terça-feira, 5 de maio de 2009

CINEMA DE ARTE

Novo ataque de nervos

Almodóvar divide crítica com seu novo filme, “Os abraços partidos”, que tem Penelope Cruz no elenco


A primeira exibição de "Os abraços partidos" ("Los abrazos rotos", 2009) foi recebida em Cannes com diferentes opiniões, desde os que consideram o filme digno de prêmio até os que asseguram que o diretor espanhol Pedro Almodóvar está fora de forma. "É uma das histórias mais profundas rodadas na Europa nos últimos anos", disse à Agência Efe um jornalista holandês. "Fiquei fascinado que, além de ter referências a outros diretores, desta vez ele tenha homenageado também a si mesmo. Há cenas que já são clássicas", completou. Uma jornalista italiana, por outro lado, assegurou que "a construção do filme é genial". "Porém, não sei como funcionará com o público. Acho que, embora seja um filme muito sentido e muito vivido, talvez se incomodem um pouco", frisou. Já um jornalista do britânico "Daily Mail", o mesmo que reprovou Lars Von Trier por "Anticristo", agradeceu o diretor espanhol por usa "provocação". Pedro Almodóvar, em todo caso, mostrou seu melhor humor na coletiva de imprensa, acompanhado por toda a equipe do filme, inclusive Penélope Cruz, que foi apesar de uma gripe. "É uma gripe normal, mas mesmo assim me faz sofrer muito", disse entre brincadeiras a atriz vencedora do Oscar.

Após três meses em cartaz na Espanha, o filme reviveu em Cannes em tom de cinema político, uma metáfora sobre a recuperação da memória histórica feita por Almodóvar. Sempre interpretado beirando o melodrama, com traços de cinema noir, o longa, que Almodóvar sempre classifica como um dos mais complexos de sua carreira, foi de algum modo reescrito por ele mesmo em Cannes, onde aspira à Palma de Ouro e dividiu opiniões. Sobre suas expectativas sobre prêmio, Almodóvar assegurou que vai embora na sexta-feira "para não dar a sensação de estar esperando". "Mas estou disposto a voltar no domingo, embora seja para entregar o prêmio ao melhor ator ou ao melhor diretor", comentou.
Almodóvar quis também homenagear, como em "Os abraços partidos", "Mulheres à beira de um ataque de nervos" (1988). "A fertilidade desse roteiro foi incrível", confessou. "Além disso, seus fantasmas me acompanharam durante essa última filmagem". "Estão sendo feitas agora duas adaptações. Uma para a FOX em forma de série de televisão, que pretendem que seja infinita e tomara que consigam", explicou. "A outra é um musical da Broadway. Em 10 de junho irei aos primeiros ensaios", contou o espanhol.


“Anticristo”: cenas de sexo explícito, tortura e automutilação

No Festival de Cannes, o diretor dinamarquês Lars Von Trier, 53, costuma ir além da disputa pela Palma de Ouro. Ele produz "acontecimentos". Xodó da crítica em 2003, quando seu "Dogville" foi aplaudido de pé na sessão para a imprensa, Von Trier conheceu o outro lado da moeda, com o novo "Anticristo". Depois de ter seu longa vaiado com fôlego por parte da plateia, nas duas sessões voltadas à imprensa, o diretor foi recebido na entrevista coletiva com um bombardeio de um repórter norte-americano. "Você tem de explicar e justificar por que fez este filme!", disse o jornalista, em tom de intimação. O desconforto provocado por "Anticristo" vem de seu tema (o sexo e a culpa) e de seu gênero (o terror psicológico). Eis a trama: casal formado por psicanalista e intelectual -que está escrevendo uma tese para contestar antiga teoria de que as mulheres tendem à maldade- perde o filho pequeno, em acidente doméstico. O marido (Willem Dafoe) resolve se encarregar da terapia da mulher (Charlotte Gainsbourg), seriamente afetada pelo luto. Como parte do tratamento, os dois se isolam numa floresta chamada Éden, escolhida por ser o local que ela mais teme. Recheado de violência e sexo, "Anticristo" tem cenas explícitas de penetração, tortura e automutilação. Tem também imagens belíssimas (em preto e branco) da circunstância que justapõe a morte da criança e o sexo entre os pais. A trama é dividida em um prólogo e um epílogo (ambos em P&B) e quatro capítulos (coloridos): "Luto", "Dor", "Desespero" e "Os Três Mendigos". "A origem desse filme foi uma depressão que tive", disse Von Trier. Deve estrear no Brasil entre agosto e setembro.


Austríaco leva Palma de Ouro em Cannes

Charlotte Gainsbourg ("Anticristo') e o Christoph Waltz ("Bastardos Inglórios') levaram prêmios de melhor atuação no festival

Foi um longo abraço. De um lado, a atriz francesa Isabelle Huppert, contornando a imagem pública que associa a frieza à sua personalidade. Do outro, o cineasta austríaco Michael Haneke, que disse a ela: "Eu te agradeço mil vezes". Minutos antes de os dois se entrelaçarem, domingo, no palco do Teatro Lumière, onde ocorreu a cerimônia de premiação do 62º Festival de Cannes, Huppert, na qualidade de presidente do júri, disse: "É com certa emoção que eu anuncio a Palma de Ouro para "The White Ribbon" (a fita branca)". Depois de cinco tentativas frustradas, Haneke finalmente ganhou o prêmio. Dirigida por ele em "A Professora de Piano", Huppert recebeu em 2001 seu segundo prêmio de melhor atriz em Cannes. Presidindo o júri desta edição, ela disse ter premiado "um filme extraordinário". Situado na Alemanha, às vésperas da eclosão da Primeira Guerra, rodado em preto e branco, o filme é uma reflexão sobre a gênese dos totalitarismos. Também representa uma mudança estilística na obra do diretor, que fez, desta vez, um trabalho sóbrio e contido. "Haneke tem um estilo ético. Nesse filme, num tom diferente, ele novamente vai longe na alma humana", disse Huppert.

A cerimônia de premiação do 62º Festival de Cannes, domingo, teve dois pontos altos: a entrega dos troféus à melhor atriz, a francesa Charlotte Gainsbourg, e ao melhor ator, o austríaco Christoph Waltz. A emoção de ambos contagiou a plateia e o júri que os premiou.
Gainsbourg, que é filha da atriz Jane Birkin e do músico Serge Gainsbourg, ganhou o prêmio por seu desempenho em "Anticristo", de Lars Von Trier, onde ela vive uma mulher em crise depressiva após a morte de seu filho pequeno num acidente doméstico do qual se sente culpada. Recebido a pedradas pela crítica, o filme foi tachado de misógino.
Falando baixo e pausadamente, Charlotte Gainsbourg disse: "Agradeço ao [diretor-geral do festival] Thierry Frémaux e ao Festival de Cannes pela audácia de selecionar esse filme. Divido esse prêmio com meu diretor, que não está aqui, mas que me permitiu viver a mais intensa, dolorosa e magnífica experiência que tive até hoje como atriz".
Depois de dedicar o prêmio ao marido e aos filhos, Gainsbourg despediu-se assim: "Abraço a minha mãe, que foi minha confidente durante as filmagens, e penso no meu pai. Acho que ele ficaria orgulhoso de mim. Orgulhoso e um pouco chocado". "Anticristo" tem cenas de tortura e automutilação.
Waltz recebeu o prêmio pelo papel do coronel Hans Landa em "Bastardos Inglórios", de Quentin Tarantino. Landa é um oficial nazista. Com inteligência aguda e extraordinária habilidade para línguas estrangeiras, ele é expert em interceptar a fuga de judeus. Tarantino disse que desistiria do filme caso não encontrasse o ator adequado ao papel.
Imitando seu personagem, Waltz falou em francês, inglês e alemão. Agradeceu ao júri por "essa honra extraordinária, esse momento único na vida de um ator" e a Brad Pitt, com quem contracena no longa, "por me deixar ser seu parceiro". Por fim, dirigiu-se a Tarantino, ausente à cerimônia: "Quentin, você me deu minha vocação de volta". Waltz tem mais de 30 anos de carreira. Como disse à Folha: "É tempo suficiente para já ter sido rejeitado em muitos testes e perdido muitos papéis importantes".
O diretor francês Jacques Audiard, que levou o Grande Prêmio do Júri -o segundo troféu mais importante- pelo drama carcerário "Un Prophète" (um profeta), disse que, de "tão feliz", acabaria falando "só besteiras" e afirmou que a única coisa que vinha à sua cabeça era uma frase do filme "Entre Dois Amores" (Sydney Pollack, 1985): "Preste atenção porque, a partir de agora, eu vou acreditar em tudo o que você diz".
Um "prêmio excepcional" foi dado ao cineasta francês Alain Resnais, que concorreu com "Les Herbes Folles" (as ervas daninhas), 50 anos depois de estrear em Cannes "Hiroshima Meu Amor". De pé, o público aplaudiu longamente.
O prêmio de melhor diretor dado ao filipino Brillante Mendoza por "Kinatay" (esquartejar) num ano em que Alain Resnais, Marco Bellocchio e Pedro Almodóvar competiam, causou espanto na crítica.
O cineasta turco Nuri Bilge Ceylan, membro do júri, afirmou: "Particularmente, gostei muito [de "Kinatay'] e alguns outros [membros do júri] pensam como eu".

Veja a lista de premiados no 62º Festival de Cannes

Palma de Ouro de melhor filme
"Das Weisse Band" ("A Fita Branca", em tradução livre), de Michael Haneke (Áustria)

Grande Prêmio do Júri
"Un Prophète", de Jacques Audiard (França)

Prêmio de melhor direção
Brillante Mendoza (Filipinas), do filme "Kinatay"

Prêmio de melhor roteiro
Feng Mei, do filme "Spring Fever" (China)

Prêmio de melhor atriz
Charlotte Gainsbourg (França), por seu papel em "Anticristo", do dinamarquês Lars von Trier

Prêmio de melhor ator
Cristoph Waltz (Áustria), por seu papel em "Bastardos Inglórios", do americano Quentin Tarantino

Prêmio do júri
"Fish Tank", de Andrea Arnold (Reino Unido), e "Thirst", de Park Chan-Wook (Coreia do Sul)

Prêmio Especial do Festival de Cannes
Alain Resnais (França)

Palma de Ouro de melhor curta-metragem
"Arena", de João Salaviza (Portugal)

Menção especial (curta-metragem)
"The Six Dollar Ffty Man" (Nova Zelândia), de Mark Albiston e Louis Sutherland

Câmera de Ouro para diretor estreante
"Samson and Delilah", de Warwick Thornton

Menção especial do prêmio Câmera de Ouro
"Ajami", de Scandar Copti e Yaron Shani

Prêmio especial do júri pelo conjunto da carreira
Alan Resnais


TV DIVIRTA-CE

Pânico na TV consegue entrar em festa de famosos no festival de Cannes




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Carlos Sorin analisa a velhice em 'A Janela'

Filme do premiado cineasta argentino está em cartaz no Espaço Unibanco Dragão do Mar

Veterano premiado do cinema argentino, por filmes como Histórias Mínimas(2002) e O Cachorro(2004), Carlos Sorin retorna com uma história de dramaturgia minimalista no drama A Janela. Vencedor do prêmio Fipresci (da Federação Internacional dos Críticos) no Festival de Valladolid (Espanha).
Num filme que tem ecos assumidos de Morangos Silvestres (1957), de Ingmar Bergman, o protagonista é o velho escritor Antonio (o escritor e roteirista uruguaio Antonio Larreta), vivendo seus prováveis últimos dias de vida. A fragilidade de seu corpo, preso à cama e dependente de remédios, contrasta com a rebeldia de seu espírito, que parece disposto a sorver a máxima energia da natureza à sua volta. E mais - Antonio espera ansiosamente a volta do único filho (Jorge Diez), um pianista famoso,com quem ele não fala há anos.
Seguindo seu estilo habitual, Sorin não fornece muitas explicações. Não se sabe ao certo a causa desse afastamento entre pai e filho. Não se sabe muito sobre a mulher dele, que morreu há muito tempo, e de quem restou um retrato a óleo na parede. Igualmente, pouco se revela sobre as duas empregadas da casa (Maria Del Carmem Jiménez e Emilse Roldán), que se revezam na atenção constante ao velho dono. A janela do título torna-se, assim, a metáfora da possibilidade de escapar para a vida externa, o que Antonio até fará, reunindo toda a sua energia - uma bela sequência visual do filme, em que sua fragilidade física é, mais uma vez, superada pela sua férrea vontade de ir de encontro a um vasto campo ao sol seco da Patagônia. Um personagem curioso é o do afinador de pianos (Roberto Rovira), que é chamado para preparar o velho instrumento abandonado para a visita do filho. Observador de fora, ele fornece momentos de real ironia e humor com seus comentários, quebrando a solenidade sentida na velha casa.
Repleto de silêncios e lacunas, A Janela aproxima-se às vezes da economia narrativa dos filmes de sua compatriota Lucrecia Martel, diretora de O Pântano (2001) e A Menina Santa (2004), ainda que sem a mesma radicalidade. Em todo caso, para aproximar-se do filme de Sorin, o espectador terá de munir-se de muita entrega e atenção porque, nesta história, o sentido está, mais do que nunca, na obra deste diretor na atenção a toda uma série de pequenos detalhes e seu encadeamento.




Drama com Rodrigo Santoro

“Leonera”, em cartaz no Iguatemi, filme indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, do argentino Pablo Trapero

Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2008, “Leonera” foi também exibido na 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, e está em cartaz no Cinema de Arte do Iguatemi (última exibição hoje, no Multiplex UCI Ribeiro, às 19h30). O diretor do longa, Pablo Trapero, é o mesmo de Do Outro Lado da Lei e Família Rodante e é considerado um dos grandes nome do cinema argentino contemporâneo. O filme foi produzido pelo cineasta brasileiro Walter Salles.
Na história, Ramiro (Rodrigo Santoro) e Nahuel são amantes de Julia (Martina Gusman). Um dia, ao acordar em seu quarto, ela se depara com os corpos ensangüentados dos dois e Nahuel está morto. Sem saber direito o que ocorreu na noite anterior, ela acaba apontada como a culpada pelos crimes e vai parar na prisão.
Em pouco tempo, Julia descobre também que está grávida e não tem certeza se o pai do filho é Ramiro ou Nahuel. A partir daí, ela é enviada a uma unidade em que as mães podem ter seus filhos e cuidar deles até os 4 anos de idade. Lá reencontra sua mãe, Sofía, e também se aproxima de Marta, que já criou dois filhos na prisão. As investigações apontam que Ramiro, que também é preso, pode ser o culpado do crime. Julia o procura, afinal seu depoimento será fundamental para determinar o futuro da jovem e de seu filho, que foi batizado Tomás.





Muitas estrelas em busca da Palma de Ouro

Festival de Cannes 2008 começa hoje com exibição do primeiro filme em 3D da Disney/Pixar

Cannes chega à 62ª edição nesta quarta-feira com a projeção de Up – Altas aventuras, o primeiro desenho animado em 3D dos estúdios Disney/Pixar – este ano Cannes decidiu estender seu tapete vermelho para mestres em sua área de atuação. Muitos deles já disputaram entre si pela Palma de Ouro em mostras anteriores, como Pedro Almodóvar (Los brazos rotos), Alain Resnais (Les herbes folles) e Quentin Tarantino (Bastardos inglórios).
O clima de recessão mundial e arrocho econômico não afetou, a princípio, o festival. A produção asiática domina o páreo deste ano, com filmes de Tsai Ming-liang (Face), Johnnie To (Vengeance), Park Cha-wook (Thirst), Lou Ye (Spring fever), Brillante Mendoza (Kinatay). Por outro lado, não há um título sequer vindo da América Latina. A contribuição americana, presença forte nas últimas décadas, está reduzida à participação de Tarantino e Ang Lee (Taking Woodstock), que é de origem taiwanesa.
A figura do autor marca território também no pacote de sessões especiais não competitiva – estão lá o chileno Alejandro Amenabar (Agora), os americanos Terry Gilliam (The imaginarium of Dr. Parnassus) e Sam Raimi (Drag me to hell) e o francês Michel Gondry (L'epine dans le coeur) – e contamina as seções paralelas mais importantes, como a Um Certo Olhar, onde está acomodado À deriva, do brasileiro Heitor Dhalia, além do japonês Hirokazu Kore-eda, o iraniano Bahman Ghobadi, o francês Alain Cavliar e o russo Pavel Loungine, e outros diretores da Colômbia, Israel e Grécia.
Outros provocadores estão de volta à Croisette, como o francês Gaspar Noe (Irreversível), que retorna com Enter the void, o dinamarquês Lar Von Trier (Os idiotas), em competição com uma história de terror, e o coreano Park Chan-wook (Oldboy), que exibirá Thirst, um thriller vampiresco.

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