terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Espigões da Beira Mar de Fortaleza terão os restaurantes Santa Grelha, La Pasta Gialla e Ryori

O local, que atualmente serve para turistas e cearenses contemplarem o pôr do sol, será concedido para empreendimentos privados, grandes empresas, restaurantes "chiques" direcionados para a população com alto poder aquisitivo, gerando grande polêmica entre a população  

A concessão dos espigões da Praia de Iracema em Fortaleza para o Grupo Social Clube, com a instalação de restaurantes como Santa Grelha, La Pasta Gialla e Ryori, tem gerado uma grande discussão na cidade. Atualmente, os espigões são espaços públicos, amplamente utilizados pela população para contemplação do pôr do sol e lazer. A proposta de transformar essas áreas em estabelecimentos privados, principalmente voltados para um público de alto poder aquisitivo, tem dividido a opinião dos fortalezenses.
Os novos empreendimentos fazem parte do consórcio Píer Beira-Mar, vencedor da licitação para administrar os espaços, juntamente com o Grupo Beach Park. Essa concessão, que envolve um investimento de R$ 5,9 milhões, já está em vigor desde julho de 2023, mas as obras ainda não começaram devido à espera por licenciamento. O contrato é válido por 16 anos, com dois anos já cumpridos, o que deixa claro que, em breve, a paisagem atual da Praia de Iracema passará por uma transformação significativa.
A ideia de privatizar espaços públicos tem gerado debate, principalmente entre aqueles que acreditam que o acesso ao litoral deve ser um direito coletivo, e não um privilégio de quem pode pagar por refeições em restaurantes caros. Com a implementação de estabelecimentos de alto padrão, como o Santa Grelha, La Pasta Gialla e Ryori, muitos temem que o espaço deixe de ser acessível a grande parte da população. Além disso, o conceito de “experiência gastronômica” no local, com restaurantes sofisticados à beira-mar, cria a sensação de que a cidade está se tornando mais elitista, dividindo ainda mais os moradores entre os que podem pagar e os que ficam à margem dessa nova estrutura.
O projeto prevê a construção de dois píeres: o Píer Náutico, voltado para atrações de entretenimento, e o Píer Ideal, que será dedicado à gastronomia. O espaço do Píer Ideal contará com três restaurantes de grande porte, com capacidade para até 400 pessoas. A proposta é que esses restaurantes fiquem situados na borda dos espigões, criando uma sensação de estar em um cruzeiro.
A iniciativa, embora apresente diversas promessas de revitalização e desenvolvimento para a área, também abre uma discussão sobre o futuro dos espaços públicos em Fortaleza. O secretário Antônio José Mota defendeu o projeto, destacando que, com a concessão, haverá mais investimentos em melhorias urbanísticas, mas muitos questionam se a ocupação desses espaços por empresas privadas não irá prejudicar o acesso da população ao que deveria ser uma área de convivência pública.
De acordo com o edital da licitação, o consórcio vencedor deverá investir R$ 29,5 milhões em melhorias nos espigões, mas o uso do local será restrito a operações privadas. Entre os planos estão lojas, quiosques, bares e restaurantes, mas também será possível explorar os espaços para eventos e publicidade. Para muitos, isso representa uma transformação do que era um simples local de lazer em um centro de consumo privado, onde a presença de grandes empresas sobrepuja a simplicidade do uso público.
A previsão para o início das obras é entre o final de março e início de abril de 2025, conforme o cronograma do consórcio. A execução será feita de forma escalonada, com entregas parciais a cada seis meses até a conclusão total em 2027. No entanto, muitos já apontam que, enquanto as obras não começam, o impacto da mudança já está sendo sentido pela população, que teme perder o direito de desfrutar de um dos últimos espaços públicos à beira-mar em Fortaleza.
A discussão sobre o projeto continua acirrada, com um claro confronto de interesses entre o desenvolvimento econômico da cidade e a preservação dos direitos da população ao uso de espaços públicos.

Nenhum comentário: