terça-feira, 3 de novembro de 2009

HOLLYWOOD

As armas de Hollywood

Eventos para a divulgação de filmes tentam controlar o que é publicado e cobram taxas para entrevistas

Para lançar o filme ‘PearlHarbor’, estúdio levou jornalistas a uma festa no Havaí

Reza a lenda que o modelo tem a idade de "E o Vento Levou" (1939). À época, o estúdio MGM convidou jornalistas para uma viagem a Atlanta. Houve champanhe, hotel cinco estrelas, entrevistas com as estrelas e um brinde: uma máquina de escrever com as iniciais GWW ("Gone with the Wind"). O aparato, que resultou em páginas e páginas de jornal, ganhou um apelido: "junket".
A palavra "junket" não tem tradução. Mas tem um significado específico: é um evento que reúne a imprensa mundial para a divulgação de um filme. Pode designar também piquenique, festa. "Essa ação existe desde que o cinema é indústria. Trata-se, basicamente, de uma estrutura montada para que os "talents" mantenham contato com a imprensa", define Tito Liberato, diretor de marketing da Fox. Os "talents", cabe esclarecer, são os atores e diretores.
Para que o contato não seja desprovido de glamour, os estúdios engendram viagens e cenários -com o perdão do trocadilho- cinematográficos. "O Julgamento de Nuremberg" (1961) foi exibido num trem, na Alemanha. Em "Pearl Harbor" (2001), jornalistas foram levados ao Havaí e fizeram suas entrevistas em um transatlântico.
Mas, se mudaram os tempos, mudaram também as "junkets". "Antes, tinha todo um glamour. Agora é uma relação mais comercial. É tudo na ponta do lápis", diz Márcio Fraccaroli, da distribuidora Paris Filmes. A Paris, recentemente, convidou a Folha para participar do evento de "Lua Nova", novo título da saga adolescente "Crepúsculo", em Los Angeles.
O convite incluía uma taxa de participação, em dólares: US$ 1.250 para entrevistas em grupo e US$ 1.750 para individuais. "Não sou eu que cobro, é o produtor", diz Fraccaroli. Quando não racha a conta, a empresa gasta cerca de US$ 6 mil por jornalista.
Também indicativo dos novos tempos é que, há duas semanas, uma repórter da Folha foi parar no "black book" (livro negro) -o português não chegou a esse universo- de um estúdio por fazer perguntas "indevidas".
"Isso é publicidade gratuita. Mas, hoje, os estúdios precisam menos da imprensa. Há comerciais na TV e internet", diz Edward Jay Epstein, Ph.D. em ciência política em Harvard e autor do livro "O Grande Filme - O Dinheiro e Poder em Hollywood ", sobre os bastidores da indústria. "Mas esses eventos são, ainda assim, um bom negócio. Enquanto uma campanha que inclua TV sai por cerca de US$ 20 milhões, a publicidade gratuita sai, no máximo, por US$ 2 milhões."



Entrevista é parte das estratégias de publicidade

Em busca do público, estúdios de Hollywood têm investido no marketing quase o mesmo que na produção dos filmes

O diretor brasileiro Fernando Meirelles conta que, durante divulgação de longa, perdeu sete quilos e não lembra por onde passou

O jornalista Sergio Augusto tinha 21 anos quando, em 1963, foi a Nova York, a convite da United Artists, para ver "Deu a Louca no Mundo". "Pegaram a gente em Nova York, levaram para Los Angeles e, chegando lá, fomos recebidos com tapete vermelho e bandinha", relata.
"Ficamos no Beverly Hilton. O [diretor] Stanley Kramer se reuniu com a gente e, depois, houve uma festa na casa dele.
Fiquei bobo. Era uma verdadeira Disneylândia", conta.
Essa Disneylândia evaporou.
Em seu lugar, surgiu outra terra, a do marketing. É sabido que os estúdios, desde o início do negócio de cinema, têm de criar não apenas os filmes, mas também o público. Hoje, porém, com as mil ofertas de diversão do mundo, as estratégias para fisgar o público se sofisticaram.
"Agora os estúdios investem no marketing quase o mesmo que investem na produção", diz o pesquisador Edward Jay Epstein, de Harvard. "A realização de entrevistas com o astros fazem parte do marketing."
O público, ao ver ou ler entrevistas com Brad Pitt ou Harrison Ford, não tem ideia da engrenagem por trás de cada frase, de cada aparição. No caso dos grandes estúdios, os eventos para a jornais, revistas e emissoras de televisão são organizados pela matriz.
Hollywood define até mesmo o número de repórteres que um país como o Brasil terá nas entrevistas. Em geral, são cinco ou seis. "Mas recentemente, como a Warner Brasil vem ganhando importância pela expressiva bilheteria, também temos conseguido mais espaço", contabiliza José Carlos Oliveira, diretor-geral da Warner.
Em boa parte das empresas, o evento, em tese, jornalístico, é organizado pelos departamentos de marketing. É a estratégia comercial que define, por exemplo, se um jornalista participará apenas das entrevistas coletivas ou se ficará a sós com o artista. Cabe também aos estúdios definir quanto tempo cada entrevista durará.
No caso das distribuidoras independentes, que compram títulos de diferentes estúdios, os eventos são organizados por empresas que vendem as vagas. "Se eu tiver interesse comercial, vou pagar a despesa de um jornalista para que ele faça uma entrevista", diz Márcio Fraccaroli, da Paris Filmes. "Mas também posso investir só na passagem e no hotel e o veículo arca com a inscrição."
"A decisão em participar depende do potencial do filme para o mercado. Depende também do apelo que os atores ou diretores têm junto ao público", diz Rosa di Sabbato, diretora de marketing da Imagem.
"Existem outras oportunidades criadas pelo estúdios para atender, por exemplo, as revistas mensais, que têm outros prazos. As filmagens também podem ser uma oportunidade para que haja essa aproximação", diz Tito Liberato, da Fox.

Estafa
Se, para os estúdios, esses eventos são a chance de criar um falatório em torno do filme e, para a imprensa, de conversar com figuras inacessíveis fora do mundo encantado, para os artistas as maratonas costumam ser uma prova de fôlego.
"No "Jardineiro Fiel", me mandaram para todos os cantos do planeta. Devo ter falado com uns 300 jornalistas", conta o cineasta Fernando Meirelles.
"Nesse período, não conseguia mais dormir, perdi 7 quilos, nem sei dizer por quais cidades passei e não reconheceria as pessoas que me recepcionaram." Meirelles admite que, não raro, os jornalistas, também fatigados, patinam em perguntas repetitivas.
Outro aspecto que a grandiosidade imprime aos eventos é o da sedução. Na atmosfera festiva, não tenderiam os jornalistas a gostar mais do filme? "Isso é Hollywood. A especialidade deles é envolver as pessoas", diz Fraccaroli.




Alec Baldwin e Steve Martin serão os apresentadores do Oscar® 2010

Cerimônia máxima do cinema será exibida ao vivo pela TNT, com exclusividade na TV paga, no dia 7 de março de 2010

Adam Shankman e Bill Mechanic, produtores da 82ª edição da cerimônia de entrega do Oscar®, anunciaram na terça-feira (3) quem será o apresentador da festa em 2010. Ou melhor, “os apresentadores”, já que a responsabilidade ficará a cargo da dupla Steve Martin e Alec Baldwin. Enquanto o primeiro é um veterano, responsável pela tarefa em 1998 e 2000, o segundo é um iniciante no cargo – mas que vem sendo constantemente premiado por seu papel cômico na série “30 Rock”.

Em 2010, a festa trará uma mudança considerável na categoria “melhor filme”, que agora passa a contar com dez indicados ao invés dos tradicionais cinco. A lista completa de indicações será anunciada no dia 2 de fevereiro.

A TNT transmite ao vivo o Oscar®, principal premiação da indústria norte-americana do cinema, no domingo, dia 7 de março.

Nenhum comentário: