segunda-feira, 13 de setembro de 2010

TEATRO

“Garotos” no Teatro

Confira vídeos do espetáculo com ex-atores de "Malhação", que esteve em cartaz no Shopping Via Sul

>Fotos e vídeos de Felipe Muniz Palhano

O primeiro beijo; a descoberta do amor, da amizade, do sexo, da morte e da vida. Tudo isso sob o olhar masculino jovem na peça “Garotos” – que esteve em cartaz no Teatro do Via Sul Shopping nos dias 24, 25 e 26 de setembro, sempre às 19h30min. O Teatro fica na Av. Washington Soares, 4335 – 3º piso, Seis Bocas. Mais informações: (85) 3404-4027.

A peça mostra o período de intensas descobertas a partir de histórias vivenciadas pelo autor e roterista Leandro Goulart – que também assina a direção ao lado de Afra Gomes.

“Temas como virgindade, masturbação, drogas, sexualidade, perdas, paixões, família, traição, porres, gravidez, futuro, teatro, futebol, música e internet não fazem desta uma peça só para adolescentes: “Garotos” trata, com cuidado, das relações humanas, e mostra, acima de tudo, o quanto é bom viver”, opina o diretor e autor Leandro Goulart.



No elenco, jovens atores conhecidos pelo grande público por seus trabalhos na tevê e no teatro: Rafael Almeida (Páginas da Vida/Malhação), Ícaro Silva (Malhação), Ivan Mendes (Malhação), José Loreto (Malhação) e Caio Bucker (Malhação) discutem – sempre na primeira pessoa do singular – os temas polêmicos que permeiam a juventude – além da importância das relações humanas e do amor à vida. “As cenas são ágeis. Transitam vorazmente entre o humor, o nostálgico e a poesia”, explica o diretor.

Com trilha escolhida por Leandro Goulart, Afra Gomes e pela diretora musical Isadora Medella, e preparação vocal de Claudia Sampaio, a montagem é pontuada por muita música.

O violão e outros instrumentos tornam-se amigos inseparáveis desses garotos, que tocam desde hits como “Sempre Assim”, do Jota Quest; ‘Todas as Noites”, do Capital Inicial e “Vou Deixar,” do Skank; passando pelas românticas “Toda Forma de Amor”, de Lulu Santos e ‘Vinte e Poucos Anos’, de Fábio Jr., até “Carta ao Tom”, de Vinicius de Moraes. Destacando ainda uma divertida versão de “Rehab”, de Amy Winehouse, na qual os cinco atores levam o público à loucura com uma das coreografias assinadas por Marcio Vieira.


Na sua estréia em 2009, na Festa Internacional de Teatro de Angra dos Reis (FITA), “Garotos” foi apresentada para um público de mais de 1,5 mil pessoas, durante um dos mais prestigiados festivais de teatro do Brasil. A primeira turnê nacional do espetáculo será encerrada aqui, em Fortaleza – para posteriormente voltar ao Rio de Janeiro, em sua segunda temporada, devido ao grande sucesso.

Segundo Rafael Almeida e Ícaro Silva, a energia do público contribui para que o espetáculo flua ainda melhor. Os atores são queridos pelo público desde o trabalho feito em Malhação, novela juvenil da Rede Globo.





SOBRE O AUTOR, DIRETOR E ATORES

Leandro Goulart – autor, ator, roteirista, diretor de teatro e TV. Do drama ao humor, Goulart acumula em seu currículo mais de trinta obras, dentre espetáculos adultos, jovens e infantis. Em 2003, inicia uma parceria com Afra Gomes, com quem passa a escrever a quatro mãos, marcando o lançamento de uma série de produções bem sucedidas nos anos subsequentes, como as comédias No Conjugado e Pout-PourRir. Em 2006 é convidado a integrar o núcleo de roteiristas do programa Zorra Total, na Rede Globo.

Afra Gomes e Leandro Goulart – Desde 2003, a dupla realiza projetos marcados por muita ousadia e originalidade, como “Terror Show”; “No Conjugado”; “Pout-PourRir”; “Quem Ama Não Queima a Cara”; “Prole de Narcisa”; o longa Subúrbio; “Lula Contra o Mau” e “Garotos”.



Os Garotos

Rafael Almeida – Estreou na Rede Globo na novela Páginas da Vida. Em 2008 protagonizou a 14ª temporada da série Malhação, vivendo o Guga, no mesmo ano foi um dos finalistas do reality Dança dos Famosos. No ano seguinte respondeu pela apresentação da TV Globinho.

Ícaro Silva – Estreou na Bandeirantes aos 12 anos de idade na novela Meu Pé de Laranja Lima. Em 2000 participa da novela Vidas Cruzadas, da Rede Record. Em 2002 vai para o SBT e integra o elenco da novela Pequena Travessa. Seu grande sucesso acontece na Rede Globo, com o personagem Rafa, na série Malhação de 2004 a 2007. Em 2008 é escalado para um dos episódios da série Casos e Acasos, também da Rede Globo. No ano seguinte apresenta o TV Globinho.

Ivan Mendes – Fez participações especiais no Sitio do Pica Pau Amarelo e na Grande Família. Em 2007 se destaca na Rede Record na novela Luz do Sol. No ano seguinte, é escalado para viver o surfista Pedro Henrique na novela Três Irmãs, na Rede Globo.

José Loreto – Estreou na Globo em 2006 na série Malhação, fazendo sucesso com o personagem Marcão. Depois, na Rede Record, faz as novelas Caminhos do Coração e, em seguida, Os Mutantes. Em 2008 volta à Globo em Três Irmãs. No teatro, dentre outros espetáculos, Loreto atuou em VIP e Runners.

Caio Bucker – Ator, músico e produtor, começou seus trabalhos artísticos aos setes anos de idade. Atuou nos monólogos “Mãe É Um Porre!”, “O Casamento de Gatona”, ‘Comunicação’, Memórias da Cidade, 4X Humor, Aperitivo Teatral e O Amor É Cego e o Humor Aquoso. Participou como ator e músico do espetáculo Dia dos Loucos, com direção de Denise Stoklos. Atuou e produziu “Acepipes”, com direção de Charles Paraventi. Participou dos curtas Paquetá e A Namorada.




















TV DIVIRTA-CE


Confira vídeos do espetáculo "Garotos" feitos por Felipe Muniz Palhano



































Viva o Teatro Nordestino!

“Uma vez, nada mais” peça da Bahia, vence o Júri Popular do Festival Nordestino de Teatro 2010, em Guaramiranga


Após uma verdadeira maratona de espetáculos de todo o Brasil, terminou no sábado mais uma edição do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga. O último dia do evento, considerado um dos mais importantes das artes cênicas do país, foi marcado pela homenagem que Ricardo Guilherme recebeu pelos 40 anos de carreira – o ator apresentou na noite de encerramento a peça “A Divina Comédia de Dante e Moacir” e foi ovacionado pelo público por sua atuação.
O júri popular do 17º FNT elegeu “Uma vez, nada mais”, da Bahia, como o melhor espetáculo de 2010. Dirigida por Hebe Alves e levada ao palco pelas atrizes Aícha Marques e Maria Menezes, a peça foi uma das nove apresentadas na Mostra Nordeste, da qual participou uma montagem de cada estado da região.



Armindo Bião, um dos debatedores do FNT 2010, fez a entrega do troféu Beija-Flor a Hebe Alves em solenidade no Teatro Municipal Rachel de Queiroz. A diretora lembrou que este foi o segundo troféu de melhor espetáculo eleito pelo júri popular que ganhou em Guaramiranga. O primeiro foi em 1998 com “Isso assim assado no inferno”. “Já me sinto um pouco daqui. Falo demais desse festival em Salvador”, disse. “Uma vez, nada mais” A narrativa traz a história de duas mulheres apaixonadas e sonhadoras, que aos poucos vão descobrindo que tem muito mais coisas em comum, compondo uma divertida “tragédia amorosa”.



Sem uma palavra, as atrizes utilizam de uma movimentação bem marcada, precisa e bastante ágil, evocando a estética do cinema mudo. “Uma vez, nada mais” também convida o público a um passeio pela era de ouro do rádio e antigas novelas.
Após a entrega do prêmio de Melhor Espetáculo, foi a vez do ator, diretor e dramaturgo Ricardo Guilherme, que recebeu o troféu Beija-Flor não só por sua valiosa carreira, mas também por sua ligação artística e afetiva com o festival ao longo desses 17 anos, como ator, debatedor, professor ou consultor. Luciano Bezerra, presidente da Associação dos Amigos da Arte de Guaramiranga – AGUA, entidade realizadora do festival, destacou: “Para nós foi muito natural e justo reconhecer seu trabalho, toda a sua contribuição para o teatro do mundo. Nesses 17 capítulos do FNT, Ricardo foi um protagonista. Essa homenagem é prestada com sinceridade e alegria”, disse Luciano.
Ao lado de uma das filhas, Clarisse Guilherme, que chamou ao palco, o homenageado lembrou sua ligação com o FNT, desde a primeira edição, quando participou a convite de Humberto Cunha. Destacando a vocação de Guaramiranga para as artes cênicas, Ricardo Guilherme revelou o que espera daqui para a frente. “Ano que vem serão 18 anos e vejo que o grande passo é, por meio de convênios, criar uma escola livre de teatro em Guaramiranga. É esse o embrião que vejo para os 18 anos”.
Com a realização de um verdadeiro intercâmbio entre artistas, cursos, debates, e exibindo um panorama das mais diversificadas linguagens do teatro atual, o Festival Nordestino de Teatro, primeiro evento cultural consolidado em Guaramiranga e que incentivou o surgimento de diversos outros, mostra a cada ano como a arte é importante fator de transformação de uma cidade e seu povo, movimentando o turismo, a economia e dando oportunidades para pessoas que não tem acesso a cultura.








40 ANOS DE ARTE RADICAL

Ícone da cultura cearense, Ricardo Guilherme celebra sua carreira no Festival Nordestino de Teatro, em Guaramiranga

O virginiano Ricardo Guilherme já nasceu radical. Celebrando seus 40 anos de carreira, ele é referência da cultura e comunicação cearense: professor, vice-coordenador e um dos criadores do Curso Superior de Artes Cênicas da Universidade Federal do Ceará, Ricardo Guilherme se confunde com a história da arte no Estado. Já passou pelos palcos da Europa, África, América Central e do Norte, mas seu deslumbre mesmo é pelo Ceará: “Fortaleza está em mim”, disse em entrevista para o DIVIRTA-CE, durante o 17º Festival Nordestino de Teatro (FNT).



Representante do Brasil em inúmeros festivais mundiais de teatro, historiador, com livros sobre a história do teatro premiados pelo Ministério da Cultura, jornalista, contista, cronista, poeta – é dentro das várias estéticas e talentos que a vida lhe concedeu que ele consegue expor sua multifacetada trajetória de realizações. Um dos fundadores da Televisão Educativa do Ceará (hoje TVC) e da Rádio Universitária, roteirista de cinema e TV, ex-vice-presidente da Federação Estadual de Teatro, criador do Museu Cearense de Teatro (1975), esse artista incansável tem na criatividade e inovação seu maior trunfo. Formulador da teoria e do método do Teatro Radical Brasileiro, objeto de pesquisa de alguns trabalhos acadêmicos, ele apresentou durante o encerramento do FNT 2010 a peça “A Divina Comédia de Dante e Moacir”, em mais uma comemoração de sua vitoriosa carreira. Confira a entrevista e vídeos da peça "A Divina Comédia de Dante e Moacir", feitos por Felipe Muniz Palhano:







DIVIRTA-CE - São 40 anos de carreira. Como surgiu o teatro em sua vida?
RICARDO GUILHERME –
Quando eu era criança já fazia teatro na garagem, na escola, com os amigos, irmãos, colegas, mas ainda não tinha consciência de que era aquilo que eu gostaria de fazer na vida, que aquilo era uma vocação. Fui descobrir isso com o rádio teatro. Eu sou da geração que viu o começo da televisão no Ceará, ainda nos anos 60 - eu tinha cinco anos - e também vi o fim da rádio novela. Comecei no rádio, fazendo novelas, ainda menino, 13 anos. Uma pessoa do teatro foi importante na minha carreira, quando eu tinha 14 para 15 anos: estou me referindo a José Humberto Cavalcante, ator extraordinário dos anos 60, que era da Ceará Rádio Clube. Um dia eu o acompanhei ao teatro e me encantei com aquilo. Na infância não fui ao teatro – existiam peças infantis, porém meus pais não tinham o hábito de me levar. Engraçado, me lembro que, quando comecei a ir ao teatro, era já para fazer teatro e não para assistir.



DIVIRTA-CE – Você é homem de teatro, mas seu trabalho se completa com todos os meios de comunicação e da arte: já fez livro sobre a história do teatro, de contos, crônicas, poesia, jornalista colaborador, narrador, apresenta atualmente um programa de entrevistas na TV Ceará. Você tem uma história na comunicação cearense, sendo um dos fundadores da TV Educativa (atual TVC), da Rádio Universitária. Como você encara o Ricardo ator e o Guilherme comunicador? São duas carreiras distintas ou que completam o Ricardo Guilherme?
RICARDO GUILHERME –
O Ricardo Guilherme comunicador veio antes do teatro. Como eu disse, primeiro entrei no rádio em 69. Em 1970 eu era assistente de produção do programa “Porque hoje é sábado”, de Gonzaga Vasconcelos, que lançou junto com o “Show do Mercantil”, do Augusto Borges, o que seria o Pessoal do Ceará: Fagner, Téti, Rodger, Belchior. Logo depois entrei no jornal Unitário, em 75, com uma coluna sobre teatro. Com 20 e poucos anos já criei um Museu do Teatro, começando pesquisas sobre o tema. Em novembro de 1973 eu participei da primeira exibição em cores do estado, na TV Ceará, canal 2 – o programa se chamava “O som, a luz, as cores e os muitos amores de Fortaleza”, com texto de Guilherme Neto e direção de Ary Sherlock. Fiz parte também do começo da Rádio Universitária, em 1980. Eu fazia a “Crônica de fim de tarde”, diariamente. O teatro era muito ligado a tudo isso, a literatura também – eu fazia parte do Clube dos Poetas Cearenses, também nos anos 70. Esses 40 anos de carreira se referem a tudo, não só ao teatro.


DIVIRTA-CE – Comemorar 40 anos de arte é para poucos – como está sendo a celebração dessa data e como você vê sua trajetória?
RICARDO GUILHERME –
Eu digo que sou uma ponte entre o passado e o futuro. A vida foi me forjando a fazer isso. Estou na Universidade Federal do Ceará desde 1979. Entrei na UFC com 24 anos – estou lá há 31 anos como professor de teatro. Então participei também dessa geração que hoje é madura. Quando comecei minha jornada eu convivia com gente que fazia teatro nos anos 30 e hoje eu convivo com meus alunos, que ainda não fizeram nenhuma peça, ainda estão estudando. Acho que essa visão ampla de tempo enriquece. Talvez com esse recorte, essa tríade de tempo, passado, presente e futuro, que eu veja a minha trajetória de 40 anos. Mais do que uma celebração do trabalho, vejo essa data como uma comemoração da vida, dos afetos, das relações pessoais. Não basta estar no palco, é preciso relacionar-se com as pessoas, criar laços, ouvir, tentar ser uma pessoa imprescindível na compreensão da diversidade humana.



DIVIRTA-CE -Você também participa do novo curso superior de artes cênicas da UFC.
RICARDO GUILHERME –
Sim, um sonho de 50 anos! Tenho orgulho da minha geração lutar para que isso se tornasse realidade!

DIVIRTA-CE – O Festival de Teatro de Guaramiranga está lhe prestando uma homenagem, e você irá apresentar no encerramento “A Divina Comédia de Dante e Moacir”, próximo sábado.
RICARDO GUILHERME –
Tenho uma relação estreita com o Festival de Guaramiranga, por isso esta homenagem é muito emocionante. Estou desde a primeira edição, nunca deixei de vir nenhum ano. Humberto Cunha que me chamou para participar, quando o Festival ainda nem tinha grandes apoios. Acompanhei o crescimento da cidade e das pessoas. Estou ligado a Guaramiranga.


DIVIRTA-CE – Em ano de eleições, como você analisa a situação estrutural da cultura em nosso estado? Você acha que o público evoluiu e acompanhou o crescimento no número de eventos artísticos que se proliferam pelo Ceará? Nossos políticos já estão sabendo dar o devido valor a importantes equipamentos culturais como o Teatro José de Alencar, que está completando 100 anos?
RICARDO GUILHERME –
Eu tive a honra de ser convidado para fazer o espetáculo comemorativo dos 100 anos do Teatro José de Alencar, no dia 17 de junho. Foi uma boa forma de celebrar os cem anos – optaram por convidar quem é do Ceará e depois chamaram artistas de fora. Já deixamos aquela fase do balcão, dos amigos do rei, do coro dos contentes. A classe já está politizada, isso tem um processo longo, desde a Federação Estadual de Teatro Amador, da qual também fiz parte, como vice-presidente. Hoje os artistas cearenses já dialogam com os governos para criarem as políticas públicas em relação a cultura. Claro que isso pode ser ampliado, não com centros restritos, mas investindo na periferia de Fortaleza, no interior do Ceará, que precisa de espaços, de intercâmbios, fomentos da produção, de formação de pessoas. Já foi uma vitória sairmos dessa política eventual do estado para uma política mais sistematizada e pensada pela própria classe artística, que pressionou e lutou muito por essa mudança.


DIVIRTA-CE – Você é o criador do Teatro Radical, que nasceu, inclusive, com uma sede própria. Explique um pouco desse processo de criação.
RICARDO GUILHERME –
O Teatro Radical é de 1988 – começou como uma idéia, um manifesto defendendo que o ator brasileiro deve estar ligado aos seus arquétipos, ao seu povo. Um teatro que pudesse estar desvinculado da multidisciplinaridade. Um teatro mais centrado na figura humana, mais antropocêntrico. Depois dos laboratórios que fizemos para aprimorar essa nova poética do Teatro Radical, nos anos 90, criamos uma ética, que nos permite várias estéticas. Existe atualmente na Uni-Rio um aluno que está fazendo uma dissertação de mestrado sobre o Teatro Radical.


DIVIRTA-CE – Então podemos adaptar diversos textos para a linguagem “poética” do Teatro Radical?
RICARDO GUILHERME –
Claro que sim. O Radical é uma poética que vai até a raiz da peça, a raiz dos conflitos da peça. Ao invés de entender a peça pela sua diversidade, entendemos pelo radicalismo conflituoso. Essa “radicalidade” sintética, dialética, é concebida por uma ação fundamental que tem movimentos contraditórios, que aplicam o princípio da repetição criativa. Essa repetição vai gerando significados e agregando valores a cada cena. O objetivo é dramatizar o conflito fundamental, básico, radical. Na gênese do Teatro Radical eu fiz artigos, criei oficinas, viajei pelo mundo, participei de debates. Depois montei a Associação de Teatro Radicais Livres e criei uma sede que durou três anos. “A Divina Comédia de Dante e Moacir”, que apresentarei nessa 17ª edição do Festival de Guaramiranga, é uma das peças do Teatro Radical. Outra peça Radical, que já foi até premiada pelo Festival, é “Quem dará o veredicto?”, de Gero Camilo.





DIVIRTA-CE - Nesses 40 anos, você já fez mais de cem
espetáculos. Já teve alguma peça que lhe despertou uma paixão em encená-la, algum carinho especial?
RICARDO GUILHERME –
Paixão nós temos por aquilo que estamos fazendo. Adoro fazer a “A Divina Comédia de Dante e Moacir”. Outra peça que gosto muito de fazer é “Bravíssimo”, um solo, uma peça absolutamente despojada e que eu faço um discurso político. Um espetáculo que amo também é “Flor de Obsessão”, de Nelson Rodrigues.


DIVIRTA-CE – Qual o espetáculo você considera o mais difícil da carreira?
RICARDO GUILHERME –
Essa pergunta é difícil! Fiz uma versão de “Rosa do Lagamar”, dirigida pelo Haroldo Serra, onde eu fazia um vigia. Eu me exigi uma chave de interpretação que não era muito confortável: um teatro mais discreto, mais realista. Sou um ator muito espalhafatoso.


DIVIRTA-CE – Alguma frustração na sua história, algo que você gostaria de ter feito e ainda não fez, ou algo que você tenha feito e se arrependeu?
RICARDO GUILHERME –
Gostaria de fazer a Escola de Teatro Radical, para que essa idéia sobrevivesse, com pessoas formadas nessa poética.


DIVIRTA-CE – Com os recursos tecnológicos e as inovações que surgem nos palcos, como será o teatro do futuro? E seus próximos projetos?
RICARDO GUILHERME –
O Teatro Radical surgiu exatamente na contramão dessa ideia, desse teatro que reúne muita tecnologia e toda essa parafernália. Gosto do teatro centrado no trabalho do ator. Todo esse aparato tecnológico passa, é substituível. O que nos torna mais contemporâneos é sermos cada vez mais pré-históricos.








OVERDOSE DE TEATRO


17º Festival Nordestino de Teatro foi um sucesso na serra de Guaramiranga

> Beth Goulart na peça “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”
Fotos e vídeos by Rummenigge Santos e Felipe Muniz Palhano


A menor e mais charmosa cidade do Ceará, Guaramiranga, recebeu no começo do mês a 17ª edição do Festival Nordestino de Teatro – FNT, uma das principais mostras de artes cênicas do Brasil.

Como em todos os anos, um cortejo com banda, palhaços e muitas crianças fantasiadas anunciou a abertura do evento no dia 4 de setembro, sábado, às 17h, encantando os turistas que lotam o município. A primeira noite, com temperatura marcando 14 graus na serra cearense, contou com o excelente espetáculo “Simplesmente Eu, Clarice Lispector”, com a atriz Beth Goulart, que lotou o Teatro Rachel de Queiroz, inclusive com sessão extra.



O espetáculo estreou em julho de 2009 em Brasília e já foi visto no país por mais de 56 mil pessoas com uma trajetória vitoriosa. Beth Goulart levou, pelo trabalho, o Prêmio Shell 2009 e o APTR, ambos de melhor atriz.

Beth Goulart consegue “incorporar” Clarice Lispector, transpondo para o palco as referências sobre sua vida e obra com maestria, dinamismo e profundidade. O cenário e figurino conseguiu passar o requinte da personalidade de Clarice, que tinha como base a simplicidade, sinceridade, praticidade e devaneio criativo da escritora. Beth Goulart está em sua melhor forma, e protagoniza um dos melhores espetáculos da carreira.

O monólogo supervisionado por Amir Haddad faz parte de um projeto de Beth de biografar no teatro, cinema e TV grandes personalidades femininas. Em “Simplesmente Eu...” ela é protagonista além de ser responsável pelo texto e direção.



Em meio a depoimentos que lançam pistas sobre a figura contraditória de Clarice Lispector (1920-1977), Beth traz quatro mulheres de sua ficção. São elas: Joana, do romance ‘Perto do Coração Selvagem’; Ana, do conto ‘Amor’; Lóri, do romance ‘Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres’; e outra sem nome, do conto ‘Perdoando Deus’. O mérito maior de Beth é apresentar com brilhantismo a escritora, desvendando parte da sua enigmática figura até para quem nunca abriu um de seus livros.







O teatro da lei e a Lei do Teatro

Depois de muita pressão da sociedade civil, o MinC publicou, há apenas dois meses, os dados referentes ao uso da Lei Rouanet, num sistema chamado SalicNet. As primeiras análises começam a surgir, contrapondo a propaganda tendenciosa do órgão sobre o mecanismo. E foi assim com o teatro.

O encontro de duas das mais importantes associações do teatro, APTI (Associação dos Produtores Teatrais Independentes) e APETESP (Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo), realizado dia 26 de maio no auditório da FECOMÉRCIO, na capital paulista, mobilizou produtores, artistas e demais profissionais do ramo para discutir a proposta do MinC de criação do Profic, em substituição à Lei Rouanet. Na ocasião foi apresentado estudo realizado pela empresa J.Leiva sobre o impacto da Lei Rouanet no setor.

A pesquisa mostra a evolução dos investimentos em artes cênicas pelo Mecenato. Em 2000 eram R$ 60 milhões destinados à área. Em 2008, R$ 166 mi, chegando a alcançar R$ 176 mi em 2005. Cerca de 20% dos valores investidos entre 2000 e 2008 foram para esse tipo de atividade artística. Em média 600 projetos são realizados em todo o Brasil, com valor médio de R$ 287 mil. Desses 450 vão para o teatro. Os outros 150 vão para dança e circo.

337 proponentes foram beneficiados com o mecanismo. 95% deles foram contemplados com um ou dois projetos. Esse grupo ficou com 82% dos recursos. Apenas 5% dos proponentes (1,5% do total) captaram para 4 projetos ou mais, ficando com 9% do total captado. 8% dos proponentes captaram mais do que R$ 1 milhão. Grupos, espaços e festivais ficaram com quase 50% dos recursos. 70% do dinheiro foi para São Paulo e Rio de Janeiro. O sistema não informa a ação é realizada. O estudo indica ainda que 34% dos projetos apresentados (e 41% dos aprovados) captaram recursos. Na Lei do fomento, em São Paulo, esse índice é de apenas 15%.

Mesmo sendo um dos setores melhor articulados da área cultural, o teatro sofre os efeitos negativos de uma ação desarticulada e desarticuladora, como esta impetrada pelo MinC, que já deixa marcas profundas na produção, articulação e participação da sociedade civil. Além do peso da perda de investimentos, como demonstra a matéria publicada semana passada pela Folha de S.Paulo, os movimentos políticos do MinC geram desagregação e incitam a cisão dos setores organizados. O Redemoinho, por exemplo, uma rede de grupos de teatro que buscava uma articulação nacional para fortalecer o teatro de pesquisa e de grupo, foi abatido pela síndrome maniqueísta do novo caçador de marajás: “se você é a favor do Profic, então você defende os descamisados e pés descalços. Se você é contra, você é a favor das elites paulistanas”, proclama a cúpula do planalto central.

Pior do que isso, a atividade cultural está sendo dividida entre amigos e inimigos do rei. E Getúlio já dizia: “aos amigos tudo, aos inimigos, a Lei”. E os integrantes do Redemoinho preferiram desmantelar a rede a tomar uma posição, enfrentando a fúria do ministro, famoso por ser implacável com seus inimigos. Isso porque alguns dos protagonistas do movimento conhecia as consequências práticas da proposta do MinC e o abismo existente entre a proposta e o discurso malicioso e demagógico do ministro.

Tenho conversado com muitos artistas, produtores, gestores, investidores, agentes culturais em geral, de todas as partes do Brasil, do mercado, dos Pontos de Cultura. A apreensão é muito grande, a insegurança e o desânimo em relação ao futuro profissional é um denominador comum. O momento de crise se agrava com as incertezas e a falta de comando e controle da situação. Há uma sensação de impotência em relação a uma gestão centralizadora, discricionária, arbitrária e conduzida no grito.

Outra característica comum é a fala em off. Todos deixam suas opiniões, desde que não as publiquemos. O medo de sofrer retaliação subrepõe a crença numa articulação mais forte, que contraponha a mesquinharia e a agenda difusa e subliminar do ministério.

É grande a instabilidade do MinC. O ministro prepara uma saída amenizadora para o seu discurso suicida. Nos próximos dias, deve fritar alguém do alto comando, como já fez com vários secretários e presidentes de vinculadas. A ideia é ganhar sobrevida e continuar em evidencia por mais tempo, em busca de sustentabilidade política e votos em seu curral para a campanha a deputado federal.

E o teatro? Bom, isso não é, definitivamente, problema do Juca. A não ser que esteja no palco.

















TV
DIVIRTA-CE

Confira vídeos do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga

























































































BAÚ DA TV DIVIRTA-CE

DIRETO DO TÚNEL DO TEMPO: Veja vídeo com narração de Dan Viana na cobertura do 15º FNT

O Blog Divirta-CE acompanha o Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga há anos - confira esse vídeo de 2008







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DIVIRTA-CE ENTREVISTA

Desafios do Teatro José de Alencar

Diretora do TJA, Izabel Gurgel, faz um panorama no centenário deste símbolo da cultura cearense

O DIVIRTA-CE conversou com a diretora do Teatro José de Alencar, Izabel Gurgel, que desde 2007 comanda as evoluções deste centenário símbolo de nossa cultura. Antes de assumir a direção, Izabel cuidou durante muitos anos da comunicação do TJA, e ainda participou de produções e projetos. Envolvida nas comemorações dos cem anos, ela faz um panorama da historia do Teatro José de Alencar, sua experiência com um das instituições mais importantes do estado, e os desafios para o futuro.

DIVIRTA-CE - O Teatro José de Alencar está completando 100 anos sem comemorações luxuosas a altura da historia deste importante ponto de cultura nacional. Aliás, a programação atual do TJA é feita basicamente com atrações gratuitas. Como você analisa a situação artística e estrutural deste símbolo da cultura cearense na atualidade?
IZABEL GURGEL - O luxo do Teatro José de Alencar é chegar ao primeiro centenário com seus vários espaços cênicos ocupados com uma programação rica, gratuita, aberta a muitos públicos. Um espaço criado e mantido com o dinheiro público, portanto nosso, para fazer prosperar um luxo que merecemos no dia-a-dia: beleza, alegria, a produção artística dos quatro cantos do Ceará enchendo de graça os muitos mundos que o TJA abriga. Luxo é a possibilidade de encontro: artistas do Ceará com solistas e grupos do México, França, Paraguai, Peru (no Zona de Transição) e com os Estados Unidos (agora no Festival de Dança de Fortaleza, o Fendafor). Até na precariedade somos excessivos. Com palcos festivos, ocupamos o último dia 17 de junho, data dos 100 anos do TJA, o Teatro e a Praça e a Praça José de Alencar. Quase dois mil artistas celebraram com o público. Quando olhamos a trajetória dos 100 primeiros anos do TJA, pensamos na potência da instituição. Prefiro pensar que é possível fazer mais, usar mais, povoar e ocupar o TJA para além do que foi feito, do que foi pensado, do que cultuar uma memória de grandes momentos. No ano do centenário, pensamos que é um bom momento para dizer para a cidade que o TJA não é só um grande teatro para receber os solistas, grupos e espetáculos internacionais - como era o desejo que levou à construção do TJA em 1910. Somos também produtores de grandes solistas, grupos e espetáculos. O TJA não é mais só um grande teatro à italiana, ele é um complexo cultural com mais de 12 mil metros quadrados, um lugar de encontro, de trocas do Ceará com o mundo.


DIVIRTA-CE - Você antes de ser diretora do TJA, foi por muitos anos a assessora de imprensa. Como você encarou a diferença nas funções e o que você tirou de proveito na sua experiência como jornalista?
IZABEL GURGEL - Como tenho uma ligação muito forte, parte do meu aprendizado de público é feito no Teatro José de Alencar. Mas dizem respeito, sobretudo, só aos últimos 20 anos, ou seja, um quinto da vida da instituição. Ainda na escola, meu lugar favorito para viver era o TJA. Os deslocamentos são muito freqüentes na minha relação como o TJA: como repórter, como responsável pela assessoria de imprensa na gestão de Maninha Morais, cuidando da área de projetos/produção e, desde março de 2007, na direção do TJA. Sou jornalista, mas antes, sou público do TJA há mais de 20 anos. Parte do meu aprendizado de público, de ser público, de ser espectador e estar na platéia foi feito nesta casa. E é esta experiência que se reflete na nossa atuação, juntamente com Silêda Franklin com quem compartilho a direção. O Theatro José de Alencar é uma experiência máxima no que se refere ao aprendizado de conviver com o outro. Alguns de nós são artistas, alguns produtores, alguns técnicos, mas todos somos potencialmente público. É o que nos irmana.

DIVIRTA-CE - Quanto de verba o Teatro José de Alencar recebe da Secretaria de Cultura do estado por mês para manter seu funcionamento? Você acha essa verba justa e compatível?
IZABEL GURGEL - Nunca teremos uma verba compatível com a pulsante produção do Ceará. Quanto mais o Governo, as empresas, as prefeituras investirem dinheiro na cultura, mais a cultura se reinventa e cria novas necessidades. Hoje, o Governo do Estado responde pelo básico da casa (funcionários, água, luz, telefone etc.) e o governo Cid Gomes realizou no TJA uma série de obras de conservação, de aquisição de materiais, como as reformas da cisterna, coberta do palco, reforma integral do sistema de ar condicionado, aquisição de um jogo novo de cortinas e 120 cadeiras para o salão nobre, mobiliário para o café e jardim, equipamentos cênicos. Quero deixar registrado, como tenho feito em todas as entrevistas, que o governo Cid Gomes foi o que mais investimentos diretos fez no TJA, o governo que mais investiu com recursos próprios diretamente na instituição. Só entre serviços de reforma e manutenção, aquisições de materiais e equipamentos direcionados especificamente ao Teatro José de Alencar: foram mais de R$ 2,5 milhões.

DIVIRTA-CE - Quais as principais atrações que ainda acontecerão nessa festa do centenário?
IZABEL GURGEL - O Teatro José de Alencar abriu o Ano Cem com o I Zona de Transição - Encontro Internacional de Artes Cênicas. Em julho, vamos receber também o intercâmbio Brasil - Chile e, da França, o ator e diretor Maurice Durozier, com um curso de duas semanas para 60 alunos que já participaram de uma primeira formação com ele em 2008, e 30 vagas para novos alunos; da França, vem também em julho a atriz Nathalie Joly com o espetáculo "Je ne sais quoi" (na Domingueira no Theatro, dia 25), a partir de canções de Yvette Guilbert e sua correspondência com Freud. São atividades gratuitas, como toda a programação do centenário do TJA realizada pelo Governo do Estado - Secult. Teremos mais três encontros artísticos até dezembro: o II O Riso da Cena - Encontro Internacional de Artes Cênicas do TJA (outubro), a mostra Músicas de Todo Mundo (novembro) e o I Inéditos e Dispersos - Encontro de Linguagens Artísticas do TJA (dezembro), reunindo trabalhos de curta duração. As comemorações pelos 100 anos do Teatro José de Alencar, que iniciaram em junho de 2009 e prosseguem até dezembro de 2010, estão em pleno curso e ainda teremos várias gratas surpresas ao longo dos próximos meses.

DIVIRTA-CE - Muitas pessoas reclamam há anos o abandono da Praça José de Alencar. A situação do centro da cidade e da Praça atrapalham o funcionamento do TJA?
IZABEL GURGEL - Desde maio de 2008, quando listamos equipamentos e instituições culturais sediados no Centro para o projeto “Viva o Centro!”, nos demos conta que somos mais de 30 endereços artístico-culturais entre museus, teatros, bibliotecas, a maioria com serviços gratuitos. Temos uma série de pequenas ações junto a outros organismos do poder público, como o Minístério Público Federal e a Prefeitura de Fortaleza, sobretudo depois da chegada da advogada Luiza Perdigão à Secretaria do Centro. Não é possível pensar o TJA apartado da Praça José de Alencar. Não é possível 'perder' nossos espaços públicos, como as calçadas e praças, por exemplo, dada a ocupação irregular dessas áreas. A programação do centenário sinaliza um TJA expandido: um TJA que se integra à Praça José de Alencar, um TJA que vai continuar reivindicando melhorias para o próprio TJA e intervenções na Praça, no Centro, na cidade. Uma outra experiência de Centro é possível. Sabemos disso e trabalhamos para realizá-la. Como quando recebemos a companhia francesa La Belle Zanka no Zona de Transição, trabalhando com artistas de Fortaleza, para encher de beleza um lugar hoje tão feio como é a Praça José de Alencar, o entorno do TJA. Mas sabemos que pode ser de outro modo.

DIVIRTA-CE - Foi inaugurado o teatro do shopping Via Sul. Você teme que os espectadores fujam para teatros em shoppings e centros comerciais, assim como aconteceu com os cinemas, em busca de segurança e conforto?
IZABEL GURGEL - Quanto mais, melhor. Quantidade não serve como medida mas no caso de dotar a cidade de novos espaços cênicos é uma medida exemplar, necessária. O TJA é uma referência afetiva para a cidade e está cada vez mais povoado e vivo. O público do TJA não cessa de variar, assim como seus usos e ocupações. A Prefeitura de Fortaleza - através da AMC e Cité Luz - nos apresentou em junho o projeto de iluminação permanente da fachada. Beleza sim, delicadeza sim com os mundos da rua, mas também uma contribuição para a área nos dando, com a iluminação, sensação de segurança, de que é possível, de fato, viver de um outro modo nesta cidade que abriga tantas experiências de cidade, todas elas tocadas pelo medo, como vivemos na maioria das cidades brasileiras. Nossas boas vindas, como moradora de Fortaleza, aos mais recentes: Centro Cultural do Bom Jardim, Cuca na Barra do Ceará, Via Sul. Por uma outra experiência de cidade.

DIVIRTA-CE - Nesses cem anos, para você, qual foi o auge do Teatro José de Alencar? Quais serão os próximos desafios do TJA nos próximos anos?
IZABEL GURGEL - Mais do que celebrar uma memória, queremos inventar novas memórias. O TJA não é mais só um grande teatro à italiana, ele é um lugar de encontro, de trocas. Em referência às atrações, todas as peças, musicais, números circenses, como as diversas expressões em cenas e mostras artísticas são uma celebração da vida. Não podemos distinguí-las em tamanhos ou grandezas. Como diz Hilda Hilst, sentir é o que pode vibrar este caos que é o homem, que somos nós. Sem medidas, uma vez que Dioniso, deus do teatro, é também o deus da desmedida. Quanto aos desafios, sempre existirão. São eles também que nos movem, que nos provocam, que interpelam a cidade. Auge mesmo para mim é uma coisa simples como o auxílio luxuoso do pandeiro: ver o Teatro José de Alencar intensificando sua relação com os públicos, pensá-lo para além do que já foi feito. "Bonito por natureza" em sua exuberância arquitetônica, o TJA fica mais lindo quando cheio, usado, povoado.

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