segunda-feira, 5 de julho de 2010

CINEMA NACIONAL

Uma noite na MPB

Documentário refaz história da música brasileira a partir da grande final do festival de 1967


É impossível esquecer aquela noite. Ao mesmo tempo, como é difícil recordá-la. A final do 3º Festival da Música Popular Brasileira, exibida pela Record em 21 de outubro de 1967, ficou congelada na memória do público como um momento único. "Não temos nada para ensinar aos jovens de hoje", diz Sérgio Ricardo. Para seus protagonistas, porém, se foi alegria, foi também perturbação. É isso que revela, quatro décadas mais tarde, "Uma Noite em 67", documentário de Renato Terra e Ricardo Calil.
Por meio dos arquivos da TV Record e de depoimentos de quem estava lá, o filme revê um momento que iria se provar fundamental para a forma que assumiria, a partir dali, a música brasileira. Há Chico Buarque ("Roda Viva"), Caetano Veloso ("Alegria, Alegria"), Gilberto Gil ("Domingo no Parque") e Roberto Carlos ("Maria, Carnaval e Cinzas") a defender suas canções. E há todos eles a rememorar aquela noite. "Eu era um fantasma no palco", diz Gil, que caiu de cama, em pânico, horas antes da apresentação.
É desses reencontros profundos com o passado que se constitui o filme. Fica claro que os diretores sabiam que muitos, como Caetano e Gil, tiveram suas falas sobre aquela noite banalizadas, tamanha a quantidade de entrevistas dadas a respeito. Tinham também em mente que outros, como Chico e Roberto, dificilmente baixariam a guarda. "Era fundamental criar uma cumplicidade. Nós nos preparamos muitos e tentamos ser delicados, respeitosos", diz Calil.
Com isso, arrancaram de cada um momentos de graça, emoção e intimidade, como raras vezes se veem na tela. "Ao ver o filme, assustei-me mais com suas revelações do que em me ver naquela agonia de não poder mostrar uma música", diz Sergio Ricardo que, impedido pelo público de cantar "Beto Bom de Bola", atirou a viola à plateia. O filme traz à luz a cena inteira, e não apenas a explosão. "Me sinto de alma lavada." Há também um quê de acerto de contas no que sente Marília Medalha, que cantou, com Edu Lobo, "Ponteio", a grande vencedora da disputa de jovens gigantes. "Fui espoliada após o festival, não só por pessoas da música, mas também por artistas do universo teatral", diz. "Com o AI-5 [1968], o negócio piorou muito. Num show com Vinicius [de Moraes], fui proibida de cantar 'Ponteio'. Não descobri se era por causa da música ou por saberem que tinha vínculos com presos políticos", diz.
A entrevista com Medalha, como dezenas de outras --entre elas as de Ferreira Gullar, Chico Anysio, Arnaldo Batista, Martinho da Vila--, ficou fora do corte final do filme. Estarão todos no DVD. A opção de concentrar-se nas cinco primeiras classificadas faz com que cada canção seja vista de ponta a ponta. Por meio dessas imagens, o espectador não só conhece os maiores artistas da MPB quando jovens, como também visita os primórdios da TV. Ali, o cigarro em cena era tão natural quanto o jovem Chico, com 23 anos, apresentar-se de smoking.








‘O bem amado’ no cinema

Uma das produções mais marcantes da história da TV chega à telona


Filme tem direção de Guel Arraes. Matheus Nachtergaele e Marco Nanini, os novos Dirceu Borboleta e Odorico Paraguaçu

O escritor, dramaturgo e autor de novelas Dias Gomes escreveu a peça “O bem amado” no início dos anos 1960, inspirado na figura do político corrupto Odorico Paraguaçu. Eleito prefeito de Sucupira, para chamar a atenção dos eleitores ele fez de tudo, até conseguir construir aquela que seria a grande obra do seu governo: um cemitério. Para inaugurá-lo ainda dentro do mandato, precisava que algum conterrâneo passasse desta para melhor e, entrava ano e saía ano, ninguém morria por perto. Na tentativa de reverter a situação, o governante tramou golpes sujos com o objetivo de dar fim num dos habitantes de Sucupira. Com roteiro original, o autor fez sucesso no teatro, em livro e depois em novela e seriado de televisão. O público ria da politicagem que parecia caricatural, um tanto distante da realidade daqueles tempos. Quarenta anos depois, a narrativa saltou da ficção para a realidade, com contornos bem mais mirabolantes. Hoje, não é difícil encontrar personagens da vida real bem próximos aos da trama de Dias Gomes. Os mesmos tipos voltam agora em adaptação para o cinema.

> Irmãs Cajazeiras modernizadas. Dorotéia (Zezé Polessa), Judicéia (Drica Moraes) e Dulcinéia (Andréa Beltrão)

Dirigido por Guel Arraes, o mesmo de “O auto da Compadecida” e “TV Pirata”, o novo “O bem amado”, que estreia no próximo fim de semana, chega em momento oportuno – perto das eleições. Marco Nanini vive Odorico Paraguaçu, papel que já foi de Procópio Ferreira no teatro e de Paulo Gracindo na TV. Matheus Nachtergaele é o inesquecível Dirceu Borboleta, defendido no passado por Emiliano Queiroz. A escalação conta com outros astros: José Wilker é o cangaceiro Zeca Diabo e as atrizes Andréa Beltrão, Zezé Polessa e Drica Moraes são as solteironas irmãs Cajazeiras, que fazem de tudo para conquistar o prefeito. Antes da fase carioca, os artistas alteraram a rotina da pacata Marechal Deodoro, em Alagoas, onde foram realizadas as externas, com a ajuda de 2 mil figurantes.
Produzido por Paula Lavigne em parceria com a Globo Filmes e a Buena Vista Internacional, “O bem amado”, com roteiro de Claudio Paiva (Radical Chic) e do próprio Guel Arraes, é uma das principais apostas do ano.



Orçado em R$ 10 milhões, o projeto tem temática mais atual do que nunca. “Está cheio de Sucupira por aí! O Dias Gomes teve uma inspiração premonitória”, sugere Guel. A atriz Zezé Polessa pensa de maneira semelhante: “Parece uma coisa profética. ‘Evoluímos’ para trás”, lamenta. A opção desta vez é por um filme de época, mas com abordagem atual. O diretor explica que não havia por que recuperar tipos como coronéis ou beatas, bem distantes da atualidade. Em vez deles, o prefeito Odorico agora é um sujeito mais próximo dos políticos espertalhões de hoje e as irmãs Cajazeiras são como as socialites. “Estamos contando a mesma história 40 anos depois. A corrupção deu uma evoluída.

> Paulo Gracindo com as "irmãs Cajazeiras" da versão da TV de "O bem amado"

O bem amado é uma sátira da elite brasileira, que é provinciana”, diz.
O exagero na interpretação é ponto em comum entre os projetos. Antigamente, Emiliano Queiroz lançou mão de trejeitos e da gagueira excessiva para compor o seu Dirceu Borboleta, auxiliar do prefeito Odorico, assim como as atrizes Ida Gomes, Dorinha Duval e Dirce Migliaccio foram intensas ao imprimir o comportamento falsamente moralista nos seus tipos. A orientação na adaptação cinematográfica é seguir a mesma direção. “O tom é exagerado. Talvez até mais. Todos os atores que estão no filme têm uma característica comum: fazem o exagero com verdade. São atores de comédia, que conseguem transitar bem no drama”, avalia Guel. A atriz Zezé Polessa, que vive Dorotéia, a mais velha das Cajazeiras, papel que foi de Ida Gomes, está tentando seguir à risca as orientações. “Ela é uma virgem que considera este o maior trunfo para conquistar o coração e o posto de primeira-dama.” O figurino é um aliado. “Trará características de época, ao mesmo tempo que é fashion”, descreve Zezé. Há outras nuances no projeto.
O bem amado foi escrito na democracia e encenado no teatro e adaptado para a televisão em plena ditadura. Em meio à censura, o projeto conseguia tratar de temas como a corrupção por vias enviesadas, por meio da sátira. Hoje, o contexto é bem mais promissor para debochar dos meandros dos jogos de poder. “Podemos rir abertamente e falar, inclusive, da esquerda que está no poder. É possível achar graça nas situações, o momento é bom para a sátira política e não conheço outra obra no Brasil neste gênero.



Odorico não é uma paródia de um político específico. É como a síntese do que acontece. Tem a qualidade de ser um microcosmo do Brasil”, avalia o diretor. A presença dos outros personagens na memória coletiva é, ao mesmo tempo, mérito e desafio do filme. Para o diretor, o elenco atual deverá surpreender: “Será meio místico também”. Zezé Polessa vê outros trunfos. “O público vai rir porque este corrupto bem-amado vai ser punido ao final.” Pelo menos na ficção, a história terá um final feliz.

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Sonia Abrão vai roteirizar filme sobre ex-Polegar Rafael Ilha

Desde o começo do ano, a apresentadora Sonia Abrão tem se dedicado ao projeto de um filme sobre o ex-Polegar Rafael Ilha, conhecido também pelo seu envolvimento com as drogas.

Sonia é responsável por roteirizar o livro que Ilha está escrevendo, que tem título provisório "Um Anjo no Inferno". A cinebiografia será dirigida pelo irmão da apresentadora, Elias Abrão, e o ex-Polegar será interpretado por ele mesmo.

"A ideia é contar um pouco da vida do Rafa. Nós já temos o pré-roteiro, mas a gente precisa do material completo dele, porque o filme é sobre a vida dele mas tem um quê de documentário, porque ele mesmo vai narrar e atuar em alguns momentos", falou Sonia.

Apresentadora Sonia Abrão trabalha em roteiro de filme sobre a vida de ex-polegar Rafel Ilha
O cantor está gravando depoimentos sobre seu envolvimento com as drogas e as tentativas de suicídio [em 2009, Ilha foi encontrado dentro de um elevador com um pedaço de vidro fincado no pescoço] para serem inseridos nos diálogos.

"No fim do ano passado, quando ele estava internado na clínica, depois de cortar o pescoço, eu, meu irmão e minha irmã fomos visitá-lo na clínica e estávamos conversando com ele e ele estava contando as coisas da vida dele. Então pensamos: 'Meu Deus, a vida dá mesmo um filme'", diz Sonia sobre como surgiu a ideia.

Segundo ela, o projeto demorou a ir para frente. "A gente preferiu falar com o psiquiatra dele antes, e ele aconselhou que não falássemos nada enquanto ele estivesse na clínica, porque o Rafa tem problemas com ansiedade e isso poderia gerar um problema. Mas quando o Rafa recebeu alta da clínica, ele deu o sinal verde", diz Sonia.

"Ele vai num processo devagar, de acordo com o que ele lembra no dia. Não é fácil para ele, porque é reabrir feridas, ele não fica bem, ele chora, então é tudo feito com muito cuidado, com acompanhamento do psiquiatra, porque não pode atrapalhar ele na recuperação", diz.

A história da apresentadora com Ilha não é recente. "Eu conheço ele desde quando ele tinha 12 anos de idade, hoje ele está com 37. Ele gravava comerciais com o meu irmão um pouco antes de eu começar a trabalhar como jornalista. Quando eu já trabalhava, ele estava no auge do Polegar, então eu acompanhei a carreira dele e fomos criando uma amizade. Estive com ele nos piores e nos melhores momentos. Eu estava na porta da delegacia quando ele foi preso com crack. Fomos acompanhando todos os ciclos da vida dele", conta.

Segundo a apresentadora, as filmagens devem começar já no segundo semestre, e o filme deve ser lançado no primeiro semestre de 2011.

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