terça-feira, 4 de maio de 2010

QUADRINHOS

Lady marcante da boêmia francesa

Graphic novel com biografia de Kiki de Montparnasse sai pela Editora Record


Da infância pobre no interior à agitada rotina entre a nata da classe artística parisiense da época, a tumultuada e marcante vida deste ícone cultural e sexual dos chamados Anos Loucos é retratada com paixão nesta graphic novel biográfica da dupla Catel & Bocquet. Vencedora de diversos prêmios na França e apontada como um dos títulos essenciais no Festival Internacional de Quadrinhos de Angoulême — um dos mais importantes do gênero — em 2008, “Kiki de Montparnasse” é resultado de uma extensa pesquisa por parte dos autores, que aparece na bela construção dos cenários e figurinos ilustrados por Catel Muller e no texto de José Luis Boucquet.
Alice Prin nasceu na vila francesa de Châtillon-sur-Seine, no despertar do século XX. Na Paris boêmia e genial dos anos 1920, tornou-se Kiki de Montparnasse, uma das figuras mais carismáticas e adoradas do período entre guerras. Companheira de Man Ray e musa de outros tantos como Kisling, Fujita, Per Krog, Calder, Léger, Utrillo, Picasso, Cocteau, Modigliani, ela foi eternizada em quadros, fotos e manifestos.

Filha ilegítima de uma tipógrafa, criada na pobreza por sua avó materna na pequena vila onde nasceu até os 12 anos, quando foi para Paris encontrar sua mãe, a Rainha de Montaparnasse não foi apenas musa de uma geração que procurava eliminar a ressaca da Grande Guerra. Kiki foi, sobretudo, uma das primeiras mulheres emancipadas daquele século.
Começou a posar nua aos 14 anos, transformando-se depressa em modelo preferida — e amiga — dos artistas do bairro. Especialmente de Man Ray, seu companheiro por muitos anos, que a retratou em muitas de suas obras, como na célebre fotografia “Le Violon d’Ingres” (1924), em que aparece de costas, com o corpo semelhante a um violino — reproduzida na capa do livro no traço da ilustradora Catel. Mas muito além da liberdade emocional e sexual, Kiki ansiava por outra liberdade — de expressão, de pensamento. Seus dias de pobreza — alimentando-se com pão e vinho, algo que ninguém iria negar-lhe, segundo ela —, o envolvimento com drogas, além de outros escândalos, nunca ofuscaram sua paixão e bom humor. A vida como modelo e cantora, as noites nos cabarés, o longo relacionamento com Man Ray, a amizade com Fujita, sua biografia censurada (com prefácio de Ernest Hemingway, um dos dois únicos que ele escreveu em toda sua vida), tudo ganha vida nas páginas desta graphic novel. “Kiki de Montparnasse” leva o leitor ao coração de uma Paris libertina, relatando a ascensão e queda de uma estrela de verdade, que chocou e conquistou uma geração de artistas excepcionais.

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