de essa redução não ser cara em termos econômicos, disse Aronson.
Proteger os arrecifes de outras ameaças como a pesca em excesso e a contaminação não é difícil, mas exige uma liderança política. Salvar os corais tem de ser um esforço internacional dirigido pela Organização das Nações Unidas. “Nós, os cientistas, temos de ser pragmáticos e inteligentes em matéria de política. Todos nós – cientistas, conservacionistas e público – temos que nos levantar e lutar para proteger os corais”, disse Aronson. (IPS/Envolverde)
Boa intenção não falta, mas a Amazônia diminui
Por Lúcio Flávio Pinto, para a Agência Amazônia
Queimadas e desmatamentos anuais indicam que a região está cada vez menor. E mais pobre.
BELÉM, PA – Em março, quando ainda era ministra do meio ambiente, a acreana Marina Silva assinou uma portaria recomendando ao Conselho Monetário Nacional a suspensão, a partir de 1º de julho, do crédito agrícola oficial em 527 municípios localizados no bioma Amazônia e na faixa de transição do Centro-Oeste para a região. A medida provocou grande reação dos proprietários rurais, que usaram o governador Blairo Maggi como porta-voz, já que Mato Grosso seria o Estado mais atingido pela restrição.
Maggi, que também é um dos maiores produtores de soja do mundo, não se fez de rogado: girou sua metralhadora verbal sobre a ministra, que cairia menos de dois meses depois. Em junho, quase 20% dos municípios da lista original de Marina foram dela excluídos, por ato assinado pelo presidente Lula e endossado pelo novo ministro do meio ambiente, o carioca Carlos Minc.
Generoso Tesouro
Ao contrário dos demais, que serão punidos com a privação de crédito público – o mais barato e de mais longo prazo – por terem desmatado além do limite legal, 100 municípios localizados na área de transição da vegetação aberta para a mata densa amazônica receberão recursos do Tesouro Nacional para recompor as suas reservas legais (ocupando 80% da área do imóvel rural) e assim poderem se habilitar novamente ao crédito agrícola.
A verba reservada a essa operação é, aparentemente, significativa: um bilhão de reais. Mas dá, em média, R$ 10 milhões por município. É quase inexpressiva, se comparada aos valores embutidos no PAC (o Programa de Aceleração do Crescimento, a versão petista – quase sem novidade – dos “projetos de impacto” do regime militar e do “Avança Brasil” de FHC). Só o Pará receberá do PAC (se efetivamente receber) R$ 6 bilhões por ano durante três anos, até 2010.
Com Minc, há jeito
Ainda assim, seria uma iniciativa complementar e corretiva à portaria de março da já novamente senadora Marina Silva. Ela apenas punia. O MMA pragmático (apesar de tonitruar em falsete) de Minc é mais positivo: ele oferece os meios para que as propriedades que se tornaram ilegais pelo excesso de desmatamento possam corrigir o mal que causaram à natureza e ao País.
É um esforço inédito, ao qual se juntará, cada vez mais, a boa-vontade internacional. Com o mesmo objetivo, de manter a floresta amazônica em pé, depois de extirpada ou substituída em 17% do seu território pela ação dos pioneiros, o governo da Noruega se comprometeu a aplicar 500 milhões de dólares durante o próximo qüinqüênio.
A Dinamarca pretende fazer o mesmo e já reservou 100 milhões de euros para o programa de Áreas Protegidas da Amazônia, o Arpa, “o maior programa de conservação de florestas tropicais do mundo”, que Lula herdou de Fernando Henrique Cardoso.
Uma nova e aquecida corrida
Seria muito bom se pudesse ser de verdade. Se o dinheiro vier – e na escala prevista, de dimensão amazônica – haverá como controlar a sua aplicação, impedindo que desvie por desvãos especulativos ou simplesmente inócuos? O governo brasileiro tem sido pródigo com uma das mãos, a que sustenta a frente produtiva, e escasso com a outra, a que procura ajustar a atividade econômica às regras do bom uso dos recursos naturais, englobadas pelo embrulho do desenvolvimento sustentável. Acaba por criar, com essas distintas ponderações, um desequilíbrio estrutural, que procura corrigir nos efeitos, raramente atacando suas causas.
Novos tipos de negócios, engendrados pela preocupação com a saúde física do planeta, atacada pela ação transformadora do homem, já estão em curso. Como sempre, a iniciativa privada se antecipa ao governo e, assim, o manipula. A corrida às terras amazônicas foi aquecida e as áreas com cobertura vegetal nativa começam a ter outro atrativo para os investidores. O efeito dessas correntes pode ser o incremento da grilagem de terras e o uso especulativo de projetos com aparência de seriedade e cientificidade.
O governo, retardado no compasso dessa dinâmica, tenta, mais uma vez, recuperar o tempo e as ações perdidas. O ministro Carlos Minc prometeu concluir o zoneamento ecológico-econômico, que é a régua e o compasso para o novo desenho territorial, até o próximo ano. Há 15 anos essa ladainha é entoada. O atraso já comprometeu parte do seu potencial: o que havia para organizar, agora deve ser corrigido – se tal é possível.
Maggi tira Mato Grosso do mapa da Amazônia
O descompasso entre os que querem corrigir e os que pretendem manter o mesmo tipo de procedimento na Amazônia constitui a razão do baixo significado de iniciativas positivas, como as que foram anunciadas em Belém. O governador Blairo Maggi, o grande vitorioso no abrandamento das punições e na ampliação dos benefícios aos produtores rurais desmatadores, garante que dois terços dos municípios do seu Estado fazem parte do Centro-Oeste e não da Amazônia, devendo ser reenquadrados pelas políticas públicas.
Se há certo fundamento geográfico no argumento do dono do grupo Maggi, ele se torna insatisfatório na esgrima verbal do vizinho Estado de Rondônia, que também reivindica essa desclassificação, principalmente para se livrar do limite de 80% de reserva imposto pela legislação aos imóveis situados em áreas de floresta amazônica.
Com boa ou má intenção, a adaptação da ação pública a essa realidade, se tem o efeito saudável de possibilitar sua atenuação, considerando-se que o leite já está derramado, lança uma fumaça sobre o futuro da Amazônia, tão densa e nefasta quanto a que ocupará os céus da região pelos próximos meses.
A temporada anual de queimadas e desmatamentos, mais ou menos agressiva, tem sido a garantia de um fato constante, independentemente de quem esteja sentado no trono de Brasília: a Amazônia está cada vez menor. E mais pobre.
G8 empurra para frente compromissos efetivos com redução de emissões de gases
Por Mylena Fiori, da Agência Brasil
Hokkaido (Japão) - Como na cúpula do ano passado, na Alemanha, os sete países mais industrializados do mundo e a Rússia conseguiram empurrar para frente compromissos efetivos com a redução de emissões de gases de efeito estufa.
As mudanças climáticas foram tema principal da cúpula de 2007, na cidade alemã de Heilligendamm. Japão, Canadá e União Européia (que, como bloco, não integra o G8 mas participa das reuniões como convidado especial) defenderam a redução das emissões em 50% até 2050 e os demais países do G8 se comprometeram a considerar a proposta na reunião deste ano, em Hokkaido.
A resistência, especialmente norte-americana, levou a uma manifestação morna sobre o tema. Os poderosos do G8 jogaram a aprovação da meta para a Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança do Clima, que vem tentando negociar um regime de emissões pós-2012, quando vencem as metas do Protocolo de Quioto.
Eles reconheceram, porém o princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas, assumindo que os países desenvolvidos devem liderar o processo de redução de emissões e fixar metas também de médio prazo.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assegura que os países emergentes estão dispostos a colaborar. O Brasil, no entanto, é contrário à fixação de metas por setores da economia, como a siderurgia – isso implicaria uma mudança profunda na economia das nações em desenvolvimento.
“Não queremos que seja uma mesma meta para um setor no mundo inteiro”, frisou o chanceler. “A prioridade do desenvolvimento dos países pobres é muito forte”, afirmou.
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