domingo, 11 de agosto de 2013

LIVROS - NÃO-FICÇÃO

"Holocausto brasileiro": a morte de 60 mil pessoas em manicômio de Minas Gerais 

Livro conta história de hospício em Barbacena que arrecadou R$ 600 mil com venda de corpos
 

Neste livro-reportagem fundamental, a premiada jornalista Daniela Arbex resgata do esquecimento um dos capítulos mais macabros da nossa história: a barbárie e a  desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. Ao fazê-lo, a autora traz à luz um genocídio cometido, sistematicamente, pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários e também da população, pois nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da sociedade.
Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros da Colônia. Em sua maioria, haviam sido internadas à força. Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.
Quando chegavam ao hospício, suas cabeças eram raspadas, suas roupas arrancadas e seus nomes descartados pelos funcionários, que os rebatizavam. Daniela Arbex devolve nome, história e identidade aos pacientes, verdadeiros sobreviventes de um holocausto, como Maria de Jesus, internada porque se sentia triste, ou Antônio Gomes da Silva, sem diagnóstico, que, dos 34 anos de internação, ficou mudo durante 21 anos porque ninguém se lembrou de perguntar se ele falava.
 

Os pacientes da Colônia às vezes comiam ratos, bebiam água do esgoto ou urina, dormiam sobre capim, eram espancados e violados. Nas noites geladas da Serra da Mantiqueira, eram deixados ao relento, nus ou cobertos apenas por trapos. Pelo menos 30 bebês foram roubados de suas mães. As pacientes conseguiam proteger sua gravidez passando fezes sobre a barriga para não serem tocadas. Mas, logo depois do parto, os bebês eram tirados de seus braços e doados.
Alguns morriam de frio, fome e doença. Morriam também de choque. Às vezes os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede do município. Nos períodos de maior lotação, 16 pessoas morriam a cada dia. Ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio foram vendidos para 17 faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio da Colônia, diante dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, exceto a vida.
 

No início dos anos 60, depois de conhecer a Colônia, o fotógrafo Luiz Alfredo, da revista O Cruzeiro, desabafou com o chefe: “Aquilo é um assassinato em massa”. Em 1979, o psiquiatra italiano Franco Basaglia, pioneiro da luta pelo fim dos manicômios que também visitou a Colônia, declarou numa coletiva de imprensa: “Estive hoje num campo de concentração nazista. Em lugar nenhum do mundo, presenciei uma tragédia como essa”.
Daniela Arbex é uma das jornalistas do Brasil mais premiadas de sua geração. Repórter especial do jornal Tribuna de Minas há 18 anos, tem no currículo mais de 20 prêmios nacionais e internacionais, entre eles três prêmios Esso, o mais recente recebido em 2012 com a série “Holocausto brasileiro”, dois prêmios Vladimir Herzog (menção honrosa), o Knight International Journalism Award, entregue nos Estados Unidos (2010), e o prêmio IPYS de Melhor Investigação Jornalística da América Latina e Caribe (Transparência Internacional e Instituto Prensa y Sociedad), recebido por ela em 2009, quando foi a vencedora, e 2012 (menção honrosa). Em 2002, ela foi premiada na Europa com o Natali Prize (menção honrosa).








O pensamento político de um dos intelectuais mais proeminentes do século 20 

“A pena e a espada” mostram depoimentos que remontam a trajetória do ativista Edward Said
 

O pensamento político ímpar e a trajetória do ativista Edward Said, um dos intelectuais mais proeminentes do século 20, emergem com simplicidade das cinco entrevistas que compõem esta obra, concedidas por ele ao jornalista norte-americano David Barsamian entre 1987 e 1993.  Os depoimentos desvelam ainda o homem por trás da obra, ao trazerem à tona as ansiedades e angústias de Said acerca das relações entre Israel e Palestina num período crucial da história do conflito entre os dois povos, além de relatos de episódios pessoais comoventes e comentários sobre escritores inevitáveis para ele, como Joseph Conrad, Jane Austin, T. S. Eliot e Albert Camus.
Na entrevista “A política e a cultura do exílio palestino”, de 1987, Said detalha sua visão sobre a importância do resgate da cultura palestina, tanto em nível interno quanto externo, para demonstrar a “existência” de um povo que Israel procura negar de modo a continuar justificando indefinidamente a invasão de seus territórios: “A nossa posição é singular porque somos as vítimas das vítimas”.
Na segunda entrevista, "Orientalismo revisitado" (1991), Said discute o conceito anacrônico e desvirtuado do Ocidente em relação ao Oriente, particularmente o mundo árabe, tomado como uma única cultura - depravada, indigna, sensual e violenta. Em "Cultura e Orientalismo" (1993), ele comenta seu livro homônimo e nas duas últimas entrevistas - "O acordo entre Israel e a OLP: uma avaliação crítica" (1993) e "Palestina: traição da História" (1994) ele explica como acompanhou e avaliou as negociações que culminaram no Acordo de Oslo (1993), o qual define como uma "capitulação" palestina. Ao longo de toda a obra, aliás, transparece o crescente sentimento de decepção de Said com Yasser Arafat, e são esclarecidas as diferenças políticas entre os dois.
O livro ainda inclui textos introdutórios de Arlene Clemensha, Eqbal Ahmad e Nubar Hovsepian, que, assim como as entrevistas, falam do homem que ergueu o intelectual e trazem mais luz ao pensamento de Said, cuja questão, a da Palestina, permanece em aberto após 10 anos de sua morte.







“Dicionário” reúne famosas frases machistas
 

Lançamento da Editora Jardim dos Livros é fruto de longa pesquisa da doutora em literatura Salma Ferraz
 

Maridos são bons amantes quando estão traindo as mulheres. (Marilyn Monroe)
 

Vais ver mulheres? Não esqueças o açoite. (Nietzsche)
 

Além de casar, o que a mulher mais gosta é de ser enganada de vez em quando. (Jane Austen)
Há um princípio bom, que criou a ordem, a luz e o homem, e um princípio mau, que criou o caos, as trevas e as mulheres. (Pitágoras)


Calma! Antes de dizer que este livro reúne um monte de bobagens e ofensas, entenda que as coisas aqui escritas são fruto de longa pesquisa da doutora em literatura Salma Ferraz.
“Dicionário Machista”, lançamento da Editora Jardim dos Livros, exibe frases machistas ditas em várias épocas da história e em todo o mundo. Acho louvável saber que alguém como Salma se deu ao trabalho de pesquisar tantas falas que reduzem a mulher a nada. Importante ressaltar que muitas dessas frases foram ditas ou escritas por mulheres.
Há, obviamente, os que concordam com tais palavras, mas não deveriam. Machismo é coisa de gente mal-educada, preconceituosa e que desrespeita o outro. Temos muitos casos de machismo entre intelectuais, pessoas bem-nascidas, supostamente educadas. O mais importante é entender que esse mal ainda existe e precisa ser eliminado. Palavras têm poder, e toda forma de poder gera maldade.

SERVIÇO
Dicionário Machista
176 páginas
R$ 19,90
Jardim do Livros


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