domingo, 2 de novembro de 2008

LITERATURA


Mestiçagem literária

Chico Anysio é um dos homenageados da 8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Convenções


No dia 12 de novembro o Centro de Convenções do Ceará vai ser cenário da Aventura Cultural da Mestiçagem. É este o tema da VIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, que até o dia 21 vai receber cerca de 70 convidados estrangeiros, de países da África, América, Ásia e Europa, e mais de 100 participantes do campo literário e editorial do Brasil, que estão na programação em debates, palestras, encontros, lançamentos, entre outras atividades. A Bienal ocupará uma área superior a 3 mil m² do Centro de Convenções do Ceará e este ano levará também parte de suas atividades para espaços da vizinha Universidade de Fortaleza – UNIFOR.
A Bienal deverá receber, nos dez dias de feira e atividades, cerca de 750 mil visitantes. O acesso ao público será aberto e todas as atividades serão gratuitas. A Bienal Internacional do Livro é uma ação de política pública do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), visando o acesso ao livro e debates em torno dele. É promovida pelo Sindilivros e conta com patrocínio da Petrobras e Coelce. Tem ainda parceria da Unifor e apoio do SESC/SENAC, Unimed, Cagece e Servis.
Nessa aventura cultural, duas comunidades lingüísticas, a portuguesa e a espanhola, estão no foco, abrindo-se para a multiplicidade de culturas e a condição mestiça de suas raízes. Motivada pelo seu tema, a Bienal está comprometida com a integração das diversas culturas envolvidas, reconhecendo seus hábitos, costumes e literatura, com a democratização e a mobilização do acesso universal ao livro, à leitura e à produção literária.
Diversas atividades serão realizadas, baseadas na promoção e geração de conhecimentos, sem fronteiras culturais e sociais, reunindo um público diversificado e evitando isolamentos de quaisquer naturezas.
Diariamente haverá leituras em uma atividade chamada “Para Conhecer Poesia”, com a participação de autores do Brasil, Moçambique, Cuba, Equador, México, São Tomé e Príncipe, Espanha, República Dominicana, Uruguai, Peru, Chile, Colômbia, Porto Rico, Portugal e Nicarágua. Debates vão discutir questões relacionadas à América Latina, como a cultura de resistência, suplementos culturais e a contribuição das casas de cultura; assuntos do mercado editorial; literatura cearense; globalização e identidade cultural; entre outros temas ligados ao livro e à leitura.
Escritores, livreiros e editores do Brasil e países convidados proferirão palestras que vão de folguedos afro-brasileiros no Ceará ao barroco e surrealismo na América Latina, passando pelos avanços das neurociências para o ensino da leitura, pela integração cultural entre Brasil e América Hispânica e pelas experiências de Timor Leste e Guiné Bissau.
Encontros, lançamentos de livros, congresso de cordelistas, teatro e shows também estão nessa aventura cultural da mestiçagem. Na parte musical, atrações como os mexicanos Cabezas de Cera, os brasileiros Vitor Ramil, Fernanda Takai e Cordel do Fogo Encantado, além de bufões e vaqueiros, subirão ao palco do auditório principal do Centro de Convenções, batizado na Bienal como Teatro José Carlos Matos.Espaço Infantil e Arena Jovem
Para o público jovem e infantil foram criadas áreas especiais. O Espaço Infantil Antônio Sales, terá programação de contação de histórias, espaço para leitura livre e oficinas de confecção de livro, origami, cordel, fanzine, fantoche e construção de história. No Espaço Jovem Moreira Campos, os visitantes vão dispor de áreas de vídeo games com jogos mitológicos, fantasia medieval, jogos educativos, área para mesas de RPG, espaço de leitura e de filmes, exposição e arena com palestras e mesas-redondas diariamente.Salas Permanentes
A Bienal terá ainda Salas Permanentes destinadas a revistas (Sala Eduardo Campos), Música (Sala Humberto Teixeira), vídeos (Sala Luís Severiano Ribeiro), cordel (Sala Cego Aderaldo), mostra gráfica (Sala Aldemir Martins), Café Literário (Sala Jader de Carvalho), Arte Postal e Poesia Virtual (Sala Antônio Girão Barroso), entre outras.Pavilhão de Exposições
Uma média de 300 editoras e instituições do Brasil e países convidados vão estar nos quase 100 stands do Pavilhão de Exposições, que contará este ano com uma novidade: A Ilha dos Continentes. Em um espaço de 234 m², a Ilha dos Continentes vai receber editoras nacionais e estrangeiras e instituições que nunca participaram da Bienal ou não teriam oportunidade de participar de uma feira de livros internacional, apesar da reconhecida importância para as comunidades lingüísticas portuguesa e espanhola.Campanha de doação de livros
Todas as atividades da Bienal serão gratuitas, mas para contribuir com a difusão da leitura, ampliando o acervo das bibliotecas regionais, foi criada a campanha “Livro é Show”, que vai trocar livros por ingressos para as apresentações musicais e de teatro, que acontecer entre os dias 12 e 21 de novembro, como parte da programação da Bienal.
A campanha funcionará da seguinte forma: Cada livro dá direito a um ingresso. Cada pessoa só poderá trocar até 02 ingressos. Serão disponibilizados 800 ingressos para cada show. O ponto de troca será na Biblioteca Estadual Gov. Menezes Pimentel, até o dia 10 de novembro, das 9h às 17h. Serão disponibilizados 800 ingressos para cada show.
Programação Artística
Dia 12 às 19h – Show TEATRO MÁGICO (Brasil)
Dia 13 às 19h – CHICO ANYSIO É SHOW (Brasil)
Dia 14 às 19h – Show VICTOR RAMIL (Brasil)
Dia 15 às 19h – Espetáculo Teatral MERCADORIAS E FUTURO, com Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado (Brasil)
Dia 16 às 19h – Show CORDEL DO FOGO ENCANTADO (Brasil)
Dia 17 às 19h – Show DONA ZEFINHA (Brasil)
Dia 18 às 19h – Show OS BUFÕES CATAM FLAVIO PAIVA (Brasil)
Dia 19 às 19h – Espetáculo teatral JOÃO E MARIA (Brasil)
Dia 20 às 19h – Show CABEZAS DE CERA (México)
Dia 21 às 19h – Show FERNANDA TAKAI (Brasil)



Evento multimídia gratuito celebra 70 anos do livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos


Um evento multimídia gratuito celebrará, em novembro, os 70 anos de lançamento do romance “Vidas Secas”, considerado a obra literária mais importante do escritor alagoano Graciliano Ramos (Quebrangulo, AL, 27 de outubro de 1892 – Rio de Janeiro, RJ, 20 de março de 1953).

Marco na literatura brasileira, por trazer um relato contundente sobre a luta pela sobrevivência do sertanejo nordestino, além de abarcar uma crítica social às causas da miséria e do flagelo da estiagem, “Vidas Secas” já vendeu um milhão e meio de cópias e se encontra na sua centésima sétima (107ª) edição.

Intitulado “Vidas, para sempre secas?”, o evento-homenagem a Graciliano Ramos acontecerá a partir deste sábado, 1º de novembro (prosseguindo até o dia 30), nos Centros Culturais Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108) e Cariri (rua São Pedro, 337 – Centro – fone: (88) 3512.2855) – este, em Juazeiro do Norte, na região sul do Ceará.



Atualidade e permanência da obra

Através de atividades como oficinas de leitura, mesas de debates, leituras guiadas, exposição temática e bibliográfica, seminário avançado, exibição de filmes, documentários e depoimentos, conduzidas por professores vinculados a várias universidades brasileiras (Ceará, São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal), além de pesquisadores e artistas, o evento multimídia tem por finalidade criar uma interação entre o mundo daquelas vidas secas e a sensibilidade de quem se propõe a conhecê-las. O objetivo é discutir a atualidade e a permanência de “Vidas Secas”, romance representativo da cultura brasileira contemporânea, conforme avaliação da Fundação William Faulkner (EUA).

A série de atividades contará com palestras e debates com a professora Elizabeth Ramos (neta de Graciliano), da pós-graduação em Letras da Universidade Federal da Bahia, e com o professor, ensaísta, editor e pesquisador Wander Melo Miranda, supervisor do projeto de reedição da obra completa de Graciliano Ramos, autor do livro “Folha Explica Graciliano Ramos” e titular de Teoria da Literatura da Universidade Federal de Minas Gerais, entre outros estudiosos da obra do romancista.

O evento multimídia em torno da obra e vida do escritor alagoano tem curadoria e produção dos professores, pesquisadores e ensaístas Fernanda Coutinho e Miguel Leocádio Araújo, ambos da pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Ceará.



Leitura guiada para alunos de escolas públicas

O evento tem início neste sábado, 1º, às 10h30, no CCBNB-Fortaleza, com uma leitura guiada do romance “Vidas Secas” (Fragmentos de Vidas: a trilha de Fabiano e sua família), para grupos de alunos de escolas públicas de Fortaleza e da região metropolitana, dentro do programa Escola de Cultura. A leitura guiada pela professora Fernanda Coutinho e Sávio André Cavalcante, graduando em Letras pela UFC, prossegue até às 12h30.

No próximo dia 7 (sexta-feira), também de 10h30 às 12h30, será exibido o filme “Vidas Secas”, longa-metragem dirigido e lançado pelo cineasta brasileiro Nelson Pereira dos Santos em 1963, em preto-e-branco (p&b), com duração de 103 minutos.

Este foi o único filme brasileiro a ser indicado pelo British Film Institute como uma das 360 obras fundamentais em uma cinemateca. Nesta película, é perceptível a influência marcante do neo-realismo italiano na obra do diretor Nelson Pereira dos Santos. O filme foi premiado nos Festivais de Cannes (França, 1964) e de Gênova (Itália, 1965).



Exposição temática e seminário avançado

No dia 12 (sexta-feira), às 17 horas, será aberta a exposição temática “Caras Murchas das Vidas Secas”. Com curadoria de Fernanda Coutinho e Miguel Leocádio Araújo, a mostra traz farta bibliografia e material iconográfico sobre a obra magna de Graciliano Ramos, bem como a sua fortuna crítica. A exposição fica em cartaz até 30 de novembro.

Por sua vez, o seminário avançado “Vidas, para sempre secas?” acontece no CCBNB-Fortaleza, nos dias 12 e 13 (quarta e quinta-feira), de 17h às 20h, e no CCBNB-Cariri, no dia 14 (sexta-feira), de 15h às 20h.

Em Fortaleza, no dia 12, com mediação da professora Neuma Cavalcante (Letras, UFC), serão apresentados os seguintes temas: “Gestos e palavras: a sabedoria feminina em Vidas Secas”, com Vera Moraes (Letras, UFC); “Graciliano Ramos: ‘não silenciou sobre seu tempo’, com Odalice de Castro Silva (Letras, UFC); “O devir animal e criança em Vidas Secas”, com Peregrina Cavalcante (Sociologia, UFC); e o professor Zenir Campos Reis (Letras, USP), com tema ainda não definido.



Série de debates e leituras dramatizadas

O seminário prossegue no dia 13 no CCBNB-Fortaleza, a partir das 17h, com mediação do professor Adriano Espínola (Letras, UFC). Nesse dia, serão apresentadas as seguintes palestras: “Estranhos à festa”, com a neta de Graciliano, professora Elizabeth Ramos (Letras, UFBA); “Uma certa aliança: o amor representado em Vidas Secas”, com Mirella Márcia Longo (Letras, UFBA/CNPq); “As contas de Vidas Secas: fuga ou mudança?”, com Hermegildo Bastos (Letras, UnB); e “Animais e seres humanos: formas de conviviabilidade”, com Fernanda Coutinho e Miguel Leocádio Araújo.

No dia 14, o seminário se transfere para o CCBNB-Cariri, em Juazeiro do Norte. Lá, a partir das 15h, acontecerá uma leitura dramatizada de trechos do romance “Vidas Secas”. Às 16h, os professores Elizabeth Ramos, Fernanda Coutinho e Miguel Leocádio Araújo debatem com a platéia o tema “O que Vidas Secas nos quer dizer?”. O encerramento do seminário será às 20h.

No dia 25 de novembro (terça-feira), a partir das 19h, o programa de debates Literato terá como figura central o professor, ensaísta, editor e pesquisador Wander Melo Miranda (UFMG), responsável pela reedição da obra completa de Graciliano Ramos. No programa, ele dialogará com a professora Fernanda Coutinho, sobre as dimensões adquiridas pela obra do escritor alagoano no cenário cultural brasileiro, desde a sua inserção no Romance de 1930 até às leituras efetuadas pela nossa contemporaneidade.



Resumo do romance “Vidas Secas”

O livro “Vidas Secas” retrata a vida de pessoas que vivem no sertão brasileiro e o sacrifício delas para sobreviver. Tendo como tema a luta pela sobrevivência diante do flagelo da estiagem, o autor traz em seus personagens muito da alma nordestina nos traços de Fabiano e sua família. Os principais personagens são: Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais Velho, Menino mais Novo, a cachorra (Baleia) e o papagaio, que a família come para aliviar a fome.

Foi publicado em 1938 e aborda a problemática da seca e da opressão social no Nordeste do Brasil. Ao contrário dos romances anteriores, é uma narrativa em terceira pessoa, com o discurso indireto livre predominante, com a finalidade de penetrar no mundo introspectivo dos personagens, já que esses não têm o domínio da linguagem necessário para estabelecer a comunicação.

O romance tem um caráter fragmentário. São “quadros”, episódios que acabam se interligando com uma certa autonomia. Como coloca o crítico Affonso Romano de Sant’Anna: “estamos sem dúvida diante de uma obra singular, onde a história é secundária e onde o próprio arranjo dos capítulos do livro obedece a um critério aleatório”.



Biografia de Graciliano Ramos

Primogênito de dezesseis filhos do casal Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ramos, Graciliano viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro. Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Volta para o Nordeste em setembro de 1915, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano, casa-se com Maria Augusta de Barros, que morre em 1920, deixando-lhe quatro filhos.

Foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios em 1927, tomando posse no ano seguinte. Manter-se-ia no cargo por dois anos, renunciando em 10 de abril de 1930. Segundo uma das auto-descrições , “(...) quando prefeito de uma cidade do interior, soltava os presos para construírem estradas”. Os relatórios da prefeitura que escreveu nesse período chamaram a atenção de Augusto Schmidt, editor carioca que o animou a publicar “Caetés”, em 1933.

Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial e diretor da Instrução Pública de Alagoas. Em 1934, havia publicado “São Bernardo”, e quando se preparava para publicar o próximo livro, foi preso em decorrência do pânico insuflado pelo presidente Getúlio Vargas após a Intentona Comunista de 1935. Com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar “Angústia” (1936), considerada por muitos críticos como a melhor obra.

Graciliano Ramos é libertado em janeiro de 1937. As experiências da cadeia, entretanto, ficariam gravadas em um obra publicada postumamente, “Memórias do cárcere” (1953), relato franco dos desmandos e incoerências da ditadura (Estado Novo) a que estava submetida o Brasil.

Em 1938, publicou “Vidas Secas”. Em seguida, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Em 1945, ingressou no Partido Comunista do Brasil – PCB (que nos anos 1960, dividiu-se em Partido Comunista Brasileiro – PCB – e Partido Comunista do Brasil – PcdoB), de orientação soviética e sob o comando de Luís Carlos Prestes.

Nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus com a segunda esposa, Heloísa Medeiros Ramos, retratadas no livro “Viagem” (1954). Ainda em 1945, publicou “Infância”, relato autobiográfico. Adoeceu gravemente em 1952. No início de 1953 foi internado. Faleceu em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do pulmão.

O estilo formal da escrita e a caracterização do eu em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor seriam marcas da sua literatura. Dono de estilo contundente e direto, Graciliano Ramos é um dos mais importantes autores da literatura brasileira, cujo interesse estético é inseparável do comprometimento ético.

Seja por suas intervenções no campo político, pelo empenho em favor dos oprimidos ou ainda pela defesa do artista no mundo moderno, Graciliano Ramos reafirma, de modo inconfundível, o vínculo entre literatura e vida.

Ler os livros do escritor alagoano é tarefa fundamental para todos que têm interesse em entender o Brasil – e entender a si mesmos.

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