quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CINEMA CEARÁ

Novos cineastas cearenses conhecem cinema de arte na internet

A atriz Zezita Matos em cena de "Mãe e Filha", segundo longa-metragem do cearense Petrus Cariry

Novos ventos sopram no cinema nacional --e eles vêm dos mares do Ceará. Sem muito alarde, uma produção crescente de longas-metragens daquele Estado vem ganhando espaço em festivais e nas salas de exibição do país.
Em quatro anos, foram mais de dez títulos lançados. Parece pouco diante dos quase cem produzidos por ano no país, mas é demonstração de um movimento criativo que busca se firmar na contramão do eixo Rio-São Paulo. Uma amostra disso foi o Festival do Rio 2011, no qual três cearenses foram premiados: Karim Aïnouz, melhor direção por "O Abismo Prateado"; Petrus Cariry recebeu o título de melhor fotógrafo e uma menção honrosa por "Mãe e Filha"; e Roberta Marques ganhou a mostra Novos Rumos com "Rânia".
"Estrada para Ythaca", de autoria dos Irmãos Pretti e Primos Parente, do coletivo Alumbramento, venceu a Mostra de Tiradentes 2010. "A gente faz longas no Ceará desde a década de 1980, só que essa produção era muito espaçada", explica Cariry, 34, que aprendeu a fazer cinema nos sets do pai, o também cineasta Rosemberg Cariry (de "Corisco e Dadá"). "O advento do digital facilitou para os jovens produzirem e exibirem com custos mais baixos", afirma.
Outro fator foi o investimento em formação. Ao longo de dez anos, tanto o Estado quanto a Prefeitura de Fortaleza ofereceram cursos na área, culminando com a instalação de duas graduações em cinema --a primeira turma se formou ano passado. Essa geração ainda é fruto da cinefilia, hábito difícil de ser cultivado até então por ali. Com circuito exibidor local quase intransponível para filmes autorais, os cineastas se apoiaram na troca de arquivos via internet para conhecer outras formas de cinema.
Saiu dali uma produção independente e preocupada com uma discussão estética. Cariry fez "Mãe e Filha" com R$ 200 mil e imprimiu uma marca que o faz ser compara do por críticos ao russo Andrei Tarkóvski (1932-1986) e ao japonês Yasujiro Ozu (1903-1963).
Já a turma do coletivo Alumbramento reedita o conceito de "câmera na mão" do cinema novo e aposta numa produção intensa, de filmes provocativos e baratos ("Ythaca" saiu por R$ 2.000)."O discurso é: 'Vamos experimentar, isso não vai fazer mal a ninguém'. Há 15 anos experimentar fazia mal à minha conta bancária", brinca Aïnouz, 45, referindo-se às facilidades das novas mídias. "Isso traz um frescor." Ao mesmo tempo em que se anima com o bom momento audiovisual cearense, o cineasta de "Madame Satã" (2002), que costuma produzir fora dali, se inquieta com a continuidade dele.
"Fico curioso pra saber como a conta fecha. Isso é muito delicado, porque pode ser um momento de curtíssima duração", diz. Atualmente, o único edital público de custeio de longas-metragens, mantido pelo governo estadual, distribui R$ 1 milhão por ano.
Mas também toma fôlego no Ceará um modelo de produção mais comercial. Financiada por empresários locais, a produtora Estação da Luz foi responsável pelo estopim do fenômeno espírita no cinema brasileiro com "Bezerra de Menezes" (2008), de Glauber Filho e Joe Pimentel. O público de 500 mil pessoas animou os investidores, que lançaram na sequência "As Mães de Chico Xavier" (2011), de Glauber Paiva e Halder Gomes.
Os próximos lançamentos incluem "Área Q", produzido por Halder Gomes, com Tânia Khalill, Murilo Rosa e o americano Isaiah Washington, o Dr. Burke da série "Grey's Anatomy", no elenco. (Amanda Queirós – Agência Folha).

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