Jayme Monjardim e a nova versão de 'O Tempo e o Vento'
Um dos nomes fortes da teledramaturgia, Jayme Monjardim pulou a cerca para o cinema há nove anos com "Olga", adaptação do livro homônimo de Fernando Morais. O filme, que levou 3 milhões de pessoas aos cinemas, foi criticado pelo tom açucarado e maniqueísta. Monjardim voltou para a TV, mas não deixou as críticas mudarem sua vontade de fazer cinema. Em vez de investir em um projeto modesto, o paulista decidiu adaptar "O Tempo e o Vento", épico da literatura brasileira escrito pelo gaúcho Érico Verissimo (1905-1975), que já havia sido transformado em série em 1985, na Rede Globo. "Estou colocando a cara para receber porrada", diz. "Não tem como agradar todo mundo, ainda mais com uma obra como 'O Tempo e o Vento', uma das mais importantes do país. Mas não tenho medo de críticas. Vale a pena correr o risco por um sonho."
O sonho quase virou pesadelo. A negociação com o filho de Veríssimo, o também escritor Luis Fernando Veríssimo, durou mais de um ano. De posse dos direitos, os roteiristas Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas fizeram nada menos que 23 versões do texto.
Como o roteiro final demorou cinco anos, o elenco foi pincelado aos poucos. Thiago Lacerda, com a ingrata missão de "substituir" Tarcísio Meira como o Capitão Rodrigo Cambará, o militar que rouba o coração da jovem Bibiana (Marjorie Estiano), manteve-se como a primeira opção. "Alguns vão odiar, outros vão amar. Estamos preparados", diz o diretor.
Para ele, a peça-chave foi a inclusão de Fernanda Montenegro como Bibiana em suas últimas horas de vida. O filme é levado em flashback pela visão da paixão da personagem pelo capitão Rodrigo na época da formação política do Rio Grande do Sul, culminando na Revolução Federalista do fim do século 18. "Eu não teria feito o projeto sem ela, precisava de sua alma. Liguei e disse para ela reservar a agenda".
Com orçamento de R$ 13 milhões, o maior do ano no país, o diretor construiu a cidade cinematográfica de Santa Fé em Bagé (RS) e filmou por 11 semanas. "É muito difícil fazer cinema no Brasil, ainda mais uma superprodução sobre 180 anos de história", diz Monjardim.
Esta nova versão de “O Tempo e o Vento” condensa um século e meio de história (que culmina com a Revolução Federalista de 1893) em diálogos didáticos e sem receio de soar óbvio em suas metáforas (o fogo que simboliza o desejo, o pôr do sol que anuncia a passagem do tempo) e reiterativo no uso dos recursos da linguagem (da supressão do subtexto à onipresença da trilha sonora). Importante dizer que, para resumir a obra monumental de Erico Verissimo em duas horas, o foco foi fechado em O Continente, primeiro capítulo da trilogia. “Filmamos a 27ª versão do roteiro” – conta Monjardim. – “Tabajara trabalhou até a 12ª, quando tínhamos algo ainda muito literário, bom do ponto de vista histórico, mas carente de personalidade. Foi aí que a Letícia Wierzchowski (parceira do diretor em A Casa das Sete Mulheres) teve o estalo que foi decisivo para a forma do filme.”
Os homens vão à guerra (e há muitas na vida dos Terra, Cambará e Amaral), as mulheres "choram, fiam e esperam", na definição de Ana Terra (Cléo Pires). Mas sobrevivem para contar a história. Em Erico, elas são decisivas na formação do Rio Grande do Sul. A roteirista e o diretor reforçam essa ideia, fazendo de Bibiana (Marjorie Estiano quando jovem, Fernanda Montenegro mais madura) a narradora das desventuras de sua família. Isso no último dia de sua vida. O estalo de Letícia: em vez de narrar ao espectador, ela fala ao amor de sua vida, Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda), cujo fantasma "reaparece" para buscá-la. “Não dizem que, chegado o fim, nos passa o "filme da vida" pela cabeça? É o que acontece com Bibiana” – explica o realizador, exaltando a representatividade da personagem. “Por ser posterior a Ana Terra e tantas outras, ela incorpora o que elas foram. É uma síntese da mulher brasileira.”
Além de um eficiente resumo do clássico gaúcho, quem for ao cinema vai ver belas imagens do "pampa sem fim" que o grande fotógrafo Affonso Beato captou referenciando os westerns de John Ford. Algumas delas abusam do contraluz, o que, no entanto, faz-se adequado numa história que passa tão rapidamente por tantos personagens interessantes. O filme deve estrear nos cinemas de Fortaleza na próxima sexta-feira.
Oswaldo Montenegro lança seu segundo filme no Cine Ceará 2013
Elogiado pela crítica com sua primeira produção, “Léo e Bia”, o segundo longa-metragem, “Solidões”, conta com Vanessa Giacomo e o próprio Montenegro no elenco
Premiado e elogiado pela crítica com “Léo e Bia”, seu primeiro longa-metragem, Oswaldo Montenegro lança “Solidões” hoje no Cine Ceará 2013, seu segundo filme, que conta com Vanessa Giacomo e o próprio Montenegro no elenco. Classificado para o festival cearense, o filme tem pré-estreia no Rio de Janeiro dia 24 de outubro, “Solidões” entra em cartaz dia 1º de novembro em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis e Brasília, no Espaço Itaú de Cinema. Além dessas capitais, “Solidões” vai rodar o país até junho de 2014, sendo apresentado apenas um dia em cada cidade, com a presença de Montenegro conversando com o público após cada exibição. Essa agenda estará, sempre atualizada, no site: www.oswaldomontenegro.com.br.
“Seria muito difícil apontar a principal qualidade que faz do filme “Solidões” uma obra tão especial. É um daqueles raros filmes que continuam conosco durante muito tempo, mesmo depois de termos deixado a sala de cinema. Talvez o motivo disso tudo resida no fato de Oswaldo Montenegro saber, como ninguém, despertar as emoções e sentimentos muitas vezes esquecidos dentro de nós, tanto através de sua música como de seu texto.
Mostrando um profundo conhecimento da linguagem cinematográfica, a ponto de subverte-la com extrema coerência, Montenegro nos mostra os vários aspetos da solidão através de histórias muito bem costuradas e que jamais se tornam episódicas, graças à força de seu texto e a uma montagem brilhantemente caótica. Com uma bela fotografia capaz de retratar, com igual eficiência, ambientes intimistas e as paisagens mais exóticas do sertão, Oswaldo nos prova que técnica e emoção podem caminhar perfeitamente juntas, e nos presenteia com esse que é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais originais dos últimos anos”, escreveu Paulo Henrique Fontenelle, premiado diretor dos filmes Loki e Dossiê Jango.
Realizado com recursos próprios e a Coprodução do Canal Brasil, “Solidões” vai do riso ao drama, do musical ao documentário, da comédia romântica à sátira cruel, em várias histórias que se ligam, se encontram.
Vanessa Giacomo, além de narrar o filme, interpreta uma mulher que perde a memória e rejeita sua vida anterior se recusando, a partir daí, a ter contato físico ou emocional com qualquer ser humano. Oswaldo Montenegro, no papel do “demônio”, enfrenta sua solidão andando pelo mundo, morrendo de saudade de Deus. Um diabo sádico, divertido, que sai por aí oferecendo infinitas possibilidades aos solitários, caso aceitem suas inusitadas condições e exigências.
Há ainda muitos outros personagens, muitas outras solidões: o incrível “Palhaço Cocada”, de 95 anos, interpretando a si mesmo (o palhaço mais velho do Brasil) em momentos engraçados e dilacerantemente ternos. Uma mulher que, num bar, espera até de manhã por seu namorado, sem se convencer de que ele não vem. Um cantor que sai de Minas certo de fazer sucesso no Rio de Janeiro e vira músico de rua. Um sertanejo que abandona seu ninho achando que vai “ganhar o mundo” e ser feliz. Todos misturados à solidão de atores fazendo testes e tentando entrar para esse filme, num painel divertido e cruel, em que uma roda gigante gira em grande velocidade, mantendo todos absolutamente sós.
As músicas de Oswaldo Montenegro permeiam e ligam esses episódios, como rios que vão desembocar num único final: a conclusão clara de que 90% das atividades humanas existem para diminuir ou suavizar a solidão e de que só o afeto pode trazer algum resultado.
“Solidões” foi rodado nas dunas de Arraial do Cabo (RJ), no cerrado de Brasília, no agreste de Pernambuco, no Rio de Janeiro e em Piraí (RJ). A exibição no Cine Ceará acontece hoje, às 20h, no cinema do Centro Dragão do Mar.
Um dos nomes fortes da teledramaturgia, Jayme Monjardim pulou a cerca para o cinema há nove anos com "Olga", adaptação do livro homônimo de Fernando Morais. O filme, que levou 3 milhões de pessoas aos cinemas, foi criticado pelo tom açucarado e maniqueísta. Monjardim voltou para a TV, mas não deixou as críticas mudarem sua vontade de fazer cinema. Em vez de investir em um projeto modesto, o paulista decidiu adaptar "O Tempo e o Vento", épico da literatura brasileira escrito pelo gaúcho Érico Verissimo (1905-1975), que já havia sido transformado em série em 1985, na Rede Globo. "Estou colocando a cara para receber porrada", diz. "Não tem como agradar todo mundo, ainda mais com uma obra como 'O Tempo e o Vento', uma das mais importantes do país. Mas não tenho medo de críticas. Vale a pena correr o risco por um sonho."
O sonho quase virou pesadelo. A negociação com o filho de Veríssimo, o também escritor Luis Fernando Veríssimo, durou mais de um ano. De posse dos direitos, os roteiristas Letícia Wierzchowski, Marcelo Ruas e Tabajara Ruas fizeram nada menos que 23 versões do texto.
Como o roteiro final demorou cinco anos, o elenco foi pincelado aos poucos. Thiago Lacerda, com a ingrata missão de "substituir" Tarcísio Meira como o Capitão Rodrigo Cambará, o militar que rouba o coração da jovem Bibiana (Marjorie Estiano), manteve-se como a primeira opção. "Alguns vão odiar, outros vão amar. Estamos preparados", diz o diretor.
Para ele, a peça-chave foi a inclusão de Fernanda Montenegro como Bibiana em suas últimas horas de vida. O filme é levado em flashback pela visão da paixão da personagem pelo capitão Rodrigo na época da formação política do Rio Grande do Sul, culminando na Revolução Federalista do fim do século 18. "Eu não teria feito o projeto sem ela, precisava de sua alma. Liguei e disse para ela reservar a agenda".
Com orçamento de R$ 13 milhões, o maior do ano no país, o diretor construiu a cidade cinematográfica de Santa Fé em Bagé (RS) e filmou por 11 semanas. "É muito difícil fazer cinema no Brasil, ainda mais uma superprodução sobre 180 anos de história", diz Monjardim.
Esta nova versão de “O Tempo e o Vento” condensa um século e meio de história (que culmina com a Revolução Federalista de 1893) em diálogos didáticos e sem receio de soar óbvio em suas metáforas (o fogo que simboliza o desejo, o pôr do sol que anuncia a passagem do tempo) e reiterativo no uso dos recursos da linguagem (da supressão do subtexto à onipresença da trilha sonora). Importante dizer que, para resumir a obra monumental de Erico Verissimo em duas horas, o foco foi fechado em O Continente, primeiro capítulo da trilogia. “Filmamos a 27ª versão do roteiro” – conta Monjardim. – “Tabajara trabalhou até a 12ª, quando tínhamos algo ainda muito literário, bom do ponto de vista histórico, mas carente de personalidade. Foi aí que a Letícia Wierzchowski (parceira do diretor em A Casa das Sete Mulheres) teve o estalo que foi decisivo para a forma do filme.”
Os homens vão à guerra (e há muitas na vida dos Terra, Cambará e Amaral), as mulheres "choram, fiam e esperam", na definição de Ana Terra (Cléo Pires). Mas sobrevivem para contar a história. Em Erico, elas são decisivas na formação do Rio Grande do Sul. A roteirista e o diretor reforçam essa ideia, fazendo de Bibiana (Marjorie Estiano quando jovem, Fernanda Montenegro mais madura) a narradora das desventuras de sua família. Isso no último dia de sua vida. O estalo de Letícia: em vez de narrar ao espectador, ela fala ao amor de sua vida, Rodrigo Cambará (Thiago Lacerda), cujo fantasma "reaparece" para buscá-la. “Não dizem que, chegado o fim, nos passa o "filme da vida" pela cabeça? É o que acontece com Bibiana” – explica o realizador, exaltando a representatividade da personagem. “Por ser posterior a Ana Terra e tantas outras, ela incorpora o que elas foram. É uma síntese da mulher brasileira.”
Além de um eficiente resumo do clássico gaúcho, quem for ao cinema vai ver belas imagens do "pampa sem fim" que o grande fotógrafo Affonso Beato captou referenciando os westerns de John Ford. Algumas delas abusam do contraluz, o que, no entanto, faz-se adequado numa história que passa tão rapidamente por tantos personagens interessantes. O filme deve estrear nos cinemas de Fortaleza na próxima sexta-feira.
Oswaldo Montenegro lança seu segundo filme no Cine Ceará 2013
Elogiado pela crítica com sua primeira produção, “Léo e Bia”, o segundo longa-metragem, “Solidões”, conta com Vanessa Giacomo e o próprio Montenegro no elenco
Premiado e elogiado pela crítica com “Léo e Bia”, seu primeiro longa-metragem, Oswaldo Montenegro lança “Solidões” hoje no Cine Ceará 2013, seu segundo filme, que conta com Vanessa Giacomo e o próprio Montenegro no elenco. Classificado para o festival cearense, o filme tem pré-estreia no Rio de Janeiro dia 24 de outubro, “Solidões” entra em cartaz dia 1º de novembro em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis e Brasília, no Espaço Itaú de Cinema. Além dessas capitais, “Solidões” vai rodar o país até junho de 2014, sendo apresentado apenas um dia em cada cidade, com a presença de Montenegro conversando com o público após cada exibição. Essa agenda estará, sempre atualizada, no site: www.oswaldomontenegro.com.br.
“Seria muito difícil apontar a principal qualidade que faz do filme “Solidões” uma obra tão especial. É um daqueles raros filmes que continuam conosco durante muito tempo, mesmo depois de termos deixado a sala de cinema. Talvez o motivo disso tudo resida no fato de Oswaldo Montenegro saber, como ninguém, despertar as emoções e sentimentos muitas vezes esquecidos dentro de nós, tanto através de sua música como de seu texto.
Mostrando um profundo conhecimento da linguagem cinematográfica, a ponto de subverte-la com extrema coerência, Montenegro nos mostra os vários aspetos da solidão através de histórias muito bem costuradas e que jamais se tornam episódicas, graças à força de seu texto e a uma montagem brilhantemente caótica. Com uma bela fotografia capaz de retratar, com igual eficiência, ambientes intimistas e as paisagens mais exóticas do sertão, Oswaldo nos prova que técnica e emoção podem caminhar perfeitamente juntas, e nos presenteia com esse que é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais originais dos últimos anos”, escreveu Paulo Henrique Fontenelle, premiado diretor dos filmes Loki e Dossiê Jango.
Realizado com recursos próprios e a Coprodução do Canal Brasil, “Solidões” vai do riso ao drama, do musical ao documentário, da comédia romântica à sátira cruel, em várias histórias que se ligam, se encontram.
Vanessa Giacomo, além de narrar o filme, interpreta uma mulher que perde a memória e rejeita sua vida anterior se recusando, a partir daí, a ter contato físico ou emocional com qualquer ser humano. Oswaldo Montenegro, no papel do “demônio”, enfrenta sua solidão andando pelo mundo, morrendo de saudade de Deus. Um diabo sádico, divertido, que sai por aí oferecendo infinitas possibilidades aos solitários, caso aceitem suas inusitadas condições e exigências.
Há ainda muitos outros personagens, muitas outras solidões: o incrível “Palhaço Cocada”, de 95 anos, interpretando a si mesmo (o palhaço mais velho do Brasil) em momentos engraçados e dilacerantemente ternos. Uma mulher que, num bar, espera até de manhã por seu namorado, sem se convencer de que ele não vem. Um cantor que sai de Minas certo de fazer sucesso no Rio de Janeiro e vira músico de rua. Um sertanejo que abandona seu ninho achando que vai “ganhar o mundo” e ser feliz. Todos misturados à solidão de atores fazendo testes e tentando entrar para esse filme, num painel divertido e cruel, em que uma roda gigante gira em grande velocidade, mantendo todos absolutamente sós.
As músicas de Oswaldo Montenegro permeiam e ligam esses episódios, como rios que vão desembocar num único final: a conclusão clara de que 90% das atividades humanas existem para diminuir ou suavizar a solidão e de que só o afeto pode trazer algum resultado.
“Solidões” foi rodado nas dunas de Arraial do Cabo (RJ), no cerrado de Brasília, no agreste de Pernambuco, no Rio de Janeiro e em Piraí (RJ). A exibição no Cine Ceará acontece hoje, às 20h, no cinema do Centro Dragão do Mar.
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