quarta-feira, 1 de julho de 2009

LIVROS - FICÇÃO

Romance reconstitui os momentos finais de Tolstói

Em “A Última Estação”, Jay Parini mescla fatos e ficção para recriar o conturbado último ano de vida do grande mestre da literatura russa

A morte de Liev Tolstói, um dos maiores escritores de todos os tempos, foi precedida de momentos conturbados. Em “A Última Estação”, Jay Parini apresenta um olhar fascinante sobre um gênio torturado por seus ideais nos últimos momentos de sua vida. No ano de 1910, o autor de Guerra e Paz e Anna Karenina é o escritor mais famoso de toda a Rússia e um dos mais lidos em todo o mundo. Mas o sucesso tem seu preço. À beira de completar 82 anos, frustrado pela contradição entre a doutrina de pobreza e castidade que pregava e a realidade de sua própria riqueza material e da vida de luxos que leva por insistência da esposa, ele arquiteta uma fuga dramática.
Em outubro daquele ano, o escritor toma a decisão de abandonar tudo, inclusive a mulher e os treze filhos, deixando sua casa para viajar na companhia de amigos. Mas a saúde frágil o trai e ele é obrigado a interromper a jornada. Doente demais para seguir viagem, ele acaba na estação ferroviária de Astapova, acreditando que morrerá sozinho. Jornalistas acampam em volta do local esperando notícias do maior escritor da Rússia.
Baseado nos diários deixados por amigos, familiares e pelo próprio Tolstói, Jay Parini recria o último ano da vida do grande vulto das letras russas até aos derradeiros momentos que se seguem à sua dramática e desesperada fuga de casa. Verdade e ficção são primorosamente combinadas nas vozes daqueles mais próximos a ele, e a tensão entre a exagerada esposa Sofia Andrêievna – com quem Tolstói mantém uma relação tempestuosa – e o dedicado discípulo Tchertkov torna este romance histórico hipnotizante.
Retrato excepcional e envolvente da mente brilhante e da alma do mestre da literatura russa, “A Última Estação” é indispensável para todos que almejam conhecer Liev Tolstoi – o homem e o escritor. O romance deu origem ao filme estrelado por Helen Mirren, Cristopher Plummer e James McAvoy, com estréia prevista ainda para 2009. *** 3 ESTRELAS / Bom




Da internet para o papel

Publicado originalmente na web, livro da escritora Ana Paula Maia chega agora às livrarias com capítulos inéditos


Com dois romances publicados, a carioca Ana Paula Maia se firmou como uma das mais festejadas autoras da nova literatura brasileira e chamou a atenção de críticos e formadores de opinião ao publicar, em 2006, uma novela folhetinesca na Internet, em uma ação pioneira. Durante meses, os leitores acompanharam pela web os 12 capítulos de “Entre rinhas de cachorro e porcos abatidos”, que chega agora às livrarias, com novo final. É o primeiro livro publicado originalmente na Internet a ser lançado por uma grande editora.
Com muito sangue, violência e boa literatura, Ana Paula Maia lança o olhar ao outro, com profundos traços de ousadia e peculiaridade, para esmiuçar o cotidiano de homens que lutam para sobreviver em meio à pobreza e a falta de esperança em uma vida melhor. Em silêncio, esses homens-bestas carregam seus fardos e os dos outros.

Neste volume estão reunidas duas novelas. A primeira, que dá nome ao livro, é escrita em cinco capítulos e tem como cenário um subúrbio distante, sob um calor sufocante, onde apostar em rinhas de cachorros assassinos é o divertimento mais saudável para dois brutamontes que ganham a vida abatendo porcos e distribuindo-os em frigoríferos. Edgar Wilson e Gerson esperam o mínimo da vida, trabalham muito, cumprem sagradamente suas tarefas e nutrem um pelo outro uma amizade excepcional. O resto importa muito pouco.
A segunda narrativa, O Trabalho Sujo dos Outros, em sete capítulos, conta a história de três homens que recolhem o lixo, quebram o asfalto e desentopem esgoto. Quando os coletores de lixo decidem fazer uma greve geral, a cidade começa a sucumbir e Erasmo Wagner inicia uma estranha jornada mística tendo um bode como condutor de um acerto de contas com o seu passado. O trabalho sujo dos outros chegou a ter quatro capítulos veiculados na Internet com outro título.
Entre rinhas de cachorro e porcos abatidos já foi apresentado pela autora como um “folhetim pulp”. “Do folhetim traz um grude, um arrebatamento especial, e é pulp no sentido em que o cinema Tarantino ou Takeshi Kitano é pulp. O volume de sangue circulando é de similar nível”, define a crítica literária Beatriz Rezende, que assina a orelha do livro. Sua representação e contestação da realidade tornam a obra uma das mais originais e significativas para o cenário literário atual. As duas novelas fazem parte de uma série chamada "trilogia do homem comum". A terceira novela ainda é inédita.




Livro constrói paralelo e imagina confronto entre dois mitos populares, Lampião e Dom Quixote

O escritor e jornalista Francisco Cunha lança o livro “O Duelo de Lampião e Dom Quixote”, no Centro Cultural Oboé (rua Maria Tomásia, 531 – Aldeota – fone: (85) 3264.7038), nesta quinta-feira, 2, às 19h30, em Fortaleza.

O lançamento literário acontece em data próxima à efeméride dos 112 anos de nascimento do capitão Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, nascido em Serra Talhada (PE), em 7 de julho de 1897, e morto em Poço Redondo (SE), em 28 de julho de 1938.

A edição do livro “O Duelo de Lampião e Dom Quixote” foi patrocinada pelo Programa Cultura da Gente, que apóia projetos artísticos desenvolvidos por funcionários da ativa e aposentados do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).



Cordel em prosa comedida, ficção atemporal e absurda

A definição de uma identidade cultural brasileira se arrasta desde o Império – do Indianismo Alencarino aos manifestos da Semana de Arte Moderna de 1922.

No Nordeste, a Arte Armorial, lançada oficialmente em Pernambuco (1970), tem na pessoa do poeta e escritor Ariano Suassuna seu principal idealizador. O Movimento propunha a construção de uma base cultural genuína a partir da arte popular.

Assim, a Heráldica de Suassuna permite resgatar a estética regional, mesclando o popular com o erudito, e servindo de respaldo às diversas manifestações do imaginário nordestino.

Na Música, com os tocadores de pífanos, ritmos e danças; na Poesia, com os cordelistas, repentistas e suas cantorias fantásticas; na Xilogravura, com as imagens vincadas na madeira, aliada à Escultura dos santeiros e talhadores; no Teatro, com os mamulengos e seus bonequeiros; além de uma estética transplantada para o Cinema.

É nesse pano de fundo que nasce o paralelo entre dois mitos populares: um da cultura regional, mito do Nordeste guerreiro; o outro, da cultura clássica universal, mito e anti-herói dos cavaleiros medievais.

A proposta só poderia resultar no caráter burlesco de personagens tão recorrentes. Obviamente, cada um guardando suas referências, numa ficção atemporal e absurda. Na verdade, um cordel em prosa comedida, com os disparates próprios da imaginação cômica e trágica.
Breve perfil profissional

FRANCISCO das Chagas CUNHA Filho é cearense natural de Massapê. Jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e funcionário do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), atuando na área de Comunicação Social.

Nos anos 1980 e 1990, trabalhou profissionalmente com ilustração e arte publicitária em Fortaleza (Terraço Comunicação e Marketing, SENAC, Casas Pernambucanas e Diário do Nordeste). Possui especialização em Comunicação e Mídia Contemporânea. Eventualmente, participa de exposições e concursos literários.

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