segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CINEMA NACIONAL

"Gonzaga - De Pai pra Filho" conta a difícil relação de dois grandes artistas da música brasileira
 

Após “2 Filhos de Francisco” e “À Beira do Caminho”, diretor Breno Silveira faz emocionar de novo com história de Luiz Gonzaga e sua relação com seu filho Gonzaguinha


Depois de "2 Filhos de Francisco", campeão nacional de público em 2005, com 5 milhões de espectadores, o diretor Breno Silveira não pensava em fazer mais nenhuma biografia. Recebia ofertas de dezenas de projetos do gênero, mas não se animava com nenhum. Até que apareceu "Gonzaga - De Pai pra Filho", que estreou neste final de semana cercado da mesma expectativa: no centenário do Rei do Baião , se consagrar nas bilheterias. Não que Gonzaga seja exatamente um astro contemporâneo. O autor de "Asa Branca" continua soberano nas festas de São João, mas ao longo do ano, não é bem assim. "Para fazer um filme de sucesso, seria muito mais fácil pegar Aviões do Forró", comentou o diretor, durante conversa com jornalistas em São Paulo.
A ideia partiu de Maria Hernandez, que há sete anos começou a investigar a vida de Gonzaga indiretamente, já que Daniel, filho de Gonzaguinha, havia sugerido resgatar a história do pai. Como não se pode falar de um sem o outro, toneladas de informações valiosas sobre Gonzagão foram desenterradas. Em especial, fitas cassete gravadas por Gonzaguinha no início da década de 1980, em que ele conversava com o pai sobre sua vida e a relação dos dois, até então estremecida. Antes disso, pai e filho mal se falavam, fruto de uma infância e adolescência marcada por abandono, rebeldia, mágoa e embates violentos. As gravações marcaram a reconciliação da dupla, que logo depois saiu em turnê pelo país. Silveira contou que se comoveu ao escutar as fitas e, a partir delas, percebeu o caminho que deria tomar: o filme seria sobre "um filho tentando entender o pai". Foi isso que o teria convencido a topar o projeto, mais do que a vida atribulada de Luiz Gonzaga.
O primeiro passo foi convencer a família Gonzaga, em conflito há muito tempo, representada por Daniel, o neto, e Rosinha, filha adotiva de Gonzagão. "Juntamos eles depois de 15 anos num jantar", lembrou o diretor. "A partir daí essa família passou a se unir de novo. Foi como se a gente tivesse dado nó em pingo d'água." Deu tão certo que hoje o gerenciamento dos direitos autorais de Luiz Gongaza, antes fragmentado, está todo nas mãos de Daniel, também músico.
Resolvida essa etapa, o próximo desafio foi escalar o elenco. Depois de testar vários atores conhecidos para o papel principal, Silveira desistiu. "Comecei a entender que ninguém era parecido, cantava ou tinha a voz de Gonzaga. Ninguém parecia completo. Mas sabia que em algum canto desse país devia ter um Gonzaga."
A equipe iniciou, então, uma campanha Brasil afora e o retorno foi avassalador: apareceram cinco mil interessados. Depois de um processo descrito como "longo e desgastante", eles foram reduzidos a cinco e levados para um apartamento no Rio de Janeiro, numa espécie de "Big Brother" particular. De lá saiu o paulista Chambinho do Acordeon, sem nenhuma experiência no ramo, mas craque no baião. "Ele tinha voz, empostação e uma sanfona muito parecida com a do Gonzaga. Precisava de alguém que tivesse alma de sanfoneiro, não de ator", explicou Silveira.
As outras duas encarnações de Gonzagão foram menos problemáticas: na adolescência, assumiu o mineiro Land Vieira, e na velhice, Adélio Lima, na vida real funcionário do museu dedicado ao músico em Exu (PE), sua cidade-natal. Encontrar Gonzaguinha, por outro lado, não ofereceu nenhuma dificuldade. Fã do cantor desde os oito anos, Júlio Andrade ("Cão Sem Dono", "Hotel Atlântico") foi fazer o teste já transformado para o papel: roupa branca, barba comprida, peruca, cigarro e violão a tiracolo, tão diferente que nem amigos que também iam conversar com o diretor o reconheceram. "Quando Júlio acabou, mandei todo mundo que ainda estava esperando embora", contou Silveira. "Era como se fosse um presente, depois de um ano tentando achar o Gonzaga, encontrar o Gonzaguinha na segunda pessoa a fazer o teste."
Silveira disse estar confiante que o boca a boca funcione, mas ele esperava o mesmo de "À Beira do Caminho", inspirado nas músicas de Roberto Carlos, que estreou em agosto e teve carreira decepcionante (200 mil espectadores). "Era um filme mais íntimo, fechado, para dentro", justificou o diretor. "Todo mundo saía do cinema super emocionado, mas talvez ele não fosse capaz de irradiar para uma grande plateia. Ao mesmo tempo, 'Beira' estava subindo quando foi tirado de cartaz. Se o boca a boca ia funcionar mais para frente, não se sabe."

No centenário de Luiz Gonzaga (1912-1989), uma biografia para o cinema do rei do baião seria mais do que bem-vinda. Nas mãos de Breno Silveira , no entanto, o que teria tudo para ser apenas um produto oficial ganha a capacidade de emocionar multidões.
Ao mesmo tempo em que se aprofunda no relacionamento distante entre os dois, “Gonzaga” percorre os caminhos do nascimento, do sucesso e do declínio do rei do baião e sua busca por superar a infância pobre e o preconceito por suas origens no interior de Pernambuco.







Cineclube Avenida exibe "Guerra Conjugal" 

Filme é uma adaptação de Joaquim Pedro de Andrade para contos de Dalton Trevisan

O Cineclube Avenida continua destacando a obra do cineasta Joaquim Pedro de Andrade. Depois de brindar o público com "Garrincha, Alegria do Povo", "Os Inconfidentes" e "Macunaíma" e "O Padre e a Moça", "Guerra Conjugal", de 1974, é o destaque. O filme será exibido nesta terça-feira, 23/10, às 19h, com entrada franca, no Cineclube Avenida (subsolo do Shopping Avenida, na Av. Dom Luís, 300). Após a exibição do filme haverá debate com convidados.
Baseado em contos de Dalton Trevisan, "Guerra Conjugal" narra diversas histórias ligadas a conflitos de casal, remetendo a personagens e diálogos criados pelo emblemático escritor curitibano, entre nuances de drama e de comédia. Um casal de idosos, um conquistador, um advogado, entre outros personagens reveladores de situações-limite entre amor e ódio.
"'Guerra Conjugal' ilustra crônicas de psicopatologia amorosa na civilização do terno-e-gravata, ainda vigente na mitológica e ubíqua cidade de Curitiba, onde medram flores de plástico e elefantes de louça podem surgir a qualquer momento", definiu o próprio diretor e roteirista, Joaquim Pedro, sobre o filme, elogiado por Pedro Almodóvar quando exibido em um festival em Barcelona. "Guerra Conjugal", que conta em seu elenco com Lima Duarte, Jofre Soares, Elza Gomes e Carlos Gregório e tem trilha sonora de Ian Guest, também foi exibido no Festival de Cannes e premiado em diversos festivais no Brasil. "Com 'Guerra Conjugal', damos continuidade a uma homenagem a Joaquim Pedro de Andrade, que temos promovido desde o III Festival de Jericoacoara Cinema Digital, realizado em junho, e   nas sessões do Cineclube Avenida", ressalta o cineasta cearense Francis Vale, coordenador do Cineclube.

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