quinta-feira, 3 de abril de 2008

ECOLOGIA


SOB A ÉGIDE DA "ENERGIA LIMPA" EMPRESAS EÓLICAS DESTRUIRÃO SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS MILENARES

Durante realização de prospecção arqueológica de superfície na área destinada à construção de 3 (três) usinas eólicas da empresa Bons Ventos, localizadas no município de Aracati, entre a praia de Canoa Quebrada e a localidade do Cumbe, descobrimos 71 ocorrências arqueológicas, entre 53 sítios arqueológicos e 19 áreas vestigiais. Esta quantidade pode ser superior tendo em vista que este trabalho foi realizado no primeiro semestre quando os ventos são mais brandos na costa cearense. Um diagnóstico realizado na segunda metade do ano poderá duplicar a quantidade de sítios, tendo em vista que sob a ação dos alísios de SE, que remobilizam um volume maior de areia, sempre novos sítios são descobertos, conforme tivemos oportunidade de observar em outros trechos do litoral oeste.
As evidências atestam uma longa ocupação da zona estuarina do Jaguaribe, nosso principal recurso hídrico, iniciada por volta de 5000/6000 AP (Antes do Presente) quando a retomada paulatina da tropicalização na área litorânea transformou áreas inóspitas em ambientes privilegiados de ocupação. As ocupações dos arcaicos marisqueiros deste período inicial foram seguidas por ocupações de grupos ceramistas Tupi e Tapuias e, em momentos mais recentes, por instalações dos séculos XVIII e XIX. A diversidade verificada na cultura material atesta a confluência de etnias distintas que certamente disputavam os melhores sítios de coleta de moluscos e outros recursos marinhos.
Em virtude da expressiva quantidade de sítios detectada no local e da grande diversidade de vestígios, representada por adornos, fusos, pesos utilizados na atividade de pesca, vasilhas cerâmicas, instrumentos lascados, cachimbos, lâminas de machado polido, estes últimos só encontrados de forma descontextualizada em museus cearenses, nosso diagnóstico foi desfavorável à construção de qualquer empreendimento no local solicitando que a área fosse destinada a pesquisas acadêmicas sistemáticas.
Hoje nos preocupa o fato de que todo o litoral cearense, repleto de sítios arqueológicos em seus 573 quilômetros , esteja mapeado em vários pontos da sua extensão por empresas de energia eólica que sob a égide da "energia limpa" provocarão a destruição de sítios arqueológicos milenares.
Preocupa-nos também o fato de que, apesar do grande número de áreas arqueológicas já identificadas no Ceará, as pesquisas ainda sejam bastante incipientes, diferentemente do que ocorre em todos os outros estados do Brasil. Com isso, os vestígios deixados pelos antigos habitantes do território relacionado ao atual ainda não foram objeto de investigações contínuas por meio de elaboração de teses. Tal problemática tem a ver em grande escala com a falta de interesse das universidades públicas do Ceará (UFC, UECE, URCA, UVA) para com as pesquisas arqueológicas, que sendo uma atividade exclusivamente científica deve ser gerenciada pelas universidades e não por empresas particulares.
Desta forma, entendemos que os trabalhos de arqueologia no Ceará não podem restringir-se às intervenções emergenciais da arqueologia de salvamento, impondo-se a necessidade urgente de pesquisas arqueológicas acadêmicas para que tenhamos um maior aproveitamento das informações obtidas por meio de pesquisas que se estendam por um período mais longo. Como não contamos com pesquisas arqueológicas acadêmicas, a arqueologia cearense está entregue tão somente à arqueologia de salvamento. O nosso receio neste momento é que muitas informações sejam perdidas antes que tenhamos oportunidade de sistematizar estes estudos face às exigências dos grandes empreendimentos.
Posicionando-nos também contra o empreendimento das eólicas de Aracati, tendo em vista que o tempo necessário ao salvamento dos sítios arqueológicos seria inconciliável com os prazos propostos pelo empreendedores que pretendem entregar a obra em dezembro de 2008, inviabilizando qualquer atividade preliminar nos sítios antes da chegada das máquinas. Neste caso, seríamos obrigados tão somente a trabalhar em concomitância com a obra, procedimento este que seria desastroso para a salvaguarda do patrimônio arqueológico local.
Convém lembrar que em arqueologia de salvamento é comum proceder ao acompanhamento da obra para verificar a presença de vestígios em profundidade, porém em empreendimentos eólicos este procedimento é inviável, tendo em vista que as máquinas abrem verdadeiras crateras em áreas de sedimentos não consolidados (dunas). Isto não permite a visualização das estruturas e vestígios por parte do arqueólogo e por outro lado põe em risco a segurança do mesmo. Este aspecto é fundamental para lembrarmos a necessidade de estudos anteriores à construção de um empreendimento desta natureza.
O IPHAN do Ceará e de Brasília, representados pelos técnicos Olga Paiva e Rogério Dias, inclusive não aptos a dar um parecer arqueológico, tendo em vista não possuírem formação na área, desconsideraram nosso diagnóstico com receio de serem chamados para prestar contas com a Casa Civil da ministra atualmente posta na berlinda e oportunizaram a entrada de uma equipe na área para proceder apressadamente ao resgate arqueológico dos sítios, sem antes abrir uma discussão mais ampla sobre os nossos resultados. Discussão esta que deveria envolver a nossa equipe, um arqueólogo do IPHAN e outras instituições acadêmicas com tradição em arqueologia, como a USP e a UFPE, por exemplo, além das universidades locais e o Ministério Público, pois afinal de contas, as descobertas nos colocaram diante de uma situação excepcional, tendo em vista o significativo potencial da área e o grande impacto de construção deste empreendimento, erroneamente compreendido como mínimo.
Ampliando a nossa visão, entendemos também ser imperativa e emergencial uma ampla discussão acerca do impacto ambiental gerado pela construção das eólicas em áreas de preservação permanente (dunas e restingas - Resolução Conama 303/2002) vedadas ao uso econômico e caracterizadas pela intocabilidade (Resolução Conama 369/2006).
A construção provocará impacto aos campos de dunas móveis da região, um dos mais expressivos do Estado, fundamentais na dinâmica da zona costeira e no controle dos processos erosivos (Resolução Conama 341/2003).
No mais, a execução do empreendimento interferirá drasticamente na excepcional beleza cênica e paisagística das dunas do Cumbe, Barra do Aracati e Canoa Quebrada com a alocação de 67 aerogeradores (cataventos).
No tocante aos aspectos arqueológicos, vale lembrar ainda que o IPHAN recebeu um Plano de Resgate dos Sítios Arqueológicos elaborado pelo arqueólogo Walter Morales sem que ele e a sua equipe tivesse estado na área para visualizar as ocorrências, compreender a natureza dos processos de deposição e pós-deposição ali evidenciados, da distribuição espacial das ocorrências, para propor um cronograma e uma metodologia adequada. Da mesma forma, sem ter ainda postos os pés no local, a equipe teve um orçamento aprovado pela empresa responsável pelo empreendimento.
O que nos impressiona é que quando se é contratado por empresas públicas ou privadas para execução de trabalhos, uma das exigências primordiais, inclusive listada em editais, é que o contratado entregue declaração de que conhece a área, de que já esteve no local, correndo-se o risco de ser penalizado caso o conteúdo da informação não seja verdadeiro.
Gostaríamos também de aproveitar esta oportunidade para sugerir que as universidades públicas cearenses (UECE, UFC, URCA,UVA) saiam da letargia em que se encontram na atualidade e assumam juntamente com a sociedade e os órgãos legais e culturais, a defesa do patrimônio arqueológico local que com os seus vestígios funcionam como um elo entre as sociedades passadas e atuais. Estas últimas devem ter acesso às informações acerca deste valioso bem cultural.

Verônica Viana (arqueóloga)
Manuelina Duarte (arqueóloga)
Valdeci Santos (arqueólogo)
Karlla Soares (Historiadora)
Luci Danielli A. de Sousa (Historiadora)
Daniel Luna Machado (Historiador e Mestrando em Arqueologia)
Igor Pedroza (graduando em história UECE)
Cibele Nascimento (graduanda em história UECE)

Integrantes do CEPACE - Centro de Pesquisas Arqueológicas do Ceará




Limpeza da Lagoa do Papicu tem início com plantio de árvores

A Prefeitura de Fortaleza inicia amanhã, quita-feira (10), a partir das 9h, a dragagem da Lagoa do Papicu (Rua Desembargador Lauro Nogueira) e o plantio de 50 árvores adultas na Área de Proteção Ambiental do manancial. A dragagem consistirá na retirada da matéria orgânica sedimentada no fundo da Lagoa, somada a resíduos sólidos agregados que compõem o material que precisa ser retirado para restabelecer a condição original do manancial. Durante a última semana, foram realizadas retirada dos aguapés, liberando o espelho d'água, escavação da base do muro de proteção e limpeza do entorno do corpo hídrico.



A ação de amanhã será realizada através da Fundação de Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza (Habitafor), Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), Secretaria Executiva Regional (SER) II, Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e de Infra-Estrutura (Seinf) e Guarda Municipal e Defesa Civil de Fortaleza. Ação contará ainda com a participação de delegados do Orçamento Participativo (OP).



Desde ontem, terça-feira (8), a Area de Proteção Ambiental do local está sendo desocupada, atendendo ao mandato expedido pelo juiz de Direito da 3ª Vara da Fazenda Pública, Martônio Pontes. Segundo a ordem judicial, todas as edificações não cadastradas pela Prefeitura devem ser retiradas. A equipe social da Habitafor registrou no local 195 ocupações irregulares. Ontem, 62 barracos desocupados foram retirados e, durante a manhã de hoje, a Prefeitura acordou com 19 famílias, afastamento pacífico. Elas fizeram opção por abrigo solidário ou ajuda de custo.



Amanhã, as negociações prosseguem. Vale salientar que, mesmo sendo irregulares, as ocupações estão sendo demolidas após acordo consagrado entre a Prefeitura e as famílias ocupantes. Além da equipe social composta por cerca de 30 assistentes sociais, aproximadamente 150 homens trabalham no local, além de caçambas, retroescavadeira, pá mecânica e caminhões.



Habitação e Urbanização

Já as famílias cadastradas serão beneficiadas, através de R$ 14 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com 488 novas moradias e 134 melhorias habitacionais. Além disso, as famílias receberão o benefício de 612 ações de regularização fundiária mais equipamentos comunitários, calçadões, canteiros arborizados, quadra de futsal, campo de futebol e pista de skate.


Serviço: Limpeza da lagoa do Papicu e plantio de árvores e serão iniciados amanhã

Data: Amanhã, quinta-feira (10)

Horário: a partir das 9h

Local: Lagoa do Papicu

Endereço: rua Desembargador Lauro Nogueira, próxima ao Hospital Geral e por trás do muro da Brahma.

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