terça-feira, 15 de abril de 2014

POLÍTICA CULTURAL

Secretaria de Cultura de Fortaleza "esquece" de pagar dívidas do IX Festival de Teatro

O blog Divirta-CE recebeu uma carta do curador do IX Festival de Teatro de Fortaleza, que aconteceu ano passado, Kil Abreu. Ele reclamou do pagamento de sua comissão e dos cachês de grupos de teatro envolvidos por parte da Prefeitura de Fortaleza. Leia a carta na íntegra:
 
"Caro Felipe, tudo bem?
Meu nome é Kil Abreu. Sou jornalista, crítico e curador de teatro, moro em São Paulo. Como curador já trabalhei para a maior parte dos principais festivais de teatro do país, como o Festival de Curitiba, Festival Internacional de teatro de São José do Rio Preto e Festival Recife do teatro nacional. Por oito anos também fui jurado do Prêmio Shell de teatro. Atualmente sou jurado do prêmio APCA, da Associação Paulista de críticos de arte e curador do Centro Cultural São Paulo.
Em meados do ano passado fui convidado pela Secretaria de Cultura de Fortaleza para prestar serviço de curadoria ao Festival de teatro de Fortaleza (IX Edição), que se realizaria – como de fato aconteceu – em novembro de 2013. A tarefa a mim confiada foi selecionar espetáculos teatrais de fora do Ceará para compor a programação do Festival,  que se articulou em torno do tema “O Teatro e a Cidade”. Como se pode verificar, malgrado as estruturas e condições ruins de produção oferecidas aos artistas convidados, o Festival se realizou a contento, com apresentações nos teatros, nas ruas e em espaços não convencionais, como se noticiouamplamente naquele momento. Além dos espetáculos foram realizadas ações de formação envolvendo grupos de fora de Fortaleza, bem como grupos cearenses, oferecidas aos artistas locais e à população em geral. Todas estas atividades ensaiaram um bom momento de aproximação do teatro com a cidade e os seus cidadãos e poderiam significar uma boa sinalização da Prefeitura na direção de uma arte pública e cidadã.
Entretanto, passados cinco meses (o Festival aconteceu de 23 a 30 de novembro), os grupos de teatro convidados, bem como os críticos que escreveram sobre os trabalhos e o curador permanecem sem receber os cachês acordados. E, pior: depois de reiteradas tentativas de esclarecimentos junto à Secult-For, o que resta é um constrangedor e inexplicável, antiético silêncio. A única resposta remete ao fato de que o processo de pagamento foi enviado à Secretaria de Finanças do Município, que por sua vez não responde e também não explica o atraso, a sistemática dos pagamentos, nem projeta datas para quitar a dívida.
Venho agora publicizar esta situação porque creio que ela ultrapassou todos os limites da falta de respeito com os artistas que se dispuseram a ir ao Ceará de boa fé; mas, não só: a atitude de “lavar as mãos” adotada pela Secretaria de Cultura do município é preocupante porque anuncia, justo no órgão responsável pelo fomento da arte e do acesso cidadão, uma política despreparada e amadora, que não cumpre os acordos com a sociedade.
Devo dizer que os grupos que estão agora  à mercê de um calote da Prefeitura de Fortaleza são companhias muitas delas com visibilidade e carreira internacional e todas, sem exceção, têm lugar de destaque no cenário teatral contemporâneo brasileiro, entre as quais: a Cia. Hiato (São Paulo), uma das mais premiadas da cena nacional, que hoje faz parte do circuito internacional de festivais de teatro, tendo se apresentado recentemente na Holanda, no Chile e na Alemanha; Os Satyros, grupo central da cena paulista com intervenções e apresentações na Alemanha, Portugal, Espanha e na África; Cia. do Miolo (São Paulo), uma das principais do circuito de rua no Brasil, que acaba de se apresentar em Havana a convite do governo cubano; os artistas do espetáculo “Maravilhoso” (Rio de Janeiro), dramaturgia de Diogo Liberano e direção de Inez Viana, uma das mais premiadas e inventivas encenadoras da nova cena carioca (atriz da Rede Globo); Kleber Lourenço (Pernambuco), ator e bailarino e um dos mais inventivos criadores da cena performativa pernambucana.  
São oito montagens que foram convidadas pessoalmente por mim, então curador do Festival, sob a guarda da Secretaria de Cultura de Fortaleza e sob o acordo de que todos receberiam seus cachês até o final de 2013, coisa que não só não ocorreu como acabou por configurar um capítulo deprimente da relação dos artistas de outros Estados com a cultura do Ceará.
Tanto o atraso inexplicado quanto o silêncio dos órgãos competentes infelizmente desacreditam e descredibilizam futuras ações e convites envolvendo o Festival de teatro de Fortaleza, o que é uma perda não só para o teatro do Ceará como também para a população da cidade.

Sem ter mais para onde avançar na tentativa de diálogo e esclarecimento junto à Prefeitura de Fortaleza e à Secult-For, nos dirigimos agora à Imprensa cearense e aos órgãos de Justiça competentes, na esperança de que possam corrigir (no caso da justiça) ainda que pontualmente,  a má gestão da Cultura; e possam informar sobre o ocorrido (no caso da Imprensa), para que se dê visibilidade sobre como se está gerindo as atividades culturais na cidade. Creio que se trata não só do reclamo por pagamentos atrasados como também um serviço de utilidade público relacionado ao direito à informação que os cidadãos têm.
Pelo que, peço a gentileza de avaliar e se achar pertinente, divulgar o ocorrido no seu espaço – ou encaminhar a outros espaços em que julgue que essas informações podem ser úteis.

            Grato pela atenção, com um abraço,
            Kil Abreu
            Jornalista, crítico, curador de teatro – Curador do IX Festival de teatro de Fortaleza.

Em tempo, meus contatos são os seguintes: kil.abreu@uol.com.br (11)99579 5188 Estou disponível para responder a qualquer questão, caso seja necessário."

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