quinta-feira, 5 de setembro de 2013

LIVROS - NÃO-FICÇÃO

Ministro da Economia da Argentina lança livro no Brasil
 
A crise econômica, social e política atravessada pela Argentina em dezembro de 2001 foi uma das maiores da história recente do capitalismo. Ao colapso do plano que por dez anos havia estabelecido a paridade do peso com o dólar, seguiu-se o congelamento de contas-correntes e poupanças, cinco presidentes em dez dias, incêndios, "panelaços", mortes, convulsões sociais e um grito uníssono: "Que se vayan todos!". A passagem do caos à recuperação foi uma tarefa coletiva sem precedentes, que implicou, em igual medida, o empenho de toda a sociedade e do governo.
Em O desafio da vontade, o economista Roberto Lavagna relata, em primeira pessoa, os treze meses cruciais que passou à frente do Ministério da Economia e Produção. Entre abril de 2002 e maio de 2003, teve que lidar, entre outras coisas, com a pressão dos lobbies, o desemprego, um PIB em queda livre, índices de pobreza recorde, execuções hipotecárias massivas, treze moedas provinciais, e a necessidade de dar um basta às exigências do FMI.
Tendo por base anotações pessoais e dados estatísticos, Lavagna narra passo a passo os acontecimentos públicos e privados de que foi protagonista, analisando sobretudo os bastidores das negociações do maior default soberano da história e detalhando os esforços empregados para tirar a economia argentina de uma terrível recessão. Muito mais do que um livro de memórias, trata-se de uma lição valiosa sobre política econômica e administração do Estado - e os enormes desafios que devem ser enfrentados na defesa do interesse público.
Roberto Lavagna (1942) é economista formado em 1966 pela Universidade de Buenos Aires, com pós-graduação em Econometria e Política Econômica pela Universidade de Bruxelas, onde foi aluno de Jan Tinbergen. Foi coordenador do mestrado em Integração Econômica na Universidade de Buenos Aires e, desde os anos 1970, assumiu diversos cargos públicos na Argentina, como o de secretário de Indústria e Comércio Exterior, de 1985 a 1987. Foi um dos mentores do Mercosul na condição de negociador-chefe dos Acordos de Integração Argentina-Brasil em 1986 e 1987, e entre 2000 e 2002 foi embaixador argentino junto aos organismos econômicos internacionais em Genebra e à União Europeia em Bruxelas. Em abril de 2002 foi nomeado ministro da Economia e Produção da Argentina, cargo que ocupou até novembro de 2005.










Uma grande homenagem ao rapper Sabotage

Biografia escrita por Toni C. foi lançada em Fortaleza

Neste ano, Mauro Mateus dos Santos completaria 40 anos, mas seu assassinato fez com que, em 2013, as homenagens marquem os 10 anos de sua morte precoce. O rapper cuja marca são os cabelos espetados e o pseudônimo Sabotage, ganha novamente a atenção do público com o lançamento de sua biografia oficial “Sabotage: Um Bom Lugar”, que aconteceu em Fortaleza, na Feira da Música. O livro, uma co-edição do instituto Itaú Cultural com a editora LiteraRUA foi lançado em São Paulo, dando início a uma série de homenagens a Sabotage, nascido em 1973, caçula de três irmãos, filhos de uma mulher batalhadora que os criou sozinha, depois que o marido fugiu. Moradora da Favela do Canão, em São Paulo, a família cresceu em meio ao crime e às rimas, e viveu toda sua curta vida assim.
Toni C. conta no livro de 340 páginas, intercaladas por fotos e documentos inéditos, a breve história de Sabotage que envolve não só os moradores da comunidade carente do Brooklin, em São Paulo, mas também nomes de peso do atual cenário do rap no Brasil. Mano Brown, do Racionais; Rappin Hood e Criolo são alguns dos que conviveram e se inspiraram nas letras e ritmos de Sabotage. Toni entrevistou todos eles e esmiúça em seu livro as relações que permeavam os caminhos do rapper. “As pessoas são muito solícitas e gostam de se lembrar dele, falar sobre ele”, revela Toni. “Criolo, por exemplo, sempre cita que ele é seu mestre, mas nunca disse que os dois compuseram e fizeram shows juntos, eram parceiros na música”, conta.
Por ser muito carismático, Sabotage circulava em vários meios, indo das ruelas da favela aos prêmios internacionais de cinema. A cena em que ele beija o bumbum de Rita Cadillac em Carandiru, de Hector Babenco, marcou não só pela narrativa do longa-metragem, como também pela ausência sentida do rapper – ele faleceu três meses antes do filme ser lançado. Foi também em meio às câmeras, durante as filmagens de O Invasor, que ele conheceu o ex-Titã Paulo Miklos O rapper orientou o músico-ator para criar seu personagem no longa-metragem. O titã assina o prefácio da biografia.
Além de depoimentos, Um Bom Lugar reúne documentos sobre a vida de Sabotage. São panfletos de shows, arquivos da escola onde ele estudou e convites de apresentações que Toni buscou com amigos e parceiros. Segundo ele, a vida documentada do rapper é muito difícil de ser coletada, pela cultura que o próprio homenageado tinha de não dar importância aos papeis. “Era proposital ou cultural essa postura, de não valorizar a construção de sua vida e história pelos documentos. Além disso, há a precariedade em que ele vivia”, comenta Toni.
Ainda há uma passagem na narrativa da vida do rapper que conta que um de seus irmãos, em meio a um surto, rasgou todas as fotos e documentos relacionados à infância de Sabotage. As poucas informações iniciais que o autor da obra obteve vieram de um painel que o músico tinha em casa, com poucas fotos dele com a esposa, Dalva, e com os filhos Walderson, Tamires e Larissa – esta fora de seu casamento.

 







A história da primeira revolução sexual
 

“As origens do sexo”, de Faramerz Dabhoiwala, mostra como se deram as mudanças no comportamento sexual ao longo da História   
  
Foram 20 anos de pesquisa, consultando de obras artísticas e diários pessoais a registros criminais e tratados filosóficos, antes que Faramerz Dabhoiala finalizasse seu As origens do sexo: uma história da primeira revolução sexual, que a Biblioteca Azul lança no Brasil. No livro, que conta com 56 páginas com imagens coloridas, Dabhoiwala alterna a perspectiva histórica com trajetórias individuais de muitos homens e mulheres para compreender a evolução da forma como o homem encara - e pratica - o sexo ao longo da História, com destaque para a mudança de paradigma trazida pelo Iluminismo, que suscitou a primeira revolução sexual do ocidente, segundo o pesquisador.
Professor de Oxford e membro da Royal Historical Society, Dabhoiala mostra em As origens do sexo que, desde o início da história humana, quase todas as civilizações prescreveram leis severas contra algum tipo de imoralidade sexual, mas foi a partir da Idade Média que o sexo ilícito foi tratado com crescente vigor como crime público. A revolução sexual teve início com a derrocada da disciplina pública, fruto da Reforma religiosa e do conflito que se estabeleceu a partir dela, quando o sexo consensual fora do casamento foi aos poucos passando para a esfera do privado, além da coerção legal.
Mas foi o Iluminismo que mudou definitivamente a maneira como a sociedade via o sexo. O modo de pensar iluminista alterou as noções de religião, verdade, natureza e moralidade de quase toda a população, transformando atitudes e comportamentos. Essa maior pluralidade de visões morais teve como efeito o avanço da liberdade sexual ao longo do século XVIII.
Essa mudança radical lançou os alicerces da cultura sexual até os dias de hoje. O Iluminismo varreu uma visão de mundo mais investida de autoridade, trazendo novas perspectivas e algumas tensões irresolúveis que fazem parte da condição moderna: o crescimento da liberdade sexual, o predomínio do modo urbano de viver e discutir sexo, a noção de que os homens são por natureza mais sexualmente ativos e as mulheres mais passivas, uma associação entre moral e classe, a distinção entre público e privado, comportamento natural e antinatural, pornografia e celebridade.









“Vivendo no Fogo Cruzado” propõe rumos possíveis para a segurança pública no país

Obra de Maria Helena Moreira Alves e Philip Evanson é um estudo sobre a nova realidade da capital carioca com as UPPs


Retrato vivo do violento processo de tentativa do governo do Rio de Janeiro de retomar territórios da criminalidade nos últimos anos, “Vivendo no Fogo Cruzado”, de Maria Helena Moreira Alves e Philip Evanson (Editora Unesp, 296 páginas, R$ 46),  é ilustrado com fotografias de Carlos Latuff, contesta a política de confronto com os marginais e traficantes, empregada ainda hoje pela Polícia Militar fluminense. Os autores trazem à luz o cotidiano de terror das comunidades expostas simultaneamente à truculência da PM, das milícias e dos traficantes, apontando ainda a resistência dos governadores às diretrizes do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), que disponibiliza recursos do governo federal para os estados investirem na área.
O livro também propõe rumos possíveis para a segurança pública no país, a partir de experiências internas e do exterior, como algumas das ações do próprio Pronasci e a proposta do relator especial das Nações Unidas, Philip Alston, de abolir a PM e substituí-la por uma nova força policial para servir, em vez de reprimir, a população. Antes, porém, apresenta um relato histórico da segurança pública no país, particularmente no Rio de Janeiro.  Retoma a origem remota da PM, filha da guarda real, nascida por decreto assinado pelo príncipe regente D. João VI em 1809. Explica como o papel da corporação, de policiar ruas e proteger a população, inverteu-se a partir da ditadura civil-militar (1964-1985), quando a PM passou a servir o estado no combate ao “inimigo interno”, ou seja, os opositores do regime. E mostra que após a redemocratização a polícia adotou um novo “inimigo interno”, os traficantes de drogas, mantendo a mesma mentalidade entronizada durante o regime de exceção.
“Vivendo no Fogo Cruzado” avalia também as políticas de segurança adotadas pelos governadores do Rio de Janeiro desde a redemocratização, enfatizando avanços e recuos, sempre relacionados a interesses políticos, em relação ao foco em direitos humanos, e questionando o futuro das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), até agora instituídas somente nas favelas da zona sul da cidade maravilhosa, as menos violentas e mais próximas dos bairros de classe média.
Por meio de depoimentos dos próprios moradores das favelas e líderes comunitários, os autores mostram o terror a que eles estão submetidos, sem deixar de apontar a precariedade e o medo que predomina também entre os policiais – mal remunerados e mal preparados. Integram o livro ainda entrevistas com especialistas em segurança pública e políticos, como Lula, quando ele ainda era presidente, Fernando Henrique Cardoso e o governador Sérgio Cabral. Paulo Sérgio Pinheiro assina o prefácio: “Depois da publicação dos resultados desta monumental pesquisa ninguém poderá alegar não saber o que aconteceu (e o que continua acontecendo) durante a ocupação militar dos morros e comunidades populares na Cidade Maravilhosa”.

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