terça-feira, 5 de maio de 2009

CRÔNICAS, ARTIGOS

Gripe Suína

José Saramago


Não sei nada do assunto e a experiência directa de haver convivido com porcos na infância e na adolescência não me serve de nada. Aquilo era mais uma família híbrida de humanos e animais que outra coisa. Mas leio com atenção os jornais, ouço e vejo as reportagens da rádio e da televisão, e, graças a alguma leitura providencial que me tem ajudado a compreender melhor os bastidores das causas primeiras da anunciada pandemia, talvez possa trazer aqui algum dado que esclareça por sua vez o leitor.

Há muito tempo que os especialistas em virologia estão convencidos de que o sistema de agricultura intensiva da China meridional foi o principal vector da mutação gripal: tanto da "deriva" estacional como do episódico "intercâmbio" genómico.

Há já seis anos que a revista Science publicava um artigo importante em que mostrava que, depois de anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte havia dado um salto evolutivo vertiginoso. A industrialização, por grandes empresas, da produção pecuária rompeu o que até então tinha sido o monopólio natural da China na evolução da gripe. Nas últimas décadas, o sector pecuário transformou-se em algo que se parece mais à indústria petroquímica que à bucólica quinta familiar que os livros de texto na escola se comprazem em descrever...

Em 1966, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de suínos distribuídos por um milhão de granjas. Actualmente, 65 milhões de porcos concentram-se em 65.000 instalações. Isso significou passar das antigas pocilgas aos ciclópicos infernos fecais de hoje, nos quais, entre o esterco e sob um calor sufocante, prontos para intercambiar agente patogênicos à velocidade do raio, se amontoam dezenas de milhões de animais com mais do que debilitados sistemas imunitários.

Não será, certamente, a única causa, mas não poderá ser ignorada. Voltarei ao assunto.

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Continuemos. No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um relatório sobre a "produção animal em granjas industriais, onde se chamava a atenção para o grave perigo de que a contínua circulação de vírus, característica das enormes varas ou rebanhos, aumentasse as possibilidades de aparecimento de novos vírus por processos de mutação ou de recombinação que poderiam gerar vírus mais eficientes na transmissão entre humanos". A comissão alertou também para o facto de que o uso promíscuo de antibióticos nas fábricas porcinas - mais barato que em ambientes humanos - estava proporcionando o auge de infecções estafilocócicas resistentes, ao mesmo tempo em que as descargas residuais geravam manifestações de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou milhares de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).

Qualquer melhoria na ecologia deste novo agente patogênico teria que enfrentar-se ao monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e ganadeiros, como Smithfield Farms (suíno e vacum) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática das suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas umas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento dos investigadores que cooperaram com a comissão. Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas.

Assim como o gigante avícola Charoen Pokphand, radicado em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre o seu papel na propagação da gripe aviária no Sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do surto da gripe suína esbarre contra a pétrea muralha da indústria do porco. Isso não quer dizer que não venha a encontrar-se nunca um dedo acusador: já corre na imprensa mexicana o rumor de um epicentro da gripe situado numa gigantesca filial de Smithfield no estado de Veracruz. Mas o mais importante é o bosque, não as árvores: a fracassada estratégia antipandêmica da Organização Mundial de Saúde, o progressivo deterioramento da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industralizada e ecologicamente sem discernimento.

Como se observa, os contágios são muito mais complicados que entrar um vírus presumivelmente mortal nos pulmões de um cidadão apanhado na teia dos interesses materiais e da falta de escrúpulos das grandes empresas. Tudo está contagiando tudo. A primeira morte, há longo tempo, foi a da honradez. Mas poderá, realmente, pedir-se honradez a uma transnacional? Quem nos acode?



Qual é o perfil ideal para vendas?

*Edson Rodriguez

O perfil ideal é aquele que vende, que traz resultados. Pode parecer redundante, mas não é. Esse perfil não é estático, pode mudar com o passar do tempo. As necessidades de mercado mudam, o produto muda, o perfil da empresa muda, tudo muda enfim.

O perfil de sucesso no passado pode não ser mais aplicável hoje, assim como o perfil de sucesso no presente pode não espelhar a necessidade do futuro. Assim, a observação das nuances de mercado, das mudanças de produtos e serviços é crucial para se manter à frente. Entender o reflexo disso na rotina de vendas é fundamental para se manter o perfil modelo sempre atualizado.



Uma das fortes razões (na verdade a mais forte) para um vendedor vender mais que outros é que o primeiro usualmente tem perfil mais adequado. Uma pessoa sem perfil adequado pode ser bem sucedida em vendas? Pode, mas é preciso lembrar que vai ser mais difícil. Quanto mais distante do perfil o indivíduo estiver, mais esforço terá que fazer para compensar as diferenças. É o caso do treinador de vôlei avaliando novatos, candidatos ao time. Um fator que ele olha logo de cara: a altura dos jogadores. Rapazes com mais de 1,90 m tem uma vantagem nítida e provavelmente serão escolhidos primeiro. A razão disso: altura acima de 1,90 é importante para o jogo, porque os jogadores têm que pular muito alto para alcançar a rede. Assim, pessoas com esse perfil físico são matéria prima melhor para essa atividade. Candidatos com 1,70 m poderão até ser considerados, mas precisarão apresentar quesitos adicionais muito fortes para compensar a altura insuficiente.



Na área de vendas é a mesma coisa. O investimento na formação de profissionais muitas vezes é alto e a forma de maximizá-lo é investir em quem tem a matéria prima melhor, nesse caso o perfil comportamental adequado.



Quando você contrata alguém com perfil está maximizando o investimento e minimizando os riscos e acredite, os riscos podem ser enormes. Quanto custa um vendedor que vende pouco, aquém do mínimo esperado? Só o resultado insuficiente? Ou ele custa ainda mais caro porque pode estar atendendo mal aos clientes e gerando insatisfação? Do total de clientes que entraram na loja, quantos deixaram de comprar?



Mas há exceções e é bom estar preparado para elas. O aspecto gerenciamento e treinamento, por exemplo, podem suprir algumas lacunas do tipo: “...Esse vendedor, pelos parâmetros usuais não teria perfil para vendas, mas veja, ele trabalha com muito afinco. Visita muitos clientes todos os dias e acaba vendendo razoavelmente por pura insistência em visitar grande número de casas diariamente...”.



É verdade, isso pode acontecer e conhecemos casos (raros) onde essa insistência é o fator primordial para se obter resultados. Aqui, falamos de um grupo de vendedores com características diametralmente opostas ao que normalmente vemos em grupos campeões. Entretanto, e em face da peculiaridade do negócio, a característica comportamental mais necessária é a paciência de seguir uma rotina diária estafante e enfadonha de bater em mais de 50 portas por dia, todos os dias.



Resumindo: conhecer o perfil comportamental dos campeões de venda em um determinado segmento, verificar quais são os pontos em comum que eles apresentam e usar isso como referência é, de longe, a decisão mais acertada em processos para definição de perfis modelo que servirão de base para a contratação de novos vendedores, além de prevenir situações de exceção. Afinal, o perfil ideal é aquele que vende, mesmo que tenha menos que 1.70m de altura...



*Artigo extraído do livro Conseguindo Resultados Através de Pessoas - Editora Campus/Elsevier. O autor é Edson Rodriguez, vice -presidente da Thomas International Brasil, consultor e palestrante em assuntos que envolvem a gestão de pessoas e também autor do livro Futebol para Executivos e Porque alguns vendedores vendem mais do que outros.




Cinzas do Paraíso

Crônica de Ricardo André Bessa


Quando uma relação termina, não significa que o amor terminou. Já dizia alguém que passou rápido na minha vida, mas não de maneira insignificante, que amor só traz dor e sofrimento . Sim, dói, machuca, pois amor é amor, mas também traz alegrias, momentos maravilhosos, pequenas pérolas que nos lembraremos pelo resto da vida. Mas quando uma relação termina, vivemos semanas angustiosas, dolorosas, em que derramamos um rio de lágrimas. Depois vem a fase das mágoas, dos ressentimentos. Vivemos uma vida atribulada, mas nos momentos dolorosos, só conseguimos lembrar dos fatos ruins. Ninguém recorda daquele carinho, tão simples, de preparar um chá, de conversar todos os dias, de abraçar, beijar, de contar pequenas coisas do dia-a-dia, que constrói uma relação. Dos cartões guardados no fundo das gavetas. Quando uma relação acaba, parece que teremos que riscar toda uma história para construirmos outra. Quando um namoro finda não significa que o amor terminou. Há várias formas de amor. Amei de diversas formas. Fui incompreendido de diversas maneiras. Fico triste quando somos jogados da vida como mazelas. No fim, só restam cinzas? Cinzas do paraíso.O vento passa e parece que tudo voou para o infinito. Talvez o melhor seja a solidão, que para alguns traz alegria e felicidade. Mas a solidão companheira, a boa amiga. No fim, sobrarão lembranças, muitas lembranças. Carregarei todas as boas. E quanto ao amor, podemos amar uma pessoa mesmo não estando com ela.

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