segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

TOP DVD

Inédito nos cinemas, “Inferno no Faroeste” tem Mickey Rourke no elenco 

Hoje em dia existem poucos filmes que podem ser chamados de autênticos “faroestes” ou westerns, como dito lá fora. O gênero encontra-se em extinção em tempos de comédias descerebradas e aventuras com explosões a cada cinco segundos. Poucos são os casos em que vemos na tela um “herói sem nome e sem passado” enfrentando os fora da lei em qualquer pequena cidade do oeste norte-americano (mesmo que seja filmado na Itália ou Espanha, como nos faroestes “espaguete” dos anos 60 e 70). Alguns poucos exemplos ainda resistem nos dias de hoje, mas longe dos tempos áureos do gênero, um dos mais populares na história do cinema.
“Inferno no Faroeste”, lançamento da Paramount nas locadoras, é uma produção pequena, mas bem realizada esteticamente, já que o diretor Roel René usa e abusa da câmera lenta para valorizar o maior número possível de clichês do gênero (saques, tiroteios, fugas espetaculares, brigas e é claro, muito sangue jorrando). Tudo bem que não é um Zack Snyder ou um John Woo, que usam o recurso com primazia em suas produções, mas o resultado aqui gera boas imagens de ação.
Danny Trejo, o mais mal encarado dos astros de ação, é Guerrero, o líder da temida quadrilha Blackwater, que chega a uma pequena cidade para resgatar seu meio-irmão Red (Anthony Michael Hall), condenado à forca por seus crimes. Depois que o liberta, Guerrero fica sabendo sobre um carregamento de ouro guardado na cidade, que vive à custa da mineração. Todos concordam em roubar o tal carregamento e abandonarem a cidade, sem vítimas de preferência.
No entanto, Red trai o líder e seus companheiros o executam a sangue frio, tomando o controle da cidade e mudando no nome para Tombstone. Pra quem não sabe, essa cidade de fato existiu e foi comandada pelo famoso xerife Wyatt Earp, junto com seus irmãos e o conhecido jogador Doc Holliday. Um dos melhores faroestes “Tombstone – A justiça está chegando” conta essa história. Ao que parece, os roteiristas tiveram a “brilhante” ideia de associar o nome da cidade (lápide) ao tom sombrio e sobrenatural da história.



Sobrenatural porque Guerrero vai parar nas profundas do inferno e é acolhido pelo próprio Lúcifer, interpretado por ninguém mais, ninguém menos que Mickey Rourke, outro dos “feiosos” do cinema de hoje em dia. Muitos anos de boxe e plásticas mal sucedidas fizeram com que o astro e galã dos anos 80 se limitasse a personagens “barra pesada” ou nesse caso, do próprio diabo.
O pistoleiro sugere um trato com o diabo: trocar sua alma pelas almas dos ex companheiros, de modo que as chamas do inferno fiquem ainda mais fortes. Lúcifer concorda, mas diz que ele tem apenas um dia para cumprir a missão, do contrário, sofrerá tormentos inimagináveis (como se a cara de Trejo já não fosse suficiente). Tem-se assim um filme sobre um homem em busca de vingança contra seus algozes, algo típico nos faroestes, mas com esse elemento de terror presente em jogos, filmes e quadrinhos lançados nos últimos anos.
A caçada de Guerrero a mando do diabo, voltando um ano após sua morte e enfrentando seus adversários em nome da vingança e da salvação lembra demais as histórias do “Corvo”, personagem de James O’Barr, que teve algumas versões para o cinema (entre elas, o primeiro filme estrelado por Brandon Lee), os quadrinhos e filmes do Motoqueiro Fantasma (sem as caretas de Nicolas Cage) e até um pouco de “Spawn”, personagem criado por Todd McFarlane, e que também teve versão para o cinema.
O filme tem uma série de sequências de ação que quase sempre terminam com um dos caçados morto e colocado num caixão de pinho, com uma página da Bíblia cravada no peito por uma faca, ou seja, não há muito em termos de história. Mas tudo bem. O que se pede numa história de vingança é que o vingador consiga caçar suas presas, sejam lá quais forem os recursos utilizados por ele.
Guerrero conta com a ajuda Calathea Massey, interpretada por Dina Meyer, finalmente um rosto bonito em meio a tantas caras feias. A atriz de 45 anos, que já trabalhou em filmes como “Tropas Estelares” e “Jogos Mortais” e que viveu Bárbara Gordon (Batgirl/Oráculo) na série “Birds of Prey” continua linda e sensual, e mostra que tem fibra pra enfrentar os perigosos bandidos, também motivada por uma vingança pessoal contra eles.
Realmente, o filme não é um dos melhores exemplos para ser chamado de faroeste autêntico nos dias de hoje, já que o tema do “velho oeste” é apenas o pano de fundo para contar mais uma história de vingança com elementos soturnos. Ainda assim, não decepciona quando o assunto é ação e diversão.
Danny Trejo continua sendo um péssimo ator e não consegue expressar emoções específicas em determinadas cenas, mas mesmo assim, ainda é um cara carismático (com essa cara?) e se dá bem na pele de sujeitos que não tem muito na vida, mas conseguem intimidar aqueles que cruzam seu caminho. O vilão de Michael Hall (astro que despontou na geração teen dos anos 80 e que se perdeu ao longo dos anos) não é dos mais perigosos e temíveis, mas também não compromete, e tem bons duelos (em palavras e na ação) com Trejo. E Mickey Rourke continua sendo ele mesmo nas telas, o que também não compromete a diversão daqueles que não esperam mais nada mesmo. Não sei em quanto sua interpretação do diabo tem da versão de Robert De Niro em “Coração Satânico”, filme que ele também estrelou.
“Inferno no Faroeste” bem que poderia ser uma história dos já citados “Spawn” ou do “Motoqueiro Fantasma”, nas linhas que exploram a essência dos personagens em outras eras e sob outras circunstâncias. O rumo que a história toma sugere algo bem próximo a isso, tendo inclusive, a possibilidade de explorar mais o personagem central em outras aventuras, afinal de contas, não dá pra ter um Machete todos os anos.

Nenhum comentário: