Nos três último anos, mais de 300 projetos de artistas locais foram viabilizados com recursos públicos
Em 2006, o músico, pesquisador e DJ Éden Barbosa foi um dos selecionados pela primeira edição dos Editais das Artes da Fundação de Cultura, Esporte e Turismo da Prefeitura Municipal de Fortaleza para realizar um curso de roadies (técnico de palco). Com o incentivo, o também arte-educador formou 20 novos profissionais. Hoje, segundo o artista, 10 desses alunos, todos jovens de baixa renda, estão inseridos no mercado de trabalho. "Os festivais PontoCE e Forcaos foram fundamentais para acolher e impulsionar a carreira dessa meninada", comemora o educador.
Éden foi um dos 138 artistas selecionados pelos Editais das Artes 2006, que contemplou projetos nas áreas de artes visuais (20), audiovisual (12), dança (15), fotografia (14), literatura (19), música (21) e teatro e circo (37). À época, a Funcet, hoje Secretaria de Cultura de Fortaleza, realizou um investimento na ordem de R$ 2 milhões, conduzido na contramão do clientelismo – o que garantiu a democratização dos recursos públicos investidos em Cultura, a transparência no uso desses recursos e a divisão eqüitativa e qualitativa do bolo orçamentário. "Os editais estaduais e federais, como o do MinC, a Lei Rouanet, ainda parecem um 'Santo Graal' para a maioria dos artistas. Acho que a Secultfor vem deixando mais claro a forma de acessar os recursos, mostrando o que fazer e como fazer", avalia Éden.
Já na sua segunda edição, os Editais da Cultura 2007 passaram a abranger 15 categorias. Às linguagens de teatro, circo, dança, audiovisual, artes visuais, literatura, fotografia e música se somaram seis novas: mídias digitais; expressões da cultura tradicional popular; pontos de cultura; cultura e pensamento (voltado a seminários e debates de caráter cultural); abertura de acervos privados para uso público e carnaval. Juntas, estas categorias somaram um investimento de mais de R$ 4 milhões ao aprovar 174 projetos.
Resultado de uma ampla discussão entre artistas de diversos segmentos culturais e o poder público municipal, a política de editais consolida-se como um instrumento indispensável ao fomento e à circulação da produção cultural em Fortaleza. "Esta ação da Prefeitura é muito oportuna, uma vez que os incentivos para o artista local ainda são muito precários. É tanto que ainda hoje nos deparamos com situações em que vários artistas e grupos independentes têm que sair daqui para que seu trabalho seja valorizado e reconhecido", pondera Francisco Vanildo, integrante do grupo Dona Zefinha. O Dona Zefinha foi selecionado pelo Edital das Artes 2007, na categoria Manutenção.
"Efeito Edital" – Shows, exposições de artes visuais e fotográficas, seminários de cultura, apresentações teatrais, de circo, dança e de manifestações da cultura popular tradicional, lançamento de livros e revistas, exibições e realizações de filmes, criação de pontos para produção e fruição da arte. Os artistas e o público confirmam: existe um "efeito edital" na aura cultural de Fortaleza. "A cidade está massa. Moro há nove anos aqui e nunca tinha visto tanta movimentação artístico-cultural como a que tem acontecido nos últimos três anos", comemora Ninno Amorim, mestrando em antropologia pela UFC e natural de Pernambuco.
Ninno cita especialmente o Mercado dos Pinhões, lugar que se tornou referência de lazer e cultura para os moradores de Fortaleza, tanto por abrigar eventos praticamente diários quanto por acolher resultados dos editais nessas programações. "Como artista e consumidor da arte, percebo uma grande diferença na área da cultura em nossa cidade, percebo isto em vários aspectos: na alegria dos artistas em poder ter acesso a espaços culturais para mostrarem seus trabalhos; na alegria dos apreciadores de arte que podem desfrutar de várias opções de lazer; no mercado de trabalho ligado a arte se movimentando, como é o caso dos técnicos de som e luz que estão conseguindo manter uma rotina de trabalho razoável; no movimento no setor de produção cultura, tanto de empresas como produtores independentes. Ou seja, quando se investe em cultura está se investindo em uma cadeia produtiva muito complexa e promissora, porque a cultura é um meio de sobrevivência para muitas pessoas e portanto é indispensável à sobrevivência de um povo, tanto por gerar conhecimento e prazer, como renda, emprego, formação e inclusão social", finaliza Francisco Vanildo.
“Casa das escolas” da Vila das Artes será inaugurada sexta
Local recebe Nelson Brissac, Silvio Da-Rin e promove 80 horas de exibição a partir de amanhã
A Vila das Artes toma forma e é motivo de festa no próximo dia 19, a partir de 17h, quando da inauguração da chamada “casa das escolas”, onde passam a funcionar as escolas públicas de audiovisual e dança, além do Núcleo de Produção Digital (NPD). Convidados especiais, o filósofo e professor Nelson Brissac (PUC-SP) e o titular da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura, cineasta Silvio Da-Rin, vêm somar pensamento crítico à programação feita de intervenções artísticas diversas e 80 horas ininterruptas de exibição de filmes nacionais, mostra especialmente concebida em alusão aos 80 anos de cineclubismo no Brasil e que também trará a Fortaleza, no dia 23, o presidente do Conselho Nacional de Cineclubismo, Claudino de Jesus.
A Mostra 80H é composta de curadorias diversas. A Associação Cearense de Cinema e Vídeo (ACCV) seleciona curtas cearenses, enquanto a ONG Aldeia elenca curtas de caráter social. A GIA se encarrega dos vídeos ambientais; o Concine - Conselho de Cinema Cearense - traz filmes que ainda não foram exibidos no circuito cearense. Do projeto Cinema de Canto a Canto, promovido pela Prefeitura de Fortaleza, através da Secultfor, vêm os filmes sobre diversidade sexual. O Núcleo de Produção Digital da Vila das Artes exibe longas cearenses (Sunland Heat, Subversivos, Sábado à Noite, Cadáveres 2, Borracha para Vitória, Profeta da Chuva, Milagre em Juazeiros) e o Sesc Fortaleza entra na grade com filmes infantis.
A Casa de Cinema de Porto Alegre participa com uma mostra de animação e a Rede Olhar Brasil do Ministério da Cultura traz curtas produzidos em parceria com os NPDs do Pará, Paraíba, Minas Gerais e Ceará. Atrações à parte, os longas-metragens Calabar, de Hermano Figueiredo, de Alagoas, e Anjo Preto, de Gui Castor, do Espírito Santo, são lançados em primeira mão. Em meio a filmes, vídeos, performances, intervenções e aulas abertas de dança cênica, o debate de idéias na noite do dia 19, mediado por Nelson Brissac e Silvio Da-Rin, problematiza questões ligadas à produção artística, cidade e poder público.
A Vila das Artes, lugar de formação, produção, difusão e reflexão em torno das diversas linguagens artísticas, é uma conquista compartilhada entre a classe artística e a Prefeitura Municipal de Fortaleza, articuladora de parcerias entre o poder público e a iniciativa privada. A conclusão das obras e abertura da primeira das três edificações que a compõem representam um marco na consolidação de uma política cultural atenta à necessária criação de novos espaços de formação artística na cidade. Com a inauguração da “casa das escolas”, aulas e programas que há dois anos aconteciam em espaços franqueados por parceiros como a Universidade Federal do Ceará (UFC), SENAC, Casa Amarela Eusélio Oliveira e Alpendre, passam a dividir um mesmo espaço físico, potencializando a fruição, a troca e a apreensão de conteúdos.
Antigo casarão da família Leite Barbosa Pinheiro, projetada em 1954 pelo arquiteto Jaime Vieira, em estilo Maneirismo, a "casa das escolas" foi desapropriada pela Prefeitura em dezembro de 2005. Requalificada à luz de seu desenho original, também vem comportar auditório, videoteca, biblioteca, sala de leitura, ateliê, ilha digital, salas de aula para os cursos de formação e outros espaços internos e ao ar livre que serão usados para atividades culturais gratuitas e programas de extensão das escolas e do Núcleo de Produção Digital já existentes, tais como o Cineclube Vila das Artes, que exibe todas as quartas-feiras filmes de arte em sessões gratuitas; o Debates Incalculáveis, que uma vez por mês traz à cidade pesquisadores, artistas, cineastas ou professores para conversas abertas ao público; o Cinema de Canto a Canto, que aposta nas exibições em praças públicas; o Pontos de Corte, que forma agentes culturais e exibidores independentes; o programa Aulas Abertas de dança cênica, que mensalmente convida um profissional da área para workshops; o Cursos Livres, voltados ao aprimoramento técnico para realizadores e profissionais do audiovisual; o Apoio à Produção Audiovisual, que possibilita o empréstimo de equipamentos para realização de produções audiovisuais; a Consultoria a Projetos Audiovisuais, que vem orientar interessados em inscrever projetos ligados ao audiovisual em editais afins e o Circulando Brasil, que garante o envio gratuito de vídeos e filmes para festivais nacionais e internacionais.
Serviço: Inauguração do Bloco I da Vila das Artes – Rua 24 de Maio, 1221 - Centro. Em frente à Faculdade de Direito da UFC. Dia 19, a partir de 17h. Mais informações com Katia Karan, assessora de comunicação da Vila das Artes-Secretaria de Cultura de Fortaleza: (85) 3105-1402 | (85) 8899-8705
PROGRAMAÇÃO
Dia 19 de setembro (sexta-feira)
17h - aula aberta de dança com a bailarina Willemara Barros
Exposição "Bicho de Ferro de Beto Gaudêncio
18h – apresentação do resultado da Residência de Composição Coreográfica, do programa Aulas Abertas, com Fauller e Willemara Barros.
Projeção de Vídeos dos alunos do projeto Pontos de Corte.
19h – Vídeo - instalação "Quando o céu beija a terra", "Lavagem do Barão", " O Muro" e a instalação "Velocine#1". Projeção do filme Arqueologia e Arquitetura do Ateliê Imagem e Alteridade e exibição dos vídeos dos Ateliês dos alunos do curso de extensão em Audiovisual.
19h30min – espetáculo de dança com a Companhia de Dança Janne Ruth de Fortaleza e performances.
20h – Solenidade de Inauguração - Conversa com o professor da Pontifica Universidade Católica de São Paulo (PUC), Nelson Brissac, sobre a relação entre produção artística, cidade e poder público e Sílvio Da – Rim, cineasta e Secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura.
Dia 20 de setembro (sábado)
11h – abertura da Mostra 80H
14h – Mostra Comentada de Vídeo Dança com o pesquisador, professor e videomaker, Alexandre Veras.
Dia 22 de setembro (segunda-feira)
19h - início do módulo Dança e Ensino, do curso de extensão da Escola Pública de Dança com a pesquisadora e professora Isabel Marques. Inscrições gratuitas para alunos ouvintes de 15 a 19 de setembro através do email escoladedancadefortaleza@gmail.com.
Dia 23 de setembro (terça-feira)
20h - encerramento da Mostra 80H e palestra com o presidente do Conselho Nacional de Cineclubismo, Claudino de Jesus.
Dia 26 de setembro (sábado)
20h – Intervenção urbana no Bar do Feitosa (rua Adolpho Herbster 235 – Benfica), pelo grupo Intervenções Humanas, do projeto Pontos de Corte.
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