quinta-feira, 5 de setembro de 2013

CINEMA

Com Wagner Moura e Matt Damon, "Elysium" é uma das estreias da semana  

O ator brasileiro brilha em filme de Hollywood, recebendo elogios por sua atuação da crítica americana e do público que já viu o filme
 

Chegou aos cinemas do Brasil esta semana, a ficção científica Elysium, filme que marca a estreia de Wagner Moura em Hollywood. E o ator brasileiro satisfaz plenamente a expectativa em quesitos que costumam ganhar importância neste tipo de investida: relevância do personagem, fluência dramatúrgica no inglês e, como já era esperado, a qualidade da performance.
Neste que é seu segundo longa, o diretor e roteirista sul-africano Neill Blomkamp volta a colocar na trama futurista elementos que retratam relações políticas e sociais do mundo contemporâneo. Se no ótimo Distrito 9 (2009) _ que surpreendeu com quatro indicações ao Oscar, inclusive a melhor filme _ a distopia tinha como referência o apartheid na África do Sul, com alienígenas no lugar dos negros como raça subjugada, em Elysium esse espelhamento é mais facilmente identificado.
 

Com orçamento mais generoso - US$ 115 milhões contra os US$ 30 milhões de Distrito 9 -, Blomkamp tenta ser original num enredo que tem sido recorrente no gênero: o do herói que se insurge de forma quixotesca contra um "sistema" poderoso, injusto e opressor que separa os seres humanos entre ricos privilegiados e pobres condenados à existência indigna. E por mirar numa plateia mais ampla e ter o suporte de um grande estúdio (Sony) nada disposto a correr riscos na bilheteria, Elysium se distancia da proposta mais autoral e inventiva de Distrito 9. A mensagem, aqui, é mais didática, a trama traz a ação e as explosões esperadas numa superprodução de Hollywood, e o elenco conta com um astro do primeiro time, Matt Damon.
Elysium se passa em 2154. A Terra virou um lugar miserável, em ruínas e assolado por doenças. Quem tem dinheiro vive agora em Elysium, gigantesca base espacial onde a vida literalmente renasce, uma vez que ali todos os males se curam e os mais graves ferimentos podem ser reparados em instantes.
Em Los Angeles, transformada num imenso favelão com predominância de latino-americanos, vivem três personagens centrais da história: Max da Costa (Matt Damon), operário da fábrica dos equipamentos robóticos bélicos que zelam pela vigilância e repressão do lugar, Spider (Wagner Moura), uma combinação de hacker e coiote que age no submundo transportando imigrantes ilegais a Elysium, e Frey (vivida pela brasileira Alice Braga), enfermeira que sonha com a improvável viagem à estação paradisíaca para salvar a filhinha condenada por um câncer.
Eles serão protagonistas de uma insurgência que, ao fim, tem a nobre intenção de tornar o sistema, na Terra e no espaço, mais justo e solidário. O palco da grande batalha é Elysium, no momento em que o base se encontra sob a ameaça de um golpe de estado orquestrados por aqueles que defendem um tratamento ainda mais duro contra os excluídos pelo sistema _ representados por Delacourt (Jodie Foster, um tanto caricata como vilã), responsável pela defesa do local, e Kruger (Sharlto Copley, o protagonista de Distrito 9), seu fiel, lunático e nada confiável capanga que atua como agente de infiltrado na Terra.



Movido inicialmente por uma razão pessoal, Max acaba se tornando líder do movimento revolucionário. Mas se o operário encarna aquele que busca a mudança pela ação física, é Spider quem se mostra o agente capaz detonar a transformação por meio da inteligência visionária. Damon, ator que versátil que sempre parece confortável em filmes de ação, encontra na atuação vigorosa de Wagner uma ótima parceria. O ator brasileiro não parece nem um pouco intimidado com o tamanho e a importância de seu Spider. Pelo contrário, incorpora o espírito inflamado do personagem com um desempenho caloroso que justifica os elogios que recebeu da imprensa americana.
Mesmo com um enredo previsível levado no piloto automático, as causas e as consequências da revolta vislumbradas em Elysium são merecedoras de atenção. O fato de estas questões estarem presentes em um blockbuster de Hollywood que será visto mundo afora talvez estimule mais espectadores a enxergarem no filme algo para refletir além da diversão. Já é muito mais que o gênero costuma oferecer.
 











"Jobs" retrata o criador da Apple como um sujeito insensível e obcecado pelo sucesso 

Ashton Kutcher interpreta Steve Jobs: filme, falha ao omitir lado ordinário de criador da Apple
 

O final e o começo de "Jobs", que está em cartaz em alguns cinemas de Fortaleza, documentam momentos emblemáticos da indústria da computação pessoal. Mostram o incensado Steve (Ashton Kutcher) fazendo o que era sua marca registrada: apresentar produtos da Apple, cativar plateias e transformar amontoados de plástico, ferro e silício em declarações de estilo de vida e espírito rebelde. O restante do filme do diretor Joshua Michael Stern, porém, gera controvérsias em relação a seu apego aos fatos e aos papéis efetivamente desempenhados pelos envolvidos na história da Apple. Isso não o torna falso: a fita não é um documentário nem sequer um docudrama; diz-se apenas "inspirada em eventos reais".
Da releitura cinematográfica da vida de Jobs, emerge um sujeito obcecado pelo sucesso, insensível, implacável, disposto a pisar na cabeça de qualquer um para atingir seus objetivos. Tais características apenas acentuam sua genialidade e espírito indomável, dirão os fiéis do culto a um dos criadores da Apple.

Kutcher, no papel do cara, é dois terços Walden Schmidt, seu personagem no seriado televisivo "Two and a Half Men", e um terço Jobs. Apesar de criticado por alguns, seu caminhar lembra, sim, o do comandante da Apple. Noves fora, lidera o elenco de um filme divertido e bem razoável.
Há quem considere Steve Jobs um gênio, há quem o chame de profeta do apocalipse. Jobs previu, em meados dos anos 1970, que as pessoas no futuro usariam o computador como extensão de seus corpos. Mais: seriam dependentes dessa extensão, aprimorada e diminuída em formatos de celulares, tablets, aplicativos e jogos alienantes. Acertou em cheio.
Uma coisa é certa. O mundo como hoje conhecemos deve muito a essa figura polêmica, competitiva, inteligente e propensa a constantes reinvenções. Se isso é bom, é uma outra história. "Jobs", o longa de Joshua Michael Stern, mostra a transformação de um garoto ambicioso e visionário em um monstro que vive unicamente de trabalho e abandona pessoas com quem cresceu (pessoal e profissionalmente).
O fundador da Apple vivido por Ashton Kutcher é um homem autocentrado na ideia de sucesso a qualquer preço, algo que se confunde com a ambição de revolucionar o mercado consumidor fazendo com que qualquer pessoa tenha acesso à tecnologia. Para realizar essa revolução, ele não hesita em dispensar a namorada grávida, o melhor amigo e outras pessoas que o apoiaram. Sua ideia fixa é a de que ele é o gênio, e os que o apoiam, em sua maioria, são parasitas que vivem debaixo de suas asas. Esse retrato quase unilateral, que permite apenas pequenos traços de ambiguidade em sua construção (uma lágrima contida aqui, uma voz falha ali, efeitos alcançados em grande parte pelo talento de Kutcher) poderia até resultar em um bom filme, caso Stern tivesse alguma ideia da dimensão de seu personagem e de como essa dimensão poderia ser retratada no cinema.



O espectador não conhece Steve Jobs (salvo em raros momentos) fora do ambiente de trabalho. O que vemos quase sempre é algum acontecimento marcante de sua vida, ou uma consequência imediata. E os acontecimentos são mostrados da forma mais banal possível, com música melosa e movimentos de câmera indigentes. Nenhum bom filme se faz só de acontecimentos marcantes. É mais ou menos o que diz um personagem de "Assim Estava Escrito" (1952), obra-prima de Vincente Minnelli: "Se toda cena for um clímax, o filme irá se desfazer como um colar partido". Por não vermos o lado ordinário da vida de Steve Jobs, não temos noção de como ele era, como lidava com as coisas do cotidiano, como, enfim, era esse ser humano. Stern só nos permite conhecer o monstro, ou o visionário. Você escolhe.










BASTIDORES

Bertolucci revela bastidores da 'cena da manteiga' de 'O último tango em Paris'

 

O cineasta italiano Bernardo Bertolucci fez uma declaração chocante em Paris, na qual admite sua culpa em relação à mágoa da atriz Maria Schneider, protagonista de "O Ultimo Tango em Paris" (1972). O cineasta se referiu a "cena da manteiga" entre Schneider e [o ator norte-americano] Marlon Brando, censurada na época por ser muito escandalosa, que foi o motivo da ruptura da atriz com Bertolucci.
"A idéia de como gravar esta cena aconteceu comigo e Marlon Brando enquanto estávamos tomando café da manhã sentados no carpete do apartamento parisiense e em determinado momento ele começou a passar manteiga em uma baguete, logo nos demos uma olhada de cúmplices. Decidimos não dizer nada para Maria para ter uma cena mais realística", confessou Bertolucci. Ao ser questionado se não seria "imoral nos dias de hoje" se comportar desta forma com seus atores, o diretor respondeu irônico "não ser um homem de hoje".

"Maria queria fazer cinema a qualquer custo, era muito nova, tinha apenas vinte anos na época do filme. Em toda a sua vida ficou muito rancorosa em relação a mim e a este filme. Rancorosa porque se sentiu usada. Infelizmente é o que normalmente acontece quando se está dentro de uma aventura que não se compreende. Ela tinha uma inteligência instintiva. Não tinha meios para filtrar aquilo que lhe aconteceu", disse ele.
"Talvez tenha sido culpado por Maria Schneider, mas não poderão me condenar por isso", concluiu o cineasta. Apesar do sucesso mundial que a atriz conseguiu com o filme, Schneider declarou que o filme fora o único arrependimento de sua vida e várias vezes disse que a famosa cena de sexo anal não estava no roteiro e se pudesse não a teria gravado porque a considerou uma manipulação, uma violência e uma humilhação.
A atriz sofreu problemas psicológicos e anos de dependência química, e nunca mais gravou cenas de nudez em toda a sua carreira. Apenas após sua morte, em 2011, com 58 anos, depois de uma grave doença, Bertolucci admitiu, pela primeira vez, que gostaria de ter "lhe pedido desculpas".

 

 

 

 

Polanski fala sobre impacto de condenação por crime sexual em 1977


O cineasta Roman Polanski, numa rara entrevista divulgada quinta passada, partilha as frustrações e sentimentos por ter sido alvo de ódio em decorrência de um complicado caso judicial relativo a um crime sexual ocorrido há mais de 30 anos. O franco-polonês, responsável por filmes como "O Bebê de Rosemary" e "O Pianista", admitiu ter feito sexo com uma menina de 13 anos durante uma sessão de fotos regada a drogas e champanhe, em 1977.
Em entrevista à revista "Vanity Fair", Polanski disse que se sentiu mais perseguido depois de ser preso em 2009 na Suíça, a pedido dos EUA, do que quando foi condenado pelo crime. "Na época [da condenação] não passei por nada disso. Foi mais ou menos como o assassinato da Sharon e o que aconteceu depois", afirmou o cineasta, referindo-se aos falsos rumores de que ele estaria envolvido na morte da sua mulher, a atriz Sharon Tate, e de amigos dela, num crime cometido em 1969 pelo grupo de fanáticos comandado por Charles Manson.
A entrevista foi divulgada dias antes da exibição no canal norte-americano Showtime de um documentário sobre Polanski dirigido por Marina Zenovich. Essa mesma diretora já havia feito em 2008 um filme sobre o caso de 1977 envolvendo Polanski, o que motivou advogados a reabrirem o caso.
Em 1977, após confessar o crime, Polanski foi condenado a 90 dias de prisão, mas cumpriu só 42. Ele então fugiu dos EUA porque achava que o juiz renegaria o acordo e o condenaria a até 50 anos de cadeia. Ele passou as décadas seguintes sem voltar ao país. "Foi um choque saber que isso não está terminado depois que deixam você sair da prisão. Livre! Com sua trouxa embaixo do braço, com o advogado esperando você do lado de fora, parado lá, na sua cabeça tudo terminou, acabou. E aí o juiz mudou de ideia. Tenho de voltar à prisão, e ninguém sabe por quanto tempo. Eu não aguentei", relatou ele sobre a decisão de fugir dos EUA em 1978.
Em 2009, Polanski foi detido a caminho do Festival de Cinema de Zurique, e passou então dois meses numa prisão suíça. Em seguida, foi colocado sob prisão domiciliar no seu chalé alpino, até que em 2010 as autoridades suíças decidiram não extraditá-lo para os EUA. O veterano diretor, de 80 anos, negou que tenha vivido como fugitivo na Europa. "Passei 32 anos me deslocando livremente entre casas e projetos na Espanha, Alemanha, Itália, Suíça e Tunísia."











CINEMA CEARÁ

Novo filme do cineasta Rosemberg Cariry é destaque do 23º Cine Ceará

“Os Pobres Diabos”, ficção inédita do diretor cearense, irá encerrar o festival no próximo sábado, dia 14 de setembro

Nova produção cearense mostra a difícil jornada dos artistas e trabalhadores de um pequeno circo

O “Gran Circo Teatro Americano” perambula por pequenas cidades dos sertões, até chegar à cidade de Aracati, onde monta uma peça teatral. No cotidiano do circo, acontecem aventuras, nas quais os personagens agem ao modo picaresco dos anti-heróis da literatura de cordel e do romanceiro popular. As dificuldades se acumulam, mas a arte ajuda a superar desventuras e tragédias. O espetáculo não pode parar. A ficção inédita “Os Pobres Diabos”, dirigida e roteirizada pelo cineasta cearense Rosemberg Cariry, encerrará com uma exibição especial a 23ª edição do Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema, no dia 14 de setembro, no Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura. A exibição hors concours será feita no mesmo dia do anúncio dos curtas e longas vencedores do Festival. “O cinema cearense está em pauta e temos a honra de exibir, em sessão especial, um longa realizado no Estado para o público do Cine Ceará, que é um dos festivais mais importantes do circuito”, afirma Rosemberg Cariry.

“Os Pobres Diabos” é estrelado por Silvia Buarque, Chico Diaz, Everaldo Pontes, Gero Camilo, Zezita Matos e grande elenco. Este é o 12º longa-metragem de Cariry e marca o seu retorno à ficção após realizar os documentários “Patativa do Assaré, Ave Poesia” (2007) e “Cego Aderaldo – O Cantador e o Mito” (2012), entre outros. No dia 18 de setembro, o filme abrirá a mostra competitiva do 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

A trama surgiu das memórias do próprio cineasta quando vivia no sertão do Ceará, onde era comum a presença de circos itinerantes que, embora muito pobres, eram cheios de magia e de atrações exóticas como as rumbeiras mexicanas e os personagens inspirados nos grandes filmes de aventuras. “Entre as atrações eu gostava muito dos artistas sertanejos que vestiam roupas extravagantes e tentavam parecer internacionais, falando em outros idiomas, de forma bastante estropiadas, para dar ar de importância. Tudo parecia um sonho, naquele mundo de ilusões, de faz de conta. As peças teatrais, retiradas das canções melodramáticas ou dos grandes sucessos da literatura de cordel, eram fantásticas, surreais – dramáticas e cômicas ao mesmo tempo”, conta o diretor.

“Os Pobres Diabos” mostra a difícil jornada dos artistas e trabalhadores de um pequeno circo lutando pela sobrevivência, permeada de aventuras e desventuras dos anti-heróis picarescos inspirados nas artes populares. “Vemos que o espetáculo continua, apesar de todas as dificuldades. O filme tem um espírito bem humorado, mas esbarra em uma dura realidade que se encaminha, no final, para uma tragicomédia”, afirma o cineasta.

Após o Festival de Brasília, o filme “Os Pobres Diabos” continuará no circuito de festivais nacionais e internacionais. O lançamento comercial está marcado para o segundo semestre de 2014.
Filósofo de formação, cineasta por vocação, Antônio Rosemberg de Moura, de nome artístico Rosemberg Cariry, nasceu em Farias Brito – Ceará, no ano de 1953. Realizou doze filmes de longa-metragem, entre eles “Corisco e Dadá” e “O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto”. Paralelamente à sua atividade de cineasta, Rosemberg Cariry desenvolveu todo um trabalho como escritor, poeta e pesquisador das culturas populares, tendo publicado vários livros. Um traço marcante da obra de Rosemberg Cariry é a busca sempre renovada das fontes e dos encontros culturais: procura extrair o universal do particular, estabelecer ligações entre as diferenças culturais e, em particular, entre as formas eruditas e populares. Assim, o seu trabalho, profundamente imerso na cultura no Nordeste do Brasil, chega ao universal, por meio de uma dimensão essencialmente humanista.

Serviço
Exibição de “Os Pobres Diabos” no 23º Cine Ceará
Local: Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura
Data: 14 de setembro
Para convidados.



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