segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

POLÍTICA CULTURAL

Tribunal pede esclarecimentos sobre Réveillon em Fortaleza

O Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará enviou ofício à Secretaria de Turismo de Fortaleza com pedido de informações sobre a festa de Réveillon organizada pela prefeitura da cidade.

A comemoração, que ocorreu na praia de Iracema, teve shows de Caetano Veloso, Mart'nália e do grupo Biquini Cavadão.

Segundo publicação do "Diário Oficial" do município, foram gastos R$ 714 mil apenas com o show de Caetano. As despesas incluem o cachê do cantor, hospedagem para toda a equipe (19 apartamentos), 20 passagens aéreas, alimentação e transporte para todo o grupo. O cantor, porém, fez um show no estilo "banquinho e violão" (sem banda) na virada. A revista Veja dessa semana divulgou que Caetano ganhou um cachê sete vezes menor para fazer o mesmo show no interior de São Paulo.

Segundo a assessoria de imprensa do TCM, o ofício foi enviado de forma "preventiva". Só haverá um procedimento suplementar se for identificada alguma suspeita de irregularidade nos contratoss.

A assessoria de imprensa da secretaria de Turismo informou que ainda não recebeu o documento e destacou que o valor gasto não foi apenas com o cachê do cantor.

A partir do recebimento do ofício, a pasta terá 15 dias para se manifestar. Desde o começo da gestão de Luizianne Lins são feitos shows milionários em diversas datas comemorativas da cidade, todos sem o uso de licitação.






O novo Secretário de Cultura do Ceará


Depois de Auto Filho, ex-Vice Governador vai para a Secult

Pela terceira vez consecutiva um professor universitário deverá comandar a Secretaria de Cultura do Ceará. Doutor em História Social e atual vice-governador do Estado, Francisco Pinheiro foi escolhido para assumir a pasta, gerida nos quatro últimos anos pelo filósofo Auto Filho. Ambos integram os quadros do Partido dos Trabalhadores (PT). O anúncio foi feito esta semana na residência oficial do governador, no bairro Meireles.
Nos quatro anos da gestão de Auto, o Professor Pinheiro (como é mais conhecido) foi presença garantida nos eventos promovidos pela Secult, quase sempre representando o governador Cid Gomes. O nome de Pinheiro já havia aparecido entre os rumores que falavam sobre quem assumiria a pasta, mas ele afirmou em coletiva que seu nome foi definido para o cargo na noite de domingo (26.12). Apesar disso, na coletiva de divulgação do novo secretariado, ele demonstrou já ter se familiarizado com os temas da pasta. Cid Gomes afirmou ter "total convicção que Francisco Pinheiro vai fazer um bom trabalho, porque ele tem o perfil da secretaria. Ele foi feito pra ela".
Pinheiro procurou explicar sua identificação com a pasta: é professor de História e começou sua carreira política dentro da Secult, trabalhando com a parte de patrimônio e museus. "O professor Auto Filho fez um grande trabalho na área do livro e da leitura. Pretendemos dar continuidade a ele, mas também ampliar o Sistema de Museus", antecipou. O vice-governador revelou que manterá o diálogo com Auto Filho, para ficar a par dos atuais projetos e desafios da Secult. Pinheiro garantiu a continuidade da política de editais ("a mais republicana que existe") e o interesse em dialogar com a categoria do audiovisual, por ainda não ser muito familiarizado com a área.
Francisco Pinheiro é natural de Jaguaribe, município a 308 km de Fortaleza. Graduou-se em História na Universidade Federal do Ceará, onde integra o quadro de professores. Apesar de sua carreira como pesquisador, seu nome é, de fato, conhecido pela trajetória política no PT. Foi, por dois mandatos, presidente do diretório municipal da sigla. Em 2004, já eleito vereador, Francisco Pinheiro aglutinava os cargos de professor da UFC, presidente do diretório municipal do PT e de articulador das negociações políticas da candidatura de Luizianne Lins no segundo turno.









Professor Pinheiro fez reunião com Conselho Estadual de Cultura

O novo secretário Francisco Pinheiro participou na tarde desta segunda-feira, 10, da primeira reunião de 2011 do Conselho Estadual de Cultura. Durante a reunião, foi indicado, através de votação, o nome do representante da categoria literatura, Antonio Crisóstomo Damasceno Filho, para representar o Conselho Estadual no Conselho Municipal de Cultura de Fortaleza, também foi indicado como suplente Afonso Celso Pereira Cavalcante, que representa a categoria audiovisual.

Os conselheiros deliberaram ainda a alteração para encontros bimensais do Conselho, com a proposta feita pelos representantes dos fóruns regionais de uma futura discussão sobre alternativas de interiorização das reuniões

O representando do governo, Jackson Coelho, informou durante a reunião que a Universidade Estadual do Ceará lançou o primeiro edital de bolsa de iniciação artística e sugeriu que seja discutido através da Secult e da Funcap um sistema de bolsa de iniciação artística, a exemplo do sistema de iniciação científica. O secretário Francisco Pinheiro recebeu a ideia com entusiasmo e disse estar aberto à discussão do tema.

Diálogo será a marca da Pasta de Cultura na gestão Professor Pinheiro

Professor Pinheiro, que como vice-governador promoveu um grande diálogo com a sociedade através do PPA Participativo e Regionalizado, agora na Secretaria da Cultura, inicia suas atividades dando o mesmo tom, e, para isso, uma de suas primeiras ações tem sido um roteiro pelos equipamentos culturais do Estado, a fim de conhecer melhor suas ações e equipes. O roteiro de visitas iniciou-se na primeira semana de janeiro, pelo Instituto Dragão do Mar, onde o Secretário reuniu-se com as equipes do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Centro de Cultura Bom Jardim e Instituto de Artes e Ofícios, que apresentaram suas ações e projetos. Já nesta quinta-feira,6, o Secretário esteve em visita ao Arquivo Público e a Biblioteca Pública Governador Bezerra Pimentel, onde teve a calorosa recepção de ex-colegas, pois Pinheiro trabalhou nos dois órgãos, e é frequentador assíduo como pesquisador da história cearense desde a década de 70. As diretorias dos equipamentos já haviam, antecipadamente encaminhado relatórios sobre projetos e necessidades de suas estruturas, porém, Pinheiro fez questão de ver pessoalmente as condições e o trabalho que estão sendo desenvolvidos.










“É tempo de olhar para quem está criando”

Ana de Hollanda, nova Ministra da Cultura

A frase da ministra Ana de Hollanda em seu discurso de posse, para uma plateia repleta de artistas, ativistas, políticos e muitas autoridades, dá o tom do novo Ministério da Cultura. A noite chuvosa de Brasília não conseguiu estragar a grande comemoração que marcou a despedida de Juca Ferreira do Ministério da Cultura e a estreia de Ana de Hollanda como a primeira mulher a ocupar o cargo de Ministra da Cultura do Brasil. O cerimonial armado por Juca Ferreira exaltava a sua própria presença. A cena, no entanto, foi delicadamente roubada por uma figura aparentemente frágil, de fala suave, porém firme, delicada e, ao mesmo tempo, ousada – como ela própria se define. Ana de Hollanda impôs-se com seu discurso assertivo, direto, em defesa dos artistas e criadores de todo o Brasil.

Não se trata de um deslocamento de eixo de atuação do MinC, que voltaria a viver de e para os artistas, exclusivamente. O povo brasileiro continua sendo o beneficiário de todas as ações, mas com visão e sensibilidade para os criadores, artistas, construtores do campo simbólico – que nos define como povo e nação.

Diversidade finalmente reencontra sua irmã Criatividade. O pecado de viver do ofício da arte, com autonomia, sem dependência do balcão do Estado, encontra virtude ao lado da valorização do simbólico, dos saberes e fazeres em todos os cantos do país. Um saber que pertence ao povo, a cada um, e não ao governo.

Interessante a maneira como Ana de Hollanda eleva o MinC ao lugar mais estratégico que um governo poderia ter. Em vez de brigar por atenção, distinção, reconhecimento do próprio governo e da sociedade, Ana quer colaborar com os grandes desafios e metas do governo Dilma. Erradicar a miséria, qualificar as classes emergentes, estimular não só o consumo de eletrodomésticos, mas também de bens e ativos culturais. Exalta, pede apoio ao Vale Cultura.

Descentralizar, investir nos municípios, na construção da imagem do país no exterior: metas compartilhadas. A associação com as políticas de educação também recebe um novo tratamento, de contribuição com os desafios, qualificação dos processos, interlocução e mediação com a comunidade.

Pensar, fazer e escutar. Este será o novo estilo do MinC de Ana de Hollanda. E proclama: “não existe arte sem artistas”.









Brasil lidera economia da cultura na AL

Leonardo Brant

O Brasil é o país da América Latina com o maior saldo positivo no comércio exterior de produtos e serviços ligados à indústria criativa – que abrange áreas tradicionais da cultura (como música, TV, cinema e artes plásticas), mas também artesanato, comunicação, design, arquitetura e itens ligados às novas tecnologias. Em 2008, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 1,74 bilhão, segundo o Relatório de Economia Criativa de 2010, publicado pelo PNUD e pela UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).

Das 13 nações da região com volumes mais expressivos de fluxo comercial nessa área, apenas quatro registraram superávit: Peru (US$ 251 milhões), Argentina (US$ 55 milhões) e Bolívia (US$ 4 milhões), além do Brasil. Os maiores déficits são de Venezuela (US$ 2,19 bilhões) e México (US$ 1,51 bilhão).

Ao longo dos seis anos analisados no estudo, o Brasil aumentou tanto o volume de exportação quanto o de importação de bens e serviços ligados à indústria criativa. Mas o grande responsável pelo resultado brasileiro são os serviços, cujo superávit saltou de US$ 477 milhões em 2002 para US$ 2,24 bilhões, em 2008.

No período analisado, o país foi sempre o que mais importou e mais exportou serviços da indústria criativa na América Latina, e registrou superávit todos os anos. O segmento que mais alavanca as exportações é o arquitetônico, que em 2008 respondeu por 88% das vendas (US$ 5,59 bilhões) e 71% das compras (US$ 2,92 bilhões).

Nos produtos o cenário é um pouco diferente. O Brasil tem grande participação nessa área, mas fica atrás do México – as exportações mexicanas alcançaram US$ 5,17 bilhões, e as brasileiras, US$ 1,2 bilhão. O país vizinho aos Estados Unidos, contudo, também importa mais (US$ 6,54 bilhões em 2008, contra US$ 1,72 bilhão do Brasil) e tem déficit maior. A balança comercial brasileira de produtos da indústria criativa vinha sendo positiva até 2007, mas ficou no vermelho em 2008 (déficit de US$ 506 milhões).

Carnaval

O estudo da UNCTAD e do PNUD afirma que o Carnaval é um dos principais impulsionadores da indústria criativa no Brasil. O impacto se dá pela “produção direta de artigos e performances gravadas para a venda para a população local e aos turistas, e pelos efeitos indiretos dos gastos dos turistas cujas visitas foram estimuladas pelo Carnaval”.

A festa ajuda ainda a desenvolver as habilidades dos artistas locais, e impulsiona a venda de produtos e de negócios elaborados por conta da celebração. “O Carnaval oferece uma concentração de performances de música e dança ao vivo e gravadas que têm um significado cultural considerável para o público nacional e internacional”, destaca o relatório.

Uma pesquisa, mencionada no estudo, sobre a cadeia associada ao Carnaval no Rio de Janeiro aponta que a festa, com retorno anual estimado em US$ 600 milhões, emprega quase meio milhão de pessoas e tem impacto direto e indireto na economia, não apenas da cidade, mas do estado.

Outra contribuição para o aumento das exportações de bens e serviços criativos na América Latina foi a retomada da produção cinematográfica na região, particularmente em Argentina, Brasil e México. Porém, o relatório avalia que os filmes nacionais continuam lutando por um espaço na tela com os grandes sucessos estrangeiros. Raramente ficam entre os dez mais vistos nos países, e a participação deles no mercado fica bem atrás das produções internacionais.

A novela é outro produto que ajuda a impulsionar a economia criativa latino-americana. “Na produção televisiva, há casos de sucesso, como a Televisa, no México, e a TV Globo, que são os maiores exportadores de programas de televisão – em sua maioria, novelas – para mercados mundiais”, diz o texto.

* Com informações do PNUD.






Parceria MinC/RNP viabilizará laboratórios experimentais em arte, cultura e tecnologia


Andrea Lombardi

Um Termo de Cooperação firmado pelo Ministério da Cultura (MinC) com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), no final de dezembro, vai possibilitar a implantação de redes nacionais de laboratórios experimentais em arte, cultura e tecnologia e de cinemas digitais universitários. O termo garante a primeira etapa do Programa de Pesquisa e Inovação em Cultura, Arte e Tecnologia e permite que o MinC passe a integrar o contrato de gestão firmado entre a RNP e os ministérios da Educação (MEC) e da Ciência e Tecnologia (MCT).

O coordenador-geral de Cultura Digital do MinC, José Murilo Junior, considera que além de promover a interligação com outros produtores de conteúdo digital em nível ministerial, como MEC e MCT, outro ganho que a entrada do MinC no consórcio traz é o fato de que, agora, o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL) discute não apenas a infraestrutura de rede, mas também o que vai passar por ela. “O Ministério da Cultura introduziu a reflexão sobre o conteúdo no âmbito do PNBL”, diz Murilo.

O MinC vai destinar, inicialmente, R$3,8 milhões à RNP. A previsão é de que até o final de 2011 os primeiros projetos pilotos estejam interligando unidades da Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) e Museus do Rio de Janeiro e São Paulo, além de cinemas universitários de vários pontos do país.

A rede de laboratórios experimentais em arte, cultura e tecnologia vai propiciar à comunidade de produtores e pesquisadores do segmento artístico e cultural uma plataforma digital capaz de suportar o desenvolvimento de projetos experimentais de softwares e hardwares e, também, a realização de obras e espetáculos.

Já a rede de cinemas universitários deve permitir a difusão de conteúdos audiovisuais entre a Cinemateca Brasileira, vinculada do MinC, e os cinemas e salas de exibição das instituições de ensino superior. “Vai se constituir em um espaço de experimentação para a comunidade acadêmica da área da Ciência da Computação que trabalha com problemas relativos à distribuição de conteúdos audiovisuais em rede”, explica Murilo.

A cooperação RNP/MEC/MCT/MinC e suas vinculadas, por meio desses laboratórios, vai garantir que o país possa uniformizar os protocolos de rede utilizados pelas diversas entidades públicas. O objetivo não é só melhorar a preservação e a integração de acervos culturais, mas especialmente promover a sua difusão e a ampliação do acesso.

“Isso está alinhado às diretrizes do Plano Nacional de Cultura (PNC) aprovado recentemente pelo Congresso Nacional, que reconhece a inovação científica como um valor estratégico para a cultura e que a internet de banda larga é decisiva à produção e difusão da Cultura Digital”, diz o coordenador do MinC.

A RNP é uma organização social, e por isso pode firmar contrato de gestão com o poder público. Opera uma rede de Internet de longa distância, baseada em tecnologia de transmissão óptica, conhecida como rede Ipê, e é voltada para a comunidade brasileira de ensino e pesquisa, que agora estará integrada às instituições públicas de promoção e difusão da Cultura.

O Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), a cargo do Ministério das Comunicações, tem por objetivo, entre outros, acelerar a inclusão dos brasileiros na moderna Sociedade da Informação e contribuir para a evolução das redes de telecomunicações do país com vistas aos novos modelos de tecnologia e arquitetura de rede mundial











MinC terá orçamento 20% maior em 2011

Andrea Lombardi


Mais de R$ 1,6 bi. Esse é o orçamento do Ministério da Cultura para o ano de 2011, que foi enviado ao Congresso Nacional. Esse valor representa um aumento de 20% em relação ao orçamento de 2010, orçado inicialmente em pouco mais de R$ 1,3 bi. Mas o valor investido na área ultrapassou os R$ 2,2 bilhões, pois emendas parlamentares garantiram um aumento de R$ 855,6 milhões.

Do total de R$ 2,2 bi, cerca de 80%, ou seja, R$ 1,8 bi fazem parte do chamado orçamento discricionário, que exclui os gastos obrigatórios (pessoal, dívida, precatório). Os valores disponibilizados para cobrir esses custeios não ultrapassaram os R$ 500 milhões.

Do orçamento inicial, de R$ 1,8 bi, R$ 942 milhões foram autorizados e R$ 827 milhões estavam empenhados em 24 de novembro. Ou seja, não haviam sido pagos, mas estavam reservados para provimento de ações, programas e políticas do Ministério.

Já o orçamento do Fundo Nacional de Cultura em 2011 será de mais R$ 326 milhões. Desde agosto, lei sancionada pelo então presidente da República Luiz Ignácio Lula da Silva, protege os recursos do FNC. O Ministério da Cultura conseguiu, em negociação com o Congresso Nacional, criar uma emenda protegendo o FNC de qualquer forma de contingenciamento.

Em 2007, foram disponibilizados R$ 472,8 milhões do FNC para serem investidos em programas e projetos culturais no ano de 2008. O valor investido em 2009 – aprovado em 2008 – subiu para R$ 523,3 milhões. No ano de 2010 – aprovado na LDO de 2009 – o Ministério da Cultura conseguiu R$ 898,1 milhões para o FNC.










A Lei Rouanet estimula o fracasso, o roubo e a estupidez

Carlos Henrique Machado Freitas


Passados quase vinte anos nos quais assistimos o discurso de mais e mais recursos para a cultura via Lei Rouanet, presenciamos um festival de fracassos e chegamos à conclusão de que, na prática, essa lei não atende à cultura brasileira, mas sim à falsificação exótica até mesmo para o capitalismo cultural.

Sabemos todos que, para que continuem captando dinheiro público com fartura e irresponsabilidade, eles caem no apelo barato de buscar frases carregadas de clichês sempre adornados por acusações obscurantistas de nazismo, fascismo, stalinismo, na tentativa de provocar sensações fortes.

O fato é que, por falta de argumentos para justificar tanta lambança e roubos, a cultura brasileira viveu nas mãos do empreendedorismo de captação viciado e dependente da Lei Rouanet.

O debate sobre cultura no Brasil anda pela hora da morte, chegando perto do inferno com cacoetes detestáveis. A isso alguns ainda chamam de eficiência. Ora, há um retrocesso na essência do pensamento provocado pelo assunto de financiamento eterno, como se a cultura tivesse que, por excelência, viver desse “bicho” nacional que é a Lei Rouanet. Isso só funciona, para alguns que fazem da captação de recursos carreira e indústria de compadrio, o que não tem qualquer valor para a cultura brasileira, ao contrário, joga a cultura que tem uma função social fundamental para o país, numa condição dramaticamente inferiorizada.

Os captadores que ficam nessa gritaria, parecem mais sacerdotes ambulantes a caça de dinheiro. Eles pensam enganar a quem? Seus processos discursivos não escondem a ganância. Uma usina universal de fumaça não consegue mais esconder a barbaridade que criou um ciclo antieconômico na cultura brasileira. Eles ainda têm a petulância de, não satisfeitos em falar em “mercado cultural” em seus sermões, propõem, com a maior cara de pau uma polifonia industrial da cultura como a grande “sagração da primavera”. Piada, não?

Ora, isso é ridículo! Além de não ter nenhuma grandeza social e nem valor ético, coincide com uma sorumbática forma de promover cultura no Brasil. Tudo soa falso nessa escala exótica que não esconde sua sede de dinheiro público farto e contínuo. Eles são deficientes em qualquer forma de pensamento cultural, e ainda dizem ter força para organizar a cultura nacional! Tudo isso não passa de um rebuliço mentiroso e repugnante.

O que mais assusta não é simplesmente querer demonizar um Ministro como sistematicamente acontece aqui nesta tribuna, como foi com Juca Ferreira, o pior é passar a idéia de que todos nós da cultura somos abestalhados e fomos hipnotizados pela tortura psicológica de um nazo-ministro. Ora, quanto tempo será necessário para sairmos dessa baixaria? Quando a crítica é feita nessas proporções, não tem nenhum valor, ao contrário, mostra que a transmissão virulenta tenta esconder um volume traiçoeiro de fracassos para manter essa similistronca chamada Lei Rouanet. Eles querem estabelecer, na base do grito, uma idéia normativa de adotar esta lei como valor imperativo, eficaz para qualquer circunstância da cultura brasileira. Ora, não precisa ser gênio para saber que esse discurso não defende a cultura, o que existe é uma luta para manter um significativo privilégio de arrecadar milhões e milhões de recursos públicos sem ter que explicar nada à sociedade. Isso é uma deformação ritualizada por um discurso vazio, uma pregação que utiliza a magia do medo para sentenciar o Estado e que interessa somente a quem fez da captação de recursos uma prática profissional de submundo. Isso tem que ser repudiado, porque esse indecoroso discurso captador defende a comodidade, a covardia e a pretensão. Isso é uma falsificação evolutiva que reflete as características de um comercio de leis de incentivo, jamais de arte.

A cultura brasileira não é para a sociedade o cocô do cavalo do bandido, ao contrário, a sociedade brasileira sabe o que tem valor em nossas manifestações. O que se vê é que cada vez mais sociedade cria couraças críticas contra quem utiliza critérios sofismáticos para manter a mão no bolso do cidadão comum.

A sociedade é crítica o suficiente para perceber o que é um critério legítimo para se valorizar a cultura brasileira e o que é socialmente primitivo, bruto e, na grande maioria das vezes, tosco, como um processo de um roubo mecanizado com ares de fomento científico que deixou a imensa maioria de artistas brasileiros em estado de anorexia.
Enfim, vamos tentar facilitar o debate e transpor o pensamento e o sentimento contido na alma da cultura brasileira para o que é recomendável dentro de uma arena livre, mas, sobretudo responsável na linha do debate. Ninguém suporta mais esse esquema formal e obrigatório de falar mal do Ministro da Cultura para continuar executando, através da Lei Rouanet, um enorme desperdício de vultosas verbas públicas que passam pelas mãos orquestradas daqueles que têm na cabeça o cocô do cavalo do bandido como solução para a cultura brasileira, mas que também têm uma forma própria e brilhante de se fazerem líderes de uma patota que centrifuga, através da sórdida política corporativa, os recursos extraídos do suor da população brasileira.











Arte, mãe de todas as culturas

Leonardo Brant

Se cultura é a regra, arte é a exceção, dizia o filósofo. Em 2003 houve uma reforma substancial no Ministério da Cultura. As chamadas secretarias finalísticas (Artes Cênicas, Música, Audiovisual, Livro e Leitura) foram substituídas por estruturantes (Políticas Culturias, Articulação, Fomento, Identidade, Cidadania Cultural).

Se por um lado o modelo ofereceu um olhar mais abrangente para o desafio da gestão pública de cultura, por outro confinou as artes (menos o Audiovisual, que além de secretaria específica tem a Ancine) a departamentos da Funarte, já sucateada, sem orçamento e capacidade operacional.

A sensação por parte dos artistas é de abandono. Àqueles inseridos no mercado, ampliou-se a insegurança dos novos tempos, novas mídias, pirataria, cultura livre, com uma campanha (aqui veementemente combatida) de esvaziamento do sistema de financiamento, cheio de problemas e defeitos, mas existente e efetivo para um número significativo de produtores e artistas.

Não escondo de ninguém minha (quase eufórica) satisfação com a postura republicana e o discurso da Ministra Ana de Hollanda que, diferente do Ministro anterior (que tem seus méritos, mas já vai tarde), compreende as dificuldades de quem vive da própria arte. E celebra a arte como item de primeira necessidade, indispensável à nossa formação individual e coletiva. Como projeto de desenvolvimento.

Uma arte livre, autônoma, incentivada mas não controlada pelo Estado, indispensável ao projeto de ascenção social (cultural?) dos novos consumidores que surgem quase que em projeção geométrica no Brasil.

Continuar não é repetir, diz Ana de Hollanda evocando Dilma Rouseff. Há uma tentativa inócua de instalar um clima de insegurança em relação ao discurso da nova ministra. O sudeste voltará a reinar? O mercado ganhará força em detrimento das culturas populares? A cultura digital será esquecida?

As conversas de bastidores que tive com Vitor Ortiz, Antonio Grassi, Mamberti, Henilton e tantos outros que celebravam a posse na noite de ontem, reforçam um compromiso que deve ir muito além do discurso, com ações efetivas para uma alteração real do eixo de desenvolvimento, voltado para as classes emergentes, mas sem inoportuno embate geográfico alimentado por Juca Ferreira.

Além de ser a maior vitrine e a alavanca para carreiras internacionais de artistas e criadores de todos os lugares do Brasil (e um dos maiores mercados do mundo, haja visto a enxurrada de espetáculos realizados em 2010 e programados para 2011), SP e RJ tem muito a oferecer para todas as regiões do país, em termos de produção e experiências de mercado.

As culturas populares precisam de mercado, sustentabilidade. É claro que precisam do Estado para reconhecer, valorizar, impulsionar, em alguns casos até para tutelar, de verdade, não com prêmios de R$ 10 mil e abandono permanente. Para isso é preciso um grande plano, que tire a cultura tradicional do lugar eproblema e a valorize de fato, como solução para um país em pleno processo de crescimento econômico.

Economia da cultura, cultura digital, convergência, são palavras-chave no novo ministério. Acredito que as ações serão ampliadas e transformadas em plataforma política de Estado.

Ainda é cedo para dizer qual será a real capacidade de atuação do novo ministério. Sabemos que a estrutura é sucateada, há um sem-número de editais lançados (dentro da campanha #ficajuca) mas sem qualquer estrutura e orçamento; pontos de cultura por todo o Brasil sem receber há mais de um ano…

São milhares de problemas administrativos. O choque de gestão é prioridade. A nova ministra aposta na criatividade de sua equipe para resolver esses problemas: sem reclamar, culpar o outro. A ordem é tocar o barco pra frente.

A nós do Cultura e Mercado foi prometido o diálogo, que já foi respeitoso e aberto na época de Weffort (apesar de muito crítico), franco e colaborativo na época de Gilberto Gil, mas tornou-se truculento e ameaçador na era Juca Ferreira.

Nenhum comentário: