quarta-feira, 9 de outubro de 2013

ENTREVISTA

Jefferson Gonçalves mostra o ‘poder da gaita’ em Canoa Quebrada  

Músico foi uma das atrações do festival Canoa Blues 2013

O carioca Jefferson Gonçalves é um dos maiores gaitistas brasileiros. Gravou e acompanhou vários artistas de renome, como Belchior, Victor Biglione, Celso Blues Boy, Vanessa Barum, Tavares da Gaita, entre outros. Em 1992 fundou a banda Baseado em Blues, com o qual gravou três álbuns. Em entrevista para o DIVIRTA-CE, ele fala da carreira, do disco novo e como será sua apresentação no festival Canoa Blues, que acontece neste fim de semana.

DIVIRTA-CE - Você já participou de diversos festivais por todo o Ceará. Como é essa relação com o público cearense, quais os shows mais memoráveis?
JEFFERSON GONÇALVES-
Minha relação é a melhor possível, tenho vários amigos no Ceará e sempre mantenho contato com eles. Recentemente participei do show de lançamento do novo CD do Felipe Cazaux em São Paulo e estou sempre em contato com o Geraldo Junior e Beto Lemos, dois grandes músicos do Cariri que moram no Rio de Janeiro. Como dizem:  sou o carioca mais cearense que existe (risos)! Em relação ao melhor show é complicado dizer, pois foram vários que fiz e todos tem suas conquistas e particularidades, mas posso afirmar que a apresentação do Blues Etc no Festival de Guaramiranga foi emocionante.

DIVIRTA-CE - Você é um dos gaitistas mais famosos e atuantes do país na atualidade. Como você analisa a produção de música instrumental brasileira atualmente?
JG -
Famoso!!! Me considero, na verdade, um batalhador. Estou sempre procurando locais e públicos novos e por isso fiz tanto show no Ceará. Acredito que conheço o estado mais do que muito cearense (risos), eu gosto desses desafios de tocar em cidades e locais onde não tem a cultura da música instrumental ou jazz e blues, acho que por isso faço bastante show. Acredito muito em formação de plateia e ter a oportunidade de mostrar meu som para um público novo é ótimo. No Ceará acontecem muitos festivais e eventos por várias cidades e municípios e não vejo muito a galera procurando esses espaços para tocar. Tem gente que ainda pensa que Rio/São Paulo é o “Eldorado”. Se você analisar, a quantidade de festivais do gênero espalhados pelo Brasil, já pode ver que o mercado melhorou muito. Mas depende muito do músico estar sempre com "novidades" e com a cabeça e ouvidos abertos para as misturas possíveis que podem ser feitas. Ficar com preconceito musical só limita o músico e fecha o leque de opções para se apresentar. Posso dizer que alguns festivais não me chamam porque não gostam do que faço, querem blues tradicional, e isso eu não faço. Sempre gostei de misturar e na minha opinião, desculpem o bluseiros, os únicos aqui no Brasil que fazem uma leitura fiel ao estilo são: Igor Prado e The Headcutters.

DIVIRTA-CE - Uma das suas marcas registradas é a versatilidade. Quais são suas novas misturas no recém-lançado "Encruzilhada Ao Vivo"?
JG -
Na verdade esse box com CD\DVD ,é uma releitura dos meus quatro álbuns. Nele comemoro meus 23 anos de carreira e faço uma nova roupagem para as músicas e para versão de clássicos do blues, folk e rock. Ele foi gravado em um teatro muito charmoso no Rio de Janeiro e fizemos um boa produção com cenário, luz, etc, vale lembrar que isso foi realizado graças a ajuda do nosso público que participou na captação da verba pelo site Sibite. No inicio eu achava que não iria conseguir nenhum apoio e para minha surpresa conseguimos toda a verba e isso só mostrou como temos um público fiel.

DIVIRTA-CE - A PEC da música acaba de ser lançada, e, com a isenção de impostos, a promessa é termos CDs e DVDs mais baratos. Você se envolve nas questões políticas e burocráticas relativas a música? O que acha dessa nova conquista de músicos do país?
JG-
Eu não sou muito de me envolver, na verdade não tenho tempo, mas sei o que acontece e o que posso fazer para me organizar e resolver algumas questões como ECAD, recebimento de direitos autorais, OMB, produção, etc. Hoje em dia o músico que não se liga nessas questões está perdido. Espero que essa nova lei funcione, mas para isso acontecer cabe a nós músicos saber nossos direitos e deveres e assim fazer acontecer, esse lance de só reclamar e dizer que viver de música é complicado já passou, o que devemos fazer é procurar saber como agir nessas situações.

DIVIRTA-CE-  Quais as grandes influências de Jefferson Gonçalves atualmente, o que você anda escutando? Admira algum artista cearense que pudesse citar?
JG-
Escuto de tudo, de Willie Dixon a Dominguinhos (risos). Em janeiro desse ano fiz um show no Dragão do Mar no projeto Rock, Maracatu e Baião, onde eu e vários músicos cearenses, entre eles Zoo, Felipe Cazaux, Gustavo Portela, fizemos uma homenagem a Luiz Gonzaga e por conta disso escutei muito a obra do Rei do Baião e descobri coisas incríveis. Atualmente tenho escutado algumas bandas e artistas cearenses sim, são eles: Geraldo Junior, Dudé Casado, Fulô da Aurora, Luciano Brainer e Zabumbeiros Cariris, gosto muito do som deles e das misturas que fazem.

DIVIRTA-CE - O que todos podem esperar do seu show no festival Canoa Blues, próxima sexta, em Canoa Quebrada?
JG -
Uma festa! risos, estamos felizes por tocar nesse festival tão charmoso, o local já ajuda muito, o público nem se fala, ou seja, tudo para fazermos um show com o astral lá em cima e colocar o povo pra dançar!

Serviço:
Canoa Blues 2013
18 de Outubro
Shows: Blues Label e Jefferson Gonçalves (Polo de Lazer de Canoa Quebrada)
Hora: 22 horas
19 de Outubro
Shows: The Headcutters e Rodica Weitzman (Polo de Lazer Canoa Quebrada), às 22 horas | Diogo Farias e Marcelo Justa (Restaurante Baobah), a partir da meia noite
Local: Canoa Quebrada
Acesso gratuito







LITERATURA


Editora Armazém da Cultura lança novo livro de Ana Miranda


“O peso da luz, Einstein no Ceará” terá noite de autógrafos com a presença da escritora cearense, nesta sexta-feira, na Livraria Cultura da Avenida Dom Luís, às 18h

Construído com elementos da biografia de Albert Einstein, “O peso da luz”, novo livro de Ana Miranda, que será lançado na próxima sexta, 18 de outubro, às 19h, na Livraria Cultura. A nova obra da escritora cearense trata de um amante da ciência que conta suas memórias, Roselano Rolim – relojoeiro e inventor de uma máquina utópica, um moto-perpétuo estelar –, uma espécie de Quixote nascido em Cajazeiras. Na mesma cidade paraibana viveu um tio-avô da autora, que nos anos 1930 inventou um controle remoto, e inspirou o personagem. Leitor ardente das teorias de Einstein, Roselano recebe de seu amigo poeta a notícia de que uma comissão de cientistas ingleses está a caminho de Sobral, ao norte do Ceará, com a finalidade de comprovar a teoria da relatividade geral, durante um eclipse total do Sol que ocorrerá em 29 de maio de 1919.
Em comissão particular, na companhia de seu amigo poeta e do papagaio Galileu, Roselano embarca numa viagem que provoca em si uma verdadeira revolução, com a descoberta de outros mundos, novos modos de amar, de se relacionar com os seres humanos, com os próprios sonhos, e consigo mesmo, e a revelação do lado universal da vida que se consome num moto-contínuo. As observações da comissão inglesa, composta pelos cientistas Andrew Crommelin e Charles Davidson, comprovaram a teoria de Einstein que declarou, posteriormente: “A pergunta que minha mente formulou foi respondida pelo ensolarado céu do Brasil”. A teoria da relatividade geral ocasionou uma das maiores revoluções da história humana.
Voltada para a imaginação e linguagem, dotada de um brasilianismo intenso, Ana Miranda realiza um trabalho de redescoberta do nosso tesouro literário, que a leva a dialogar com autores e obras da literatura nacional. Fundada em séria e vasta pesquisa, recria épocas e situações que se referem à história literária brasileira, mas, primordialmente, dá vida a linguagens perdidas no tempo. Sua obra, de mais de vinte livros, tem sido matéria de estudos na área acadêmica, recebendo teses e monografias geralmente ligadas a questões de literatura & história, barroco brasileiro, romantismo, ou pós-modernidade.
Ana Miranda recebeu prêmios importantes na literatura brasileira, como Jabutis, da Academia Brasileira de Letras e Sereia de Ouro. A escritora cearense teve sua obra traduzida em cerca de vinte países, e conquistou expressivo número de leitores no Brasil. Ana Miranda consagrou-se igualmente pela inclusão de “Boca do Inferno” (1989) no cânon dos cem maiores romances em língua portuguesa do século 20, elaborado por estudiosos da literatura, brasileiros e portugueses.  “A última quimera” (1995), “Desmundo” (1996), ”Dias & Dias” (2002) e outros. ”O peso da luz” faz parte de uma série de Novelas cearenses que a autora planeja publicar.

Confira entrevista com a autora:

A novela O peso da luz, Einstein no Ceará, foi escrita para homenagear seu tio-avô, que era inventor?
Sim, claro, é uma história fascinante que corre na minha família, mamãe sempre a repete. Esse tio, que se chamava Inácio Nóbrega, e morava em Cajazeiras da Paraíba, inventou nos anos 1930 um controle remoto, e cedeu os desenhos e cálculos a um viajante alemão, que prometeu patentear o invento em seu país. Mas desapareceu com os esquemas, e meu tio Inácio nunca mais teve notícias. Foi uma consternação para ele e para a família. É uma homenagem aos inventores em todas as áreas, às utopias e quimeras. Mas também é uma homenagem ao Ceará, pois aborda um tema cearense, que é a comprovação da teoria da relatividade geral, de Einstein, ocorrida durante um eclipse em Sobral, em 1919. Para lá foi enviada uma comissão científica com a missão única de comprovar a teoria do cientista nascido na Alemanha. Interessante é que foi na época da Primeira Grande Guerra, e britânicos e alemães eram inimigos. Além da grande conquista científica, que revolucionou o mundo em tantos aspectos, a comprovação foi uma espécie de vitória do espírito de cooperação contra o espírito bélico.

É seu primeiro livro que se passa em sua terra natal, o Ceará?

De certa forma, sim. O Ceará sempre esteve presente em mim, assim como a Paraíba e todo o Nordeste, em alguns de meus modos de ser e ver o mundo. Em Dias & Dias eu pisei pela primeira vez o solo cearense, quando personagens passam por Fortaleza. Eu sentia uma falha no conhecimento de minhas origens, pois saí de Fortaleza aos quatro ou cinco anos de idade. Voltei a morar no Ceará, e a me imbuir de seus elementos culturais, históricos, tenho conhecido muitos aspectos dessa terra, e isso me inspira livros com temas locais.

O fato de a comprovação se passar no Ceará tem alguma relevância para a teoria?

Tem relevância para o Ceará e para o Brasil, por extensão. Tudo o que acontece em nosso país passa a fazer parte de sua história, e tudo deixa consequências que devem ser examinadas, lembranças que devem ser preservadas. O fato traz à luz, por exemplo, aspectos importantes de nossa história científica, como o conflito entre ciência utilitária e ciência pura, ou a dificuldade, falta de tradição, de apoio à pesquisa científica. Pelos relatórios dos cientistas das comissões inglesa e brasileira, podemos verificar nitidamente as nossas dificuldades. E se não tratarmos de nossos temas, se não os conhecermos e examinarmos, e criarmos nossas próprias referências, estaremos sempre como repetidores colonizados de conhecimentos externos, li, dia desses, essa frase no jornal.

Por que a senhora escolheu um poeta para acompanhar o cientista inventor, narrador do livro?

Para tecer laços entre a ciência e a poesia, ambas têm exatidão, ambas se compõem de imaginação e exigem ousadia. Também para criar um parâmetro de comportamento entre duas figuras quase marginalizadas na sociedade, o poeta e o inventor, tidos como quixotescos, por abordarem reinos do conhecimento humano que são essencialmente subjetivos, e saírem em busca do desconhecido. A alma humana e o moto-perpétuo. Einstein achava que a imaginação é mais importante do que o conhecimento. É por essa vereda...

Einstein esteve realmente no Ceará?
Esteve, como símbolo. Na verdade toda arte é simbólica, e a presença dele no Ceará significa a chegada de um novo tempo, e a ânsia de estabelecer contato com o mundo, até mesmo com o tão misterioso universo, com as origens da vida, com os significados da existência, porque a física abstrata tenta vasculhar o mistério, assim como a poesia. Num mundo em que se acreditava em verdades e certezas, houve um momento em que a “realidade” tomou um aspecto relativo. Houve um como que desmanche cultural, uma fragmentação atômica. O livro aborda a questão do sentimento de provincianismo, e o exílio pessoal e cultural. Também, as possibilidades de renovação, um sentimento que inquieta a humanidade, porque encerra o tema da vida & morte.

O narrador do livro dá de presente a Einstein um papagaio. É sabido que Einstein teve em sua casa um papagaio. Qual o significado do papagaio?

O papagaio é um elemento da vida de Einstein, que cuidou de uma dessas aves. O biógrafo Walter Isaacson diz que ele recebeu o papagaio de presente de um centro médico, em 1954, deixaram a ave na porta da sua casa. Einstein andava doente, já no fim da vida, e o presente deve ter sido terapêutico. Talvez ele falasse que gostava de papagaios, talvez já tivesse tido um. Os jornais brasileiros mencionam que durante a visita ao Rio um cidadão lhe entregou um papagaio, e Einstein teria levado essa ave para sua casa. Se for verdade, é fascinante a coincidência, pois deve ter algum significado que pode ser examinado. Soube que o papagaio mais inteligente do mundo, que vivia num zoo nos Estados Unidos, se chamava Einstein. De toda forma, é uma ave bem popular, domesticável, humanizada a tal ponto que chega a repetir os sons, como se falasse, e há uma força afetiva entre essa ave e a pessoa que dela cuida. Levar do Brasil um papagaio pode ser levar um símbolo da nossa natureza e cultura. A inserção do Novo Mundo no Velho Mundo, poderia ser... A invasão da cultura popular, do folclore, na erudita... A natureza que existe na cultura... O idílio da floresta primitiva... Abordagens assim. Para Roselano o papagaio era uma ligação afetiva com Einstein, o personagem lhe ensinava apenas frases em alemão.

A sua admiração por Einstein é patente no livro. Que características desse cientista a entusiasmam?

Tudo nele é entusiasmante, sua personalidade ao mesmo tempo meiga e insolente, seu senso de humor, sua simplicidade e despojamento de bens materiais, e o que ele disse de si mesmo, numa carta a um filho: “a capacidade de se elevar acima da mera existência, sacrificando sua própria pessoa ao longo dos anos em prol de um objetivo impessoal”. E a inteligência brilhante dele, que se expressava em ideias científicas, mas também nas frases que ele despejava com espontaneidade.

O conflito de Einstein, em relação à criação da bomba atômica, não está no livro. Por quê?

Porque se passou depois da ação do livro, que se resume ao período de 1919 a 1925. No entanto, apesar de o narrador ser um apreciador irrestrito do trabalho de Einstein, a polêmica sobre sua vida e obra se encontra nas páginas da novela, dentro das perspectivas da época e local, o Brasil. Apesar de uma pureza apaixonada na visão do narrador, Einstein aparece com suas contradições.

Por que você chama o livro de novela, e não romance?
A novela é um romance abreviado, com trama contida numa só linha de narração, poucos personagens, nada daquela voz polifônica, daquele longo devaneio, fugas, daquelas tramas paralelas, que caracterizam o romance. O peso da luz se encaixa bem melhor nas definições de novela.

A linguagem de O peso da luz é bem mais simples do que a de seus romances. A que se deve isso?

Deve-se à época em que se passa a trama, século 20, não estou recriando nenhuma dicção antiga, e as dicções antigas hoje nos parecem complicadas, quanto mais antigas, mais desconhecidas, dando a sensação de estranheza. Também o fato de ser novela leva à simplificação da estrutura ou vice-versa. E o fato de o narrador ser um homem das ciências exatas. As falas do poeta são bem mais rebuscadas, no livro, inspiradas em Augusto dos Anjos, era o tempo do cientificismo poético, ou da poesia cientificista.

A senhora diz que O peso da luz é a primeira das Novelas Cearenses que pretende escrever. Poderia dizer quais são as outras?
Prefiro guardar segredo. O Ceará tem uma riqueza quase virgem, no campo da literatura histórica, e há temas fabulosos. Sinto que tenho condições de fazer um trabalho nesse sentido, animada por uma espécie de amor natural.

Serviço:

“O peso da luz, Einstein no Ceará”

Lançamento em Fortaleza

Data:                     18 de outubro de 2013.

Hora:                    19 horas

Local: Livraria Cultura -  Av. Dom Luís, 1010, Ljs. 8,9 e 10. Fone: (85) 4008.0800

Editora:                               Armazém da Cultura

Preço de capa: R$ 40,00

Fone:                    (85) 3224.9780

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