Novo filme de Oliver Stone reúne elenco de estrelas em história policial
Do controverso JFK – A pergunta que não quer calar, aos marcos cinematográficos como Platoon e Nascido em 4 de Julho, Oliver Stone sempre foi considerado um dos grandes nomes do cinema internacional. Vencedor de três Oscars (dois por direção, um por roteiro adaptado), o nova-iorquino mostra em seus trabalhos um claro interesse político e uma visão admirável ao dirigir histórias violentas. Há algum tempo, entretanto, Stone tem feito trabalhos falhos, muito falhos, como no pavoroso As Torres Gêmeas ou o fracassado Alexandre.
Em seu mais recente filme, “Selvagens”, que teve estreia no Rio, São Paulo e Distrito Federal, mas não chegou nos cinemas de Fortaleza, Stone não faz nem o trabalho memorável que lhe deu todo o prestígio nos anos 80, nem uma execução completamente desastrosa. O filme chega agora nas locadoras, em lançamento da Paramount com versão estendida.
Na história de “Selvagens”, Chon e Ben são grandes amigos que trabalham com produção e distribuição de maconha de alta qualidade (Ben tem formação em Botânica e melhorou exemplares com altos índices de THC), e são claramente bem sucedidos. Formando um triângulo amoroso consentido, vive com eles a bela Ophelia, e os três levam uma vida invejável na ensolarada Califórnia. Quando negam, porém, as propostas de um cartel mexicano que tem planos de domínio do tráfico, a situação foge do controle e o caos se instala. A partir de uma sinopse dessas, as expectativas do público, a princípio, são atendidas. Há muitas cenas sensuais do trio, sequestros, assassinatos bem sangrentos (com direito a decapitações com motosserra), música eletrônica, uso de drogas, personagens corruptos e certa dose humor. Só que tudo isso é costurado por diálogos tediosos e nada criativos, algumas atuações inconvenientes e uma clara indecisão de tom, que levam “Selvagens” a criar algum vínculo com o espectador apenas quando choca visualmente.
A construção dos personagens é um grande problema, já que dificilmente o público reconhece alguma realidade na condução exageradamente artificial do longa. É tudo tão jogado e ao mesmo tempo tão definitivo que cansa. Ainda no roteiro, o espectador precisa aguentar uma narração chata, preguiçosa e desnecessária, que explica tudo [ou tenta criar algum tipo de expectativa]. A escolha equivocada ainda se junta à confusão temática de Oliver Stone, que é infeliz ao tentar mesclar violência, sexo, drogas, humor e canastrice sob uma execução que acredita estar sendo original.
O elenco tem seus pontos altos e baixos. Começando pelos protagonistas, Blake Lively e Taylor Kitsch fazem um trabalhinho fraco, incapazes de dar alguma verossimilhança aos seus personagens sem graça, enquanto que Aaron Johnson parece mais esforçado e tem claro destaque entre os três. Salma Hayek como Elena se dá bem, imprimindo traços divertidos ao seu papel canastra, enquanto que Benício Del Toro, apesar das atrocidades que comete, quase não desperta medo no espectador. Como um policial corrupto, o destaque é de John Travolta que, além de ser competente em cenas que exigem uma atuação mais descarada, consegue criar certas sutilezas, mesmo quando o momento é de desespero. O filme ainda conta com participações interessantes de Emile Hirsch e Demián Bichir. Nem tudo é problema em “Selvagens” e o público pode ter certa diversão descartável ao longo do filme. Oliver Stone, apesar de pisar na bola na maior parte da condução, consegue criar cenas que lembram o seu “Assassinos por natureza” e quem é fã pode obter algum entretenimento a partir daí.
Inédito nos cinemas, “Um dia perfeito para casar” chega nas locadoras
Filme tem diálogos afiados e muita ironia com o característico humor britânico
As melhores histórias de amor estão repletas de desencontros, escolhas infelizes e tristezas. Nenhuma novidade. O clube dos corações partidos possui sócios nos quatro cantos do planeta. Além disso, sem drama não há trama − dizem aqueles que exploram as dores alheias. A literatura e o cinema são duas das formas artísticas que deitam e rolam nesse mar de paixões − onde nem sempre é possível pescar peixões (ou trocadilhos de melhor qualidade).
Baseado no romance Cheerful Wheather for the Wedding, escrito por Julia Strachey, o filme Um Dia Perfeito para Casar (Dir. Donald Rice, 2012), lançamento da Paramount nas locadoras, alcança esse propósito com razoável competência. Com vantagem considerável sobre filmes similares. Diálogos afiados, dezenas de chistes, quilos de ironia, o humor britânico aflorando a cada cena – cada piada com a mesma competência e intensidade com que carrascos medievais cortavam cabeças.
Em dezembro de 1932, Dolly Thatcham, depois de viagem à Albânia e rápido noivado, vai se casar com Owen Arthur Bigham. As duas famílias e os amigos do casal estão reunidos na mansão de campo, em Devon. Entre os convidados, a irmã (Kitty), a melhor amiga (Evelyn), uma das tias (Belle), o cônego Bob, os tios David e Nancy Dakin (e o filho, Jimmy, de oito anos), a mãe, (a viúva Hettie), os primos Robert e Tom, e os irmãos gêmeos do noivo. Todos, de uma forma ou de outra, contribuem para que o circo pegue fogo.
Estamos aqui há dez minutos e já quero estrangular um membro da sua família, diz Nancy para David, e, depois de uma pausa, finaliza o golpe, O de costume. É apenas a antecipação do aforismo que emitirá um pouco mais tarde, Se quer uma razão para não se casar, vá a um casamento de família.
Joseph Patten, que foi amigo e, digamos, namorado de Dolly, também comparece à festa. Se for verdade que Meu próprio objetivo ainda é ser um cavalheiro inglês de mãos limpas e mente suja, também é verdade que ele não sabe exatamente porque foi até lá. Não está em seus planos atrapalhar o casamento. Quer falar com a noiva, dizer alguma coisa que nem ele mesmo sabe o que é. Objetivo que não se concretiza. Como se estivessem em um jogo de esconde−esconde, eles sempre estão em lugares diferentes. A câmera só os mostra juntos na ação pretérita. São os flash−backs que preenchem os hiatos, que fornecem os elementos faltantes para o entendimento.
Joseph gosta de cutucar na colmeia de vespas e correr para se esconder. Então, é claro, as vespas saem e mordem pessoas inocentes, diz Dolly, de certa forma explicando a si mesma. Foi em um jogo de cricket que se conheceram. Depois foram seis meses de companhia mútua, a presença de um complementando a existência do outro. Houve o baile e todos aqueles pequenos incidentes no piquenique. Na tarde que ele foi se despedir, pois estava partindo para a Grécia, ela o levou suavemente até a estufa de plantas e...
Depois do casamento, depois que a festa terminou e os noivos foram embora, depois que os primos e os convidados estão completamente bêbados e a tarde está findando, ainda há espaço para que a luz penetre na sala e preencha as últimas lacunas. O sofrimento silencioso desaparece, sobram acusações. O tempo e a maré não esperam por ninguém, revela Joseph. Como sempre acontece, seja no cinema, seja na vida "real", todas as histórias de amor terminam mal.
Do controverso JFK – A pergunta que não quer calar, aos marcos cinematográficos como Platoon e Nascido em 4 de Julho, Oliver Stone sempre foi considerado um dos grandes nomes do cinema internacional. Vencedor de três Oscars (dois por direção, um por roteiro adaptado), o nova-iorquino mostra em seus trabalhos um claro interesse político e uma visão admirável ao dirigir histórias violentas. Há algum tempo, entretanto, Stone tem feito trabalhos falhos, muito falhos, como no pavoroso As Torres Gêmeas ou o fracassado Alexandre.
Em seu mais recente filme, “Selvagens”, que teve estreia no Rio, São Paulo e Distrito Federal, mas não chegou nos cinemas de Fortaleza, Stone não faz nem o trabalho memorável que lhe deu todo o prestígio nos anos 80, nem uma execução completamente desastrosa. O filme chega agora nas locadoras, em lançamento da Paramount com versão estendida.
Na história de “Selvagens”, Chon e Ben são grandes amigos que trabalham com produção e distribuição de maconha de alta qualidade (Ben tem formação em Botânica e melhorou exemplares com altos índices de THC), e são claramente bem sucedidos. Formando um triângulo amoroso consentido, vive com eles a bela Ophelia, e os três levam uma vida invejável na ensolarada Califórnia. Quando negam, porém, as propostas de um cartel mexicano que tem planos de domínio do tráfico, a situação foge do controle e o caos se instala. A partir de uma sinopse dessas, as expectativas do público, a princípio, são atendidas. Há muitas cenas sensuais do trio, sequestros, assassinatos bem sangrentos (com direito a decapitações com motosserra), música eletrônica, uso de drogas, personagens corruptos e certa dose humor. Só que tudo isso é costurado por diálogos tediosos e nada criativos, algumas atuações inconvenientes e uma clara indecisão de tom, que levam “Selvagens” a criar algum vínculo com o espectador apenas quando choca visualmente.
A construção dos personagens é um grande problema, já que dificilmente o público reconhece alguma realidade na condução exageradamente artificial do longa. É tudo tão jogado e ao mesmo tempo tão definitivo que cansa. Ainda no roteiro, o espectador precisa aguentar uma narração chata, preguiçosa e desnecessária, que explica tudo [ou tenta criar algum tipo de expectativa]. A escolha equivocada ainda se junta à confusão temática de Oliver Stone, que é infeliz ao tentar mesclar violência, sexo, drogas, humor e canastrice sob uma execução que acredita estar sendo original.
O elenco tem seus pontos altos e baixos. Começando pelos protagonistas, Blake Lively e Taylor Kitsch fazem um trabalhinho fraco, incapazes de dar alguma verossimilhança aos seus personagens sem graça, enquanto que Aaron Johnson parece mais esforçado e tem claro destaque entre os três. Salma Hayek como Elena se dá bem, imprimindo traços divertidos ao seu papel canastra, enquanto que Benício Del Toro, apesar das atrocidades que comete, quase não desperta medo no espectador. Como um policial corrupto, o destaque é de John Travolta que, além de ser competente em cenas que exigem uma atuação mais descarada, consegue criar certas sutilezas, mesmo quando o momento é de desespero. O filme ainda conta com participações interessantes de Emile Hirsch e Demián Bichir. Nem tudo é problema em “Selvagens” e o público pode ter certa diversão descartável ao longo do filme. Oliver Stone, apesar de pisar na bola na maior parte da condução, consegue criar cenas que lembram o seu “Assassinos por natureza” e quem é fã pode obter algum entretenimento a partir daí.
Inédito nos cinemas, “Um dia perfeito para casar” chega nas locadoras
Filme tem diálogos afiados e muita ironia com o característico humor britânico
As melhores histórias de amor estão repletas de desencontros, escolhas infelizes e tristezas. Nenhuma novidade. O clube dos corações partidos possui sócios nos quatro cantos do planeta. Além disso, sem drama não há trama − dizem aqueles que exploram as dores alheias. A literatura e o cinema são duas das formas artísticas que deitam e rolam nesse mar de paixões − onde nem sempre é possível pescar peixões (ou trocadilhos de melhor qualidade).
Baseado no romance Cheerful Wheather for the Wedding, escrito por Julia Strachey, o filme Um Dia Perfeito para Casar (Dir. Donald Rice, 2012), lançamento da Paramount nas locadoras, alcança esse propósito com razoável competência. Com vantagem considerável sobre filmes similares. Diálogos afiados, dezenas de chistes, quilos de ironia, o humor britânico aflorando a cada cena – cada piada com a mesma competência e intensidade com que carrascos medievais cortavam cabeças.
Em dezembro de 1932, Dolly Thatcham, depois de viagem à Albânia e rápido noivado, vai se casar com Owen Arthur Bigham. As duas famílias e os amigos do casal estão reunidos na mansão de campo, em Devon. Entre os convidados, a irmã (Kitty), a melhor amiga (Evelyn), uma das tias (Belle), o cônego Bob, os tios David e Nancy Dakin (e o filho, Jimmy, de oito anos), a mãe, (a viúva Hettie), os primos Robert e Tom, e os irmãos gêmeos do noivo. Todos, de uma forma ou de outra, contribuem para que o circo pegue fogo.
Estamos aqui há dez minutos e já quero estrangular um membro da sua família, diz Nancy para David, e, depois de uma pausa, finaliza o golpe, O de costume. É apenas a antecipação do aforismo que emitirá um pouco mais tarde, Se quer uma razão para não se casar, vá a um casamento de família.
Joseph Patten, que foi amigo e, digamos, namorado de Dolly, também comparece à festa. Se for verdade que Meu próprio objetivo ainda é ser um cavalheiro inglês de mãos limpas e mente suja, também é verdade que ele não sabe exatamente porque foi até lá. Não está em seus planos atrapalhar o casamento. Quer falar com a noiva, dizer alguma coisa que nem ele mesmo sabe o que é. Objetivo que não se concretiza. Como se estivessem em um jogo de esconde−esconde, eles sempre estão em lugares diferentes. A câmera só os mostra juntos na ação pretérita. São os flash−backs que preenchem os hiatos, que fornecem os elementos faltantes para o entendimento.
Joseph gosta de cutucar na colmeia de vespas e correr para se esconder. Então, é claro, as vespas saem e mordem pessoas inocentes, diz Dolly, de certa forma explicando a si mesma. Foi em um jogo de cricket que se conheceram. Depois foram seis meses de companhia mútua, a presença de um complementando a existência do outro. Houve o baile e todos aqueles pequenos incidentes no piquenique. Na tarde que ele foi se despedir, pois estava partindo para a Grécia, ela o levou suavemente até a estufa de plantas e...
Depois do casamento, depois que a festa terminou e os noivos foram embora, depois que os primos e os convidados estão completamente bêbados e a tarde está findando, ainda há espaço para que a luz penetre na sala e preencha as últimas lacunas. O sofrimento silencioso desaparece, sobram acusações. O tempo e a maré não esperam por ninguém, revela Joseph. Como sempre acontece, seja no cinema, seja na vida "real", todas as histórias de amor terminam mal.
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