sexta-feira, 5 de julho de 2013

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"O Amante da Rainha" vai além da bela moldura

Filme dinamarquês indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro chega nas locadoras


O dinamarquês "O Amante da Rainha", cujos roteiro e ator já foram premiados no Festival de Berlim do ano passado, e foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, cumpre, com brilho, a função. O filme acaba de chegar nas locadoras e reconstitui o casamento de Caroline Mathilde com Christian 7º, rei da Dinamarca, em 1766, em meio à deterioração dos regimes absolutistas na Europa. A intriga palaciana mistura o conservadorismo da época e o desejo de liberdade de uma jovem refém das convenções. A produção refinadíssima, em que direção de arte e figurinos saltam aos olhos a cada cena, resume a ambição de cinema-espetáculo com DNA europeu. No entanto, se contasse apenas com isso, "O Amante da Rainha" não seria mais que um exemplo da lista de filmes de bela moldura, aqueles que se apagam mais rápido que o verniz de sua superfície. O trabalho assinado pelo dinamarquês Nikolaj Arcel respira na medida em que procura um alento na ficção e não se limita ao projeto de reconstituir um fato histórico nem apela ao cansado recurso do "baseado em fatos reais".
Logo na primeira cena, o destino trágico da rainha Caroline Mathilde, que do exílio escreve uma carta aos dois filhos dos quais foi apartada, conduz o filme para um rumo romanesco. Esse ponto de partida na forma de flashback oferece à trama um ângulo subjetivo, a perspectiva de uma personagem cujo olhar antagônico refletirá o anacronismo de regras e valores de uma corte que tenta se manter, apesar dos múltiplos sinais de dissolução do absolutismo na segunda metade do século 18. Face à rainha, o rei Christian, cujo lugar à primeira vista se confunde com o de bobo, projeta as fragilidades desse poder destinado à abolição.

Quando entra em cena o personagem do título, um alemão com ideais iluministas que assume o posto de médico do rei e acaba se envolvendo com a rainha, o relato histórico se funde definitivamente com a trama romanesca. O potencial satírico do rei --sua vocação para o teatral e a representação-- ganha positividade por meio da atuação do médico, que destaca aquela "fraqueza" como astúcia no jogo de poder. Sua influência sentimental sobre a rainha, por sua vez, complementa-se na forma de progressismo, como a adoção de vacinação no combate a epidemias, que se sustenta no apoio dela.
Com essa valorização do subterfúgio e do convencimento por linhas tortas, "O Amante da Rainha" reencontra outra tradição, a do cinema que simula uma evasão para obter, de fato, aquilo que interessa.

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