quinta-feira, 5 de setembro de 2013

ENTREVISTA

Grupo Bagaceira participa do Festival Nordestino de Teatro2013, em Guaramiranga, e estreia espetáculo “Interior” este mês


Com 13 anos de existência e 13 espetáculos na trajetória, o coletivo teatral cearense celebra patrocínio da Petrobras com nova peça circulando pelo interior e cumprindo temporada em Fortaleza

Cena da peça “Meire Love”, apresentada quinta a noite em Guaramiranga - Grupo Bagaceira participou da Mostra de 20 anos do Festival Nordestino de Teatro


Um dos grupos de teatro de maior sucesso do Ceará se prepara para estrear um novo espetáculo no próximo domingo, em Itarema. O Bagaceira, com sua trajetória de 13 anos de existência e com essa 13ª montagem, garantiu, através da estética e conteúdo dos seus roteiros e temas, da particularidade de suas interpretações e a circulação dos seus espetáculos, reconhecimento do público, elogios da crítica e o patrocínio da Petrobras. Um dos integrantes do grupo, que esteve no fim de semana participando da Mostra de 20 anos do Festival Nordestino de Teatro, em Guaramiranga, o ator e produtor Rogério Mesquita conversou com o DIVIRTA-CE e falou das conquistas e da difícil batalha que é viver de arte no Ceará. 

DIVIRTA-CE - Como surgiu o teatro em sua vida e como foi o começo do Grupo Bagaceira?
ROGÉRIO MESQUITA -
Eu comecei a fazer teatro na escola, mas nunca pensei nisso como profissão. Até que em 1997, no terceiro ano, fui fazer uma oficina com Walden Luiz, numa escola ao lado da minha. Nesse mesmo ano eu estreei meu primeiro espetáculo, “As Novas Aventuras de Pedro Malasartes”. Três anos depois eu conheci o Yuri Yamamoto, no curso Princípios Básicos, com Paulo Ess, no Teatro José de Alencar. O Paulo me convidou para um grupo chamado Dionísios, que o Yuri fazia parte, e foi lá que formamos o Bagaceira, que é fruto do encontro de diversos artistas, como Luisa Torres, Isabela Cavalcante, Lívia Guerra, Rafael Martins, sendo a primeira formação do grupo no ano 2000. O Bagaceira já tem 13 anos e eu tenho 16 anos de teatro.

DIVIRTA-CE  – Hoje vocês contam com patrocínio da Petrobras, mas acredito que a luta foi grande para continuar apostando nessa vida de ator. Quais foram as maiores dificuldades, as situações mais inusitadas e as grandes loucuras que vocês já passaram nesses 13 anos de história? Alguma vez você pensou em desistir?
ROGÉRIO MESQUITA –
Querer viver de arte no Brasil já é uma grande loucura! Nossa sorte é que desde o começo os integrantes foram acreditando e investindo no grupo. O patrocínio da Petrobras consagrou a trajetória do Bagaceira. Já gastamos “milhões de reais” para viajarmos para o nosso primeiro festival de teatro, em Presidente Prudente (MG), onde apresentamos “Lesados”, nosso primeiro espetáculo de longa duração. Foi a primeira vez que saímos do Ceará com um espetáculo nosso, conhecemos pessoas de outros estados.

 

DIVIRTA-CE – Desde então vocês viajam por todo o Brasil com o Bagaceira. Qual o espetáculo do grupo que mais circulou pelo país?
ROGÉRIO MESQUITA –
A peça “Lesados” abriu portas - fomos a vários festivais em Belo Horizonte, São Luís, Belém. Mas acho que “Realejo” foi o espetáculo que mais circulou, pois participamos do Palco Giratório do Sesc, projeto que patrocina a turnê pelo país todo. Também fizemos “Meire Love” durante três meses por todo interior de São Paulo. Hoje a peça que está cumprindo temporada por diversas cidades é “Por que a gente não é assim? Por que a gente não é assado?”, nosso espetáculo de rua, que desde sua montagem, em 2011, participou de vários festivais e vem circulando bastante.


DIVIRTA-CE – Vocês acabam de participar da Mostra de 20 anos do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga. Como é a relação do grupo Bagaceira com o evento?
ROGÉRIO MESQUITA –
Acho que todos que fazem teatro no Ceará querem participar do Festival de Guaramiranga de alguma maneira. A primeira vez que participamos foi em 2001, numa mostra de esquetes apresentada à meia noite, chamada TeAto. Participamos da Mostra Competitiva em 2004 com “Lesados”, em 2005 com “Realejo”, também apresentamos a peça “Pornográficos”. Em 2008 estivemos no Festival com “Meire Love” e também estreamos o espetáculo “Tá namorando! Tá namorando!”. Sempre queremos que nossa produção passe por Guaramiranga pelos debates, que são muito consistentes. É ótimo ter um olhar de fora sobre o nosso trabalho, uma interlocução sobre o que nós estamos fazendo. O que nos motiva a participar do festival é fluir a produção e fomentar pensamento. O evento foi importante até para a formação do grupo Bagaceira.

DIVIRTA-CE – A edição 2013 do Festival de Teatro de Guaramiranga também recebem nesta sexta a última peça que vocês lançaram, “A mão na face”...
ROGÉRIO MESQUITA - .
.. sim, essa peça vem de um texto do Rafael Martins. Escrito há mais de dez anos, que também está publicado no livro “Lesados e outras peças”. Ano passado estávamos envolvidos na montagem do espetáculo patrocinado pela Petrobras, “Interior”, que lançaremos no mês que vem, e o Sesc nos convidou para uma leitura dramática de textos inéditos do Rafael, e um deles era o “A mão na face”. Chamamos os atores Démick Lopes, do Bagaceira, e a Marta Aurélia. Acumulamos dois turnos, um de dia, fazendo a pesquisa do “Interior” e outro à noite, fazendo a montagem de “A mão na face”. A peça “A mão na face” fala sobre dois “seres” da noite, uma cantora de cabaré prostituta e uma travesti, que se encontram no camarim de um cabaré. Ela horrorosa, cansada da vida, saindo do palco, e a travesti, ingênuo, se preparando para entrar – esse encontro da ilusão com a desilusão, com figuras que podem remeter ao universo de Plínio Marcos.
GRUPO BAGACEIRA IRÁ APRESENTAR "A MÃO NA FACE" NESTA SEXTA, NO FESTIVAL NORDESTINO DE TEATRO 2013, EM GUARAMIRANGA


DIVIRTA-CE– Fale sobre a peça “Interior”, que conta com o patrocínio da Petrobras e que vocês irão estrear este mês... qual será o tema desse novo espetáculo do grupo Bagaceira? Como é dividir o trabalho de ator com a produção?
ROGÉRIO MESQUITA –
“Interior” partiu de um projeto chamado “Incerto”, peça que fizemos em 2010 comemorando os 10 anos do grupo. Nesse processo de criação, perguntamos a cada integrante “qual o assunto que mais te interessa?” e “por que você faz teatro?”. Esse projeto, que foi aprovado pela Petrobras, partiu da seguinte questão: “como um grupo artístico, de uma cidade do interior, de um estado como o Ceará, faz arte? Por que? O que motiva esse grupo?”. Fizemos uma residência artística em quatro cidades do interior: Tauá, Icó, Itarema, onde trabalhamos com grupos locais, e no sertão de Beberibe, com as dramistas de lá. Primeiro fomos sozinhos, e depois com o ator francês Maurice Durozier. Ele trabalha muito com essa tese “o teatro é o outro”. Fizemos um intercâmbio muito grande com esses grupos e com o Maurice no ano passado e começamos a terminar o texto em 2013. Trabalhamos nessa peça nova um pouco da nostalgia, mas sem glamourizar o interior. O patrocínio da Petrobras garantiu a manutenção dos atores do Bagaceira por dois anos – na nossa proposta para o edital, temos um ano para fazer pesquisas e um ano para montar o espetáculo. Na verdade, o artista no Brasil e em várias partes do mundo, precisa ser produtor. Hoje temos uma nova integrante do grupo que só faz produção, a Micaeli Alves.

DIVIRTA-CE – Como você avalia a escolha do jornalista Paulo Mamede e o que atores cearenses como você esperam do novo secretário de cultura do Ceará?
ROGÉRIO MESQUITA –
O que falta na Secretaria de Cultura é menos cargo partidário e mais pensamento em prol da cultura, em prol de uma política pública que permaneça, que atravesse gestões, senão ficaremos a mercê de um pensamento equivocado como deste último secretário, que teve uma inoperância catastrófica quando pensamos no mercado cultural que o Ceará poderia ter.

DIVIRTA-CE– Quando será a estreia de “Interior” e onde serão as próximas apresentações do grupo Bagaceira?
ROGÉRIO MESQUITA –
“Interior” vai circular pelas quatro cidades onde fizemos a pesquisa para a peça, vai estrear no dia 22 de setembro em Itarema e depois seguimos para Tauá, Icó e Bereribe. Em Fortaleza o espetáculo irá estar em cartaz nos sábados e domingos de outubro e novembro, na Casa da Esquina (Rua João Lobo Filho, 62 – Bairro de Fátima), sede do grupo Bagaceira. Mês que vem também participaremos do Festival Isnard Azevedo, em Florianópolis, com nosso espetáculo de rua, “Por que a gente não é assim? Por que a gente não é assado?”.  



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