Adaptação do primeiro livro da Bíblia, “Gênesis” é lançado no Brasil
Nudez e sexo da HQ feita por Robert Crumb desagradam autoridades cristãs
"Gênesis", a adaptação do primeiro livro da Bíblia para os quadrinhos, feita pelo ícone das HQs undergrounds Robert Crumb, mal chegou às livrarias do mundo todo e já inicia controvérsias. O autor se tornou um ícone da contracultura dos anos 1960, o pai de Fritz e Mr. Natural., e demorou quatro anos para concluir o trabalho de “Gênesis”.
Nos EUA e na Inglaterra o lançamento aconteceu em setembro. No Brasil, ele começou a ser vendido mês passado, publicado pela Conrad, por R$ 49 - em capa dura, como na versão original.
Para a adaptação, Crumb - que é conhecido por sua visão liberal sobre sexo e drogas nas HQs, além de ser ateu - diz ter respeitado totalmente o texto da Bíblia do Rei James, a tradução para o inglês mais conhecida do livro. Mas as representações de personagens bíblicos nus ou em atos sexuais começa a gerar controvérsias.
Na Inglaterra, o jornal Daily Telegraph buscou a opinião de autoridades cristãs, que ficaram divididas. Mike Judge, do Christian Institute, considera o material inapropriado: "A Bíblia é um texto muito importante para muitas e muitas pessoas e devia ser tratado com o respeito que merece. Representá-lo a seu modo é muito bom, mas deve-se lembrar que é uma questão de fé e religião para várias pessoas". Da mesma forma, um representante da Church of England declarou que "embora não tenha visto o livro, acredito que tentar vender algo pela ênfase na natureza sexual de algumas cenas não parece ser uma boa maneira de passar a mensagem da Bíblia". Já o Bispo de Croydon gostou da obra: "Ele planejou algo para dizer 'isto é um mito importante e fundamental' e me parece que fez um bom trabalho".
No Brasil, o livro ainda não chegou às mãos da igreja. Mas a editora já tomou precauções. A agente literária Lora Fountain diz que a capa da edição brasileira é mais "sóbria" (apenas o ícone que representa a criação, sob o título) "por temor à reação dos religiosos fundamentalistas do Brasil".
A opção de Crumb por usar o texto original da obra, com pouquíssimas alterações, se tornou, ao mesmo tempo, um chamariz e uma amarra. É verdade que os escritos originais (o autor usou a tradução recente de Robert Alter) apresentam passagens que podem chocar os religiosos, por mostrar os episódios narrados em Gênesis por uma ótica mais crua e realista - como filhas que embebedam o pai para engravidar dele. No entanto, o texto - por não ter sido editado - é carregado, repetitivo demais, chato.
E como nos quadrinhos o casamento entre texto e arte é vital, ao final da leitura, a sensação é de se ter terminado um dos livros da Bíblia em uma versão diferente e magnificamente ilustrada. Os desenhos de Crumb estão mesmo muito bonitos e detalhados. Mas quem se acostumou com seus personagens deformados ou de dimensões exageradas pode estranhar as artes seguindo um padrão de estética mais realista.
Na verdade, nem o "choque" que seria causado pelos desenhos da obra, como alguns propalaram, acontece. Há, no máximo, uma dúzia de passagens (umas com homens e mulheres durante o ato sexual e outras de violência) que podem fazer corar pessoas religiosas, mas leitores de quadrinhos nem estranharão.
A Conrad fez um álbum primoroso (passaram apenas alguns erros de concordância, como um "últimos capítulo" na última página), com direito a capa dura, notas editoriais que esclarecem pontos obscuros do texto e comentários de Crumb sobre cada capítulo.
Pelo conjunto brilhante de sua obra, Crumb atingiu o patamar de ter fãs que acham tudo que ele faz maravilhoso. Houve quem classificasse este Gênesis como seu maior trabalho. Pode até vir a ser o mais comentado, por estar associado à Bíblia, mas, em termos de qualidade, não passa nem perto disso.
Na coletiva do lançamento internacional da obra, Crumb mostrou-se ciente de que não conseguiria "agradar verdadeiros crentes, por estar brincando com seus textos sagrados". Está certo. Mas o problema é que seu Gênesis não é atrativo também para fãs de quadrinhos, o seu verdadeiro público.
TIRAS DIVIRTA-CE
Nudez e sexo da HQ feita por Robert Crumb desagradam autoridades cristãs
"Gênesis", a adaptação do primeiro livro da Bíblia para os quadrinhos, feita pelo ícone das HQs undergrounds Robert Crumb, mal chegou às livrarias do mundo todo e já inicia controvérsias. O autor se tornou um ícone da contracultura dos anos 1960, o pai de Fritz e Mr. Natural., e demorou quatro anos para concluir o trabalho de “Gênesis”.
Nos EUA e na Inglaterra o lançamento aconteceu em setembro. No Brasil, ele começou a ser vendido mês passado, publicado pela Conrad, por R$ 49 - em capa dura, como na versão original.
Para a adaptação, Crumb - que é conhecido por sua visão liberal sobre sexo e drogas nas HQs, além de ser ateu - diz ter respeitado totalmente o texto da Bíblia do Rei James, a tradução para o inglês mais conhecida do livro. Mas as representações de personagens bíblicos nus ou em atos sexuais começa a gerar controvérsias.
Na Inglaterra, o jornal Daily Telegraph buscou a opinião de autoridades cristãs, que ficaram divididas. Mike Judge, do Christian Institute, considera o material inapropriado: "A Bíblia é um texto muito importante para muitas e muitas pessoas e devia ser tratado com o respeito que merece. Representá-lo a seu modo é muito bom, mas deve-se lembrar que é uma questão de fé e religião para várias pessoas". Da mesma forma, um representante da Church of England declarou que "embora não tenha visto o livro, acredito que tentar vender algo pela ênfase na natureza sexual de algumas cenas não parece ser uma boa maneira de passar a mensagem da Bíblia". Já o Bispo de Croydon gostou da obra: "Ele planejou algo para dizer 'isto é um mito importante e fundamental' e me parece que fez um bom trabalho".
No Brasil, o livro ainda não chegou às mãos da igreja. Mas a editora já tomou precauções. A agente literária Lora Fountain diz que a capa da edição brasileira é mais "sóbria" (apenas o ícone que representa a criação, sob o título) "por temor à reação dos religiosos fundamentalistas do Brasil".
A opção de Crumb por usar o texto original da obra, com pouquíssimas alterações, se tornou, ao mesmo tempo, um chamariz e uma amarra. É verdade que os escritos originais (o autor usou a tradução recente de Robert Alter) apresentam passagens que podem chocar os religiosos, por mostrar os episódios narrados em Gênesis por uma ótica mais crua e realista - como filhas que embebedam o pai para engravidar dele. No entanto, o texto - por não ter sido editado - é carregado, repetitivo demais, chato.
E como nos quadrinhos o casamento entre texto e arte é vital, ao final da leitura, a sensação é de se ter terminado um dos livros da Bíblia em uma versão diferente e magnificamente ilustrada. Os desenhos de Crumb estão mesmo muito bonitos e detalhados. Mas quem se acostumou com seus personagens deformados ou de dimensões exageradas pode estranhar as artes seguindo um padrão de estética mais realista.
Na verdade, nem o "choque" que seria causado pelos desenhos da obra, como alguns propalaram, acontece. Há, no máximo, uma dúzia de passagens (umas com homens e mulheres durante o ato sexual e outras de violência) que podem fazer corar pessoas religiosas, mas leitores de quadrinhos nem estranharão.
A Conrad fez um álbum primoroso (passaram apenas alguns erros de concordância, como um "últimos capítulo" na última página), com direito a capa dura, notas editoriais que esclarecem pontos obscuros do texto e comentários de Crumb sobre cada capítulo.
Pelo conjunto brilhante de sua obra, Crumb atingiu o patamar de ter fãs que acham tudo que ele faz maravilhoso. Houve quem classificasse este Gênesis como seu maior trabalho. Pode até vir a ser o mais comentado, por estar associado à Bíblia, mas, em termos de qualidade, não passa nem perto disso.
Na coletiva do lançamento internacional da obra, Crumb mostrou-se ciente de que não conseguiria "agradar verdadeiros crentes, por estar brincando com seus textos sagrados". Está certo. Mas o problema é que seu Gênesis não é atrativo também para fãs de quadrinhos, o seu verdadeiro público.
TIRAS DIVIRTA-CE
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