Woody Allen faz uma comédia café com leite em novo filme
Woody Allen tem dessas coisas, quase sempre acerta, dificilmente erra e às vezes, bem, às vezes ele emplaca a coluna do meio. Pois bem, com Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Woody está longe de conseguir fazer um filme chato ou brilhante. Fica naquele meio de caminho em que muitas vezes se encontram os bons piadistas quando caem em suas mãos piadas mais ou menos. Ou seria as piadas mais interessantes que os piadistas?
Em qualquer combinação, fato é que com sua nova comédia decorada pelas paisagens londrinas, o diretor, conhecido por ver em nossos fracassos fonte inesgotável para sua fina ironia judia, reúne personagens cujas derrotas pessoais dificilmente atingem aquele limite do absurdo, o momento em que, de fato, o fracasso se faz piada. Salvo, claro, nobre exceções - a citar a carismática senhora carente feita pela brilhante Gemma Jones e o escritor de uma obra só interpretado por Josh Brolin, bastante coerente em seu papel de macho beta de uma mulher alfa.
A tecelagem da trama se constrói da seguinte forma: Helena (Gemma Jones) acaba de se divorciar de Alfie (Anthony Hopkins), que pediu a separação legal após ter descoberto os benefícios de pílulas azuis e alguns satisfatórios exames médicos de rotina. Andando sobre esse abismo da solidão após décadas de casamento, Helena precisa de uma voz amiga. Nada melhor que uma vidente bem remunerada para legitimar a reconfortante ideia que dias melhores virão.
Sally (Naomi Watts), filha de Helena, apoia a mãe em sua resolução de "o futuro a gente compra" e, enquanto tenta lidar com os novos interesses paranormais da família, precisa decodificar um possível flerte entre ela e seu novo chefe (Antonio Banderas) e simultaneamente encarar a sombra de um marido (Josh Brolin) que 1) ainda não lhe deu filhos e 2) não paga as contas da casa. Em suma: Roy, um ex-proeminente escritor, parece ser um item supérfluo à casa. Ciente de seu status zero à esquerda, ele espia pela janela do quarto uma chance de começar tudo de novo, como se a irresponsaibilidade de uma nova paixão pudesse curar sua ineficiência criativa. A moça do outro lado do edifício se chama Dia (Freida Pinto) e, como todas as moças que se espia pela janela, ela é completamente desavisada das angústias de seus secretos admiradores.
Em outras palavras: na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença e, principalmente, na aventura ou no tédio, todos sempre procuram alguém para chamar de seu. O argumento não é novo à filmografia de Woody Allen. Há de se dizer, aliás, que esta incessante busca de cada um por suas respectiva tampa está na base dos melhores trabalhos do diretor. O que acontece neste filme é que Allen picota vários enredos interessantes em pequenos contos café com leite. A voz narradora, tão bem usada em Vicky Cristina Barcelona, ainda tenta nos dar esse distanciamento irônico do contador de histórias, mas não consegue desfazer a impressão de cada um dos personagens acima citado poderia um pouco mais.
'Centurião' tem batalha e conflitos modernos
Filme é uma das novidades em cartaz no Multiplex UCI Ribeiro Iguatemi
Ambientado no ano 117 da era cristã, durante o domínio romano na Britânia (território da atual Grã-Bretanha), o filme Centurião, de Neil Marshall, carrega uma mensagem subliminar sobre o papel dos impérios modernos.
As guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão não por acaso se assemelham às batalhas que opõem as legiões romanas à resistência do povo pict. De um lado as forças de ocupação, interessadas em ampliar o território sob controle de Roma, de outro, bandos de resistentes que conhecem melhor o território e impõem pesadas baixas ao inimigo, utilizando técnicas de guerrilha. Um conquista, outro não quer entregar o que lhe pertence. Há campo para espionagens, traições, tramóias políticas e vítimas inocentes.
Visto sob esse ângulo, o filme de Marshall, poderia até ter atrativos para o espectador. Mas, o diretor toca apenas de leve nessas questões e está mais interessado em investir em um filme de ação, no qual as batalhas e lutas corpo a corpo permitem o extravasamento de uma violência primitiva, com decapitações, amputações de membros e derramamento de sangue em profusão.
Se hoje os truculentos homens do capitão Nascimento são os responsáveis por levar a platéia a um processo de catarse coletiva, no filme de Marshall os legionários comandados pelo general Titus Virilus (Dominic West) liberam a adrenalina a golpes de espada, lança e machado. Chega a ser difícil identificar os oponentes nas lutas noturnas e nos dias eternamente frios e nublados.
A história do conflito é contada pelo centurião Quintus Dias (Michael Fassbender), capturado pelo Exército de Gorlacon (Ulrich Thomsen), mas que conseguiu fugir e se unir à 9a Legião, comandada pelo general Virilus.
Virilus aproveita a adesão de Dias para reforçar uma missão contra as forças rebeldes, por ordens do governador Agrícola. O representante de Roma planeja uma ação fulminante para elevar o moral da tropa e consolidar suas posições no território, pois não tem mais como justificar os fracassos perante seus superiores.
A pedido de Agrícola, a legião recebe o apoio de Etain (Olga Kurylenko), uma batedora pict, muda, exímia no manejo das lâminas e conhecedora do território. Mas a investida fracassa, fruto de uma emboscada, e o general Virilus é capturado. Seis sobreviventes, que se escondem entre os mortos, decidem resgatar seu comandante, apesar dos riscos. Depõe contra a iniciativa a desunião dos sobreviventes e uma traição que os surpreende. Há indícios de que a saga continuará, embalada por uma história de amor, que aqui foi apenas esboçada.
Mais um banho de sangue
“Jogos Mortais 3D” é escatologia em terceira dimensão
Se a franquia Jogos Mortais iniciou abusando do terror psicológico com doses de sadismo, sua última parte inverte a proposta e apresenta um filme sangrento com pitadas de história no meio do roteiro. Jogos Mortais 3D - O Final amarra a série e coloca um ponto final, mesmo assim não convence.
Apresentado como o último filme da série, a sétima parte traz de volta personagens conhecidos do público, como Hoffman (Costas Mandylor), Dr. Gordon (Cary Elwes), a viúva de Jigsaw, Jill (Betsy Russell), e até o grande psicopata (Tobin Bell) que idealizou as torturas e mortes para convencer as pessoas a valorizar suas vidas.
Desta vez, a vítima principal é o escritor de auto-ajuda Bobby (Sean Patrick Flanery), que ganhou fama e fortuna ao escrever um livro contando sua história de superação depois de ter sobrevivido aos jogos de Jigsaw. A forma como faz, no entanto, não apenas irrita outras vítimas do torturador, mas também seus seguidores.
O escritor então é colocado em uma grande prova para mostrar que realmente é digno de explorar o serial killer através de seus livros. Ao mesmo tempo, Jill pede proteção à polícia em troca de contar tudo sobre o homem que está por trás dos jogos desde que o seu marido morreu. Agora, além de proteger a viúva, a polícia tem que tentar encontrar Bobby antes que seja tarde. A opção do 3D não influi em quase nada no filme. Raros são os momentos em que os efeitos são percebidos no decorrer da trama. Mesmo assim, o espectador quase precisa de uma proteção para não se sujar com o banho de sangue que acontece na tela. Ao contrário dos primeiros filmes, a última parte dá closes nas sequências mais violentas, que não são poucas. Já no começo, o diretor Kevin Greutert (de Jogos Mortais 6) já mostra a que veio. Três jovens são colocados em uma máquina de tortura em uma vitrine, em uma rua movimentada. O momento reproduz o que é o filme: uma exibição de tortura para ser apreciada com detalhe por um público sádico.
A opção por exagerar nas cenas sangrentas, no entanto, deve ter feito com que deixassem de lado a inventividade do começo da série. Apesar de amarrar de um modo criativo desde os primeiros filmes, Jogos Mortais 3D - O Final não chega à altura deles. Mesmo concluindo a saga, não seria de se admirar que logo venha um oitavo filme.
Woody Allen tem dessas coisas, quase sempre acerta, dificilmente erra e às vezes, bem, às vezes ele emplaca a coluna do meio. Pois bem, com Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, Woody está longe de conseguir fazer um filme chato ou brilhante. Fica naquele meio de caminho em que muitas vezes se encontram os bons piadistas quando caem em suas mãos piadas mais ou menos. Ou seria as piadas mais interessantes que os piadistas?
Em qualquer combinação, fato é que com sua nova comédia decorada pelas paisagens londrinas, o diretor, conhecido por ver em nossos fracassos fonte inesgotável para sua fina ironia judia, reúne personagens cujas derrotas pessoais dificilmente atingem aquele limite do absurdo, o momento em que, de fato, o fracasso se faz piada. Salvo, claro, nobre exceções - a citar a carismática senhora carente feita pela brilhante Gemma Jones e o escritor de uma obra só interpretado por Josh Brolin, bastante coerente em seu papel de macho beta de uma mulher alfa.
A tecelagem da trama se constrói da seguinte forma: Helena (Gemma Jones) acaba de se divorciar de Alfie (Anthony Hopkins), que pediu a separação legal após ter descoberto os benefícios de pílulas azuis e alguns satisfatórios exames médicos de rotina. Andando sobre esse abismo da solidão após décadas de casamento, Helena precisa de uma voz amiga. Nada melhor que uma vidente bem remunerada para legitimar a reconfortante ideia que dias melhores virão.
Sally (Naomi Watts), filha de Helena, apoia a mãe em sua resolução de "o futuro a gente compra" e, enquanto tenta lidar com os novos interesses paranormais da família, precisa decodificar um possível flerte entre ela e seu novo chefe (Antonio Banderas) e simultaneamente encarar a sombra de um marido (Josh Brolin) que 1) ainda não lhe deu filhos e 2) não paga as contas da casa. Em suma: Roy, um ex-proeminente escritor, parece ser um item supérfluo à casa. Ciente de seu status zero à esquerda, ele espia pela janela do quarto uma chance de começar tudo de novo, como se a irresponsaibilidade de uma nova paixão pudesse curar sua ineficiência criativa. A moça do outro lado do edifício se chama Dia (Freida Pinto) e, como todas as moças que se espia pela janela, ela é completamente desavisada das angústias de seus secretos admiradores.
Em outras palavras: na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença e, principalmente, na aventura ou no tédio, todos sempre procuram alguém para chamar de seu. O argumento não é novo à filmografia de Woody Allen. Há de se dizer, aliás, que esta incessante busca de cada um por suas respectiva tampa está na base dos melhores trabalhos do diretor. O que acontece neste filme é que Allen picota vários enredos interessantes em pequenos contos café com leite. A voz narradora, tão bem usada em Vicky Cristina Barcelona, ainda tenta nos dar esse distanciamento irônico do contador de histórias, mas não consegue desfazer a impressão de cada um dos personagens acima citado poderia um pouco mais.
'Centurião' tem batalha e conflitos modernos
Filme é uma das novidades em cartaz no Multiplex UCI Ribeiro Iguatemi
Ambientado no ano 117 da era cristã, durante o domínio romano na Britânia (território da atual Grã-Bretanha), o filme Centurião, de Neil Marshall, carrega uma mensagem subliminar sobre o papel dos impérios modernos.
As guerras do Vietnã, Iraque e Afeganistão não por acaso se assemelham às batalhas que opõem as legiões romanas à resistência do povo pict. De um lado as forças de ocupação, interessadas em ampliar o território sob controle de Roma, de outro, bandos de resistentes que conhecem melhor o território e impõem pesadas baixas ao inimigo, utilizando técnicas de guerrilha. Um conquista, outro não quer entregar o que lhe pertence. Há campo para espionagens, traições, tramóias políticas e vítimas inocentes.
Visto sob esse ângulo, o filme de Marshall, poderia até ter atrativos para o espectador. Mas, o diretor toca apenas de leve nessas questões e está mais interessado em investir em um filme de ação, no qual as batalhas e lutas corpo a corpo permitem o extravasamento de uma violência primitiva, com decapitações, amputações de membros e derramamento de sangue em profusão.
Se hoje os truculentos homens do capitão Nascimento são os responsáveis por levar a platéia a um processo de catarse coletiva, no filme de Marshall os legionários comandados pelo general Titus Virilus (Dominic West) liberam a adrenalina a golpes de espada, lança e machado. Chega a ser difícil identificar os oponentes nas lutas noturnas e nos dias eternamente frios e nublados.
A história do conflito é contada pelo centurião Quintus Dias (Michael Fassbender), capturado pelo Exército de Gorlacon (Ulrich Thomsen), mas que conseguiu fugir e se unir à 9a Legião, comandada pelo general Virilus.
Virilus aproveita a adesão de Dias para reforçar uma missão contra as forças rebeldes, por ordens do governador Agrícola. O representante de Roma planeja uma ação fulminante para elevar o moral da tropa e consolidar suas posições no território, pois não tem mais como justificar os fracassos perante seus superiores.
A pedido de Agrícola, a legião recebe o apoio de Etain (Olga Kurylenko), uma batedora pict, muda, exímia no manejo das lâminas e conhecedora do território. Mas a investida fracassa, fruto de uma emboscada, e o general Virilus é capturado. Seis sobreviventes, que se escondem entre os mortos, decidem resgatar seu comandante, apesar dos riscos. Depõe contra a iniciativa a desunião dos sobreviventes e uma traição que os surpreende. Há indícios de que a saga continuará, embalada por uma história de amor, que aqui foi apenas esboçada.
Mais um banho de sangue
“Jogos Mortais 3D” é escatologia em terceira dimensão
Se a franquia Jogos Mortais iniciou abusando do terror psicológico com doses de sadismo, sua última parte inverte a proposta e apresenta um filme sangrento com pitadas de história no meio do roteiro. Jogos Mortais 3D - O Final amarra a série e coloca um ponto final, mesmo assim não convence.
Apresentado como o último filme da série, a sétima parte traz de volta personagens conhecidos do público, como Hoffman (Costas Mandylor), Dr. Gordon (Cary Elwes), a viúva de Jigsaw, Jill (Betsy Russell), e até o grande psicopata (Tobin Bell) que idealizou as torturas e mortes para convencer as pessoas a valorizar suas vidas.
Desta vez, a vítima principal é o escritor de auto-ajuda Bobby (Sean Patrick Flanery), que ganhou fama e fortuna ao escrever um livro contando sua história de superação depois de ter sobrevivido aos jogos de Jigsaw. A forma como faz, no entanto, não apenas irrita outras vítimas do torturador, mas também seus seguidores.
O escritor então é colocado em uma grande prova para mostrar que realmente é digno de explorar o serial killer através de seus livros. Ao mesmo tempo, Jill pede proteção à polícia em troca de contar tudo sobre o homem que está por trás dos jogos desde que o seu marido morreu. Agora, além de proteger a viúva, a polícia tem que tentar encontrar Bobby antes que seja tarde. A opção do 3D não influi em quase nada no filme. Raros são os momentos em que os efeitos são percebidos no decorrer da trama. Mesmo assim, o espectador quase precisa de uma proteção para não se sujar com o banho de sangue que acontece na tela. Ao contrário dos primeiros filmes, a última parte dá closes nas sequências mais violentas, que não são poucas. Já no começo, o diretor Kevin Greutert (de Jogos Mortais 6) já mostra a que veio. Três jovens são colocados em uma máquina de tortura em uma vitrine, em uma rua movimentada. O momento reproduz o que é o filme: uma exibição de tortura para ser apreciada com detalhe por um público sádico.
A opção por exagerar nas cenas sangrentas, no entanto, deve ter feito com que deixassem de lado a inventividade do começo da série. Apesar de amarrar de um modo criativo desde os primeiros filmes, Jogos Mortais 3D - O Final não chega à altura deles. Mesmo concluindo a saga, não seria de se admirar que logo venha um oitavo filme.
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