Mais uma obra prima de Almodóvar
“Abraços Partidos”, com Penélope Cruz, é mais uma prova do talento do cineasta espanhol
Existem obras de título e existem obras de autor. Quando temos diante de nós um trabalho que se encaixa na última categoria, é da natureza do expectador criar um discurso comparativo não apenas sobre a coerência autoral, como -fato ainda mais reconfortante para nosso julgamento crítico- analisar cada novo trabalho tomando como base a tentativa de superação da assinatura (e não exatamente da obra).
Com Pedro Almodóvar, a prática é recorrente a cada novo filme seu. Em “Abraços Partidos”, lançamento de julho da Universal para venda e já nas locadoras, não é difícil escutar "já vi melhores". Tais argumentos, no entanto, negligenciam muitas vezes o filme em si, certamente uma obra-prima da dramaturgia. Ciente de seu status, Almodóvar cada vez mais cria obras que fazem referência ao cinema e a ele mesmo.
Abraços Partidos desfila uma coleção de atrizes que são familiares aos admiradores do diretor. Entre elas, Blanca Portillo, Lola Dueñas, Chus Lampreave e Rossy de Palma, esta última em uma aparição de poucos segundos que condensa a essência do cômico em Almodóvar. No centro de todas essas mulheres, novamente ela, Penélope Cruz, musa do diretor em Volver (2006), retorna o papel principal deste que é um filme dois em um.
Existem duas histórias que correm em paralelo em Abraços Partidos, assim como dois tempos distintos. E a maestria do diretor está em lidar com todos esses elementos sem nunca perder a curva do fio que tece as fotos, amores e abraços partidos em um só filme.
Na primeira história, temos a narração da vida do diretor de cinema (Lluís Homar) que é visto em dois momentos: ora como Mateo Blanco, cineasta espanhol reconhecido pela crítica e apaixonado por sua nova estrela, a estreante atriz Lena (Penélope Cruz), casada com o milionário empresário Ernesto Martel (José Luis Gómez) e ora como Harry Caine, o cineasta cego e frustrado que tenta recriar novas histórias com a ajuda de sua melhor amiga, Judit (Blanca Portillo) e do filho dela (Tamar Novas). A observar que Harry Caine é um tipo de acrônimo para a palavra inglesa "hurricane", que significa furacão.
Na segunda história, o que se vê é o filme de Matteo Blanco, uma comédia com o espírito Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), do próprio Almodóvar. Nela, Lena é a personagem principal de uma narrativa que servirá como redenção final para um desfecho com algumas surpresas.
Tudo isso se passa em dois momentos separados por alguns anos de diferença. O fator tempo, aliás, é a prova maior de que o diretor, mais do que nunca, domina a técnica narrativa sem medo de ir e vir numa edição primorosa em cortar cenas com closes e planos abertos onde as cores quentes do cineasta sempre projetam fotografias que falam por si só.
Relações de amor e guerra
O ótimo drama “Entre irmãos”, com Jake Gyllenhaal e Tobey Maguire, chega às locadoras
“Entre irmãos” (Brothers, EUA 2009), refilmagem do filme dinamarquês de mesmo nome dirigido por Susanne Bier, é uma intrincada trama sobre a psicologia que move uma família. Um pai que fora omisso e opressor (Sam Shepard) e seus dois filhos que reagiram a isso de maneiras opostas. Tommy (Jake Gyllenhaal) enveredou pela vadiagem. Flertou com a marginalidade e acabou preso. Sam (Tobey Maguire) seguiu os passos do pai e tornou-se militar. O filme começa com Sam no Afeganistão que ao escrever uma carta para sua esposa (Natalie Portman) rememora os dias que antecederam sua partida para a guerra.
Nessa memória, somos apresentados a fissuras familiares que dão o tom das relações entre aqueles personagens. Desde o esforço de Sam para ser um pai atencioso, até o empenho de Tommy em confrontar todos da família.
Duas reviravoltas transformam o já atribulado cotidiano dessa família. A primeira delas é a notícia da morte de Sam em combate. E a segunda, que ocorre alguns meses depois, é a de que ele não estava morto. Sam voltaria para casa após ter sido resgatado das mãos de terroristas.
É aí que reside o grande trunfo do filme, que será lançado esta semana nas locadoras pela Imagem Filmes. Sam precisa se adaptar à vida em sociedade novamente. Algo extremamente difícil, mas que se torna ainda mais complicado quando ele percebe claramente que foi superado. Que as pessoas seguiram adiante. Que de memória carinhosa, sua presença avança à perturbação psicológica. Não é algo fácil de digerir. Na verdade, é uma situação que intensifica, e muito, o quadro de paranóia que impreterivelmente acomete veteranos de guerra.
O diretor Jim Sheridan e o roteirista David Benioff optaram por manter a estrutura do filme original. O que se configurou em um acerto. As ligeiras mudanças apenas servem a uma contextualização de tempo e espaço. No entanto, Sheridan, embora seja prolifero em tratar de dramas familiares pontuados por conflitos externos (Em nome do pai, Terra dos sonhos e Fique rico ou morra tentando), evita imprimir impressões pessoais ao filme. Seria oportuno e bem vindo, alguma sutileza da realização para distingui-lo de filmes que se desdobram sobre o mesmo tema. Até mesmo porque trata-se de uma refilmagem.
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