quinta-feira, 3 de abril de 2008

ARTIGOS

MEDIAÇÃO: A VERDADEIRA SOLUÇÃO DO CONFLITO

* Carolina Memran Schreier

“Convidar para a mediação é convidar o outro para um lugar de legitimidade”

(Jimmy Carter)


Antes de definirmos o que é a mediação, precisamos entender o que é o conflito. O conflito é, sob a ótica do antigo paradigma, nada mais que percepções e interpretações divergentes das partes sobre um determinado assunto. É sempre visto como algo negativo, um rompimento, um fim. Pela nova ordem sistêmica, o conflito é um meio, uma oportunidade de reconstrução de realidades e motor gerador de energia criativa.

Dentro dessa nova visão, surgem novas formas de lidar e resolver conflitos dentro de uma postura geradora e construtiva. A mediação é uma das modalidades alternativas à solução litigiosa de conflitos, por meio do restabelecimento de um canal de comunicação entre as partes.

A premissa básica desse instituto é a comunicação. A mediação se vale de um instrumento inerente à condição humana, o que nos distingue dos demais seres: a capacidade de dialogar.

Esse diálogo deve ser entendido como a possibilidade de expressão de nossos interesses e de conhecer o interesse da outra parte por meio da escuta. O conflito advém justamente da ausência da prática dessa última: somos altamente expressivos com as palavras, mas bastante incapazes de escutar o outro, o que o outro deseja, o ouvir atento e desarmado.

A mediação pretende facilitar esse diálogo, abrindo canais de comunicação obstruídos pela ausência do exercício da escuta e o posicionamento dos interesses acima das posições que passamos a defender quando estamos em situação conflituosa. Promove, ainda, um trabalho conjunto onde é criado um contexto que favorece a geração de condições e oportunidades para uma solução possível, para ambas as partes, sem ganhadores e perdedores, mas satisfeitos.

O mediador funciona como facilitador desse diálogo e age de forma a não interferir na decisão das partes - atua de forma acolhedora, porém absolutamente imparcial. Suas ferramentas de trabalho são as perguntas (circulares, diretas), metáforas e principalmente a escuta objetiva, e é nesse ponto que difere do terapeuta. Exerce o terceiro olhar nessa relação, a visão externa, a que nos negamos a enxergar quando tomados de posições acerca de determinada questão. Qualquer pessoa é mediadora, dada a capacidade de dialogar dos seres humanos, mas estar mediador depende de uma formação profissional e qualificação especializada na área.

A mediação visa o futuro, como a relação vai se estabelecer do momento da resolução do conflito para frente. Exemplificando, de forma bastante didática, com um casal que se separa e tem filhos. Enquanto a terapia vai buscar as causas da separação, a mediação vai focar no futuro da nova relação que surge: ex-marido e mulher, eternos pai e mãe. A mediação não busca a satisfação imediata (saciar um desejo de vingança), mas os ganhos que advém de uma relação pacificada no futuro.

A mediação aplica-se nos mais diferentes contextos: familiar, escolar, empresarial e judicial. As experiências vêm demonstrando que o índice de reincidência em casos mediados é praticamente inexistente - quando todos ganham de fato, quando se entende os limites possíveis de cada parte e o exercício dos acordos estabelecidos, há a verdadeira solução do conflito.



* Carolina Memran Schreier é especialista em mediação e advogada do KLA (Koury Lopes Advogados) - cschreier@klalaw.com.br



Cultura: o milagre da economia
Leonardo Brant

O release oficial proclama: "com um público estimado entre 3,5 e 4 milhões de pessoas, a Virada Cultural já se tornou o maior evento cultural do país e o maior do gênero do mundo. Com um aporte de R$ 90 milhões à economia local, o festival consolida-se como grande evento da cidade de São Paulo. Não houve registros relevantes de ocorrência policial", o grande fantasma da edição passada.

Recheado de elogios e frases de efeito do prefeito-candidato Gilberto Kassab, o material distribuído à imprensa comprova a pujança da Virada, que cresce um pouco mais a cada ano e ganha novos espaços.

Na edição passada, foram cinco grandes palcos no Centro. Neste ano, aumentou para 26 - dos quais, 24 tiveram programação nas 24 horas da festa. "As pessoas responderam bem à Virada de 2007 e sentimos que havia espaço físico para ampliá-la", ressalta o secretário de Cultura do município, Carlos Augusto Calil. "Nunca houve tanta gente no centro de São Paulo", comemora o secretário.

O coordenador da Virada Cultural, José Mauro Gnaspini, também celebrou a presença dos paulistanos e visitantes nas ruas da Cidade. "Foi sensacional, mesmo nos locais onde não funcionavam palcos ou atrações programadas havia pessoas caminhando, sentadas em bares ou restaurantes. Fechamos o Centro, tiramos os automóveis e a Cidade voltou a ser como era. As pessoas redescobriram o Centro, que virou um grande boulevard".

Parte significativa dos 4 milhões de pessoas que passaram pela Virada é formada por turistas, que vêm sobretudo das cidades do entorno metropolitano e do interior do Estado. Dada a grande oferta de atrações de qualidade, o evento chama cada vez mais atenção de outras regiões do país e até do exterior. Este ano, SPTuris trouxe 120 operadores de turismo, do Brasil e América do Sul, para conhecerem o evento, que já se transforma num importante produto turístico da cidade, a exemplo da Fórmula 1 e da Parada GLBT.

Apesar da grande movimentação econômica, a Virada Cultural não recebe nenhum tipo de patrocínio privado. "Foi uma decisão que tomamos, de que a Virada é um evento da cidade e de todos os cidadãos", afirma Caio Carvalho, presidente da SPTuris. Ele explica que o montante de R$ 90 milhões é calculado a partir das sondagens feitas na edição passada, quando foram pesquisados os gastos per capita e o tempo de permanência dos turistas na cidade em função do evento. "A Virada representa muito bem o posicionamento de São Paulo no Brasil e no Exterior como o grande pólo cultural da América Latina, além de reforçar o estilo diverso de uma cidade que pulsa 24 horas por dia", afirma.

A Fórmula 1 e a Parada GLBT são os dois eventos mais lucrativos da cidade e movimentam um montante de R$ 200 milhões e R$ 150 milhões, respectivamente. Também superlativos são os números da SP Fashion Week (R$ 85 milhões), do Salão do Automóvel (R$ 55 milhões) e do Carnaval (R$ 40 milhões), que esquentam o setor de turismo na cidade, com grande ocupação da grade hoteleira.

E o release antecipa o tom de campanha eleitoral: "o governador José Serra marcou sua passagem pela madrugada na Virada Cultural com um enorme sorriso de orgulho, afinal foi ele o criador do evento".

O diretor regional do SESC São Paulo, Danilo Santos de Miranda, observou que "o paulistano se faz presente nos mais diversos espaços culturais quando tem as condições para isso, tais como transporte, segurança e uma programação de qualidade à sua disposição. Mais uma vez, a Cultura demonstra sua força como agente motivador da participação social, da economia e da educação para a cidadania. A rede SESC integrou-se plenamente neste espírito, atraindo um publico de 55 mil pessoas até as 10 horas da manhã de domingo".

Ao final, só faltou o release explicar o segredo da mágica: como um investimento de R$ 6,8 milhões transforma-se em R$ 90 millhões de retorno?

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