domingo, 3 de outubro de 2010

CINEMA

Fantasia e aventura na telona

Filme brasileiro: 'Eu e Meu Guarda-Chuva' encanta com história de fantasma

Há um fantasma que ronda as crianças no começo de todo ano letivo: a volta às aulas. Em Eu e Meu Guarda-Chuva, de Toni Vanzolini, esse medo se materializa na figura de um barão que assombra o prédio da nova escola.
O roteiro é baseado no livro infanto-juvenil escrito pelo titã Branco Mello, o ator Hugo Possolo e o músico e escritor Ciro Pessoa. Por seu universo de fantasia e aventura, muito se comparou Eu e Meu Guarda-Chuva à série Harry Potter. Mas a produção brasileira, que estreia em circuito nacional, sustenta-se sozinha, sem precisar de paralelos ou comparações - especialmente por conta do ritmo que o diretor imprimiu ao filme.
Em sua essência, o longa é uma aventura e os personagens quase nunca estão parados - mas isso não quer dizer uma correria infinita ou sem sentido. Desde o princípio, a história ganha ares de fantasia - seria realidade? Um sonho? Pouco importa, pois Vanzolini consegue fazer com que embarquemos nesse universo onde barões saem de dentro de pinturas e assombram crianças, guarda-chuvas são armas e o amor precoce é só o primeiro passo para a vida adulta.
No centro da história está Eugenio (Lucas Cotrin), que vive com a mãe e sente saudades do avô que lhe deixou como herança um guarda-chuva. Seu amor secreto é sua amiga de escola Frida (Rafaela Victor), seu melhor amigo é o atrapalhado Cebola (Victor Froiman). Na noite anterior da volta às aulas, o trio resolve conhecer a nova escola, quando descobrem que o Barão von Staffen (Daniel Dantas, de Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos) fugiu do quadro do saguão e mantém crianças em cativeiro.



Frida acaba sendo raptada e cabe a Eugenio, com a ajuda de seu guarda-chuva e de Cebola, salvar a menina e as outras crianças, que são submetidas a duros testes de conhecimentos. A aventura ganha ares surrealistas e viaja por alguns cantos do mundo.
Nessa jornada, a dupla cruza com personagens estranhos no Brasil e em Praga. O ex-titã Arnaldo Antunes tem uma participação engraçada, como um sujeito metódico que cuida do setor de achados e perdidos. Sob os cuidados dele, tudo o que se perde pode ser encontrado - embora possa levar algum tempo. Já Paola Oliveira (Budapeste) é uma comissária de bordo, num dos momentos mais surreais do filme.
Experiente diretor de arte (Eu Tu Eles, O Homem do Ano), Vanzolini estreia na direção de cinema com segurança num gênero negligenciado pelo cinema brasileiro: o filme infantil e infanto-juvenil, que tem se limitado às produções protagonizadas por Xuxa e afins.
Eu e Meu Guarda Chuva combina ação e aventura com personagens bem construídos e interpretados por um elenco estreante de talento, sob uma direção segura, capaz de manter o ritmo e o interesse pela narrativa. A combinação de um tom um pouco sombrio, com piadas tipicamente juvenis, têm tudo para agradar ao público-alvo sem entediar os adultos, especialmente porque Eu e Meu Guarda Chuva não agride a inteligência de ninguém - muito pelo contrário.







O voo das corujas

'A Lenda dos Guardiões' é opção para a garotada

Conhecido por suas adaptações de histórias em quadrinhos, 300 e Watchmen, o cineasta norte-americano Zack Snyder estreia na animação com A Lenda dos Guardiões, filme voltado para o público infantil com as mesmas marcas do diretor: violência e ação em excesso e um roteiro limitado.
O filme estreou sexta, com cópias em 3D, e está em cartaz no Multiplex UCI Ribeiro Iguatemi, Via Sul, e outras salas de cinema do Ceará. Baseado na série infanto-juvenil criada pela escritora Kathryn Lasky, o desenho é protagonizado por corujas que pensam e agem como seres humanos.
A narrativa é centrada no pequeno Soren (na versão original, dublado por Jim Sturgess, de Across the Universe). Trata-se de uma jovem coruja que dá seus primeiros voos após passar toda a infância ouvindo do pai a lenda dos Guardiões de Ga'Hoole, um esquadrão de corujas cuja existência tomou proporções míticas - ninguém sabe se eles existem mesmo. Seu irmão mais velho, Kludd (Ryan Kwanten, da série True Blood), não acredita nessas histórias e critica Soren por ser sonhador.
Quando a dupla começa a aprender a voar, os dois acabam capturados. Vão parar numa espécie de colônia, onde os puros da espécie se tornam a elite, enquanto os demais trabalham no subterrâneo, extraindo um material precioso que fica preso nos restos que as corujas regurgitam.
Há um tom sério - talvez excessivamente - nessa parte da trama. Ficam claros os paralelos entre o totalitarismo das corujas puras e regimes como o nazista. A Rainha Coruja (voz de Helen Mirren, de A Rainha) ajuda o marido - que foi desfigurado num embate com os Guardiões e por isso usa uma máscara de ferro - a governar e oprimir os mais fracos. Kludd se acovarda e toma o lado dos governantes para se proteger, pois ele e seu irmão são puros e podem pertencer à elite. Soren, porém, não aceita essa posição e é mandado para as minas, onde trabalham os considerados impuros.



Ao lado de uma coruja-anã, Soren consegue escapar e segue em busca dos Guardiões, pois apenas eles podem acabar com o reinado do medo e da tirania. Ao longo de sua jornada, a dupla de corujas encontra os personagens clichês que existem em todos os filmes infantis: o alívio cômico, o pequeno corajoso.
Se por um lado o visual do filme é impressionante, com detalhes das plumagens e paisagens, por outro, o roteiro altamente previsível prejudica a empolgação que A Lenda dos Guardiões poderia produzir. Em pouco mais de dez minutos já é possível prever o final que custa a chegar. O diretor Snyder não deixa de lado seus tiques visuais - como câmera lenta nos momentos de ataque e violência excessiva - mesmo tratando-se de um filme para crianças.
A solenidade com que trata assuntos como lealdade, honra, amadurecimento e coragem transformam A Lenda dos Guardiões num filme bonito, mas arrastado, batendo sempre nas mesmas teclas, com pouca criatividade.







'Comer, Rezar, Amar' aposta no carisma de Julia Roberts

Há um grande contraste em Comer, Rezar, Amar: em alguns momentos, a protagonista Liz Gilbert arrisca muito em suas opções pessoais; sua intérprete, Julia Roberts, ao contrário, não arrisca nada neste papel em que ela não tem muito esforço a fazer. Dirigido por Ryan Murphy (das séries Nip/Tuck e Glee), o filme estreeou em Fortaleza.
Inspirado na trama supostamente autobiográfica de Elizabeth Gilbert, o filme trata das aventuras da escritora de sucesso de livros de viagem quando deixa o marido, Stephen (Billy Crudup, de Watchmen - O Filme).

Depois de oito anos, envolve-se com um ator mais jovem e dado ao misticismo hindu (James Franco, de Homem-Aranha) e arremata a virada por uma longa viagem de um ano, entre Itália, Índia e Bali.

Na verdade, a viagem representou muito menos uma aventura do que parece, já que, na vida real, a autora financiou-a com um adiantamento pelo futuro livro - e que tirou a sorte grande ao se tornar um bestseller lançado em cerca de 30 países, inclusive no Brasil.

Julia pode ter-se identificado com a personagem, enxergando o alto potencial da história para se tornar um veículo para sua volta a um papel feminino de alto impacto.

Depois de um tempo cuidando dos três filhos pequenos, Julia já tinha voltado ao cinema como uma espiã em Duplicidade (2009). A verdade é que, para ela, interpretar Liz Gilbert não representa nenhum desafio.

No papel da divorciada em crise de identidade, a atriz apenas precisa de seu arsenal de rotina para obter uma esperada boa bilheteria. Que até agora não foi assim tão impressionante.



Nos Estados Unidos, até o último fim de semana de setembro (24 a 26 de setembro), o filme tinha acumulado cerca de 79 milhões de dólares, recuperando com alguma folga o orçamento estimado em 60 milhões de dólares.

A falta de elementos realmente novos está em todos os detalhes da história. Embora não seja assim tão comum uma mulher bem-sucedida jogar para o alto um casamento estável, como faz Liz com o apaixonado Stephen, nem por isso sua personagem chega a ser uma heroína feminista.

Com roteiro assinado pelo diretor Ryan Murphy e por Jennifer Salt, a ação decola quando Liz desembarca na Itália.

ITÁLIA

Essas viagens da protagonista preenchem a função de encher os olhos do espectador - não faltam belas paisagens, com direito a todos os cartões postais que uma Roma ensolarada pode oferecer.

Nem tudo a respeito dos romanos é real, muito menos positivo. Liz aluga um quarto numa velha casa na capital italiana que nem água quente tem: para um banho morno, ela precisa esquentar a água numa chaleira no fogão, em plenos anos 2000.

A imprensa italiana chiou bastante, alegando que isso poderia ter ocorrido, no máximo, durante a Segunda Guerra Mundial, há mais de 60 anos.

Os clichês de praxe sobre a Itália estão todos lá: homens conquistadores e bons vivants, todo mundo envolvido no dolce far niente, ou seja, na boa e velha vagabundagem. E o que mais se faz é comer... Haja espaguete!

ÍNDIA

A passagem pelo país é a parte mais chata. Fica difícil acreditar no engajamento de Liz no misticismo hindu, morando numa espécie de mosteiro.

Lá, Liz limpa o chão, acorda de madrugada para meditar e leva broncas de outro americano amargurado, Richard (Richard Jenkins, de Queime Depois de Ler) - o que parece mais uma temporada no inferno do que uma jornada em busca da paz interior.

BALI

Finalmente, chega o capítulo do amor, na paradisíaca Bali, que Liz já visitou antes, conhecendo o seu velho guru, Ketut (Hadi Subiyanto).

Nesta segunda viagem, a coisa começa mal, com Liz sendo atropelada quando andava de bicicleta, por um distraído brasileiro, Felipe (Javier Bardem, de Vicky Cristina Barcelona). Um acidente que se transforma, mais tarde, em namoro firme entre dois divorciados.

Para nós brasileiros, causam estranheza o sotaque sofrível do ótimo ator Bardem quando arranha algum português e a afirmação, feita por Liz a partir de conversas com o namorado, de que por aqui é normal e corriqueiro que os pais beijem os filhos na boca.

Enfim, o forte de Comer, Rezar, Amar não é mesmo um retrato fiel dos países que visita.

BRASIL

A melhor coisa sobre o Brasil é incorporar à trilha música e músicos de alta qualidade, fazendo uma ponte com a Bossa Nova.

Estão lá Samba da Benção, de Vinicius de Moraes e Baden Powell, na voz de Bebel Gilberto, e Wave, de Tom Jobim, cantada por João Gilberto. O cantor baiano, aliás, é ouvido também interpretando 'S Wonderful, de George & Ira Gershwin, com arranjo de Gilberto.

Ao final da projeção - um tanto longa, já que o filme se prolonga por 140 minutos - fica a sensação de que faltou muita coisa. A ação fica excessivamente centrada na protagonista e sua interminável crise de identidade, que dura tempo demais.

Os clichês sobre as pessoas e povos que ela encontra terminam por comprometer a credibilidade toda da história, por mais que se permita piadas e licenças poéticas.

No final, Liz parece apenas percorrer as etapas previamente demarcadas de um roteiro de autoajuda, superficial como todos. Sorte da escritora Elizabeth Gilbert, que deve estar rindo à toa com o sucesso mundial do livro e agora do filme.







'Os Vampiros Que Se Mordam' faz sátira de 'Crepúsculo'

Os vampiros que se cuidem! Atualmente, são as criaturas mais superexpostas da mídia, com filmes, séries de televisão, enxurrada de livros (novos e antigos) e afins. A comédia Os Vampiros Que Se Mordam chega para aumentar a lista - sem trazer nada de novo, engraçado ou que justifique sua existência.

Estreando em circuito nacional, o filme é uma sátira da série Crepúsculo, escrita e dirigida por Jason Friedberg e Aaron Seltzer, que já tentaram satirizar comédias românticas, com Uma Comédia Nada Romântica, épicos (Espartalhões), e filmes de desastre (Super-Heróis - A Liga da Injustiça), sem sucesso. Ignorando que a ideia das criaturas vampirescas é mais antiga do que Crepúsculo, Os Vampiros Que Se Mordam concentra-se no primeiro e segundo filmes da série, refazendo muitas das cenas e da trama de forma exagerada. A jovem Becca (Jenn Proske) muda-se para uma pequena cidade para morar com o pai, um xerife local (Diedrich Bader). Na escola tem poucos amigos, mas acaba conhecendo e se apaixonando pelo pálido e estranho Edward Sullen (Matt Lanter, de Super-Heróis - A Liga da Injustiça).

A propensão que Bella, personagem do filme original, tem para se martirizar é potencializada aqui - e algo que, por natureza, seria engraçado, não consegue gerar qualquer fagulha de humor em Os Vampiros Que Se Mordam. A culpa disso é, em boa parte, por conta da falta de tato da dupla Friedberg e Seltzer - para quem espancar um cadeirante por minutos a fio deve parecer engraçado. Para eles, também é divertido quando Becca solta gases na cara de Edward, ou Jacob (Chris Riggi), o menino-lobisomem, urina numa árvore.

Becca, por sua vez, sofre por não conseguir perder a virgindade. Afinal um dos pretendentes prometeu ser celibatário e o outro prefere perseguir gatos. É a vida! Ou melhor, é a vida dos mortos, à qual Becca tem que se acostumar caso queira se casar com Edward.



Com menos de uma hora e meia, Os Vampiros Que Se Mordam parece mais longo e cansativo do que uma maratona da série Crepúsculo. Com um acúmulo de referências pop - Lady Gaga, Lindsay Lohan, Gossip Girl, Buffy, Alice no País das Maravilhas -, o enredo revela-se incapaz de produzir algo realmente engraçado. Por outro lado, a estreante Jenn Proske faz uma imitação quase perfeita da verdadeira Bella, Kristen Stewart - pena que isso aconteça num filme tão pouco inspirado.








"Não dá para 'fingir' em filmagem 3D", conta a atriz Milla Jovovich

Heroína de 'Resident evil: O Recomeço' fala da tecnologia usada no quarto longa da saga. Com mais zumbis, filme estreia nesta semana

A franquia "Resident Evil", baseada em um dos títulos de maior sucesso dos videogames, chega mais realista a seu quarto episódio no cinema. Filmada em 3D com câmeras da mesma tecnologia usada por James Cameron em "Avatar", a quarta parte da história estreia nesta sexta-feira (17) no Brasil.

Segundo a protagonista Milla Jovovich, "vai ser uma experiência bem mais imersiva do que os outros filmes". "[O filme] não será intenso apenas para os espectadores. Para nós, atores, também foi diferente filmá-lo", avisa a atriz

A "diferença" citada por Milla está justamente no fato de o filme ter sido rodado em 3D - quando grande parte dos títulos que chegam aos cinemas alardeando a tecnologia passa apenas por conversão das imagens 2D para 3D, na etapa de finalização. O uso da tecnologia nas filmagems fez com que as cenas de luta, por exemplo, ganhassem atenção especial do elenco. "Não dá para 'fingir' tanto quanto no 2D. A câmera fica mais próxima nas cenas de luta e você acaba apanhando, esbarrando e batendo nos outros sem querer", explica, bem-humorada. "É impossível não cometer erros, sou uma atriz, não uma lutadora!"

A personagem de Milla, a exterminadora de zumbis Alice, volta menos poderosa e sobrenatural e mais próxima da realidade no novo filme. Os superpoderes vistos no terceiro episódio da franquia saem de cena e dão lugar a sequências de ação menos mirabolantes. "Eu não queria que os poderes dela sumissem, mas fui convencida de que tinha de lutar de novo, como uma pessoa normal", diz a atriz, para quem mesmo menos poderosa a personagem sempre será "durona". "Resident evil: recomeço" inicia lembrando o que aconteceu nos outros episódios da série. Ou seja: reconta, em uma violenta sequência ambientada nas ruas de Tóquio, como um vírus escapou dos laboratórios da corporação Umbrella e desencadeou a transmissão de uma doença que transforma seres humanos em mortos-vivos sedentos por sangue.

No longa, Alice tenta encontrar sobreviventes em paisagens futuristas e devastadas pelo contágio zumbi. Termina por voltar a Los Angeles, onde acha outros humanos presos em uma antiga cadeia e planeja o resgate do grupo. Do lado de fora, hordas de infectados tentam invadir o local. Entre os sobreviventes estão os irmãos Claire e Chris Redfield (vividos por Ali Larter, da série “Heroes”, e Wentworth Miller, de “Prison break”), personagens de passado ambíguo e índole duvidosa.

O uso do 3D pelo diretor Paul W. S. Anderson torna o filme mais dinâmico e dá um verniz mais bem acabado à produção. Mergulhos nos cenários da história e estilhaços de vidro, tiros e explosões que "saltam" da tela impressionam, mas não escondem as fragilidades do roteiro, numa trama que tem um vilão caricato e jeitão de videoclipe de música eletrônica.



O quarto episódio da franquia estreia com a missão de manter o bom faturamento da série. A cifra só cresce: saltou de cerca de US$ 100 milhões com o primeiro filme para US$ 147 milhões na terceira versão da trama. Mas o sucesso de bilheteria não salva o filme de críticas dos que conheceram a série através dos videogames. Segundo Milla, há uma parcela de fãs dos jogos que considera inadmissível o fato de Alice existir apenas nos filmes.

"Ela não foi mesmo baseada nos games. É uma personagem criada para a franquia. Quando conheci Paul [que é marido da atriz], no primeiro 'Resident evil', ele explicou que apesar de o jogo ser bem popular, o público que o veria nos cinemas seria muito maior. Gente que conheceria o game pelas telas. E que se tivéssemos de parar para explicar tudo, ficaria cansativo." Para a atriz, devem existir "15 pessoas no mundo que perdem suas vidas" a odiando na internet". "Elas estão sempre escrevendo, perguntando por que não criamos uma nova história e simplesmente partimos de uma já existente. Tem um monte de fãs de 'Resident evil' que ama Alice, ama a franquia, que entende que o filme é diferente do game. Não dá para agradar a todo mundo", finaliza Milla, que volta a trabalhar com Anderson em adaptação de "Os três mosqueteiros" com data de estreia prevista para 2011.

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