Atores mirins surpreendem no filme “Amor Bandido”
Última sessão do longa metragem que tem Matthew McConaughey e Reese Witherspoon no elenco acontece nesta quinta, às 19h, no Iguatemi
Lançado em circuitos de festivais ainda em 2012 (em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro e Arras), “Amor Bandido” continuou por esse caminho em 2013, despontando em Sundance e RiverRun até ganhar um lançamento limitado e depois mais amplo em circuito americano em abril de 2013. O filme está em cartaz no Cinema de Arte do UCI Ribeiro Iguatemi, organizado pelo jornalista Pedro Martins Freire, e tem última sessão hoje, às 19h. Houve dificuldade na negociação dessa produção, que partiu de um conceito de seu diretor e roteirista Jeff Nichols já em 1990. Todos os seus percalços para colocar o filme na lata e seu lançamento fracionado acabou gerando um interessante status de film cult logo em seu nascedouro.
Mas a pouca divulgação comercial de “Amor Bandido” (“Mud”) não deveria desanimar os espectadores. O resultado é uma obra que reúnes temas comuns como o amadurecimento de jovens e da descoberta do amor e do sexo em uma trama que também aborda a desilusão do amor e a separação, de uma forma criativa e original. Ao tratar do começo e também do fim de relacionamentos – com uma boa dose de filme policial no meio – Nichols é muito bem sucedido ao retirar Amor Bandido da vala comum de obras dessa natureza, elevando-o ao status de pequena obra prima.
E muito da qualidade de Amor Bandido vem da atuação de Matthew McConaughey, ator que, devagar e sempre, vem se mostrando como um dos melhores de sua geração. Imaginado por Nichols como a pessoa ideal para o papel desde que primeiro pensou no roteiro, McConaughey vive Mud (“lama” em inglês e também o título original do filme, termo bastante descritivo de sua situação amorosa), um foragido da policia que se esconde em um barco abandonado que, na última enchente do Mississippi em Arkansas, acabou repousando no topo de uma árvore. Ele é achado por dois meninos, Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) e os três – mas especialmente Ellis e Mud – forjam um estranho laço de amizades.
Mud voltou ao Arkansas para buscar sua amada, Juniper (Reese Witherspoon) e os meninos se compadecem e se identificam por essa cruzada romântica e partem a ajudá-lo trazendo comida e material para o conserto do barco, além de fazer contato com Tom Blankenship (o sempre excelente Sam Shepard), uma espécie de pai para Mud. Ao mesmo tempo em que vemos essa relação se desenvolver, passamos a acompanhar Ellis mais de perto e aprendemos sobre seus próprios problemas e desejos.
Refletindo talvez o amor não correspondido de Mud e sua solidão, Ellis apaixona-se por uma menina mais velha e tem que lidar com a iminente separação dos pais, separação essa que também ameaça seu lar, uma vez que leis recentes determinaram que casas flutuantes fossem retiradas do rio. O paralelismo das relações pode soar coincidente e forçada, mas Nichols consegue, a partir de um roteiro inteligente e bem construído, nos presentear com um filme de rara beleza.
McConaughey, com sotaque carregado e uma expressão constante de cachorro abandonado, faz um de seus melhores papeis dramáticos, um que logo atrai a atenção do espectador da mesma maneira que os meninos são atraídos por Mud. Sua obsessão com Juniper é dolorosa e fica ainda mais gritante quando a própria Juniper, graças aos garotos, reentra na vida de Mud. Reese Witherspoon, que nunca contracena com McConaughey, sempre foi uma atriz limitada, mas, aqui, ela realmente consegue se livrar das amarras de seus papeis anteriores e tem a performance de sua vida.
Amor Bandido é uma pequena obra que serve como perfeita confirmação de trajetória de carreira para Matthew McConaugh, além de uma fábula moderna sobre a vida e como ela simplesmente acontece e você nada pode fazer a não ser se adaptar. Jeff Nichols não tem pressa em mostrar esse desenvolvimento, mas, mesmo ao longo de seus 130 minutos, a fita não cansa e prende a atenção do espectador, levando a um clímax que talvez seja apressado demais e que não combine com o resto do encadeamento da narrativa, mas que não afeta o engrandecedor resultado final.
Abundância de imagens cria problema para o espectador
Filme francês “A Espuma dos Dias” está sendo exibido esta semana na Sessão de Arte do Iguatemi
Quando Björk apareceu, nos idos de 1993, em uma floresta cercada de bichos de pelúcia e esvoaçantes animações de papel no vídeo de "Human Behaviour", logo se descobriu que aquela extravagância anunciava mais que um talentoso diretor de clipes. Em seu sexto longa em pouco mais de uma década, Michel Gondry reafirma a singularidade de seu universo audiovisual e uma assinatura que vai além da habilidade de produzir bricabraques. O desafio em transpor "A Espuma dos Dias" para o cinema está na abundância das imagens, responsáveis, em grande parte, pelo fascínio do romance de Boris Vian.
O filme, que será exibido essa semana na Sessão de Arte do UCI Ribeiro Iguatemi, traduz com tantos detalhes e inventividade o imaginário tresloucado de Vian que acaba criando um problema básico para o espectador: é difícil se situar sensorialmente em meio ao volume de estímulos e ainda prestar atenção na narrativa. O efeito desse excesso, em mais de um momento, é que o filme se confunde com um videoclipe de longa duração.
Outro obstáculo decorre, paradoxalmente, da proximidade do cinema de Gondry com a delirante escritura de Vian. Do mesmo modo que aconteceu com David Cronenberg ao transpor o "Almoço Nu", de William Burroughs, o filme sofre com uma falta de distância ou de diferença, portanto, de autonomia em relação ao cultuado original.
Nos dois casos, é como se os cineastas expusessem demais seu universo tão próprio à radiação da matriz, a ponto de quase perderem a capacidade de metamorfosear, vampirizar o outro. Apesar desses limites, é difícil não se emocionar com o modo como o filme expressa o tema usado e abusado da perda.
E quando Gondry consegue se despojar da mania de amontoar, quando acredita no desbotamento e nos convida a sentir a melancolia visualmente, "A Espuma dos Dias" vira, como "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", quase obra-prima.
Última sessão do longa metragem que tem Matthew McConaughey e Reese Witherspoon no elenco acontece nesta quinta, às 19h, no Iguatemi
Lançado em circuitos de festivais ainda em 2012 (em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro e Arras), “Amor Bandido” continuou por esse caminho em 2013, despontando em Sundance e RiverRun até ganhar um lançamento limitado e depois mais amplo em circuito americano em abril de 2013. O filme está em cartaz no Cinema de Arte do UCI Ribeiro Iguatemi, organizado pelo jornalista Pedro Martins Freire, e tem última sessão hoje, às 19h. Houve dificuldade na negociação dessa produção, que partiu de um conceito de seu diretor e roteirista Jeff Nichols já em 1990. Todos os seus percalços para colocar o filme na lata e seu lançamento fracionado acabou gerando um interessante status de film cult logo em seu nascedouro.
Mas a pouca divulgação comercial de “Amor Bandido” (“Mud”) não deveria desanimar os espectadores. O resultado é uma obra que reúnes temas comuns como o amadurecimento de jovens e da descoberta do amor e do sexo em uma trama que também aborda a desilusão do amor e a separação, de uma forma criativa e original. Ao tratar do começo e também do fim de relacionamentos – com uma boa dose de filme policial no meio – Nichols é muito bem sucedido ao retirar Amor Bandido da vala comum de obras dessa natureza, elevando-o ao status de pequena obra prima.
E muito da qualidade de Amor Bandido vem da atuação de Matthew McConaughey, ator que, devagar e sempre, vem se mostrando como um dos melhores de sua geração. Imaginado por Nichols como a pessoa ideal para o papel desde que primeiro pensou no roteiro, McConaughey vive Mud (“lama” em inglês e também o título original do filme, termo bastante descritivo de sua situação amorosa), um foragido da policia que se esconde em um barco abandonado que, na última enchente do Mississippi em Arkansas, acabou repousando no topo de uma árvore. Ele é achado por dois meninos, Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) e os três – mas especialmente Ellis e Mud – forjam um estranho laço de amizades.
Mud voltou ao Arkansas para buscar sua amada, Juniper (Reese Witherspoon) e os meninos se compadecem e se identificam por essa cruzada romântica e partem a ajudá-lo trazendo comida e material para o conserto do barco, além de fazer contato com Tom Blankenship (o sempre excelente Sam Shepard), uma espécie de pai para Mud. Ao mesmo tempo em que vemos essa relação se desenvolver, passamos a acompanhar Ellis mais de perto e aprendemos sobre seus próprios problemas e desejos.
Refletindo talvez o amor não correspondido de Mud e sua solidão, Ellis apaixona-se por uma menina mais velha e tem que lidar com a iminente separação dos pais, separação essa que também ameaça seu lar, uma vez que leis recentes determinaram que casas flutuantes fossem retiradas do rio. O paralelismo das relações pode soar coincidente e forçada, mas Nichols consegue, a partir de um roteiro inteligente e bem construído, nos presentear com um filme de rara beleza.
McConaughey, com sotaque carregado e uma expressão constante de cachorro abandonado, faz um de seus melhores papeis dramáticos, um que logo atrai a atenção do espectador da mesma maneira que os meninos são atraídos por Mud. Sua obsessão com Juniper é dolorosa e fica ainda mais gritante quando a própria Juniper, graças aos garotos, reentra na vida de Mud. Reese Witherspoon, que nunca contracena com McConaughey, sempre foi uma atriz limitada, mas, aqui, ela realmente consegue se livrar das amarras de seus papeis anteriores e tem a performance de sua vida.
Amor Bandido é uma pequena obra que serve como perfeita confirmação de trajetória de carreira para Matthew McConaugh, além de uma fábula moderna sobre a vida e como ela simplesmente acontece e você nada pode fazer a não ser se adaptar. Jeff Nichols não tem pressa em mostrar esse desenvolvimento, mas, mesmo ao longo de seus 130 minutos, a fita não cansa e prende a atenção do espectador, levando a um clímax que talvez seja apressado demais e que não combine com o resto do encadeamento da narrativa, mas que não afeta o engrandecedor resultado final.
Abundância de imagens cria problema para o espectador
Filme francês “A Espuma dos Dias” está sendo exibido esta semana na Sessão de Arte do Iguatemi
Quando Björk apareceu, nos idos de 1993, em uma floresta cercada de bichos de pelúcia e esvoaçantes animações de papel no vídeo de "Human Behaviour", logo se descobriu que aquela extravagância anunciava mais que um talentoso diretor de clipes. Em seu sexto longa em pouco mais de uma década, Michel Gondry reafirma a singularidade de seu universo audiovisual e uma assinatura que vai além da habilidade de produzir bricabraques. O desafio em transpor "A Espuma dos Dias" para o cinema está na abundância das imagens, responsáveis, em grande parte, pelo fascínio do romance de Boris Vian.
O filme, que será exibido essa semana na Sessão de Arte do UCI Ribeiro Iguatemi, traduz com tantos detalhes e inventividade o imaginário tresloucado de Vian que acaba criando um problema básico para o espectador: é difícil se situar sensorialmente em meio ao volume de estímulos e ainda prestar atenção na narrativa. O efeito desse excesso, em mais de um momento, é que o filme se confunde com um videoclipe de longa duração.
Outro obstáculo decorre, paradoxalmente, da proximidade do cinema de Gondry com a delirante escritura de Vian. Do mesmo modo que aconteceu com David Cronenberg ao transpor o "Almoço Nu", de William Burroughs, o filme sofre com uma falta de distância ou de diferença, portanto, de autonomia em relação ao cultuado original.
Nos dois casos, é como se os cineastas expusessem demais seu universo tão próprio à radiação da matriz, a ponto de quase perderem a capacidade de metamorfosear, vampirizar o outro. Apesar desses limites, é difícil não se emocionar com o modo como o filme expressa o tema usado e abusado da perda.
E quando Gondry consegue se despojar da mania de amontoar, quando acredita no desbotamento e nos convida a sentir a melancolia visualmente, "A Espuma dos Dias" vira, como "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", quase obra-prima.
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