sexta-feira, 5 de julho de 2013

QUADRINHOS

O universo de Fernando Pessoa em HQ

Lançamento da Editora Peirópolis mergulha nos heterônimos criados pelo escritor português
 

Já chegou às livrarias de todo o país o álbum “Eu, Fernando Pessoa”, lançamento da Editora Peirópolis, que integra a coleção “Clássicos em HQ”. Escrita e roteirizada por Susana Ventura, a partir de textos históricos – cartas e obituários dos jornais de época -, a obra recebeu leitura visual do genial ilustrador gaúcho Eloar Guazzelli. Eu, Fernando Pessoa analisa de forma profunda os heterônimos criados pelo poeta e escritor português. O enredo se desenrola a partir de uma carta na qual Pessoa explica ao amigo Adolfo Casais Monteiro o nascimento e vida de seus principais heterônimos: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, e do semi-heterônimo Bernardo Soares.
A múltipla personalidade de Pessoa inspirou Guazzelli a desenhar em diferentes estilos. “Sempre gostei de mudar o traço, mas a trajetória do poeta me deu segurança para brincar ainda mais”, revela. Guazzelli destaca a parceria com Susana Ventura, fundamental para traduzir em imagens o amplo universo de Pessoa. “Ela me deu a base, o alicerce e assim ficou mais fácil pensar no desenvolvimento estético da história”, destaca o quadrinista, que teve cinco meses para concluir o trabalho.
Este é o segundo livro do ilustrador sobre o escritor português. Em 2012 lançou Fernando Pessoa e outros Pessoas. A satisfação com o resultado dos livros encorajou o autor a transportar as imagens que garimpou nesses dois trabalhos para sua outra profissão: a de diretor de curta-metragem. Guazzelli está adaptando para a tela uma releitura silenciosa e sintética de Eu, Fernando Pessoa. “Conviver com essa personalidade multipartida, essa verdadeira multidão gerada a partir de um indivíduo e sua explosão criativa em diversas frentes foi o que me cativou em definitivo”, confessa.

O entusiasmo pela obra do poeta gerou um novo projeto, um curta-metragem de animação na forma de um poema visual retratando o dia em que Fernando Pessoa virou imortal. Para tanto Guazzelli invocou seu "heterônimo" que trabalha com animação a mais de vinte e cinco anos. A animação pode ser ativada por QR Code impresso na contracapa do livro.
Trabalhar em cima da obra do poeta, segundo Guazzelli, foi ao mesmo tempo uma honra e um desafio. “Eu aceitei fazer o álbum com grande entusiasmo, mas com a plena consciência da enorme responsabilidade que tinha pela frente. Afinal, eu desenharia sobre um texto maravilhoso de um verdadeiro ícone da nossa vida cultural!”, revela, eufórico, acrescentando que leu muito sobre a vida do poeta e que a admiração e o respeito nortearam os estudos. “Eu sentia que a figura de Pessoa pairava sobre mim”.
Para atender o prazo estipulado, Guazzelli dividiu o trabalho em três etapas: básica (pesquisa visual e leitura do roteiro de HQ), esboço das páginas e arte-final (incluindo traço, cor e aplicação de balões e texto). Ele conta que foram necessários muitos ajustes, não só para adequar as ilustrações ao número de páginas, mas também para não deixar o texto muito pesado. “Tivemos um cuidado extremo para não violar a integridade da obra e, ao mesmo tempo, para não sermos redundantes, com transcrições demasiadamente literais”, detalha. Transpor para os quadrinhos o legado de um dos maiores nomes da literatura exigiu de Guazzelli um exercício intenso de autocontrole, equilibrado por alguns vôos mais intuitivos. “Foi uma verdadeira gangorra para não cair nas armadilhas criadas pelo desejo de traduzir em imagens a riqueza poética de Pessoa’, conclui.
A Coleção “Clássicos em HQ”, da Editora Peirópolis, inclui também versões para quadrinhos das obras: Dom Quixote (Cervantes por Caco Galhardo); Os Lusíadas (Camões por Fido Nesti); O Corvo (Poe por Luciano Irrthum); Demônios (Aluísio Azevedo por Eloar Guazzelli); Conto de Escola (Machado por Silvino); Auto da Barca do Inferno (Gil Vicente por Laudo Ferreira), A Divina Comédia (Dante por Piero e Giuseppe Bagnariol) e Frankenstein (Mary Shelley por Taisa Borges).

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