quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CINEMA DE ARTE

"Depois de Maio" mostra o clima de rebeldia da geração de 1968

Filme está em cartaz no “Cinema de Arte” do Kinoplex UCI Ribeiro Iguatemi, com sessão às 19h
Movimentos revolucionários, o ativismo de esquerda, foram e ainda são temas interessantes para realizadores de cinema. Principalmente quando aquele que o produz viveu aquilo. É assim em “Depois de Maio”, filme mais recente do cineasta francês Olivier Assayas, que está em cartaz no “Cinema de Arte” do Kinoplex UCI Ribeiro Iguatemi, com sessão às 19h. Dizem que há muito da vida do diretor em seu protagonista, o militante político e aspirante a artista, Gilles (Clément Métayer). O título do filme se refere ao histórico Maio francês de 1968, onde se acreditava ter nascido uma novo tipo de esquerda, preocupada verdadeiramente com o proletário e em mostrar as verdades omitidas pelas mídias. No entanto, o filme de Assayas se inicia em 1971 e não pretende ser um estudo rígido do movimento. Em um Liceu, estudantes combinam de ir em um protesto. Em seguida, um violento confrontamento – filmado de forma crua – entre a liga estudantil e a temida CRS (tropa de choque francesa) confirma que os jovens, de fato, naquele momento estão a procura de uma evidente mudança social. Mesmo que para isso precisem ir para a conflagração.
Um deles – e qual a narrativa de Depois de Maio vai acompanhar – é o já citado Gilles. Um rapaz de família de classe média, com evidente talento para a arte, principalmente pintura, mas que também vê no cinema uma maneira assertiva de diálogo em massa. Gilles enamora Laure (Carole Combes), uma moça despudorada com um desejo enorme de conhecer o mundo. E para tal, o romance entre os dois deve ter um ponto final, pois ela vai para uma temporada em Londres. Em uma das manifestações seguintes, Gilles e um grupo colam cartazes de protesto e picham a fachada do Liceu. Um descuido faz com que entrem em confronto com operários que reformam a instituição. Um deles denuncia um dos jovens a diretoria. Em represália, os estudantes organizam um ataque aos operários. No calor do combate, um dos trabalhadores acaba saindo gravemente ferido. Logo o grupo de estudantes precisa ser desfeito, para assim dificultar as investigações. Uns vão para Espanha, outros Inglaterra. Gilles e sua nova namorada, a engajada Christine (Lola Créton), resolvem por se refugiarem na Itália.


Em solo italiano, levando uma vida de mochileiros, Gilles e Christine terão contato com outros entusiastas de pensamento revolucionário e que usam do cinema para externar tais ideias. Lá também, Gilles colocará seu futuro em cheque, se encontrando dividido entre a militância e o desejo de seguir uma carreira artística. Nesse sentido, Depois de Maio se assume não somente como um retrato de um época conturbada, mas também sobre o embate interior que existe quando se é jovem. Gilles acredita no ideal esquerdista, mas não quer viver em uma unidade de viés comunista. Ele também crê no isolamento do indivíduo para entrar em contato com seu verdadeiro eu. Em dado momento, um personagem diz para Gilles: “Ser artista é viver somente para si.” De certa forma, não deixa de ser um apontamento perspicaz, não somente para identificar um artista, mas qualquer ser humano. O egoísmo é mesmo inerente ao nosso caráter e renega-lo é um ato dos mais altruístas. Talvez até o maior de todos.
E apesar de Depois de Maio trazer uma panorama de pessoas que compactuavam com pensadores e sistemas comunistas, o filme de Assayas não reverencia tal retrato. Existe muita contradição no ato dos personagens, não se refutando de se desprenderem do que parecem acreditar para seguirem em frente com novas perspectivas. Aqui, Depois de Maio também demonstra que é uma obra sobre partidas e despedidas, sobre deixar para trás velhos ideais claudicantes e arquétipos ultrapassados. Nem sempre o elenco consegue transmitir com eficiência sentimentos e sensações tão intensas. Por vezes as interpretações parecem frias e desapegadas. Contudo, creio ser mesmo uma instrução de Assayas ao seu elenco, onde a encenação deve apontar para uma linha reta virtual onde o propósito da trama é mostrar como o mundo está em constante mutação e movimento. E aquele que não se adaptar, pode calhar de ser apenas uma vaga lembrança pálida. Assim o diretor mira no passado para compreender o presente. Destaque para excelente trilha sonora do filme.


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