terça-feira, 4 de novembro de 2008

EXPOSIÇÕES

Antônio Bandeira no Espaço Cultural Unifor

Um Antonio Bandeira como Fortaleza nunca viu. Isso mesmo, o cearense que fez os grandes centros culturais do mundo se renderem à sua arte está de volta à terra natal, a partir de 28 de outubro, numa mostra com o maior ineditismo de sua obra. E o retorno já tem endereço certo: o Espaço Cultural Unifor. É nesse espaço já consagrado das artes que o público cearense verá, gratuitamente, mais de 100 pinturas e desenhos (na maior parte, inéditos) e 40 objetos pessoais (fotos, documentos, cartas, instrumentos de trabalho, trajes) que contam a história do genial Antonio Bandeira, ele próprio um símbolo de renovação.

Promovida pela Fundação Edson Queiroz, a exposição tem curadoria de Max Perlingeiro. Dentre as peças expostas pela primeira vez estão as pinturas realizadas em Fortaleza, antes da ida de Antonio Bandeira à Europa (1942 a 1945); obras realizadas no Rio de Janeiro (1945 a 1946); coleção de desenhos produzidos na Academia de La Grande Chalmière, em 1946, Paysage Désolée, de 1955; o tríptico Sol e Paisagem Azul, Paris, de 1966; uma rara pintura sobre papel pintada na Toscana, Itália; pinturas feitas em Londres e a sua grande produção de abstratos feitos em Paris entre 1964 e 1967, incluindo as últimas obras encontradas no seu ateliê, em Paris.

Pela primeira vez, o público cearense verá ainda as únicas imagens em movimento conhecidas de Bandeira. O documentário Fazedor de Crepúsculo, de 1960, foi filmado em 16mm pelo artista João Maria Siqueira, na fundição Santa Isabel e na Praia do Mucuripe, em Fortaleza, porém não chegou a ser finalizado devido ao falecimento prematuro do artista, tendo sido recuperado pela cineasta Margarita Hernandez no ano passado. "Sem dúvida, trata-se da exposição mais completa de Bandeira", avalia Max Perlingeiro.

Sobre Antonio Bandeira
Antonio Bandeira (Fortaleza,1922-1967) foi pintor, desenhista e gravador, com um grande reconhecimento na arte brasileira e mundial do século 20. Em 1946 recebeu bolsa de estudos do governo francês e viveu em Paris até 1950. Retornou ao Brasil em 1951, onde permaneceu até 1954. A partir desta primeira temporada em Paris, Bandeira alternou sua vida entre o Brasil e a França.

Sua produção pode ser dividida em duas fases: a figurativa, de 1940 a 1947, em que representa paisagens e naturezas-mortas, e a abstrata, a partir de 1947, mais especificamente a abstração lírica, gênero que o consagrou. Esta transição foi influenciada principalmente pela parceria com o pintor alemão Alfred Otto Wolfgang Schultz, conhecido como Wols.

Sobre o Espaço Cultural Unifor
Ora a vanguarda da cultura artística local, ora o melhor da tradição na arte mundial. É assim no Espaço Cultural Unifor, onde alunos, professores e a comunidade em geral descobrem e apreciam gratuitamente a arte. Situado no 2º piso da Reitoria da Universidade de Fortaleza, o local foi inaugurado oficialmente em 1988. Em 2004, passou por uma reforma física, tendo sido reaberto com a Mostra Raimundo Cela, uma homenagem ao cinqüentenário de morte do artista cearense.

Ao longo da sua existência, o Espaço abrigou várias exposições, como Arte Brasileira nas Coleções Públicas e Privadas do Ceará, Unifor Plástica, História do Ceará em Obras Sacras e Decorativas, Mirabolante Miró, Rembrandt e a Arte da Gravura e mais recentemente Rubens, o Gênio do Barroco e sua Obra Gráfica.

Serviço
Mostra: Antonio Bandeira
Local: Espaço Cultural Unifor
Endereço: Av. Washington Soares, 1321 – Bairro Edson Queiroz, Fortaleza/CE
Período: De 28 de outubro 2008 a 22 de fevereiro de 2009
Horário: Das 10h às 20h, de terça-feira a domingo
Entrada Franca




Exposição Fotográfica "Nóias Urbanas"

Os interessados em fotografia universitária poderão conferir, no Museu da Imagem e do Som (MIS), a Exposição Fotográfica NÓIAS Urbanas. As fotografias expostas são as selecionadas para a II Mostra NÓIA de Fotografia Universitária, realizada no NÓIA 2007.
"Cada uma das imagens traz uma leitura bem peculiar sobre as realidades em constante mutação que permeiam as várias cidades escondias dentro de uma mesma cidade", explicou Júnior Ratts, diretor de comunicação do Nóia e da Mostra. A Exposição permanece aberta ao público até o dia 16 de janeiro de 2009.
Além da Exposição Nóias Urbanas, o Nóia adianta como vai ser o festival: já recebe inscrições para oficinas educativas e divulga os trabalhos selecionados para as Mostras Competitivas de Cinema, Fotografia e Música, que acontecem entre 21 a 29 de novembro, no Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro (Cine São Luiz), no SESC SENAC Iracema, SESC Fortaleza e Museu da Imagem e do Som (MIS). Confira os resultados da seleção: festivalnoia.com
VII Nóia - Festival Brasileiro de Audiovisual Universitáriode 21 a 29 de Novembro de 2008entrada francainfo: (85)3474-2174 ou noia_festival@yahoo.com.br e festivalnoia.com




Obras do Salão de Abril vão aonde o povo está

Diálogo com a cidade é a principal característica da 59ª edição do evento

Vídeos que convidam os olhos através de um buraco na parede. Pontos de luzes azuis sustentados por fios emaranhados. Intervenções de aquarela em fotografias e instalações com potes de barro. Desenhos em nanquim e guache sobre papel e esculturas que misturam materiais como chumbo, ferro e couro. Todas essas obras, e muitas outras, podem ser apreciadas por meio do 59º Salão de Abril, evento realizado pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, através Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor), no Centro de Referência do Professor (CRP) e em dois terminais de ônibus da cidade: Papicu e Siqueira.

Mas não só. A partir de hoje, em qualquer lugar, qualquer um pode se surpreender com a obra "À deriva", de Milena Travassos. A artista promete deixar garrafas soltas em orelhões, balcões e esquinas para serem encontradas e, a partir daí, "habitar os indivíduos e a cidade de maneira sutil e poética", como a própria artista define o seu desejo.

Outros cantos de surpresa e encantamento são os terminais de ônibus do Siqueira e do Papicu, lugares de passagem, mas que acolhem uma arte que saiu do cubo branco e foi estar no cotidiano dos transeuntes, sem desejar ser romântica ou sagrada, apenas de experiência, de troca. "Essa idéia de levar arte para os terminais é maravilhosa. Faz o povo ver arte mesmo que não queira; isso é democratização da arte", comemora Estrigas.

O artista, presente na noite de abertura do evento, não foi o único a festejar os quase 60 anos da mostra. "Às vésperas de completar 60 anos de existência, o Salão deve ser, mais do que nunca, um espaço de construção de uma política pública ampla e diversificada para as artes visuais. Um símbolo que vem potencializar toda uma vocação para as artes que a cidade expressa das mais diversas formas, seja nos museus, nos ateliês, nas galerias, nas ruas, nas escolas e nos centros culturais espalhados pelos bairros", adiantou Fátima Mesquita, secretária de Cultura de Fortaleza, em seu discurso de abertura do evento. "Sou irmão do Salão de Abril. Já participei de várias formas, desde aluno até curador. Mas hoje vejo que a mostra evoluiu, está levando vantagem sobre as outras nos quesitos infra-estrutura e dignidade oferecida ao artista", finaliza Estrigas.

As artistas Camila Barbosa, de Santa Catarina, e Iara Dewachter, de São Paulo, selecionadas para o 59º Salão de Abril, aproveitaram o pró-labore oferecido pela Secultfor para comparecer à sua noite de abertura. "O evento está com uma montagem muito bem estruturada. E chego aqui e vejo pinturas, esculturas, fotografias... ou seja, um excelente panorama das várias formas de se fazer arte", elogia Camila. "Estou muito feliz com meus vizinhos", brinca Iara. "A curadoria fez um excelente trabalho. O Salão está lindo e o espaço (CRP) é imponente".

As duas integram um elenco formado por 45 artistas representantes da arte contemporânea do Ceará (21), de São Paulo (11), do Rio Grande do Sul (03), Minas Gerais (03), Paraná (03), Santa Catarina (01), Mato Grosso do Sul (01), Pernambuco (01) e Rio de Janeiro (01). Os artistas passaram por um processo seletivo e cada um recebeu um pró-labore de R$ 1,5 mil, tendo em vista que o evento não tem caráter competitivo para dar espaço a um maior número de artistas brasileiros.

Educativo – Um dos maiores desafios da atual edição do Salão de Abril é estar nos terminais de ônibus do Siqueira e Papicu, lugares por onde circulam cerca de 500 mil pessoas por dia. Para isso, a 59ª edição do evento selecionou 20 mediadores, entre estudantes universitários, para dialogar com os transeuntes, propondo-os trocas de saberes e novos olhares sobre a arte. Carol Ruoso, coordenadora da vertente educativa da mostra, acredita que esta novidade vai "estimular o diálogo entre a obra de arte e o indivíduo, a partir da sua subjetividade". De acordo com ela, os mediadores fizeram um curso incluindo noções sobre teorias da arte-educação e a arte contemporânea. Os jovens estudantes também foram preparados para realizarem pesquisas de recepção sobre as percepções da arte nos terminais e sobre a relação do público com museus e galerias.

As duas pesquisas darão base para um estudo sobre a relação do fortalezense com a arte. "Este estudo deve nos ajudar a pautar as ações futuras no campo de artes visuais. E esse é só um primeiro passo na discussão ampla e coletiva que queremos retomar nesta área. Vamos construir juntos essa política, justamente para que todos se sintam responsáveis e artífices", revela Fátima Mesquita.

Para Maíra Ortins, organizadora do evento e coordenadora de Artes visuais da Secretaria de Cultura de Fortaleza, a 59ª edição do Salão de Abril é uma montagem ambiciosa. "Estamos em espaços não convencionais e mesmo o convencional foi todo reformado e adequado para receber o evento. O sucesso desse evento já é visível no olhar de quem transita pelos terminais. Desde já, o Salão já cumpre sua missão de democratizar a arte".

Serviço
>Centro de Referência do Professor (Rua Conde D'Eu, 560, Centro)
Período de exposição: de 15 de outubro a 23 de novembro
Visitação: de segunda a sexta, das 8h às 20h, e sábados, das 8h às 15h30

>Terminais de ônibus Siqueira e Papicu: diariamente e sem limitação de horário




Exposição individual de Eduardo Frota sintetiza a dialética entre a transparência e a opacidade

O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108) abriu mês passado a exposição individual “Objeto In Situ”, do artista visual Eduardo Frota.

Com uma estrutura gigantesca construída em madeira e acrílico, a intervenção de Eduardo Frota no espaço expositivo do CCBNB-Fortaleza sintetiza a dialética entre transparência e opacidade. Gratuita ao público, a exposição fica em cartaz até 30 de novembro deste ano (terça-feira a sábado, de 10h às 20h; aos domingos, de 10h às 18h).

Uma indiscreta não-moldura para o vazio (texto de Carlos Augusto Lima)

Aqui não há nada para ver. Não espere a obrigação de sentido, assim tão impulso, certeza, precisão. Não espere um objeto. Isto não é um objeto. Mas é. E seu lugar é estranho, sua função invasiva neste espaço feito de outro cálculo. Como foi parar ali, nesse lugar que foi pensado para ser o que não é? Lugar que tem a memória da ruína. Ruína monetária. Ruína que se avizinha, se noticia, apavora, dado da incerteza, quinhão que escoa num triz.

Este objeto não é um espetáculo. Não há espetáculo. Não é o máximo, nem o mínimo. Este objeto não se diz. O que ele trava de conversa é com o lugar. Lugar da memória que se monetariza, que não é mais, pensado para ser o que não é. Pode ser que tudo não passe de uma investigação do lugar. O objeto discute o lugar. Você pode ouvi-los? Chegue mais perto, escute, perscrute, torne o passeio, as brechas são largas, olhe para os contornos, erga a cabeça, erga a cabeça e olhe para cima, sinta o cheiro, toque, passe por cima, brinque, se possível, de esconder, de mostrar, de mostrar. Há os contornos da luz, seus reflexos, algo que rebate e parece anunciar. Mas só parece.

O mais importante: esteja vivo entre o lugar e o objeto. Esteja presente nesta escala improvável, geometria às avessas. Esteja presente, pois tudo tende a desaparecer. Este objeto irá desaparecer, já que, de alguma forma e fundamento, ele não comporta outro lugar. Não há para onde ir. Esta investigação do espaço e do objeto é no agora. Esta provocação do espaço e do objeto estará brevemente em suspenso. Uma memória, uma indiscreta e particular não-moldura para o vazio.

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