segunda-feira, 1 de abril de 2013

MÚSICA

A “Fuga” de Tom Custódio da Luz

Conheçam um novo prodígio da MPB

“Vai lá, uma hora aparece algo de bom e o viço do som pode ser um par de asas para fugir com mais jeito, com peito e cor e a dor de outrora findou. Que a fuga resolva toda melodia triste em que me vou.”  Falando em nome do conjunto da obra, a faixa título é tão clara como quer e pode ser: uma expressão metalinguística para o que é compor e criar para Tom Custódio da Luz. E essa necessidade de fazer refúgio na letra e música das 13 faixas de “Fuga” é o que forma o mosaico de humores intrínseco ao trabalho intuitivo de Tom, apresentado nesse disco de estreia, com lançamento pelo selo Albornoz.
É pela estrutura sem refrão, os arranjos trabalhados para dar forma à heterogeneidade das canções e o timbre despretensioso que podem formar aquilo pode ser descrito como a unidade do disco. Ainda assim, como amostra mais latente da contradição – não necessariamente algo pejorativo -, “Damien” e “Cotidiana” são exemplos vivos. A primeira tem letra em inglês, carrega uma melodia que remete ao Oasis e é acompanhada pelo trio básico da cozinha, com baixo e bateria, e da guitarra. Já a segunda tem belos metais - que complementam o som dos violinos, viola e violoncelo -, e uma melodia que em certo momento lembra uma marchinha de carnaval. Tem até um quê de Los Hermanos – que junto com tantos outros, é influência na música de Tom, que também cita Caetano Veloso, Ella Fitzgerald, Novos Baianos e Beatles. Outro exemplo da miscelânea, se ainda é preciso: “E Agora, Tião”, que abre o disco, ora é samba, ora não é mais – só ouvindo para entender -, e “Outsider” tem apenas piano, cuja linha também é seguida em “Desculpe”, esta com a adição do violoncelo. “Do Outro Lado do Morro” é o mais próximo do pop que o disco chega, mas ainda com os dois pés na MPB. Uma inusitada voz feminina – de Geni Longhini - divide os microfones em “Da Falta”, que finaliza o disco com flauta e percussão.

Sobre processo de feitura de “Fuga”, principalmente na hora gravar a voz, Tom diz que o ambiente era inclinado a virar um cenário ideal para a entrega à música. São por esses momentos que ele diz obrigado, antes de qualquer outra coisa, nos agradecimentos do disco: pelos pés descalços, caminhando pela sala de gravação enquanto interpretava as próprias canções no escuro, e por tudo que fora captado nos dias que ele, os músicos e o produtor Oliver Dezidério, também responsável pelos arranjos do disco, passaram no estúdio até o lançamento do produto final - Tom não via a hora de ver tudo pronto.
Afinal, nem que seja para digerir alguma vivência, outras vezes para simplesmente tirá-la para fora do peito, é compondo que para ele há uma eficiência que não existe em nenhuma outra maneira de expressão. “Eu preciso dizer e a música me imbui de certa eloquência afetiva que me permite fazer isso com muito mais riqueza” diz Tom. “É uma relação irresistível.”

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