Dez anos da morte do artista plástico cearense Zenon Barreto
Uma exposição marcará os dez anos da morte do artista plástico cearense Zenon Barreto. Denominada “Z.NON”, a mostra será aberta no próximo sábado, 11, às 16 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108). Com entrada franca, a exposição ficará em cartaz até 18 de março deste ano (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 12h às 18h).
ZENON da Cunha Mendes BARRETO foi um pintor, desenhista, gravador, escultor, cenografista e ilustrador cearense, nascido em Sobral em 31 de dezembro de 1918 e falecido em Fortaleza em 18 de janeiro de 2002.
O artista chegou em Fortaleza e ingressou na Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) em 1949. Participou e foi premiado em diversos eventos: Salão de Abril, Salão de Arte Moderna, Bienal Internacional de São Paulo, Panorama de Arte Atual Brasileira e Salão de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul, entre outros.
Zenon ministrou cursos de desenho, atuou como cenógrafo e figurinista em peças encenadas no Theatro José de Alencar, em Fortaleza. Em 1950, coordenou a restauração da Casa de José de Alencar, e publicou os álbuns “Dez Figuras do Nordeste”, documentário com xilogravuras de arquétipos humanos nordestinos com poemas de cordelistas cearenses e prefácio de Câmara Cascudo, e “Ritos, Danças e Folguedos do Nordeste”, documentário com xilogravuras prefaciado pelo poeta cearense Patativa do Assaré.
Possui obras no Museu Nacional de Belas Artes, Palácio da Abolição (Fortaleza), Paço Municipal de Fortaleza, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Fortaleza, Embaixada do Brasil em Londres, e é co-autor do grande vitral do Instituto de Arte Contemporânea da Fundação Armando Álvares Penteado. Possui diversas esculturas em logradouros de Fortaleza, sendo a mais famosa a que retrata a figura de “Iracema”, personagem do romance de José de Alencar, encravada na praia do mesmo nome.
O inventor de coisas (texto de Jacqueline Medeiros)
Nas mãos de Zenon Barreto, materiais aparentemente pesados, como cimento, ferro e latão, deram forma a figuras e a objetos nordestinos. A incorporação destes elementos está diretamente ligada às concepções de arte e realidade a partir da década de 1960 no Brasil. Nesta mostra onde predominam as obras denominadas "Homenagem ao artesão e ao trabalhador rural", Zenon desloca o sentido funcional das ferramentas de trabalho e cria possibilidades simbólicas abertas a uma pluralidade de leitura a serem escolhidos ou criadas pelo espectador.
As obras, pertencentes ao acervo do Banco do Nordeste, são oriundas da exposição de inauguração do espaço cultural do Banco, nas dependências do BNB Clube de Fortaleza em 23 de fevereiro de 1989. O título Z.NON faz referência a seu jeito crítico e irônico de encarar a vida. É uma alusão às pessoas que confudiam seu nome: zé (José)Non, o que Zenon prontamente assumiu no título de sua exposição em 1952.
Nas esculturas da mostra, Zenon se refere à realidade imediata do seu cotidiano, vivida entre sua fazenda no sertão de Caridade-CE e a capital Fortaleza. As ferramentas e objetos rurais estão deslocados de seus contextos usuais, eles passam a oscilar entre a condição de objeto real e a de elemento formal, compositivo e articulados entre si, sempre com a herança da abstração geométrica e construtiva. Pode-se dizer que a organização dos elementos segue, de certa forma, os ideais de racionalidade e do desenvolvimento da forma, herança da arte construtiva e concreta.
Para o construtivismo, a pintura e a escultura são pensadas como construções e não como representações. O termo construtivismo liga-se diretamente ao movimento de vanguarda russa. Não são pequenas as influências do construtivismo na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Marcas da vanguarda russa podem ser observadas no movimento concreto de São Paulo, Grupo Ruptura, e no Rio de Janeiro, Grupo Frente. Contudo, a ruptura neoconcreta estabelecida com o manifesto de 1959 não afasta as influências do construtivismo russo na arte brasileira. A maior parte dos mais de cem artistas brasileiros da 5ª edição da Bienal de Arte de São Paulo, em 1959, tinha ligações com o abstracionismo, com grande número de concretistas e construtivistas, o que reflete a produção do País naquele momento. Zenon participou daquela Bienal de arte com obras geométricas e construtivas: os desenhos com nanquim “Hospedaria de Flagelados” e “Labirinteiras”, ambos de 1959.
As ferramentas que tem a força de transformação da terra em alimento, tornam-se inúteis e nao têm mais serventia. Seria mais uma de suas posturas críticas diante do trabalho rural e a civilização global como um elemento problemático e contraditório da sociedade contemporânea? Zenon, além de artista, sempre foi um homem político, muito inquieto, criticando o ambiente cultural de Fortaleza. Poderia o artista estar propondo uma Critica social? Zenon vivenciava naqueles finais dos anos 1980 o universo da produção rural e as contradições de que o avanço cientifico e econômico global não ocorrem em concomitância com os avanços sociais, beneficiando todos os setores da sociedade. O que poderia ter mobilizado o artista em torno de uma arte que se coloca a serviço da vida do povo.
Zenon busca um cruzamento entre as formas regulares e geométricas e o aspecto bruto e cru dos objetos do sertão, considerando suas ressonâncias simbólicas. Uma postura crítica como lhe é peculiar, daí seu interesse pelos elementos locais, fugindo do universalismo e preocupando-se com o papel do indivíduo e da subjetividade.
"Tramando Mundos" no Espaço Cultural Unifor
Formar mundos e refletir sobre a matemática do universo são características que unem todas as obras do artista plástico cearense Luiz Hermano, que através da mostra “Tramando Mundos” apresenta seu interesse cosmológico em obras feitas entre 1980 e 2011. A mostra conta com 26 obras que compreendem aquarelas, instalações e esculturas e estará em exibição no Espaço Cultural Unifor Anexo a partir do dia 15 de fevereiro e permanece até o dia 13 de maio.
Desde as aquarelas com temas míticos às mais recentes grades geométricas, Luiz Hermano coloca em cheque a compreensão da origem e as possibilidades de conexão com o universo. Em suas viagens pela Tailândia, Índia e China, o artista encontrou estátuas de budas em construção milenares erguidas segundo a geometria sagrada e se encantou com mandalas que esquematizam o universo. Hermano passeou também pelas ruas de comércio de quinquilharias de plástico, de brinquedos piratas e de computadores de procedência duvidosa. O sagrado é enovelado com o profano, pois o artista não pretende escapar do mundo cotidiano, mas achar nele mesmo a transcendência.
Enquanto faz suas obras, o artista medita e entra em um estado mental similar ao de uma criança brincando, e enquanto sincroniza o movimento de suas mãos com a frequência de suas ondas cerebrais, ergue uma área onde a ilusão de ser um com o universo se integra com a consciência de ser separado desse universo. Nas tramas criadas por Luiz Hermano, a ilusão de estar em controle e ser capaz de mapear o mundo, construindo objetos, coexiste com a frustração de ser um ente de duração finita em um universo que existe em um tempo infinito.
Luiz Hermano nasceu em Preaoca, Ceará, e nos últimos 30 anos teve seus trabalhos apresentados nas principais instituições de arte do Brasil, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Centro Dragão do Mar, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Rio de Janeiro, MAC-USP, MASP, além de participar da Bienal de São Paulo em 1987 e 1991, e da Bienal de Curitiba em 2009.
Uma exposição marcará os dez anos da morte do artista plástico cearense Zenon Barreto. Denominada “Z.NON”, a mostra será aberta no próximo sábado, 11, às 16 horas, no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108). Com entrada franca, a exposição ficará em cartaz até 18 de março deste ano (horários de visitação: terça-feira a sábado, de 10h às 20h; e aos domingos, de 12h às 18h).
ZENON da Cunha Mendes BARRETO foi um pintor, desenhista, gravador, escultor, cenografista e ilustrador cearense, nascido em Sobral em 31 de dezembro de 1918 e falecido em Fortaleza em 18 de janeiro de 2002.
O artista chegou em Fortaleza e ingressou na Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) em 1949. Participou e foi premiado em diversos eventos: Salão de Abril, Salão de Arte Moderna, Bienal Internacional de São Paulo, Panorama de Arte Atual Brasileira e Salão de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul, entre outros.
Zenon ministrou cursos de desenho, atuou como cenógrafo e figurinista em peças encenadas no Theatro José de Alencar, em Fortaleza. Em 1950, coordenou a restauração da Casa de José de Alencar, e publicou os álbuns “Dez Figuras do Nordeste”, documentário com xilogravuras de arquétipos humanos nordestinos com poemas de cordelistas cearenses e prefácio de Câmara Cascudo, e “Ritos, Danças e Folguedos do Nordeste”, documentário com xilogravuras prefaciado pelo poeta cearense Patativa do Assaré.
Possui obras no Museu Nacional de Belas Artes, Palácio da Abolição (Fortaleza), Paço Municipal de Fortaleza, Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade de Fortaleza, Embaixada do Brasil em Londres, e é co-autor do grande vitral do Instituto de Arte Contemporânea da Fundação Armando Álvares Penteado. Possui diversas esculturas em logradouros de Fortaleza, sendo a mais famosa a que retrata a figura de “Iracema”, personagem do romance de José de Alencar, encravada na praia do mesmo nome.
O inventor de coisas (texto de Jacqueline Medeiros)
Nas mãos de Zenon Barreto, materiais aparentemente pesados, como cimento, ferro e latão, deram forma a figuras e a objetos nordestinos. A incorporação destes elementos está diretamente ligada às concepções de arte e realidade a partir da década de 1960 no Brasil. Nesta mostra onde predominam as obras denominadas "Homenagem ao artesão e ao trabalhador rural", Zenon desloca o sentido funcional das ferramentas de trabalho e cria possibilidades simbólicas abertas a uma pluralidade de leitura a serem escolhidos ou criadas pelo espectador.
As obras, pertencentes ao acervo do Banco do Nordeste, são oriundas da exposição de inauguração do espaço cultural do Banco, nas dependências do BNB Clube de Fortaleza em 23 de fevereiro de 1989. O título Z.NON faz referência a seu jeito crítico e irônico de encarar a vida. É uma alusão às pessoas que confudiam seu nome: zé (José)Non, o que Zenon prontamente assumiu no título de sua exposição em 1952.
Nas esculturas da mostra, Zenon se refere à realidade imediata do seu cotidiano, vivida entre sua fazenda no sertão de Caridade-CE e a capital Fortaleza. As ferramentas e objetos rurais estão deslocados de seus contextos usuais, eles passam a oscilar entre a condição de objeto real e a de elemento formal, compositivo e articulados entre si, sempre com a herança da abstração geométrica e construtiva. Pode-se dizer que a organização dos elementos segue, de certa forma, os ideais de racionalidade e do desenvolvimento da forma, herança da arte construtiva e concreta.
Para o construtivismo, a pintura e a escultura são pensadas como construções e não como representações. O termo construtivismo liga-se diretamente ao movimento de vanguarda russa. Não são pequenas as influências do construtivismo na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Marcas da vanguarda russa podem ser observadas no movimento concreto de São Paulo, Grupo Ruptura, e no Rio de Janeiro, Grupo Frente. Contudo, a ruptura neoconcreta estabelecida com o manifesto de 1959 não afasta as influências do construtivismo russo na arte brasileira. A maior parte dos mais de cem artistas brasileiros da 5ª edição da Bienal de Arte de São Paulo, em 1959, tinha ligações com o abstracionismo, com grande número de concretistas e construtivistas, o que reflete a produção do País naquele momento. Zenon participou daquela Bienal de arte com obras geométricas e construtivas: os desenhos com nanquim “Hospedaria de Flagelados” e “Labirinteiras”, ambos de 1959.
As ferramentas que tem a força de transformação da terra em alimento, tornam-se inúteis e nao têm mais serventia. Seria mais uma de suas posturas críticas diante do trabalho rural e a civilização global como um elemento problemático e contraditório da sociedade contemporânea? Zenon, além de artista, sempre foi um homem político, muito inquieto, criticando o ambiente cultural de Fortaleza. Poderia o artista estar propondo uma Critica social? Zenon vivenciava naqueles finais dos anos 1980 o universo da produção rural e as contradições de que o avanço cientifico e econômico global não ocorrem em concomitância com os avanços sociais, beneficiando todos os setores da sociedade. O que poderia ter mobilizado o artista em torno de uma arte que se coloca a serviço da vida do povo.
Zenon busca um cruzamento entre as formas regulares e geométricas e o aspecto bruto e cru dos objetos do sertão, considerando suas ressonâncias simbólicas. Uma postura crítica como lhe é peculiar, daí seu interesse pelos elementos locais, fugindo do universalismo e preocupando-se com o papel do indivíduo e da subjetividade.
"Tramando Mundos" no Espaço Cultural Unifor
Formar mundos e refletir sobre a matemática do universo são características que unem todas as obras do artista plástico cearense Luiz Hermano, que através da mostra “Tramando Mundos” apresenta seu interesse cosmológico em obras feitas entre 1980 e 2011. A mostra conta com 26 obras que compreendem aquarelas, instalações e esculturas e estará em exibição no Espaço Cultural Unifor Anexo a partir do dia 15 de fevereiro e permanece até o dia 13 de maio.
Desde as aquarelas com temas míticos às mais recentes grades geométricas, Luiz Hermano coloca em cheque a compreensão da origem e as possibilidades de conexão com o universo. Em suas viagens pela Tailândia, Índia e China, o artista encontrou estátuas de budas em construção milenares erguidas segundo a geometria sagrada e se encantou com mandalas que esquematizam o universo. Hermano passeou também pelas ruas de comércio de quinquilharias de plástico, de brinquedos piratas e de computadores de procedência duvidosa. O sagrado é enovelado com o profano, pois o artista não pretende escapar do mundo cotidiano, mas achar nele mesmo a transcendência.
Enquanto faz suas obras, o artista medita e entra em um estado mental similar ao de uma criança brincando, e enquanto sincroniza o movimento de suas mãos com a frequência de suas ondas cerebrais, ergue uma área onde a ilusão de ser um com o universo se integra com a consciência de ser separado desse universo. Nas tramas criadas por Luiz Hermano, a ilusão de estar em controle e ser capaz de mapear o mundo, construindo objetos, coexiste com a frustração de ser um ente de duração finita em um universo que existe em um tempo infinito.
Luiz Hermano nasceu em Preaoca, Ceará, e nos últimos 30 anos teve seus trabalhos apresentados nas principais instituições de arte do Brasil, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, Instituto Tomie Ohtake, Centro Dragão do Mar, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Rio de Janeiro, MAC-USP, MASP, além de participar da Bienal de São Paulo em 1987 e 1991, e da Bienal de Curitiba em 2009.
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