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Sonhos de um roteirista de cinema são tema da ficção "Abandonado"

"Abandonado", escrito pelo paulista e jornalista Vinícius Pinheiro e lançado em abril pela Geração Editorial, narra a história de Alberto Franco, que através de sua boa escrita e de seu trabalho em um respeitado jornal em São Paulo, vem tentando realizar seu sonho de ser um grande roteirista de cinema. Dividindo apartamento em uma república com outros três colegas Nélio, Renato e Daniel, a vida pacata de Franco tem uma reviravolta quando a atriz e dubladora Clara Bernardes o aborda para participar da adaptação de um livro para o cinema. Com a grande oportunidade batendo a sua porta, Alberto Franco embarca em uma jornada que mudará não somente a sua rotina de trabalho, mas o levará a viver uma paixão perigosa e avassaladora.

Em meio aos encontros de Franco e Clara, percebemos que além de linda, rica e mimada, Clara é o tipo de mulher que não mede esforços para alcançar seus objetivos e ver sua carreira alçando vôo. Usando o dinheiro de sua família para suprir suas necessidades de se tornar atriz e homens como objetos para sua satisfação, Clara não mede as conseqüências de seus atos e na maioria das vezes tive a sensação de que ela estivesse constantemente vivendo algum de seus personagens. Já na primeira semana de relacionamento, Franco se surpreende ao chegar à república e encontrar Clara de mala e cuia para morar com ele e dessa forma, fazer o laboratório de personagem da trama na qual Franco está adaptando.
Morando juntos, o relacionamento entre Clara e Franco começa a ficar estranho. Clara então decide que precisam se consultar com a vidente Carmem, e mesmo sem entender o motivo e sem acreditar no que uma vidente possa dizer, Franco aceita a consulta em busca de permanecer com sua amada. Após a estranha sessão com a vidente, que parece ter ligação com todos os personagens da história, muitas coisas começam a acontecer e como é dito pela vidente diversas vezes: “Tudo está escrito.”
Em "Abandonado", Vinícius Pinheiro leva seus personagens para reinar na estonteante São Paulo, cidade que centrifuga tudo o que há de bom e ruim numa força avassaladora. Todos tentam dar o melhor de si, mas parecem ridículos. Tentam se levar a sério, mas percebem que o mundo está se tornando uma grande piada.
Somos nós lutando para sobreviver e viver nas poucas horas vagas, enfrentando dificuldades financeiras, chefes carrascos, a mediocridade e o imediatismo que nos impedem de ser um pouquinho original. Tudo é produção, tudo é pra ontem, tudo é insumo. Nas pinceladas das palavras, Vinícius vai desenhando momentos de ironia, sarcasmo, e nos faz rir das próprias desgraças, das próprias fragilidades. Assim, nos sentimos mais humanos quando viramos a última página. Faz lembrar os versos de Fernando Pessoa em Poema em linha reta: “Ora, então são todos semideuses? Onde há gente neste mundo?”