Descartes Gadelha é Doutor Honoris Causa "pela grandeza da obra e espírito cidadão"
Na solenidade que lhe outorgou o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, o artista plástico Descartes Gadelha fez de sua fala de agradecimento uma retrospectiva da própria vida, na qual se mostrou como o menino que, atento, ouvia as conversas das rodas formadas na calçada em frente a sua casa, o adolescente que se descobriu "desenhador" e o homem que foi tocado pela miséria humana e a transformou em arte.
O ato foi realizado na noite de sexta-feira (27), no auditório da Reitoria da UFC. Além do homenageado, falaram o Reitor Henry de Holanda Campos e o Prof. Pedro Eymar Barbosa Costa, Diretor do Museu de Arte (MAUC). O Reitor destacou ser sempre motivo de alegria o ingresso de um membro na galeria de Doutores Honoris Causa da Universidade, mas que, no caso de Descartes, "agrega-se um grande amigo desta casa", que brindou a Instituição com 377 obras de sua autoria, revelando, nesse gesto, imensa generosidade.
"Há um sólido sentimento de admiração e respeito diante da grandeza dos valores artístico-sociais de tua obra. É a grandeza dessa obra que te qualifica perante a sociedade e justifica esta homenagem", afirmou o Prof. Pedro Eymar, referindo-se a Descartes, também pintor, desenhista, escultor e músico.
Confira outras imagens da solenidade no Flickr da UFC: https://goo.gl/f8ub7d
Voltando ao passado, o orador foi buscar na memória a "presença de um personagem que com certeza faz parte da história de todos nós. Um visionário que um dia, diante de um quintal pintado por você (Descartes), fez a seguinte profecia: menino, seus quintais vão ganhar o mundo. Nunca deixe de pintá-los". Referia-se a Antônio Martins Filho, fundador da UFC.
Na visão do Prof. Henry Campos, "Descartes é Doutor Honoris Causa por seu talento artístico, sua ligação permanente com nossa Universidade e, também, por seu caráter, sensibilidade e espírito cidadão, predicados que o fazem inscrever na tela as mais contundentes denúncias das mazelas sociais que nos cercam”.
BUSCANDO PALAVRAS – "Onde encontrar palavras para agradecer?", indagou Descartes Gadelha, depois que lhe foi conferido o título. E, respondendo à própria indagação, disse que iria falar do passado, e voltou à infância, quando a pauta do dia era Getúlio Vargas e "um professor do Crato que iria comprar o Benfica todo para fazer uma escola. Confesso que não entendia bem; apenas senti a importância do ato, quando meu pai me levou para a instalação da Universidade no Theatro José de Alencar", contou Descartes, acrescentando ter percebido a paixão de Martins Filho pelo que estava fazendo.
ENCONTRO – "O destino quis que houvesse o encontro entre Martins Filho e o rapazinho que desenhava quintais e frequentava a casa adquirida pelo fundador da UFC para reunir artistas. Nela pontificavam Estrigas, Zenon Barreto, Floriano Teixeira, Lívio Xavier", recordou Descartes, citando alguns dos jovens talentos da época. Fase citada também pelo Prof. Pedro Eymar em seu discurso, quando lembra que Descartes cresceu "imerso numa geração artística que experimentou o progresso trazido pelas vanguardas. Jovens artistas sobressaltados diante das diversas maneiras ofertadas pelo movimento moderno". E assegurou: "As vanguardas, com sua imperiosa libertação do real, não afetaram em você a determinação de aprofundar-se no real, nas suas profundezas, nos seus submundos".
Vontade não faltava a Descartes Gadelha de mostrar ao Prof. Martins Filho – "um atleta de sua própria ideia", como o define – seus trabalhos. "Um dia arrisquei e perguntei se ele poderia ver o que eu fazia. 'E o que é, menino?', foi a resposta em tom que parecia ríspido enquanto pegava para olhar. 'É um quintal, com bichos, frutas, árvores', respondi. 'E isso?', perguntou, apontando para um objeto. 'É um penico', eu disse. E como veredito escutei a frase: 'Continue desenhando seus quintais e penicos. Vão ganhar o mundo'".
NATUREZA HUMANA – "A obra de Gadelha é um profundo retrato da natureza humana em sua íntima e extrema relação de existir, resistir, interrogar, fazer, realizar-se", definiu o Prof. Pedro Eymar. O artista, quando falou sobre sua história de vida (apoiado apenas na memória, sem texto escrito), fez com que se compreendesse como consegue, por meio de seus pincéis, traduzir o homem em sua essência. "Morava perto do Curral (zona de prostituição nas décadas de 1950 e 1960) e passei a frequentá-lo para conhecer a vida daquelas moças. Cheguei com o olhar de compaixão", admite. E de tanto observar e contar a vida das prostitutas por meio dos pincéis, ficou sendo chamado de "menino desenhador do Curral". O conjunto de telas sobre o tema foi mostrado em exposição realizada no MAUC, à qual compareceram mulheres retratadas por Descartes.
Também por vivenciar o dia a dia dos que buscam a sobrevivência no aterro do Jangurussu, para onde se mudou e viveu por um ano, soube registrar tão bem as atribulações dos que vivem do lixo nas telas que formaram a mostra "Os Catadores do Jangurussu", de 1989, e "acho que o MAUC é o único museu do mundo que guarda uma exposição sobre lixo", destacou Eymar.
HISTÓRIAS – Foram muitas as histórias contadas pelo novo Doutor Honoris Causa da UFC, que confessou continuar sendo "dominado pela arte", apesar das 14 cirurgias a que já se submeteu. Agradeceu aos professores Jesualdo Farias, ex-Reitor, proponente da concessão do título, Henry de Holanda Campos e a Pedro Eymar, "um sacerdote da arte", pela paciência de aguentar seus anseios estéticos.
A mesa que presidiu os trabalhos, além de acolher o Reitor Henry Campos e o homenageado, foi formada pelos professores Custódio Almeida, Vice-Reitor; Márcia Machado, Pró-Reitora de Extensão; Sandro Gouveia, Diretor do Instituto de Cultura e Arte (ICA); Renê Barreira, ex-Reitor da UFC; e pelo Capitão Edir Paixão, do Corpo de Bombeiros do Ceará.
Após os discursos, seguiu-se apresentação do Maracatu Solar, nos jardins da Reitoria, uma surpresa para seu criador e griô, Descartes Gadelha.
Na solenidade que lhe outorgou o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará, o artista plástico Descartes Gadelha fez de sua fala de agradecimento uma retrospectiva da própria vida, na qual se mostrou como o menino que, atento, ouvia as conversas das rodas formadas na calçada em frente a sua casa, o adolescente que se descobriu "desenhador" e o homem que foi tocado pela miséria humana e a transformou em arte.
O ato foi realizado na noite de sexta-feira (27), no auditório da Reitoria da UFC. Além do homenageado, falaram o Reitor Henry de Holanda Campos e o Prof. Pedro Eymar Barbosa Costa, Diretor do Museu de Arte (MAUC). O Reitor destacou ser sempre motivo de alegria o ingresso de um membro na galeria de Doutores Honoris Causa da Universidade, mas que, no caso de Descartes, "agrega-se um grande amigo desta casa", que brindou a Instituição com 377 obras de sua autoria, revelando, nesse gesto, imensa generosidade.
"Há um sólido sentimento de admiração e respeito diante da grandeza dos valores artístico-sociais de tua obra. É a grandeza dessa obra que te qualifica perante a sociedade e justifica esta homenagem", afirmou o Prof. Pedro Eymar, referindo-se a Descartes, também pintor, desenhista, escultor e músico.
Confira outras imagens da solenidade no Flickr da UFC: https://goo.gl/f8ub7d
Voltando ao passado, o orador foi buscar na memória a "presença de um personagem que com certeza faz parte da história de todos nós. Um visionário que um dia, diante de um quintal pintado por você (Descartes), fez a seguinte profecia: menino, seus quintais vão ganhar o mundo. Nunca deixe de pintá-los". Referia-se a Antônio Martins Filho, fundador da UFC.
Na visão do Prof. Henry Campos, "Descartes é Doutor Honoris Causa por seu talento artístico, sua ligação permanente com nossa Universidade e, também, por seu caráter, sensibilidade e espírito cidadão, predicados que o fazem inscrever na tela as mais contundentes denúncias das mazelas sociais que nos cercam”.
BUSCANDO PALAVRAS – "Onde encontrar palavras para agradecer?", indagou Descartes Gadelha, depois que lhe foi conferido o título. E, respondendo à própria indagação, disse que iria falar do passado, e voltou à infância, quando a pauta do dia era Getúlio Vargas e "um professor do Crato que iria comprar o Benfica todo para fazer uma escola. Confesso que não entendia bem; apenas senti a importância do ato, quando meu pai me levou para a instalação da Universidade no Theatro José de Alencar", contou Descartes, acrescentando ter percebido a paixão de Martins Filho pelo que estava fazendo.
ENCONTRO – "O destino quis que houvesse o encontro entre Martins Filho e o rapazinho que desenhava quintais e frequentava a casa adquirida pelo fundador da UFC para reunir artistas. Nela pontificavam Estrigas, Zenon Barreto, Floriano Teixeira, Lívio Xavier", recordou Descartes, citando alguns dos jovens talentos da época. Fase citada também pelo Prof. Pedro Eymar em seu discurso, quando lembra que Descartes cresceu "imerso numa geração artística que experimentou o progresso trazido pelas vanguardas. Jovens artistas sobressaltados diante das diversas maneiras ofertadas pelo movimento moderno". E assegurou: "As vanguardas, com sua imperiosa libertação do real, não afetaram em você a determinação de aprofundar-se no real, nas suas profundezas, nos seus submundos".
Vontade não faltava a Descartes Gadelha de mostrar ao Prof. Martins Filho – "um atleta de sua própria ideia", como o define – seus trabalhos. "Um dia arrisquei e perguntei se ele poderia ver o que eu fazia. 'E o que é, menino?', foi a resposta em tom que parecia ríspido enquanto pegava para olhar. 'É um quintal, com bichos, frutas, árvores', respondi. 'E isso?', perguntou, apontando para um objeto. 'É um penico', eu disse. E como veredito escutei a frase: 'Continue desenhando seus quintais e penicos. Vão ganhar o mundo'".
NATUREZA HUMANA – "A obra de Gadelha é um profundo retrato da natureza humana em sua íntima e extrema relação de existir, resistir, interrogar, fazer, realizar-se", definiu o Prof. Pedro Eymar. O artista, quando falou sobre sua história de vida (apoiado apenas na memória, sem texto escrito), fez com que se compreendesse como consegue, por meio de seus pincéis, traduzir o homem em sua essência. "Morava perto do Curral (zona de prostituição nas décadas de 1950 e 1960) e passei a frequentá-lo para conhecer a vida daquelas moças. Cheguei com o olhar de compaixão", admite. E de tanto observar e contar a vida das prostitutas por meio dos pincéis, ficou sendo chamado de "menino desenhador do Curral". O conjunto de telas sobre o tema foi mostrado em exposição realizada no MAUC, à qual compareceram mulheres retratadas por Descartes.
Também por vivenciar o dia a dia dos que buscam a sobrevivência no aterro do Jangurussu, para onde se mudou e viveu por um ano, soube registrar tão bem as atribulações dos que vivem do lixo nas telas que formaram a mostra "Os Catadores do Jangurussu", de 1989, e "acho que o MAUC é o único museu do mundo que guarda uma exposição sobre lixo", destacou Eymar.
HISTÓRIAS – Foram muitas as histórias contadas pelo novo Doutor Honoris Causa da UFC, que confessou continuar sendo "dominado pela arte", apesar das 14 cirurgias a que já se submeteu. Agradeceu aos professores Jesualdo Farias, ex-Reitor, proponente da concessão do título, Henry de Holanda Campos e a Pedro Eymar, "um sacerdote da arte", pela paciência de aguentar seus anseios estéticos.
A mesa que presidiu os trabalhos, além de acolher o Reitor Henry Campos e o homenageado, foi formada pelos professores Custódio Almeida, Vice-Reitor; Márcia Machado, Pró-Reitora de Extensão; Sandro Gouveia, Diretor do Instituto de Cultura e Arte (ICA); Renê Barreira, ex-Reitor da UFC; e pelo Capitão Edir Paixão, do Corpo de Bombeiros do Ceará.
Após os discursos, seguiu-se apresentação do Maracatu Solar, nos jardins da Reitoria, uma surpresa para seu criador e griô, Descartes Gadelha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário